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Se eu dissesse a Clávio que ia escrever a orelha do seu livro, ele diria:

Orelha? Nem pensar. É a parte mais feia do corpo humano, faz parelha com o nariz e enfeia ainda mais o cabra velho, já feio.

Então Clávio, argumentei, que tal uma conversa de pé-de-ouvido, um cochicho, sussurros, irreverências compartilhadas, causos que você foi mestre em contar?

Ele assentiu  com um sorriso maroto.

Desta vez, ouça, sem direito à réplica. E aí mandei o verbo sem a amargura do artigo Clávio, doeu demais.

Clávio, sua passagem pela vida foi luminosa, tão luminosaenfatizei que a luz continua acesa. Descobri de maneira simples: lembrando-me dos nossos encontros. Sempre em festas, no Paraquedista Real, nos encontros boêmios regados a salivas temperadas com uma cervejinha e com um detalhe que sempre me chamou a atenção: você e Iana, sempre juntos, formavam uma dupla de marido e mulher que ia muito além do lugar comum o "casal perfeito". Eram muito, mas muito mais que isso. Vocês formavam uma autêntica fusão, uma unidade espiritual, carnal, afetiva e divinamente indissolúvel, tanto assim que a morte não os separou.

Não sou um herético: foi Deus quem uniu.

De verdade amigohoje olho para Iana, penso em Clávio, ali juntos, de mãos de dadas; encontro Iana, vejo Clávio de mãos dadas para além do sempre. E ali, fiat lux, a luz acendeu quando a compreensão mútua enxergou que o famoso boêmio era, tão somente, um brincante com a liberdade. Boemia e liberdade são irmãs gêmeas e, se forem, assim entendidas, estará selado um pacto de verdade, prazeres mútuos, e  alegria de viver sob o pálio da força do amor que se desdobra nos nobres sentimentos da amizade e do companheirismo.

O meu cochicho Clávio é para dizer que a moça prendada que conheci na Torre, ainda adolescente, transformou-se na mulher de beleza e elegância aprimoradas pela maturidade, com o passar dos anos, e capaz de dar, como deu e recebeu, amor sem conta.

Você conheceu de perto tenho certeza a força solidária de sua mulher nos momentos de sofrimento e agonia que eram enfrentados sem uma compreensível palavra de descrença ou revolta frente aos mistérios do Destino. A sua vontade de viver encarou corajosamente a frieza das Parcas.

Sua luz se derrama não somente sobre ela, mas sobre seus filhos, netos de sangue ou apesar do sangue, conquistando cada um deles com mimos, gentilezasessa carência universal, ora contando histórias, ora extravasando o menino que você nunca deixou de ser, ora com o agrado diário de colocar na bolsa de Iana um Sonho de Valsa, a guloseima que lhe adoçava o paladar e temperava o gosto pela vida.

 

Vocêcom um jeito único de ser, foi um elo que não sóaglutinou como deu  sentido especial a um núcleo gerador de gente capaz de viver e conviver, chamado família.

Vou terminar o cochicho. Este livro tem coautores: a família ampliada e um contingente de amigos com quem você divide uma saudade que, quando pende para tristeza, basta contemplar o seu semblante perpetuado por Fernando Florêncio. 

Agora, não é mais conversa em tom confessional. Com a palavra, filhos, filhas, netos, abrigados em justas e igualitárias glebas no latifúndio cardíaco de Clávio, recitando em harmonia de jogral, uma prece de louvor e gratidão.

De resto, ficam o livro de sentimentos, gente vivendo de saudade e...VOCÊ, INTEIRO!

PS. Este texto integra o livro 60 crônicas e uma petição de autoria de Clávio Valença (In memoriam), lançado no sábado, 16/5, no restaurante D. Pedro.

Mais de quatro mil mortos, sete mil feridos e um milhão de pessoas precisando de ajuda humanitária. Esses são dados após a tragédia causada por um terremoto de magnitude 7,8 na escala de Richter, no Nepal na última semana. A placa tectônica indiana se movimentou quatro metros em apenas vinte segundos, quando o comum era de 5 centímetros por ano.

