Às vésperas do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma série de atividades para apoiar o petista estão sendo realizadas em todo o Brasil. Em Olinda, Região Metropolitana do Recife, no último sábado (13), militantes e políticos do Partido dos Trabalhadores (PT) lançaram a primeira edição da Troça Carnavalesca Mista O Sapo Barbudo, em homenagem à Lula. Presente no evento, o ex-deputado federal pelo PT Fernando Ferro, 66, concedeu entrevista ao LeiaJá.com e atribuiu o julgamento do líder petista a mais um episódio do “golpe”.
Ferro, conhecido nacionalmente por ter um posicionamento mais firme e realista, disse que apesar de acreditar na Justiça, os sinais do processo não são bons. “Há uma espécie de pré-condenação em alguns gestos e manifestações da República de Curitiba. Agora, é claro que vamos acreditar na possibilidade de que haja o mínimo de bom senso e prevaleça o sentido de Justiça”, pontuou.
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O ex-deputado federal ressaltou também o sentido do PT está na ruas não é só por causa do julgamento de Lula, no próximo dia 24. “Não se trata de Lula ser absolvido, mas de uma luta pela democracia e pelo direito do trabalhador. Estamos muito preocupados porque sabemos que a Dilma não foi tirada do governo para eles assistirem a volta de Luiz Inácio. Tudo indica que vai ser algo muito duro”, explicou.
No dia 31 de agosto de 2016, a então presidente Dilma Rousseff (PT) sofreu um impeachment e deixou o poder, após cumprir menos da metade de seu segundo mandato. No Senado, por 61 votos favoráveis e 20 contrários, Dilma foi cassada do cargo, mas não perdeu os direitos políticos. Michel Temer assumiu o comando do país com promessas de reformas e de estabilidade política.
(Sérgio Moro e o ex-presidente Lula Foto: Arquivo/Agência Brasil)
Em 2017, o juiz Sérgio Moro condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a cumprir 9 anos e 6 meses de prisão. A sentença é a primeira contra o petista na Lava Jato e diz respeito aos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, no caso do tríplex do Guarujá. No próximo dia 24, os três desembargadores do TRF4 vão julgar a apelação apresentada pela defesa do petista. Caso a condenação seja confirmada, Lula pode ser considerado inelegível pela Lei da Ficha Limpa.
“Ninguém se iluda que vai ser uma luta fácil. Não é só ir para as ruas”
Fernando Ferro acredita que ir para as ruas é importante, mas não suficiente quando o intuito é protestar e radicalizar. O petista declarou que é a favor de muita greve, agitação e principalmente a entrada de trabalhadores, sindicatos e movimentos sociais na resistência, caso Lula seja condenado. “Caso contrário vão ser aprofundadas as perdas sociais, a venda do nosso patrimônio ao exterior e a entrega do país”, disse. Para ele, a disputa política de 2018 já está colocada.
“O golpe é algo mais condensado e mais amplo de interesses nacionais e internacionais para saquearem o país. A eleição de 2018 tem esse componente de disputa política muito sério e grave. Por isso, precisamos utilizar todos os espaços de fala, inclusive como aqui no Carnaval, momento de descontração e festa, mas também de denúncia, crítica e agitação”, frisou.
Além da força da sociedade civil, Ferro espera mais articulações de forças políticas, partidos de esquerda e movimentos sociais em defesa da democracia para a eleição presidencial. Questionado sobre uma possível união do PT e PSOL em um ano de turbulência política, Ferro admitiu concordar com a “junção”, mas alertou que ambos precisam ceder e discutir um programa político comum com objetivos de lutas semelhantes.
Em 2003, durante o primeiro ano de mandato presidencial, internos se opuseram à reforma da Previdência proposta por Lula e saíram do PT para fundar o PSOL, no ano seguinte. O novo partido dizia resgatar bandeiras da esquerda, do socialismo e liberdade. Uma das principais críticas dos psolistas é de que o PT deixou se corromper quando chegou ao poder e fechou alianças com partidos políticos de centro-direita e direita, afastando-se de bandeiras da esquerda.
“Eu sei que esses partidos não se unem por veleidade ou necessidade. Nós temos diferenças políticas do PSOL e eles têm resistências a governos do PT em algumas áreas, e eu até compreendo. Mas, quando se trata de uma luta desse porte com o inimigo e o adversário que temos hoje, acho importante a gente compreender a necessidade de diminuir as divergências. Isso é o que pode criar a base para que possamos constituir essa unidade, não só dos partidos políticos e diversos espaços de enfrentamento de reação ao conservadorismo e ao golpe. Tudo isso requer essa conjugação de força”, explicou o ex-deputado.
Ferro mencionou não só o apoio do PSOL, mas do PCO, PCdoB e setores do PSB para compor uma frente popular democrática no Brasil. “Ao longo dos anos, evidentemente, isso ficou de lado por causa de aliados de direita que vieram para o nosso campo e contribuíram para nossa derrota e degeneração política. Eu acho que o PT tira lições disso. Agora, a frente política que queremos para governar o Brasil é de outro perfil. Manter o que foi feito não adianta. Seria repetir o erro e a história não perdoa repetição de erro”, lamentou.
Nas próximas semanas, o petista informou que vai apoiar a agenda do Partido dos Trabalhadores para fortalecer a resistência contra a condenação do ex-presidente. Com o momento político brasileiro de indefinições, Ferro declarou que é um dos períodos mais graves da história do país, podendo ser comparado até com a Ditadura Militar, em 1964.
“Hoje apesar de não ter ainda os sinais de violência física exposta como naquele tempo, a violência política e constitucional está sendo praticada no cotidiano. As perdas dos direitos dos trabalhadores, dos direitos sociais e das conquistas do brasileiro, o retrocesso político e a cultura de intolerância e ódio indicam claramente que estamos em um momento muito crítico”, afirmou.
Julgamento em Porto Alegre
Em conjunto com a Frente Brasil Popular, o PT deve realizar uma série de manifestações em Porto Alegre e em outras cidades do Brasil (Foto: Ricardo Stuckert)
O Partido dos Trabalhadores convocou a militância para acampar em Porto Alegre às vésperas do julgamento. Sindicatos, movimentos sem terra e outras organizações sociais devem começar a chegar à capital do Rio Grande do Sul a partir do dia 20. Para ajudar a custear o transporte, o partido organizou uma campanha de crowdfunding na internet, que até o momento arrecadou cerca de R$ 80 mil.
Dirigentes petistas, entre eles a presidente da sigla, Gleisi Hoffman, e a ex-presidente Dilma Rousseff, devem comparecer ao ato do dia 23. A ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi convidada para a atividade da véspera, mas sua presença ainda não foi confirmada.
Em Pernambuco, entre os dias 15 e 22, entra em atividade a Brigada da Frente Brasil Popular nos bairros e no centro da cidade. A iniciativa, segundo a organização, visa convidar a população para a vigília que será realizada dia 23 e 24, em razão do julgamento de Lula.
A vigília “Eleição sem Lula é Golpe” está marcada para iniciar no dia 23, a partir das 16h, na Praça Tiradentes, no Bairro do Recife. Haverá um ato político-cultural com artistas pernambucanos. No dia 24, ainda na Praça Tiradentes, haverá o café da manhã “Os inocentes com Lula” e o acompanhamento do julgamento.