Após afirmar que o Brasil está perdido e que a educação é uma “tragédia” no país, o senador Cristovam Buarque (PPS), na segunda parte da entrevista concedida ao LeiaJá, voltou a reafirmar sua tese de que a qualidade da educação de uma criança está diretamente associada ao “berço” que nasce. “É uma insanidade um país dar educação melhor para um do que para o outro e é injusto, mas hoje a chance de ter uma boa educação depende do CPF da família. Temos que acabar com isso”, lamentou.
Questionado se a situação não seria relativa, já que há exemplos de crianças e adolescentes oriundas de famílias pobres que conseguem “vencer” por meio da educação, ele foi categórico ao dizer que esses exemplos são exceções. “São raríssimas. São gênios, mas a educação não deve ser feita por gênios, tem que ser feita para todos. Esses raríssimos casos vão receber uma bolsa particular ou conseguiu entrar em uma escola pública federal. Tem que quebrar isso. Isso é escravidão. É como antes: nascia branco ou negro aí você ia ser uma coisa ou outra. Agora, [dependendo se] nascer rico ou pobre, você vai ter educação ou não vai ter. Não pode. Não pode ser questão de exceção. Na escravidão também tinha exceção. Tem escravo que fugia”, argumentou.
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“Essa é a realidade de hoje. Temos que acabar com isso. A educação deve depender só do cérebro, então, a escola tem que ser igual para rico ou pobre, para branco e para negro, para quem mora no Recife e para quem mora em São Paulo. A educação tem que ser com a mesma qualidade para todos. Isso não quer dizer que a educação é a mesma. A educação é livre”, acrescentou.
O senador também afirmou que cada professor tem que ter a liberdade para ensinar aquilo que ele quer, da forma que achar melhor, mas com a mesma qualidade. “O professor tem que ser diferente, mas o computador tem que ser igual como o do Banco do Brasil: onde você for, todos são bons. A temperatura tem que ser com ar-condicionado nas escolas, em qualquer lugar que houver calor no Brasil, não só na dos ricos. Os equipamentos também”.
Escola Sem Partido
O senador deu sua opinião sobre a Escola sem Partido. Cristovam, que é relator da proposta, é contra o programa. Acredita ser “impossível” uma escola sem partido denominando como um contrassenso. “A gente tem que ter escola sem nenhum partido específico, mas uma escola com todos os partidos podendo se expressar é positiva. Eu sou contrário a tolher a participação dos alunos, dos professores, do debate livre dentro das escolas”, explicou.
A proposta da Escola sem Partido é de que seja afixado na parede das salas de aula de todas as escolas do país um cartaz onde estarão escritos os deveres do professor. A ideia é de que o estudante se informe sobre o direito que ele tem de “não serem doutrinados”.
Outra finalidade seria a de impedir que os professores promovam crenças particulares. “Eu acho que professor tem que ter direito a todas as crenças que existirem por aí e não uma só crença ou nenhuma. Nenhuma não existe. Eu acho que seria contra a liberdade proibir um professor de dizer o que ele pensa. Agora é contra a liberdade a escola ficar só com um tipo de ideia. O que está errado não é um professor estar doutrinando, o que está errado, o que os autores da lei querem corrigir, é só uma doutrina. A solução não é proibir, a solução é abrir”, opinou Cristovam.
Filhos de político em escola pública
O parlamentar é autor de um projeto de lei [PL 480/2007] que estabelecia que todo político eleito no Brasil nos âmbitos federal, estadual ou municipal matricule, obrigatoriamente, seus filhos na rede de ensino público. Ele contou que, pela demora na tramitação, o processo foi arquivado. Na época, foram recolhidas mais de 42 mil assinaturas de apoio ao projeto.
Segundo Cristovam, o texto serviria para os políticos com mandato. “Sou favorável sim porque, quem está no setor público e que tem poder deveria ser obrigado a sofrer, entre aspas, os problemas do setor público. Na saúde também. Como é que nós somos responsáveis pela saúde pública e nos cuidamos no setor privado? Deveria ser uma obrigação para todos. Demorou tanto que arquivaram. Não levaram adiante”, lamentou.