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Milhares de brasileiros se mostraram revoltados com um índice divulgado por uma pesquisa realizada por meio do Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em que  58% dos brasileiros disseram acreditar que “se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros”. Seguindo entendimento semelhante, 65,1% concordam total ou parcialmente que as mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas.

Um segundo documento inédito apresentado nesta quinta-feira pelo Ipea revela que todos os anos no Brasil acontecem ao menos 527 mil casos de estupro, mas apenas 10% são registrados na polícia. Desse número, 70% das vítimas são crianças e adolescentes e os atores do estupro são, em maioria, pessoas próximas as vítimas. Ou seja, crianças sem características sexuais estão sendo colocadas como provocadoras de um crime sexual?

Por muitas vezes e durante algum tempo, no Brasil, “atacar uma mulher” foi usado como uma gíria dos jovens e não é necessariamente significa cometer um crime considerado hediondo, como o estupro. No entanto, a pesquisa não se limitou apenas a casos de estupro e também questionou os brasileiros sobre violência doméstica e mais uma vez, me surpreendi: a pesquisa também mostrou que o percentual de pessoas que acredita que brigas entre marido e mulher devem ser resolvidas no âmbito particular é de 87%, o que justifica o grande número de violência doméstica que não é denunciada às autoridades. E apesar de acreditarem que as brigas devem ser resolvidas em casa, o percentual de pessoas que defendem prisão para os agressores é de 90%.

Prefiro acreditar que houve algum equívoco de interpretação na pesquisa realizada ou até na formulação das frases sugeridas aos entrevistados ao invés de interpretar que ainda vivemos em uma sociedade “medieval” onde as mulheres são vistas como propriedade. Nos últimos anos, o Brasil deu saltos significativos na construção de políticas públicas que combatem a discriminação e a violência contra a mulher, a exemplo da Lei Maria da Penha.

O Brasil precisa evoluir e muito. Nada justifica estupro, assalto ou qualquer outro crime. Não podemos dizer ou achar que a ocasião faz o ladrão. É evidente que, em alguns casos, a sexualidade tem estado cada vez mais precoce e que alguns comportamentos estimulam a vulgaridade. No entanto, ninguém tem o direito de estuprar ou roubar e ninguém “merece” passar por isso, não podemos permitir que a vítima seja transformada em culpada.

O estupro é um ato violento, sórdido, repugnante e hediondo, devidamente qualificado entre os crimes dessa espécie. Não é um vestido justo ou saia curta que determinam as chances de um estupro. É a mentalidade atrasada que persiste, que justifica a violência, por perpetuar a imagem da mulher como ser de segunda categoria e objeto de desejo. Homens e mulheres devem encarar o estupro como crime hediondo.

Quarta, 02 de abril, cedinho, renovo o hábito: a leitura dos jornais. No Caderno C do Jornal do Comércio, a manchete - MORRE O ESCRITOR CLÁVIO VALENÇA - apunhala traiçoeiramente o cantinho onde guardo os bons sentimentos.

Sabia que sua saúde vinha abalada, fazia algum tempo, mas desconhecia o agravamento das últimas semanas; estou farto de saber que a morte é amiga da velhice e chega devagarzinho com os sinais de cansaço, a companhia das dores e as marcas das perdas; e mais, depois de certa idade, o caminho é um vale de lágrimas esculpidas em lápides até que chega  a nossa vez.

A verdade é que não passa uma semana sem que saudades se inscrevam em nossos corações. Ainda bem que a saudade congela o tempo e conserva a lembrança. Clávio, a partir de hoje, o tempo parou, continuamos a nos ver e a querer bem um ao outro.

Em relação a Clávio, não vale a acrimônia de Machado de Assis: "Está morto: podemos elogiá-lo à vontade". Dele, não era eu dos mais próximos; cada um no seu canto, mas em cada canto e mesa de bar compartilhada, em jornadas boêmias, projetavam-se luzes interiores que nos faziam fraternos. Virtude dele que tinha, sem querer e sem saber, visgo (de jaca? Podia ser desde que fosse de São Bento do Una). Era um visgo de outra natureza e que se revela na dimensão dos dotes espirituais: gentil, cavalheiro, leve e encharcado pelo bem da família Valença que se manifesta na imaginação poderosa, inteligência sensitiva, emocional, sempre pronta para a tirada de humor refinado e uma ironia, acreditem, inofensiva porque jamais dirigida às pessoas.

Sempre que o encontrava, ao lado da dedicada e amorosa Iana (esta eu conheço desde a adolescência, filha de "seu" Lauro, moça bonita e educada e que fazia parte de um prole numerosa, precocemente, órfãos de mãe), perguntava: "A saúde, como vai?" E vinha a resposta espirituosa: "O doutor liberou uma dose de de uísque, dia sim, dia não, e eu pedi para acumular créditos das doses não tomadas para o fim de semana" (risos). Ou então, porque sempre admirei o estilo da prosa fluente e dos textos saborosos, : "Clávio, escreva mais. Dê este prazer aos seus leitores". Ele respondia com um riso encabulado, mas seguro de que só escreveria quando lhe desse na telha.

A propósito, foi a poderosa imaginação de Clávio que gerou uma obra surrealista - Dona lili do Grão-Pará - uma biografia desautorizada, amparada numa espécie de realismo mágico da vida boêmia, misturada com histórias anárquicas do universo mundano do Recife onde ele introduziu Lili, personagem inspirada na Lilly do bloco carnavalesco Nem sempre Lily toca flauta, de origem lituana, mas, de fato  Lili era uma cidadã do mundo e que se adaptara às circunstâncias da vida profana da zona do meretrício e das aventuras/desventuras das casas da luz vermelha. O livro foi lançado no Pátio São Pedro no dia 25 de janeiro de  2001.

Em 2010, Clavio lançou o livro de contos Interioranos (Comunigraf Editora). São treze contos de quem sabe contar história fincada nas raízes culturais da vida simples das pequenas localidades, delas, porém, universalizando valores e a crítica social, atributo do grande autor.

Neste ponto, cedo a palavra aos mestres no assunto. Eis o que disse Garibaldi Otávio: "Ninguém precisa morar em São Bento do Una para entender o mundo. Mas compreenderá bem mais a complexidade da vida humana conhecendo pessoas como as que habitam as páginas deste livro".

Do Professor Nelson Saldanha: "Sua prosa é fácil e fluente, sua narrativa espontânea e sem maiores complicações. Verossímil, embora não banal, descritiva mas não isenta de psicologia".

Do grande Raimundo Carrero, vem o testemunho de que Clávio "Não é apenas um pessoa que escreve". É, segundo ele, um escritor, o escritor não some. Marca. E explica: "Assim tem sido o trabalho deste escritor que se construiu pela reflexão e, para revelá-la, foi em busca da Beleza".

Pois é, naquela mesa ele vai faltar e vai doer demais.

Existe muita gente disposta a embromar e um número de embromáveis infinitamente maior. Trata-se de uma luta desigual entre vigaristas e pessoas de boa fé, os otários, na linguagem dos criminosos.

Por falar em linguagem, o leitor pode ficar sossegado: tenho juízo suficiente para não ir além do trivial. Nada de entrar na semiótica de notáveis teóricos como Peirce, Saussure, Umberto Ecco, etc... Muito menos profanar as ideias de Aristóteles sobre retórica, lógica, dialética, poética e suas relações com a metafísica, a política e a ética que o passar dos milênios absorveu e reverencia.

Vou simplificar. Ou seja, pensar um pouco nessas categorias tão presentes no nosso cotidiano como a nutritiva mistura do feijão com arroz.

Mas vamos pensar, tentando identificar quem ilude e os sintomas da farsa da embromação.

Por definição, seja astúcia, embuste, mentira, ardil, em maior ou menor escala,  pecado venial ou mortal, ninguém pode atirar a primeira pedra contra o embromador. O que interessa é a grande embromação, a embromação dos que têm o poder de atingir o respeitável público a exemplo de líderes políticos, empresariais, grandes executivos, jornalistas, técnicos de futebol, enfim, todo e qualquer profissional que, ao lidar com a opinião pública, engana e do engano obtêm proveito ilícito ou aparentemente lícito.