Dias após o tremor e ainda em processo de resgate de feridos e vítimas, chamamos a atenção para as seguintes questões: sabia-se que Kathmandu, capital do Nepal, fica na falha geológica onde se chocam as placas tectônicas da Índia e Euro-Ásia, tornando-a uma das cidades mais vulneráveis do mundo. Acrescentem a isso os registros históricos, que indicam que o período de retorno de um sismo de magnitude 8 na região é de cerca de 75 anos, sendo que, segundo a National Society for Earthquake Technology do Nepal - o último tinha sido em 1934.

Teria sido esta uma tragédia anunciada?

O Nepal é um dos países mais pobres e menos desenvolvidos do mundo. Localizado em uma região com alto risco sísmico, com 28 milhões de habitantes e com PIB per capita de aproximadamente mil dólares, para muitos especialistas a má qualidade das construções locais é uma das razões que explica o elevado número de vítimas e o efeito devastador do terremoto.

O custo total da reconstrução no Nepal, usando padrões de construção apropriados para uma região com muitos tremores, pode superar os cinco bilhões de dólares, o que equivale a aproximadamente 20% do PIB do país. Um grande desafio.

Podemos dizer que não há semelhanças entre a tragédia no Nepal e o Brasil. Por um lado, sim. O Brasil não possui registros históricos de terremotos, já que ficamos localizados em um conjunto de placas tectônicas muito antigas e com pouca, ou nenhuma atividade. Entretanto, vivemos tragédias que, assim como o Nepal, são anunciadas e não são prevenidas.

Se em 1934, mais 18.000 mil pessoas morreram em todo o Nepal e na Índia devido a um tremor, o que dizer das centenas de pessoas que morrem todos os anos com as enchentes que ocorrem por todo o Brasil nos períodos de chuvas? Ou das centenas de desabrigados devido aos desabamentos de barreiras?

O mundo deve, sim, se unir para ajudar na reconstrução do Nepal e no apoio aos sobreviventes. No entanto, é preciso que esta tragédia sirva de exemplo a todos os países que, de uma forma ou de outra, são atingidos por desastres naturais que podem ser prevenidos e minimizados.

O Relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sugere que as perspectivas para os próximos anos da economia brasileira são sombrias. De acordo com o relatório, a inflação, neste ano, sairá da meta e a previsão é de que ela alcance 7,8%. Em 2016, a expectativa é de um recuo  da taxa para 5,9%. A contração da economia tende a ser de 1% em 2015, voltando a crescer 1%, em 2016, segundo o FMI.

Por outro lado, as perspectivas para a crise política não são tão pessimistas. Se no início do segundo mandato do governo Dilma Rousseff, o presidencialismo de coalizão funcionava conturbadamente, é possível que ocorra processo de arrefecimento entre o Congresso Nacional e o Poder Executivo.

Política, economia e opinião pública estão relacionadas simetricamente. O crescimento econômico motiva o aumento da satisfação dos eleitores para com o governo. Quando sufragistas apoiam majoritariamente o governo, o presidencialismo de coalização funciona sem fortes turbulências. Estes mecanismos foram observados em 2011 e 2012, anos iniciais do primeiro mandato do governo Dilma Rousseff.

Neste momento, não há crescimento econômico e, por consequência, os eleitores, majoritariamente, reprovam a gestão de Dilma Rousseff, colocando o regime governamental sobre fortes turbulências. O futuro aparenta ser difícil. Porém, a expectativa é que 2015 sirva para realizar ajustes.

O envolvimento do vice-presidente da República Michel Temer na articulação política é o primeiro passo para a construção de um futuro promissor. Temer, junto com outros ministros e a disposição da presidente da República pode apaziguar a relação com o Congresso Nacional. Com isto, o ajuste fiscal proposto por Joaquim Levy tem condições de ser aprovado.

A aprovação desse ajuste fiscal e o esforço do governo para resgatar a confiança do setor produtivo e da sociedade brasileira farão com  que existam esperanças para o futuro próximo. O ajuste fiscal, como bem ressaltam diversos economistas, construirá condições para o retorno do crescimento econômico e o controle da inflação. Caso isto ocorra, surgirão condições mais adequadas para o retorno dos avanços socioeconômico.

O cotidiano da política serve para explicar as crises. Em momentos assim, a opção pela tragédia não é escolha coerente para um país que insiste em avançar desde a época do Império. A melhor opção ainda é o diálogo, o exercício responsável da oposição e o reconhecimento de que, na próxima eleição presidencial, todos os partidos políticos terão oportunidades de oferecer novas opções de agenda ao Brasil. 

Cícero não éo jogador que ganhou destaque no Santos, Fluminense e, atualmente, corre atrás da bola no Al-Gharafa do Catar.

Seu nome épomposo Marcus Tullius Cícero. Nasceu na Itália no longínquo janeiro do ano 107 a.C e morreu assassinado por conta das artes da política em dezembro do ano 44 a.C.

Era dotado de fulgurante e versátil inteligência. Escritor, poeta e filósofo introduziu na língua latina a prosa filosófica dos gregos. Seguidor de Platão, é autor de Da República, Das Leis, Da Natureza dos Deusese, entre outras obras, um livro notável sob a forma de diálogo sobre a velhice (De Senectute) no qual revela a contagiante sabedoria dos estoicos.

Porém, apesar da imortalidade garantida como pensador, manteve-se vivo e influente atéos dias atuais por conta de sua conduta como político e, sobretudo, como advogado e orador imbatível.

Os bacharéis em direito da minha e de gerações anteriores enfrentavam nas provas de vestibular, português, inglês ou francês, e o latim (no ano em que prestei vestibular, duas matérias foram adicionadas história e filosofia e as Catilinárias substituídas pela monumental obra Corpus Juris Civilis que, por ordem do Imperador Jusitiniano, e concluída em 530 da era cristã, salvaguardou para a posteridade o maior feito do Império que foi o Direito Romano).

E o que eram as Catilinárias? Uma coletânea de quatro discursos de Cícero que destruiu a conspiração de Lucio Sérgio Catilina, um político que encarnava a conjuntura romana da época, marcada por uma corrupção endêmica, estrelada por uma geração de jovens precocemente corruptos, sem o mínimo zelo com a dignidade pessoal e dispostos a satisfazer ambições inconfessáveis na busca de acumulação de riqueza e da fruição dos prazeres mundanos (uma advertência: estamos falando de Roma, logo qualquer semelhança com nações modernas émera coincidência).

Pois bem, os estudantes que almejavam transpor os umbrais das faculdades de direito eram obrigados (e treinados) para ler, traduzir e fazer análise sintática da língua morta/viva, de enorme complexidade. Caso contrário, seriam reprovados.

Éfamosa e conhecida a abertura dos discursos: Atéquando, Catilina, abusarás da nossa paciência?Mais uma vez, mera coincidência com personagens vivos e buliçosos.

Depois de ocupar, muito jovem, os cargos de Questor (espécie de gestor fiscal), Edil, Pretor e eleito Consul (43 anos) e derrotar Catilina, Cícero recebeu o título de Pai da Pátria, Libertador e Fundador da Nova Roma. No entanto, pagou com a própria vida pela conduta reta e ilibada: foi cruelmente assassinado pelos asseclas de Marco Antonio.

Não bastassem as obras e os exemplos, Cícero nos deixou uma admirável síntese que érecorrentemente citada em palestras e aulas sobre a gestão pública: O orçamento nacional deve ser equilibrado. As dívidas públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os pagamentosa governos estrangeiros devem ser reduzidos se a Nação não quiser ir àfalência. As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública(ano 55 a.C).

Cai o pano. 2015, d.C, A Presidente Dilma corretamente veta um malsinado projeto de lei sobre o futebol brasileiro e emite a MP 671 que Instiui o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro, dispõe sobre a gestão temerária no âmbito das entidades desportivas profissionais, e dáoutras providências.

Quem se der o trabalho de ler detidamente os 37 artigos da MP compreenderáa atualidade de um texto que tem mais de dois mil anos. A MP pode se tornar um marco na lenta evolução institucional do futebol e reverter a vergonhosa situação a que chegou a grande paixão nacional.

Apesar dos avanços, a MP corre um risco e tem um pecado capital.

O risco éser destroçada por interesses subalternos e pressões ilegítimas na tramitação congressual. Seráuma luta inglória se a sociedade não se mobilizar, especialmente os que lidam direta ou indiretamente com o futebol, o maior espetáculo da Terra.

O pecado: a MP não trata de uma questão vital que éa distribuição, minimamente equânime, das cotas de televisionamento, entre as entidades desportivas profissionais.