Em comum, eles tratam o respeitável público como idiotas.

Infelizmente, não foi descoberta uma vacina. A gente só se dá conta depois. Eita! Bateram minha carteira.

Todavia, alguns sinais ajudam na proteção coletiva:

- A pedra de toque do discurso do embromador é o jargão. Ele usa com a grave solenidade como se fosse o dono (cuidado com o discurso “moderno” da “governança corporativa” dos CEOs);

- o discurso do embromador é sempre uma exaltação aos “conhecimentos especializados”, usando termos técnicos em moda, se possível, em outros idiomas;

- para o embromador, importante é impressionar. Um rolando lero elegante. Impressionou, enganou o besta;

- o discurso do embromador tem algo de obscuro, melhor dizendo, misterioso. Na vida laica, mistério é ilusionismo;

- no conjunto da obra, o discurso impressionista é uma espécie de “turbina intelectual”. É um arretado! Sabe tudo. A plateia baba.

 

Mas não sejamos tão inclementes. Existe o outro lado da moeda que é o discurso do convencimento:

- é breve e fundamentado em fatos consistentes;

- é objetivo, claro e conquista pela forma e pelo conteúdo;

- é próximo das pessoas e a proximidade se alimenta de “histórias” que contêm  grandezas e fraquezas. Ninguém aguenta os “heróis” que jamais levaram porrada;

- é, na dose certa, bem humorado. É preciso não se levar muito a sério para levar a sério tudo que faz;

- quem convence não precisa optar entre ser chato um autêntico ou um simpático artificial. Estilo não se inventa e as pesquisas sobre o assunto indicam que a comunicação convincente deriva 7% das palavras e 93% de pistas não-verbais.

Resta uma grande questão: diante de um escândalo de dimensão nacional, internacional, multinacional, como agir? Simples: contratar a maior consultoria do Planeta em embromação: a BRASILBRÁS. 

Faltam poucos dias para o início da Copa. Por enquanto, não detectamos animação para com os jogos. Mas, diante das notícias de que a maioria dos ingressos foi comercializado, constatamos agitação para os que irão assistir aos jogos. E os que não irão, estão entusiasmados? Acreditamos que ficarão. Os veículos de comunicação darão ampla cobertura e a tendência é que, com a proximidade dos jogos, os torcedores fiquem animados. Portanto, é plausível o sucesso de público e audiência.

No entanto, qual será o legado da Copa do Mundo para o Brasil? A expectativa é de que os gastos com o evento cheguem a 30 bilhões de reais. Diante deste valor, desejamos que obras públicas sejam realizadas pelos governos Federal e Estaduais. Aliás, quando o Brasil ainda desejava a Copa, 79% dos brasileiros defendiam a sua realização – de acordo com pesquisa do Datafolha em novembro de 2008. O expressivo apoio da população era em razão de que os atores políticos afirmavam, categoricamente, de que a Copa deixaria legados.

Uma nova pesquisa do Datafolha, realizada em fevereiro deste ano, revelou que 52% apoiam a realização da Copa no Brasil. Este número mostra que o apoio à Copa decresceu. E o que motivou a diminuição do apoio? Certamente, os eleitores estão inquietos com dois fatos. O primeiro é a quantidade de recursos públicos gastos com o evento e segundo, os gastos foram realizados, mas, por enquanto, os brasileiros não percebem se existirá algum legado da Copa.

Os legados da Copa mais visíveis até o instante são as arenas esportivas. A tendência é que algumas delas se transformem em “elefantes brancos”, representando o legado negativo da Copa. Outras terão a oportunidade de sediar variados jogos e shows, e estas representarão o legado positivo. Mas, os legados da Copa não podem ser, exclusivamente, as arenas.

Mobilidade urbana: este é um dos principais problemas do Brasil, em particular das cidades que integram as regiões metropolitanas. Neste sentido, quais serão as obras entregues antes da Copa que possibilitarão o trânsito fluir? A mobilidade aérea tem se mostrado como outro problema do país. Quantos aeroportos serão ampliados e concluídos antes da Copa? Os governos afirmam que tudo será entregue. Mas, tudo o quê?

A ausência de infraestrutura adequada permite que o custo da produção no Brasil aumente. Com isto, são gerados menos empregos e menores investimentos por parte do setor produtivo. Além disto, a existência de déficit de infraestrutura faz com que as cidades sejam espaços urbanos desconfortáveis. Portanto, o investimento em infraestrutura não deve ocorrer em razão da Copa, mas em função de que governos querem ofertar bem-estar à população e condições para o desenvolvimento econômico.

Faço parte do grupo de brasileiros que torce pelo sucesso do Brasil na Copa. Ela nos trará visibilidade internacional e a possibilidade de atrair novos investimentos em variadas áreas, além de mostrar que o Brasil é uma nação civilizada e segura. Mas, para isso acontecer, não podemos passar vergonha diante do mundo. As obras de infraestrutura precisam ser entregues. Estrangeiros e brasileiros precisam estar confortáveis no Brasil. E governos necessitam cumprir com o que prometeram, pois nós, brasileiros, merecemos respeito. 

Quarta-feira de cinzas é um dia triste. Devia amanhecer sempre sob chuva torrencial para lavar corpos e almas que se entregaram aos apelos mundanos do carnaval. É dia de ressaca orgânica da viagem ao êxtase da fantasia e, na tradição cristã, é o momento de elevação espiritual porque simboliza a fragilidade da vida. Assim, cessada a chuva, seria celebrado o encontro do sol interior com o sol da natureza.

 

Como não brinco o carnaval na terça-feira gorda (acredite quem quiser), começo a quarta de cinzas, bem cedo, com os pensamentos em caminhada pelo Parque da Jaqueira. Este ano, na entrada que fica do lado da Av. Rui Barbosa, dei de cara com um resto de carnaval: o pierrô encolhido no banco da praça, abraçando as próprias pernas que davam sustentação à cabeça.

 

Ele chorava copiosamente. O primeiro impulso foi respeitar a solidão da tristeza; o segundo impulso foi consolar aquela alma penada que, supus, estava de coração partido por causa de uma colombina. Aquela lágrima desenhada no rosto triste do pierrô, cristalizada como um pingente, se transformara numa catarata de sentimentos incontidos.

 

Cedi à convicção de que o pierrô, personagem herdado da commedia dell´arte do teatro popular italiano, sofria da cornice universal da traição amorosa. No entanto, estranhei as cores da fantasia: o preto e o branco deram lugar ao verde/amarelo.

 

Fui direto ao ponto: - Por que tanto choro e tanto sofrimento, amigo pierrô? Você já sabia o fim do enredo: arlequim se aproveitaria de sua ingenuidade, de sua crença na bondade humana, e a colombina já era. – Não choro por colombina – balbuciou, sem levantar a cabeça, e entre soluços, completou – choro pela pátria amada, Brasil.

 

Surpresa! Refeito, argumentei que contivesse aquela angústia contagiante. – O Brasil, florão da América, é hoje uma das dez maiores economias do mundo; moeda estável; 40 milhões de brasileiros incorporados ao mercado de consumo; as instituições democráticas funcionando livremente e...

 

Senti que ele não queria ouvir e desatou a falar. – Choro pela impunidade. A sabedoria popular tem razão: nada como dias atrás de outros e um Toffoli no meio. E o que dizer da teoria da chavasca que desquadrilha a quadrilha e abre alas para o bloco dos sujos passar? Tem mais: o cara que tem cara de artista de cinema mudo, contracenando, em terreno lodoso, com outro canastrão que mais parece galã de novela mexicana, liquidam a esperança do “Moleiro de Sans-Souci” segundo a qual “ainda existem juízes em Berlim”.

 

Tentei contra-argumentar, mas o pierrô não interrompeu a catarse. – Que economia? A do pibinho? Atrás dos emergentes, do Chile, do Peru, da Colômbia? O Brasil do 85º lugar no IDH? O Brasil da segunda pior distribuição de renda em ranking da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)? O Brasil de baixíssima produtividade que compromete a capacidade de competir no mercado globalizado? O Brasil cujo Estado monstruoso nós carregamos nas costas e nos devolve ineficiência generalizada na prestação de serviços? O Brasil da infraestrutura estrangulada? Da contabilidade maquiada? Das contas externas desequilibradas?

 

O Pierrô fez uma pausa para respirar, aí aproveitei. – Houve grandes avanços: a redução de taxa de mortalidade infantil, o aumento da expectativa de vida, universalização do ensino... Fui interrompido abruptamente. – Choro pelos 50 mil mortos por homicídio doloso todo ano e, por favor, não me venha falar em educação: segundo o Relatório de Capital Humano do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa o 88º lugar entre 122 países e, na qualidade do ensino de matemática e ciência, tem o 15º pior desempenho do mundo. Na avaliação do relatório PISA, entre 65 países, o Brasil obteve o 55º lugar em leitura, 58º em matemática e 59º em ciências. Sem falar no silencioso e perverso analfabetismo funcional: muita gente sabe ler, chega a ter diploma, mas não entende o que lê.

Concluí: seria inútil o esforço para aliviar a dor patriótica do Pierrô. Sugeri uma saída amigável e poética: - Vamos “tomar vermute com amendoim” como receitava Noel Rosa em “Pierrô Apaixonado” para “romper a esfera dos astros”, proposta de Manuel Bandeira em “A Canção das Lágrimas de Pierrot”. Ele aceitou. – Seu nome? – Apenas, pierrô .

Faltando poucos meses para o início da Copa do Mundo no Brasil, e mesmo diante de protestos e discussões sobre a realização do evento, a capacitação profissional é fundamental para receber os milhares de turistas que deverão chegar ao País no período.

Apesar dos escândalos sobre desvios de verbas e superfaturamentos nas obras das arenas de futebol, a expectativa é de que, com a Copa do Mundo, sejam criados mais de 3 milhões de novos postos de trabalho no período, com destaque para o Turismo. E, como em todos os períodos festivos do ano, um trabalho temporário pode se tornar um emprego fixo para aqueles que se destacarem nas funções.

Inevitavelmente, os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil e qualquer erro pode resultar em grandes prejuízos para o País. Assim, o Brasil tem trabalhado para receber seus visitantes com segurança e conforto, investindo na infraestrutura, hotelaria e outros setores. Tudo para construir uma rede completa e capaz de atender a demanda que a Copa vai exigir.

Aos que duvidam da importância desses cursos de capacitação, é simples entender: a Copa do Mundo e as Olimpíadas, em 2016, terão, em sua maioria, um público estrangeiro e a capacitação nestes setores é necessária, pois será exigido dos trabalhadores o conhecimento em, pelo menos, duas línguas e diversas técnicas. Outra preocupação para que devemos atentar é que os brasileiros terão que se capacitar ainda mais frente à competitividade da mão de obra estrangeira, já que o número de vistos de trabalho para estrangeiros no Brasil aumentou 32,8% entre janeiro e setembro de 2011, em relação a 2010.

Um dos programas que mais tem sido procurado pelos que buscam capacitação é o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), com mais de 32 opções de cursos. Além dos investimentos do Governo, diversos estabelecimentos privados estão realizando cursos de capacitação em áreas como, idiomas, gastronomia, transportes, segurança para delegações estrangeiras e hotelaria.

A Copa do Mundo será uma prova de fogo para o Brasil, que deverá mostrar sua capacidade para acolher bem os seus visitantes, independente se eles estão em viagem de férias ou acompanhando as competições de grande porte que o País irá sediar. Para atender esta demanda, o mercado busca por profissionais que estejam capacitados e dispostos a trabalhar em dia e horários não convencionais, é por este motivo que os cursos são fundamentais para receber com maestria os eventos e os visitantes.

O jogador de futebol Tinga, do Cruzeiro, foi recentemente alvo de lamentáveis atitudes racistas pela torcida do Real Garcilaso, time do Peru, durante partida pela Copa Libertadores. É incompreensível casos como este em pleno 2014. No entanto, engana-se quem pensa que episódios do tipo são incomuns.

Em um outro episódio, uma australiana foi presa em Brasília suspeita de agredir e ofender duas funcionárias e uma cliente negras de um salão de beleza. Como se não bastasse, ela também é acusada de desacatar o policial militar, também negro, que a conduziu à delegacia e ofender o agente responsável por atender a ocorrência.

No Brasil, o crime de racismo é inafiançável e discutir o tema na sociedade é sempre um assunto controverso, já que uma parcela significativa da nossa população insiste em dizer que este é um problema que não enfrentamos. O fato é que, Gilberto Freyre, quando publicou Casa-Grande & Senzala, em 1933, não tinha muitos dados sociológicos sobre a população brasileira. Se tivesse acesso a pesquisas, como as realizadas hoje pelo IBGE, talvez sua teoria da democracia racial brasileira fosse um pouco diferente.

Somos miscigenados, multirraciais, coloridos. Nossa população é formada por uma mistura de raças e ainda assim, episódios racistas acontecem com frequência. Ao verificarmos as estatísticas, o racismo brasileiro, sustentado durante três séculos de escravidão, revela-se como uma verdade factual. Infelizmente, no Brasil ainda vive uma cultura de estereótipos e o negro acaba carregando o estigma de bandido e criminoso.

Voltando ao episódio Tinga, ele não foi o primeiro jogador brasileiro a passar pela discriminação. Em 2005, o atacante Grafite, que na época defendia o São Paulo, foi chamado de “macaco” pelo zagueiro argentino Desabato. Além dele, nomes como Roberto Carlos, Diego Maurício e Daniel Alves já sofreram constrangimentos. O regulamento disciplinar da Conmebol, responsável pela organização da Copa Libertadores, prevê inicialmente uma multa de US$ 3 mil ao clube cuja torcida fizer manifestações racistas. Mas, apenas isso ou fechar os portões dos estádios para as torcidas, não serão suficientes para extinguir episódios como esse, nem do futebol e nem das ruas.

Cientificamente, é comprovado que o racismo não tem nenhuma sustentação verificável. As raças não existem enquanto método classificatório, pois todos os homens estão sujeitos a diferenciações genéticas incapazes de determinar certas habilidades, valores, ou padrões de comportamento. Entretanto, muitas pessoas ainda insistem em denegrir determinados grupos por meio de concepções de natureza racista. Punir severamente o racismo, em todas as suas formas, cobrando uma postura rígida das autoridades, é asseverar que existe a igualdade. Trata-se de assegurar que as oportunidades são iguais e que elas não estão apenas nos papéis escritos.

Neste ano, o Brasil terá eleições legislativas para os governos estaduais e presidência da República. O eleitor poderá exercer o seu direito de continuar a transformar a sociedade brasileira. Não restam dúvidas que o Brasil vem se transformando. Porém, é preciso que as transformações institucionais e socioeconômicas ocorram de modo mais acelerado, visto que as mudanças que acontecem no Brasil são rápidas, em alguns instantes, e, em outros, lentas.

Lembro-me do ano de 1993. A economia brasileira era guiada por taxas de inflação estratosféricas. Famílias e empresas, em razão da inflação, não tinham condições de construir um planejamento econômico para o futuro. Com a criação do plano Real, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), a inflação foi reduzida drasticamente. Com isto, a economia brasileira começava a mudar. Naquele mesmo governo, várias privatizações ocorreram. Bens públicos, como o acesso a linhas telefônicas, passaram a ser disponibilizados de forma mais ampla e fácil para toda a população.

Luis Inácio Lula da Silva (Lula) foi eleito presidente da República em 2002. O ex-operário e sindicalista, adepto do diálogo como instrumento de transformação, mantém os pilares econômicos do governo FHC. Mas, inova: amplia o crédito, reduz lentamente os juros, amplia o alcance do Bolsa Família e cria variados programas sociais, como o Programa Universidade para Todos (Prouni). As ações do governo Lula possibilitaram a emancipação de novos consumidores e o aumento da classe C.