Caso as bancadas do atraso vençam, o placar permanecerá: Alemanha 7x Brasil 1.

Em 2013, o Brasil sofreu com uma epidemia de dengue. Foram campanhas, ações e tentativas de combate ao mosquito transmissor da doença. Em 2014, os números reduziram e acreditou-se que havíamos chegado ao controle da doença. Entretanto, até o fim de março deste ano, o Ministério da Saúde registrou mais de 460,5 mil casos de dengue no país – número que pode ser muito maior já que nem todos os casos são diagnosticados.

Os números alarmantes, fizeram acionar os alertas para uma nova epidemia. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, OMS, a dengue é a doença tropical que se espalha mais rapidamente no mundo e presente em 125 países – um número maior que do que os da malária, considerada a doença mais notória que é transmitida por mosquitos.

Calculando em torno de 220 casos confirmados da doença por hora, o combate à dengue vai muito além de diagnosticar e tratar a doença. É preciso prevenir. São Paulo é, de longe, o estado mais afetado pela dengue. As mudanças climáticas, os problemas com o racionamento e o armazenamento incorreto de água ajudam na rápida proliferação do mosquito transmissor.

Mais preocupante é saber que uma em cada dez cidades brasileiras já tem, em apenas quatro meses, índices epidêmicos de dengue. Ou seja, nessas cidades, a cada 100 mil habitantes, a incidência da dengue supera 300 casos. Além de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e Pernambuco estão no topo da lista com os maiores índices da doença.

Infelizmente, diante de surtos de doenças como a dengue, é que ficam ainda mais claros os problemas vividos e as falhas no sistema de saúde pública brasileira. A grande quantidade de hospitais lotados e a impossibilidade de fornecer atendimento aos pacientes tem, inclusive, resultado no aumento de índice de mortes causadas pela dengue hemorrágica – caso mais grave da doença e que, se diagnosticado e tratado em tempo, tem cura.

Além de estrutura para o diagnóstico e tratamento, outras questões importantes, como prevenção e combate ao mosquito, não foram planejadas. Planejamento e prevenção são atitudes chaves não apenas para o controle de epidemias como a dengue ou outras doenças tropicais, mas, são atitudes válidas para inúmeros setores e que, se valorizadas, poderiam evitar uma série de problemas enfrentados pela população.

Diante da situação, temos que efetuar dois trabalhos intensivos para conter a epidemia de dengue no país: tratamento rápido e eficaz aos que estão com a doença; aliado ao trabalho de combate à proliferação do mosquito, para resultar na diminuição de infectados. Um trabalho que poderia ter sido evitado, se as medidas preventivas tivessem sido realizadas de forma constante.

Resta a todos nós continuarmos fazendo nossa parte nessa guerra e torcer que a situação não se agrave ainda mais.

Este é o título da magnífica obra cujo autor foi e continua sendo um dos mais influentes pensadores do século XX. Gigantesca no tamanho e apurada na qualidade, a produção intelectual de Russell Kirk (1918-1994, nascido em Michigan) nos deixou 3.000 artigos de opinião, 814 artigos acadêmicos, 255 resenhas de livros, 68 prefácios, 23 coletâneas de ensaios, 3 romances e 22 contos reunidos em 6 livros. A Política da Prudência (1953) reúne 18 conferências ministradas na Heritage Foundation, editada antes do seu falecimento e lançada no Brasil pela È Realizações Editora, Livraria e Distribuidora Ltda, em 2014.

A pergunta é inevitável: por que um autor de tão vasta e importante obra somente agora é editado no Brasil? Se fosse brasileiro, Kirk não teria uma trajetória reconhecida merecidamente pelo simples fato de ser conservador, embora o mais notável descendente da prole cujo pai é o irlandês Edmund Burke (1729-1797, autor do clássico Reflexões Sobre a Revolução em França, Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2ª Ed. 1997).

Conservador? No Brasil, a sub-cultura política tem aversão ao debate. Prefere substituir o embate das ideias por uma rinha de galos de briga. As rotulagens pejorativas buscam desqualificar os debatedores. Kirk seria acusado de imobilista, reacionário e, no limite, associado à direita truculenta e autoritária. Não faltaria o troco, não por parte de Kirk que era, sobretudo, um gentleman. Porém, os autores das acusações escutariam a réplica idiota: comunistas, stalinistas e outras etiquetas “ofensivas”.