Dilma Rousseff assumiu o poder oito anos após Lula, em 2010 e com a promessa de continuidade do mandato anterior. Em dado momento, ela opta por lidar com a economia valorizando a intervenção do estado. O cumprimento da meta inflacionária, apesar de muitos economistas terem alertado, passa a não ser prioridade. Para Dilma, a preferência era a manutenção das conquistas das eras FHC e Lula, ou seja: a capacidade de consumo dos brasileiros. A presidente cometeu equívocos econômicos não intencionais. No entanto, desde o ano passado procura corrigi-los. Ressalto que Dilma teve a brilhante ideia de criar o Pronatec – Programa de qualificação profissional, ampliar o FIES e assim impulsionar a educação.

A revisão sumária da história recente do Brasil revela transformações. No entanto, mais investimentos em infraestrutura e educação básica são necessários. Claro que, assim como qualquer sociedade, novos problemas surgiram, os quais exigem novos planos e ações dos governos. Por exemplo: mobilidade urbana e organização das cidades. Tais desafios estarão, certamente, nas agendas dos candidatos aos governos dos estados e à presidência da República.

Entretanto, reconheço que a política brasileira precisa inovar nos seus costumes políticos. Não é mais cabível que pesquisas de opinião pública revelem a descrença dos brasileiros com as agremiações partidárias, parlamentos e com os políticos. Esta descrença coloca em xeque a própria existência da democracia eleitoral, já que os seus principais atores sofrem de déficit de credibilidade. Portanto, não basta o Brasil se transformar socioeconomicamente. É preciso que a classe política brasileira se transforme e inove também. Neste caso, transparência e conduta republicana são necessários.

Recentemente, a convite do visionário empreendedor João Carlos Paes Mendonça, fui participar das solenidades de  comemoração dos 25 anos da Fundação Pedro Paes Mendonça em Serra do Machado, Sergipe. Confesso que desconhecia a magnitude e a importância do trabalho social realizado por João Carlos no pequeno vilarejo onde ele nasceu. Fiquei extremamente surpreso  e emocionado  com o inestimável trabalho social desenvolvido pelo empresário.

Serra do Machado é uma região localizada a 75 Km de Aracaju, capital sergipana. Desde 1989, a pequena cidade abriga a Fundação Pedro Paes Mendonça, mantida por João Carlos e que vem mudando a realidade local nos aspectos sociais, econômicos e educacionais.

O projeto, que homenageou Pedro Paes Mendonça, pai de João Carlos e conhecido como “Seu Pedro da Mercearia”, cresceu e, hoje, é exemplo para o Brasil, beneficiando uma população que como tantas outras no País, precisa de atenção e apoio. Lá, são mantidos pela Fundação um lar de idosos, centro educacional, biblioteca, orquestra, coral, centro de compras, casas populares, centro médico e quadra esportiva. O primeiro projeto, o Lar de idosos dona Conceição, coordenado pelas irmãs hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus é um lugar descrito por muitos como maravilhoso.  Todas as atividades, que buscam incentivar o crescimento e o desenvolvimento da população,  tem acesso livre aos moradores da região.

Na educação, são mais de 300 alunos que frequentam a Escola de Educação Básica Auxiliadora Paes Mendonça e que junto com a Escola São Sebastião, compõem o centro educacional que vai até o nono ano. As crianças estudam em tempo de aula integral e, à noite, o complexo dá lugar a um projeto de alfabetização de adultos. Todas essas ações são bastante conhecidos e visam o desenvolvimento da região da Serra do Machado, que abrange cinco povoados: Esteio, Serra do Machado, Fazendinha, João Ferreira e Serrinha.

A pequena Serra do Machado é a cidade natal de Pedro Paes Mendonça e João Carlos, que apesar da posição econômica conquistada com seus negócios, nunca esqueceu o povo da sua terra e suas raízes. E, se JCPM não pode estar sempre presente nas atividades da Fundação, ela é administrada por um grupo de profissionais formado por técnicos e educadores que gerenciam a estrutura e os equipamentos instalados.

João Carlos Paes Mendonça sempre demonstrou, através de suas ações ao longo de sua vida, ser um homem digno, íntegro e humano, e o excelente trabalho  social desenvolvido com a comunidade de Serra do Machado apenas ratifica esta  assertiva.  Os projetos realizados pela Fundação em Serra do Machado devem servir como exemplo para outros empresários. O desenvolvimento econômico e social do Brasil não pode depender apenas do governo em si, mas, faz-se necessário cada um de nós contribuirmos para promovê-lo.

De fato, a Fundação Pedro Paes Mendonça transformou a Serra do Machado em uma ilha de desenvolvimento, pois, além de todas as atividades que realiza, proporcionou, ainda, a instalação na comunidade, de uma grande fábrica de brinquedos, oferecendo dezenas de empregos para os moradores daquele vilarejo. Um trabalho social que mudou a realidade econômica e social da comunidade, que só homens visionários e compromissados com o bem estar social da população brasileira, como JCPM, têm fôlego para fazer. Parabéns João Carlos.

Voto. Palavra curta e de enorme significado. Muita coisa bonita e muita coisa feia podem ser ditas sobre sua história. A mais bonita: uma conquista da humanidade, elemento constitutivo da cidadania e mecanismo essencial para aferir a preferência das maiorias de modo a legitimar as competições eleitorais e a alternância pacífica do poder.

O que tem de feio é que a prática nem sempre corresponde à bela teoria. A história do voto é uma história de exclusões e inclusões. De outra parte, como expressão manifesta de preferência nas regras do jogo democrático, nem sempre reflete a consciência livre e a vontade soberana do eleitor ao escolher seus representantes a quem, em grande medida, confiam o destino da coletividade.

 

No caso brasileiro, são inegáveis os avanços dos processos eleitorais em contraste com o anacronismo dos sistemas partidários e eleitorais alimentado pela falta de vontade política em aperfeiçoá-los.

 

Com efeito, o percurso histórico do voto no Brasil foi marcado, ora pela falta de democracia, ora pela exclusão social, até que a Constituição de 88 transformou o País num amplo colégio eleitoral de 140 milhões de votantes.

 

Um voo rasante sobre a história é capaz de demonstrar a evolução e, até mesmo, curiosidades sobre o voto no Brasil.

 

- O voto indireto para os Conselhos Municipais (ou Senados da Câmara). A primeira eleição: 23 de janeiro de 1532. Dois representantes escolhiam os integrantes do colegiado. O voto era um fato local.

 

- O voto luso-brasileiro. Em 1821, o Brasil votou pela primeira vez, em âmbito nacional, para escolher representantes junto às Cortes portuguesas observando os dispositivos da constituição espanhola. Foram eleitos 72 brasileiros. Cinquenta chegaram a Lisboa.

 

- O voto dos “homens bons” e dos “homens novos”. Era o voto censitário. Prerrogativa dos que tinham posses equivalentes a cem mil réis, depois duzentos mil réis, aí incluídos a nobiliarquia e os emergentes (“homens novos”).

 

- O voto por procuração. Este era apenas um tipo de voto que assegurava a fraude, extinto em 1843. Neste sentido, é importante registrar que a fraude e a intimidação estiveram presentes ao longo do Império e da República Velha de forma ostensiva e violenta (o voto não era secreto). A intimidação ostensiva ocorria com a ajuda dos “capoeiras” e dos “cerca-igreja” (de 1824 a 1881, quando a Lei Saraiva instituiu o título de eleitor). Até então, as eleições eram realizadas nos templos católicos.

 

- Voto de cabresto, curral eleitoral, eleições de bico de pena e o voto fósforo. A constituição de 1891 adotou o voto  secreto, porém, excludente (não votavam menores de 21 anos, mulheres, analfabetos, mendigos, soldados, indígenas e membros do clero). No entanto, a fraude corria solta, legitimada pelas oligarquias estaduais. O cabresto revelava a dominação do chefe político; o curral ou viveiros era um local de reclusão do eleitor, transportado do interior, alimentado e mantido incomunicável até a hora de votação; a eleição de bico de pena era uma tramoia das comissões eleitorais que elegiam os candidatos de acordo com o sistema de poder, inclusive, lavrando atas escritas na véspera da eleição; o voto fósforo “riscava” a urna que era semelhante a uma caixa de fósforo, várias vezes, ressuscitando eleitores mortos e ausentes.

 

De fato, o código de 1932 (voto feminino, criação da Justiça Eleitoral, etc..), seguido de outros códigos e leis específicas buscaram limpar a sujeira das eleições. Recordo-me da cínica resposta de um deputado pernambucano, nos idos da década de oitenta, quando confrontado com a irreverente pergunta: “Tá difícil comprar voto?” Lampreiro, ele não perdeu a bossa: “Estou tranquilo, não compro, vendo”.

Que avançou, avançou, mas o voto, a moeda da democracia está mais valorizada do que nunca no mercado político. No atacado, o balcão dos negócios; no varejo, a cabeça do eleitor de opinião, cada vez mais reduzido, uma confusão enorme: 40 partidos, ideias, princípios, doutrina, visão ideológica, tudo misturado em cinquenta tons de cinza; no marketing, o ilusionismo associado à neurociência.

 

E aí como votar? Primeiro uma tendência ditada pela desilusão que é não votar, ou, votando, criando o Voto Ziquezague, uma chapa personalíssima que vai do capital ao trabalho, da esquerda para a direita (?), do verde ao cor-de-rosa.

 

Resta uma advertência: “Não é política que faz o candidato virar ladrão; é o voto que faz o ladrão virar político”.

Nas últimas semanas um assunto vem dominando os noticiários e preocupando os lojistas e a sociedade como um todo. Os chamados “rolezinhos” - encontros de jovens e adolescentes nos shoppings, marcados através das redes sociais e a princípio sem qualquer finalidade criminosa, tem tumultuado os centros de compras.

Para explicar esse “fenômeno” é preciso primeiro entendê-lo. Em sua essência, os rolezinhos são o encontro de pessoas com o objetivo de dar um rolê, ou seja: passear, comer um lanche, fazer novas amizades e paquerar. Esse tipo de evento já acontece há algum tempo, a novidade está no local em que tem sido realizado. Há muitos anos, jovens usavam estacionamentos de postos de gasolina, supermercados e outros estabelecimentos como pontos de encontro durante as noites e madrugadas, principalmente nos finais de semana, simplesmente para conversar, ouvir música e cantar.

Iniciado em São Paulo, os eventos eram encarados como uma manifestação dos jovens em prol de mais lugares de lazer. Entretanto, há uma segunda vertente do movimento que vem utilizando os rolezinhos como uma continuação dos protestos de 2013. E, assim como os protestos, estes também não têm liderança especifica. Mas, o maior problema está no pânico que esse tipo de manifestação causa nos lojistas e consumidores que freqüentam os shoppings. São vários os restritos de corre-corre, furtos e pânico nos shoppings que foram usados como ponto de encontro.

Do ponto de vista jurídico, a intenção dos rolezinhos em sua essência é aceitável, ingênua e não fere qualquer tipo de legislação. No entanto, faz-se necessário lembrar que os shoppings são estabelecimentos privados e quando fatos que ocasionam tumulto e pânico são considerados delitos tais fatos não podem ser permitidos. Isso sem falar nas pessoas mal-intencionadas que se aproveitam desses grupos apenas para cometer furtos e promover baderna.

De fato, a Constituição Federal de 1988 estabelece garantias fundamentais em seu art. 5º, entre elas a da livre manifestação, o direito de propriedade, de ir e vir, além da liberdade do trabalho. No entanto, existem limites para tudo. Ela não garante o direito de quebrar e roubar. E é isso que precisa ser impedido.

Infelizmente, os shoppings, que antes eram considerados espaços seguros e onde jovens poderiam se encontrar tranquilamente, agora vivem a repercussão negativa dos rolezinhos. Os shoppings não podem, obviamente, impedir a liberdade de circulação ou condicionar o acesso das pessoas. Por sua vez, os rolezinhos não podem prejudicar o direito de ir e vir de quem frequenta estes estabelecimentos ou limitar a liberdade de comerciar dos lojistas, ocasionando o fechamento antecipado das lojas ou do shopping como um todo.

Empresários, intelectuais e a imprensa mundial reúnem-se em Davos, na Suíça, anualmente. O encontro serve para debater o estado da arte do capitalismo. Inerente a tal conjuntura, estão os desafios que podem ou não ser superados pelo sistema econômico, que possibilita que os países se desenvolvam e que ofertam à população bem-estar social.

Tradicionalmente, os debates ocorridos em Davos são semelhantes. Ausência de crescimento econômico, aumento do mercado de consumo interno, ausência de controle da inflação, controle de gastos públicos e desburocratização das amarras que impedem o capitalismo de funcionar a contento. Tal debate é enjoativo, embora seja necessário.

A presidenta, Dilma Rousseff, relutou em ir a Davos durante o seu mandato presidencial. Em razão da inquietude do mercado, já que os principais atores estão desconfiados do futuro da economia brasileira, e das eleições presidenciais que se aproximam, a presidente do Brasil optou por participar desta vez. Em seu discurso, Rousseff falou o que o mercado desejava ouvir, ou seja: que o Brasil não abandonará os pilares da economia trazidos por Fernando Henrique Cardoso (FHC) durante a implantação do Plano Real.

O controle dos gastos públicos e da inflação, câmbio flutuante e condições para que o capitalismo se desenvolva foram os pilares da era FHC e que permaneceram nas eras Lula e Dilma. E ,apesar da presidenta Dilma ter agido, em alguns momentos, para abandonar tais pilares, felizmente, ela não os abandonou.

O discurso da presidente Dilma Rousseff em Davos foi importante diante do momento da economia brasileira. Mas, assim como o encontro de Davos, não trouxe nada de novo. Dilma apenas reforçou os desejos do mercado. Contudo, a presidente poderia ter dito algo mais. Em vez de se deter apenas ao discurso meramente econômico, ela poderia ter dado ênfase aos programas educacionais que estão sendo implantados desde a era FHC. Dentre estes, destacamos: expansão do ensino superior privado, Prouni e Pronatec.

Foi com o ex-ministro Paulo Renato Souza (já falecido) que o ensino superior privado adquiriu condições para se expandir. Com isto, mais oportunidades para aqueles que não conseguiam realizar o sonho de obter um diploma de nível superior. Na era Lula, o Prouni foi criado. Este programa possibilita que pessoas, sem condições de arcar com as mensalidades das instituições privadas, conquistem uma graduação. E, recentemente, a presidente Dilma criou o Pronatec – que oferta cursos técnicos e profissionalizantes para os brasileiros que findaram o ensino médio. Tais medidas na área educacional estão preparando o Brasil para o futuro.

Não devemos analisar um país apenas pelos pilares tradicionais da economia – controle dos gastos públicos e da inflação, câmbio flutuante e desburocratização. Eles são importantes, mas precisamos ampliar nosso olhar. É através da educação que a igualdade de oportunidades surge. E com isto, maior desenvolvimento econômico e social para uma nação.  

A paulista Carolina Paz chega ao Recife com a exposição individual Porção. A mostra reúne uma série de trabalhos recentes na qual a artista dá continuidade a sua pesquisa sobre as construções plásticas de objetos banais e ações cotidianas. A visitação pode ser feita até o dia 28 de fevereiro, com entrada gratuita.

A abertura acontece nesta terça-feira (21), às 19h, na Sala Nordeste de Artes Visuais. Com curadoria de Douglas de Freitas, a exposição integra pinturas, escultura, objetos e um vídeo, que mostra elementos do cotidiano reposicionados.

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Intitulada Abraço, a escultura da exposição é composta por cem travesseiros de penas de gansos que ficam amarrados com uma corda dourada. A mostra também apresenta os trabalhos Volta e Átimo, além do vídeo Sem Título de 2011, que abre a exposição.

Serviço

Exposição Porção de Carolina Paz

Abertura na terça-feira (21) às 19h; visitação de 22 de janeiro a 28 de fevereiro| de segunda a sexta, das 10 às 18h; sábados e domingos, das 14h às 17h

Sala Nordeste de Artes Visuais (rua do Bom Jesus, 237- Bairro do Recife)

Gratuito

O ano de 2013 se encerra e já começam as perspectivas e especulações para o próximo ano. 2014 promete ser de muito movimento para nós brasileiros, em todos os aspectos – político, econômico e social. Talvez um ano mais corrido do que os outros, já que seremos sede da Copa do Mundo de futebol e, logo em seguida, acontece a eleição presidencial e estaduais.