Pois bem, a abertura intelectual de Kirk e sua virtuosa tolerância o fizeram admirado pelos que discordavam de suas ideias. Não faltaram convites para integrar governos republicanos e democráticos. Convidado por Ronald Reagan, deu uma resposta bem-humorada: “como você deve me odiar para tentar me transformar num burocrata”.

Com efeito, Kirk preferiu remar contra a maré e apontava com sólida argumentação na direção de “negação de ideologia” e do “consenso liberal americano”.

Sobre ideologia, afirmava: (...) A ideologia não significa teoria ou princípio (...) Inverte as religiões (...) O que a religião promete ao fiel numa esfera além do tempo e do espaço, a ideologia promete a todos na sociedade – exceto aos que forem liquidados no processo”.

De outra parte, no seu livro A Mente Conservadora, prestes a ser lançado no Brasil, Kirk emitiu um tom inteiramente dissonante sobre o consenso liberal americano seja a visão do liberalismo clássico, seja a visão do “liberal” significando a tendência mais à esquerda “progressista”, não marxista.

A partir da lógica conservadora, ele enumera os seis cânones da doutrina, aqui, expostos resumidamente: (I) A crença em uma ordem transcendente, ou corpo de leis naturais que rege a sociedade, bem como a consciência; (II) Defesa da prolífera variedade e mistério da vida humana em oposição à uniformidade limitada, ao igualitarismo e aos propósitos utilitários dos sistemas radicais; (III) A convicção de que a dinâmica de uma sociedade civilizada requer ordem e classes em oposição à noção de uma “sociedade sem classes”; (IV) Propriedade e liberdade estão intimamente relacionadas e a supressão de um desses pilares da sociedade abre espaço para o Leviatã absoluto e para a utopia da igualdade econômica que não significa progresso econômico; (V) Resistência aos projetos abstratos de sociedade, obra de “sofistas, calculistas e economistas”, opondo como freio, os costumes, a convenção e usos consagrados; (VI) Obedecer aos ditames da prudência, a maior virtude do político, diante da mudança caracterizada como inovação precipitada que produz a conflagração em vez da tocha do progresso.

A rigor, a essência do pensamento kirkeano não pode se compreendida como uma doutrina política, mas como um estilo de vida, forjado pela educação e pela cultura. Todavia, é procedente afirmar que, no campo das ideias e das práticas políticas, os seguidores do conservadorismo kirkeano se opõem às mudanças radicais, revolucionárias, à perfeição das utopias, adotando uma visão realista, gradual, progressiva propondo a reforma como caminho inovador e transformador. É, em síntese, um moderado diante da fúria dos extremos e das sequelas das rupturas.

Por aqui, seria acusado de reacionário e, decerto, responderia com a fina ironia de Nelson Rodrigues: “Sou reacionário. Reajo a tudo que não presta”.

O ensino superior (graduação)  e pós superior (pós-graduação lato e estrito sensu) ,   nível mais elevado do sistema educativo, assim como o ensino técnico,  é de extrema importância para o desenvolvimento de uma nação. Através do ensino superior  e  técnico, os países qualificam a  mão de obra imprescindível para a libertação e  soberania de seu povo. Oferecido, normalmente, em universidades,  centros-universitários, faculdades e  escolas técnicas, confere graus acadêmicos ou diplomas profissionais.

Com o aumento da demanda e as poucas vagas oferecidas no ensino superior público, o sistema universitário privado cresceu rapidamente nas últimas décadas. O Censo da Educação Superior 2013, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em 2014, registrou mais de 7,5 milhões de estudantes matriculados em instituições de ensino superior. 

Desse total, aproximadamente 71,4% dos alunos estão vinculados a instituições de ensino superior privadas. Outra curiosidade é que, dentre os estados brasileiros, apenas cinco têm mais alunos matriculados em instituições públicas do que em instituições privadas: Santa Catarina, Paraíba, Tocantins, Pará e Roraima. Em contrapartida, São Paulo, o coração econômico do Brasil, contabiliza cinco matriculados na rede privada para cada aluno que frequenta a rede pública.