O aspecto econômico não promete surpresas. As projeções dos economistas para o Brasil é que a economia cresça entre 2% e 2,5% em 2014. Ou seja, durante os quatro anos do governo de Dilma Rousseff teremos um crescimento médio de 2%. Nada extraordinário, no entanto, ainda positivo.

Apesar de muitos acreditarem que 2014 será um ano perdido - carnaval, copa e eleições -, não podemos pensar assim. Não sou um pessimista, mas, antes de pensarmos apenas no título mundial, vale, apenas para reflexão, lembrar um exemplo inefável: Maracanã 1950 - o Brasil inteiro se preparava para a maior comemoração de todos os tempos quando o Uruguai foi o campeão.

Nas conversas em diversos setores não há muito otimismo em relação ao novo ano, por conta das duas efemérides, Copa do Mundo e eleições.  Não existem dúvidas que há riscos de que alguma coisa não dê certo. E, caso alguma coisa dê errado, como será um ano eleitoral, acredita-se que a responsabilidade cairá sobre o governo federal.

Claro que temos que pensar no legado que a Copa poderá deixar ao Brasil. Além dos benefícios das obras de mobilidade que estão sendo realizadas com o intuito de atender, em grande parte, a demanda turística, o próprio setor turístico deve aproveitar a oportunidade para cativar os visitantes e fazê-los retornar em outras oportunidades.

Entretanto, não devemos esquecer que outros aspectos precisam de atenção constante – há temas que não podem ser abandonados, como a ampliação do número de profissionais de saúde em todas as cidades, questões relevantes para a infância e juventude, o sistema prisional que está entre os mais indigentes do mundo, a melhoria do ensino público, etc.

É lugar comum dizer que a educação e saúde necessitam de investimentos urgentes e contínuos. E neste caso, a Copa do Mundo de futebol não pode fazer com que nossas próximas eleições sejam monotemáticas, já que, em outubro de 2014, ela já terá terminado e, o que menos importará na discussão eleitoral, será o desempenho da Seleção Brasileira. 

O fato é que os eleitores são heterogêneos, vivem vidas diferentes e pensam de forma diferente. Imaginar que suas preocupações e expectativas são iguais não faz sentido. A motivação dos nossos gestores não pode ser apenas preparar as cidades para a Copa, ou até mesmo para as Olimpíadas – que acontecem em 2016. A busca deve ser em preparar a cidade, em todos os aspectos, para os próximos 40 anos. Para os cidadãos que residem permanentemente.

Em 2013 foram muitas emoções, no Brasil e no mundo. Esperamos ainda mais para 2014 - um ano novo repleto de produtividade.

O cara está sempre atrasado. Aliás, o Brasil está atrasado. A propósito, a impontualidade é paixão ou mania nacional? É cul-tu-ral, responderão os sábios. Cultural é a vovozinha! No mínimo, é falta de educação e desrespeito às pessoas. Voltarei ao tema das “causas”.

Mais urgente é alertar as vítimas da impontualidade para o verbete que o impontual, o atrasado (usarei sem distinção) lançam mão para justificar a completa falta de compromisso com o horário:

1. Foi o trânsito. Mentirinha cansada de guerra, eventualmente salva pela “guerra dos protestos”.  O caos na mobilidade urbana afeta nervos, produtividade geral de uma nação, polui, esculhamba tudo, mata gente (esta semana, por duas vezes, ia sendo atropelado por motos velozes e furiosas transitando pela calçada. Atenção nobres autoridades, costumo andar a pé!) e compromete os negócios. Basta dizer que um amigo, empresário organizado, sério, trabalhador, me mostrou uma conta impressionante: somou as horas que passa no trânsito e o resultado foi o equivalente a um mês entalando e entalado nas ruas. O jeito é sair mais cedo de casa. Aliás, cada dia mais cedo, menos sono, menos qualidade de vida. O que não é correto é chegar atrasado.

2. Já, já ou logo... Significa nunca porque quando o impontual chega ao compromisso, a reunião acabou.

3. Um minutinho... Uma eternidade. Senta, amigo, e espera porque não se trata de sessenta segundos.

4. Entrego no máximo... A lambança já estava feita. Trata-se de uma prorrogação sempre prorrogável.

5. Sem falta...Irmã gêmea da anterior. Mas muito usada quando a espera não é mais suportável.

6. Veja bem... A espera chegou ao limite. Faz parte do dialeto de concessionária, de oficinas autorizadas e similares, diante do consumidor a um passo do Procon. Segue o “veja bem” a desculpa esfarrapada. Não se deixe vencer pelo cansaço. Vá à luta. Justiça neles e boca no trombone.

7. Verbos no gerúndio... Muito comum na gestão pública. Muito usado pelo burocrata perverso. Engana o chefe, o contribuinte, a sociedade. Fazendo, concluindo, andando é o disfarce da preguiça, do descompromisso e da promessa de campanha indo (gerúndio) para o vinagre.

Leitoras e leitores (exigência do insuportável politicamente correto que traz saudade do neutro latino), agora vamos explorar as razões da impontualidade.

Trata-se de um traço comum aos países subdesenvolvidos. Em 2003 o Equador criou um programa a “hora equatoriana” para combater a impontualidade. No Peru, o presidente Alan Garcia criou uma campanha, em 2007, “A hora sem demora” por conta dos prejuízos econômicos decorrentes da impontualidade.

De fato, a existência de cidadãos de primeira, segunda, terceira classe e uma multidão de excluídos geram odiosa hierarquia onde a autoridade ou o mais poderoso se sentem donos do outro e do seu tempo. Mais que incivilidade e efeitos da sub-cidadania, é uma resistente herança da obra da escravidão. A única coisa que o sujeito tem é o dia e a noite, ou seja, o tempo. Pois bem a impontualidade coloca o tempo no rol das coisas materiais das quais somos meros e passageiros depositários.

E aí tome chá de cadeira. Fazer-se esperar revela uma idiota, porém, real importância social.

E os eventos? Seminários, palestras, shows, etc... todos têm, convencional e injustificadamente, um “atraso regulamentar” que varia de 15 a 30 minutos. Chegou no horário? Pois bem, será desrespeitado. Casamento? Só há um jeito: o padre (ou o celebrante de qualquer religião) se mandar. Um abuso. E há quem ache que é IN ou CHIQUE. Um registro oportuno: existem nações que olham o impontual como um ladrão do tempo alheio.

Ser pontual não é virtude. É o simples cumprimento de obrigação assumida na hora aprazada. Nada de neurose, nem ansiedade. A pontualidade simplesmente permite o uso do tempo de modo que ele não se torne escasso nem prive as pessoas da liberdade de fazer escolhas. Há tempo para tudo desde que dele se faça bom uso.

E quando alguém, em tom de jocosa censura, indagar a por quê você está saindo muito cedo para um compromisso, responda como o dono de uma bodega na Torre, seu Mané Serapião respondeu à mulher, com o jeitão de matuto, casca grossa por fora e espírito de fineza por dentro: “E eu vou esperar que fique tarde?” 

Faltam poucos dias para a virada do ano. Intensifico a minha reflexão quanto aos desafios vindouros. E relembro as conquistas dos anos que se passaram. Mas não podemos pensar exclusivamente em nossas conquistas. Precisamos refletir sobre as conquistas coletivas da sociedade brasileira. Não tenho receio em afirmar que o Brasil venceu mais uma etapa do seu desenvolvimento socioeconômico no ano de 2013. Mas, apesar das conquistas, continuamos com imensos desafios.

A permanência desses desafios não significa que ações não foram realizadas pelos governos com o objetivo de findar problemas existentes, ao contrário. O desenvolvimento econômico brasileiro carece de mais investimento do estado. Não sou defensor do capitalismo estatal, mas, prego o investimento público na infraestrutura. Ele provoca o espírito animal do empresariado.

O investimento público deve estar acompanhado da iniciativa privada. As parcerias público-privada estão sendo constantemente implantadas por vários gestores públicos. Tais parcerias precisam continuar a existir, já que, através delas, é possível aumentar a capacidade do investimento estatal e, por consequência, dotar o Brasil de atrações para investimentos privados, inclusive estrangeiros.  

O sucesso das recentes concessões de estradas e aeroportos mostra a intenção da presidenta Dilma Rousseff de criar espaços atraentes para o investimento privado. Porém, ressalto, que a presidenta não pode mais permitir artimanhas fiscais. Os gastos públicos, quando necessário, devem ser reduzidos e equilibrados e a transparência dos gastos é princípio fundamental da governança moderna.

A saúde pública brasileira continua a ser um desafio. O Brasil criou o Sistema Único de Saúde (SUS), mas, infelizmente, ele não consegue dar conta das demandas dos brasileiros. Portanto, é absolutamente necessário que o tema saúde pública esteja nos debates da eleição presidencial de 2014. Entretanto, o debate não pode ser simplista, ou seja: mais verbas, melhor saúde. Precisamos discutir a oferta de médicos, a eficiência da gestão dos hospitais públicos, a ampliação do Programa de Saúde da Família e a construção de laboratórios públicos para garantir que todo brasileiro possa ter condições de detectar alguma enfermidade.  

A educação é outro desafio permanente. O Brasil avançou, mas ainda ocupamos posições não meritórias nos rankings educacionais. Que tal os presidenciáveis debaterem a federalização do ensino básico? A educação básica requer investimentos nas estruturas das escolas e dos professores. Além disso, PROUNI, FIES e PRONATEC são políticas públicas inclusivas que devem ser ampliadas.

Um Plano Nacional de Segurança Pública também precisa ser feito. O próximo presidente da República não pode mais relegar tal tema ou responsabilizar os governadores pelos altos índices de criminalidade. O fortalecimento das guardas municipais e a ampliação do contingente da Polícia Federal são algumas ações que podem ser tomadas com o apoio do Poder Legislativo.

Reconheço os avanços do Brasil. Mas, os desafios continuam. O ano de 2014 é propicio para a busca de soluções dos problemas apresentados, já que teremos eleição presidencial e, assim, tais temas ficam aflorados. Feliz 2014!

Duas entrevistas recentes publicadas no jornal Folha de São Paulo despertaram a minha atenção. Josué Gomes da Silva, filho do ex-presidente José de Alencar e presidente da Coteminas, frisou, em entrevista no dia 25/11/2013, que faltam ao governo Dilma Rousseff previsibilidade e transparência na economia. Nilson Teixeira, economista-chefe do banco Credit Suisse, em 01/12/2013, afirmou que investimento em educação precisa ser prioridade.

Concordo com as referidas afirmações dos autores destacados. A presidente Dilma Rousseff optou, no início do seu governo, por desenvolver o capitalismo de Estado. Com isto, todas as ações voltadas para o desenvolvimento econômico, inclusive no âmbito da infraestrutura, precisaram, necessariamente, passar pelo crivo de variados ministérios. Tal decisão acarretou desconfiança dos empresários, já que a liberdade de agir, sob a observação do estado, é característica da atividade empresarial. Mas, o governo Dilma escolheu a ação e não apenas a observação.

Além disto, desde o início do governo Dilma, críticas ao desempenho do Banco Central foram feitas por empresários, economistas e jornalistas especializados em economia. As críticas versavam sobre a independência do Banco Central para tomar atitudes que tivessem como objetivo a busca pelo desempenho econômico pujante do país. A desconfiança, que sempre existiu por parte do setor produtivo, foi quanto à falta de transparência na relação entre governo e presidência do Banco Central. A ausência da transparência possibilitava desconfiança no que concerne ao futuro da economia brasileira.  

A atividade empresarial requer riscos. Entretanto, eles podem estar atrelados a níveis de previsibilidade. Neste sentido, empresários desejam saber claramente se a opção do governo é o controle da inflação, a parceria público-privada na execução de obras públicas e qual será o nível dos gastos públicos num estágio de reduzido crescimento econômico. Quando os governos sinalizam quais são os seus objetivos, empresários descobrem por qual caminho trilhar.

Reconheço, que desde o início do segundo semestre, a presidenta Dilma Rousseff dá sinais claros e positivos ao setor produtivo brasileiro. Ela fez a opção de controlar a inflação. A prova disto é de que não mais existem cerimonias para o aumento de juros, caso seja necessário. As concessões de estradas e aeroportos para a iniciativa privada têm apresentado sucesso, inclusive, trazendo lucro para a União, como foi o caso da concessão do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Portanto, parece-me que o Brasil viverá uma nova etapa em 2014.

Por outro lado, não devemos esquecer dos investimentos em educação. O Pronatec foi criado. O Bolsa Família ampliado. Ambos representam incentivos para a qualificação dos brasileiros. Entretanto, o Brasil precisa de mais. É necessário pensar a formação de uma concertacion entre prefeitos, governadores e presidente da República para que, juntos com a iniciativa privada, o Brasil conquiste melhores índices educacionais em relação a outros países.

Debater a economia é necessário. Mas, antes deste debate ou atrelado a ele, observo que devemos discutir a educação. Pois sem profissionais qualificados, o desempenho da economia brasileira não será inclusivo. Será apenas para alguns.  

Todo torcedor é chato. Indepedente da idade, uma criança. Crianças, já viu, né?, tirante nossos filhos, são anjinhos, lindas e chatas. Mas sem este personagem o futebol perderia a graça assim como a vida perderia a alegria não fosse o perfume e a beleza da infância. 

E é simples explicar: infantilizado, o torcedor xinga, elogia, chora, briga, confraterniza, vai da depressão à euforia em minutos e devota tanto ou mais ódio ao seu rival do que amor ao seu clube de preferência.

Há quem diga que a origem do nome vem dos lenços nervosamente torcidos pelas damas que, muito bem vestidas, frequentavam, na década de trinta, as competições de um esporte importado do Império inglês - o football -, eurocêntrico, branco, elitista, mais tarde, incorporado pela mestiçagem brasileira que transformou a prosa retilínia, construída com régua e compasso, em poesia curvilínia do futebol mulato, feita de estrofes, livres, leves e soltas, como cantam os repentista, pois, ao final não perdem a rima, da mesma forma que, com a ginga, o meneio do corpo e a magia do pé chegam ao momento sublime do gol. O futebol europeu é prosa; o brasileiro (ainda), poesia. É o que dizia o grande cineasta Pasolini lá pelos idos da década de setenta.

Da origem aos dias atuais, o futebol tornou-se o maior espetáculo da Terra. Com ele, o aparecimento de personagens que, embora tenham sofrido grandes transformações, não perderam características originais. De fato, o futebol artesanal/romântico e o futebol moderno/científico mostraram vários personagens com as características dos tempos históricos de cada um. Dentre eles, porém, o personagem mais fiel às características originais é o torcedor.

Com efeito, a primeira identidade, a do indivíduo-torcedor nasce no espaço local a partir da relação entre o indivíduo e o clube, constituída por razões e emoções explicáveis e inexplicáveis. Projeta-se em círculos concêntricos para o espaço nacional e a global. O sentimento brotou, tudo mais tem razão que a própria razão desconhece.

O torcedor pode ser objeto de um tratado de psicologia eis que no limite mata e morre pelo seu clube; é alimentado pelos laços de solidariedade e pelos conflitos da rivalidade em que o amor pelo clube de preferência se iguala ou ou é suplantado pelo  ódio ao  adversário.

No conjunto, a identidade coletiva compõe uma horda; vive uma atmosfera tribal que canta, grita e extravasa paixão e agressividade; expressa os mais contrastantes sentimentos: vai da euforia à depressão em segundos; torce e distorce, provocando e sendo provocado pelo contágio que transfere ou recebe das tensões da disputa. Este quadro pode ser observado, de modo mais agudo, em torcidas para quem o futebol é a coisa mais importante de suas vidas e o dia de jogo é dia de um culto a uma verdadeira religião. Infelizmente,  colocam em cena a violência desnaturando o mais desprendido dos afetos: ainda que não receba a paga da vitória, o torcedor continua dando sem a contrapatida do receber.

Ainda no conjunto, estão ligados por uma argamassa de grande família, ora resvalando para o espírito guerreiro e clânico que projeta uma auto-imagem megalômana, movida por uma força mítica.

O torcedor tem alma devota e espírito de criança; torce e joga (décimo segundo jogador); aplaude e vaia; idolatra e condena com a mesma intensidade; em todos os casos, o torcedor dá vozes às cores num coro de vozes e canta hinos de louvor à pátria amada eleita pelo coração.

No entanto, é o único caso em que o amor não é cego: é míope ou caolho. O torcedor somente enxerga o que favorece seu time: transforma uma merecida goleada numa virada sensacional, em geral, por culpa do juiz e do famoso "se". 

Por isso, Bill Shankly, gerente e técnico do Liverpool entre 1959 e 1974, conclui seu livro com a seguinte frase: “Algumas pessoas pensam que o futebol é tão importante quanto a vida e a morte. Elas estão muito enganadas. Eu asseguro que ele é muito mais sério que isso”. 

Por tudo isso, torcer é distorcer.

Nos últimos anos acompanhamos o leilão de alguns dos maiores aeroportos do país e de algumas rodovias. Todo esse processo faz parte de uma política governamental de privatizações. No entanto, será que essas ações tem impacto positivo, neutro ou negativo para a população e para o Brasil?

Para iniciarmos, é preciso compreender que a privatização no Brasil é o processo de venda de empresas públicas ou da parcela sob controle do estado brasileiro em uma empresa de economia mista para investidores e corporações privadas, nacionais ou multinacionais. Por aqui, foi durante o governo de Fernando Collor de Melo vimos surgir o primeiro programa de privatizações, com a constituição do Programa Nacional de Desestatização (PND).

No entanto, durante os oito anos de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso que as privatizações ganharam fôlego redobrado, com a oferta de estatais de peso em setores chaves como telecomunicações, energia e siderurgia. A ideia era melhorar a produtividade da economia e ampliar o acesso da população a serviços como os de telefonia. Uma das maiores negociações da época foi a da Companhia Vale do Rio Doce, em 1997, a maior exportadora de minério de ferro do mundo. O leilão encerrou-se em US$ 3,3 bilhões.

No decorrer de seu mandato, o presidente Fernando Henrique Cardoso arrecadou 22,23 bilhões de dólares na privatização de empresas do setor elétrico e 29,81 bilhões de dólares das telecomunicações. Já durante o governo Lula, o foco das privatizações mudou. O alvo foram as rodovias, a licitação para novas hidrelétricas e a venda de mais bancos estaduais. Pelo menos 2.600 km de estradas federais passaram para as mãos do capital privado.

Quanto o governo brasileiro já arrecadou com a venda de antigas estatais? Estima-se que, até 2005, os negócios ultrapassaram 90 bilhões de dólares. O fato é que, sob novos comandos, as empresas trouxeram benefícios para o país. Talvez o mais emblemático deles seja o da telefonia, que em 1998 tinha apenas 22 milhões de telefones em operação e em menos de uma década, já havia atingindo a marca de 125,7 milhões de aparelhos em funcionamento - entre telefones fixos e celulares.

Claro que o processo de privatização não é 100% de sucesso. A privatização não foi suficiente para colocar nos trilhos a malha ferroviária brasileira e houve problemas com as margens de segurança. Mas, o maior problema é que os contratos não previam punição para as falhas. Além disso, não havia a preocupação com o reajuste das tarifas cobradas e assim, em alguns pedágios, o consumidor ficou bastante prejudicado. Fato este que não se refletiu nos últimos leilões, já que, um dos critérios para a disputa era o menor custo social para a população.

De fato, temos visto com positividade as privatizações. A parceria entre público e privado tem dado fôlego a setores antes saturados, como as rodovias e os aeroportos. Os incentivos têm trazido benefícios à população local e aos turistas. Mas, é preciso cautela para não cometer exageros e colocar o país totalmente nas mãos da iniciativa privada, sem controle e sem acompanhamento. 

Ele chega mansamente. Suavemente. Sem zoada. Sem barulho. Silenciosamente. O oposto do que lhe deu grandeza universal.

Ele chega vestido com a túnica majestática da nossa ancestralidade: a pele negra da mama África.

Ele anda na pista circular do Parque da Jaqueira como fazem milhares de pessoas, obedecendo à prescrição da vida saudável em tempos de estresse, sedentarismo e maus hábitos que condenam corpo e alma ao tormento das doenças.

Ele é um ser único. Um fenômeno a desafiar as funções convencionais dos sentidos. Ele escuta com os olhos e vê com os ouvidos.

Caminhando, os pés roçam no chão: a fricção é um som e uma inspiração. O vento bate no rosto: a carícia da brisa é um som e uma inspiração. O sol crepita no lombo: é um som e uma inspiração. A respiração acelera, o coração bate mais rápido, a folhagem das plantas farfalha, os pássaros chilreiam, nele, então, a fusão do olhar e do escutar compreende que a vida é ritmo e som (melodia e harmonia vêm depois); ritmo e som que começam no aconchego da vida uterina com o batuque de dois corações e, no primeiro ato, nascer, o vagido, som inaugural do humano, é um misto de saudade da plenitude e medo do desconhecido.

Menino, as mãos buliçosas catavam caranguejo nos mangues e não deixavam em paz panelas e caçarolas. Tanto bateu que o pai, tocador de manola (violão de quatro cordas) na boate da sede do Bloco Batutas de São José, deu ao garoto de 11 anos um bongô, umas maracás e um afoxé. Mal sabia Pierre, o marido de Petronila, que entregava ao filho um passaporte para que ele ganhasse o mundo. Quase metade da vida, viveu fora do Brasil. Os primeiros passos do imigrante negro e pobre revelaram o talento brasileiríssimo da bendita esperteza quando está em jogo a sobrevivência. Predestinado, ele literalmente ganhou o mundo e mundo enxerga nele um gênio da percussão.

O guitarrista Pat Metheny o chama de Doctor. O percussionista indiano Trilok Gurtu o reverencia como o Paxá. A revista Down Beat, dedicada ao jazz, em oito votações (Grammy, oito premiações), classificou-o como “o melhor percussionista do mundo”. Porém, a referência que melhor define o artista vem do cineasta italiano Bernardo Bertolucci que não admite que o chamem de músico, mas sim de “A Música”.

Quem conhece a trajetória, a obra e assistiu à apresentação de “4 elementos” do autodidata que diz “eu sempre procuro mostrar o potencial visual que existe na música, nos sons”, confirma a singularidade do ser que escuta com os olhos e vê com os ouvidos.

Vai além, dá razão à síntese de Bertolucci que dispensa adjetivos e mata a charada: Juvenal de Holanda Vasconcelos, pernambucano do Recife, é o nome de batismo de Naná Vasconcelos, que dona Petronila encurtou de “Juvenár” e, com a linguagem afetiva de mãe, o manhês, chegou a Naná, uma forma especial de prosódia, ritmo na fala, repetição de sílabas, repleta de eufonia, como se fosse a premonição de um destino que, longe de ninar, é canção de “Nanar”, o batuque/mensagem do despertar.

Homenageado no carnaval passado (2013) e agraciado no grau de Grã-Cruz com a medalha da Ordem do Mérito dos Guararapes pelo governador Eduardo Campos, o comendador Naná mantém sua rotina com autêntica humildade; chega no Parque da Jaqueira, silenciosamente; aos sábados, senta no meio-fio, recusando a oferta da cadeira, mas aceita com muito gosto duas ou três cachacinhas que a turma reparte; com muito senso de humor, olhar plácido, não contém o riso largo quando alguém lembra algumas de suas frases antológicas: “Fama está na cabeça, na cabeça de camarão”, ou, para quem pensa que ele é gay ou bissexual: “Sou casado e nunca dei meu ‘alterador de fava’, mas não tenho nada contra. Adoro meu lado feminino e gosto muito de mulher”.

Em certa medida (e não na medida certa) reconhecido, a verdade é que Pernambuco e o Brasil precisam conhecer Naná. Mais de perto. 

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