Nos últimos 12 anos, passamos por uma revolução na educação superior no nosso país. Se antes, cursar uma faculdade era um sonho distante para muitos. Agora, ser doutor, advogado e/ou engenheiro é realidade para os menos favorecidos. Grande parte desses sonhos foram realizados graças as parcerias público privadas, com a implementação do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e outros programas que, juntos, deram oportunidade para as classes C e D ingressarem no ensino superior.

Vale ressaltar que todo esse processo fez parte do programa de aceleração de expansão do Brasil, com forte inclusão e preocupação com melhoria de qualidade nos cursos superiores. Um importante passo no resgate da dignidade de milhões de brasileiros que não tinham perspectiva de melhorar sua situação econômica e, graças à formação superior, tiveram esta oportunidade.

Ainda estamos distantes de atingir as metas propostas pelo Plano Nacional de Educação (PNE). Somos um país de 200 milhões de habitantes, sendo que, dos 24 milhões de jovens em idade universitária (18 a 24 anos), somente 15% deles frequenta o Ensino superior. É um dos menores índices entre países com o porte econômico semelhante ao nosso e muito aquém dos principais parceiros ou competidores no cenário internacional.

É pensando nesses resultados que verificamos a importância do Fies. Apenas com o aumento do índice de formandos no nível superior é que poderemos construir de um novo cenário no Brasil, com mais diversidade e a participação de todas as classes sociais. É preciso garantir que todos os brasileiros tenham oportunidades iguais para ajudar a construir um país cada vez melhor.

— Pessoal, Tota bateu a cassuleta! Ar de espanto. Depois, uma brisa de tristeza atravessou o magote de camumbembe que, todo santo sábado, se reúne em torno da marvada, comes e bebes para celebrar velhas amizades e, o que éde lei, fuxicar.

 

Justo naquele dia, foi feita a aposta: pagaria a conta quem no bate-papo deixasse de dizer, pelo menos, uma palavra do dialeto pernambuquês/nordestinês.

(Dialeto, ensinam os bam-bam-bam no assunto, é uma variação do idioma, jeito de falar de uma região, grupos sociais, profissionais, etários, com palavras próprias, mas que são entendidas por quem fala e por quem ouve. Logo, se no mesmo país a linguagem não éentendida, éo caso de um país com mais de uma língua).

— Ô Vadinho  atalhou Didi, o gigante de Tambaba, apelido dado em homenagem aos seus dotes anatômicos lá vem tu que, além de fuxiqueiro, só traz aperreio.

Aí Beto, Boca de Caçapa, apressou-se em evitar a arenga: - Tava na cara. Tota tinha tudo quanto era quizila: espinhela caída, lombriga, fraqueza de sangue e dos nervos, andava piongo, xoxo, além de zambeta, os cambito fino e tomava, todo dia, uma tuia de cachete

Também – emendou Lu, vulgo azia, vencedor do troféu, O Cabuloso ele aguentou, 40 anos, Jovita, um estrupício, barraqueira, tinha cabelo na venta, sofria de gastura, xanha na canela que virava pereba, tome a mardita e aí ela ficava com a bixiga lixa no couro. Faltou cabra arrochado que lhe desse um cocorote. Tota era uma alma penada. Deus o tenha.

Nelsinho Cabeção, conciliador, ponderou: Lá vem tu com brabeza. Dona Jovita tava longe de ser uma Xamboquiera. Mulher decente. Demorou dez anos pra emprenhar. Pensavam que era Maninha. Na mangação, chamavam Tota de Gala Rala. Nunca teve beliscada, teúda e manteúda que, quando sai da zona, passa a proceder. Jovitadeu dois bruguelos a Tota: Zédo Pão e Maria de Jesus, os nomes são paga de promessa. O macho tátomando conta da bodegasortida de brebote e catrevagem. Um galalau, pirangueiro, mas, orgulhoso, estufa o peito,não sou xexeiro. Se faz de abilolado, pamonha, mas é nócego no negócio, só entra de cum força nas parada. Diferente do pai, é raparigueiro, não pode ver quenga, fica amostrado, cheio de munganga, pantim e com trancelim no pescoço. Nada de amigação, nem casamento. É gasto e apoquentação, diz ele.

Didi, o gigante de Tambaba, reservou-se na prosa pra falar de Maria de Jesus. – Cruz credo, derna de pequena era virada no moi de coentro; foi se pondo mocinha espevitada, empinada pra frente e arrebitada pra trás; virou mulher, ficou quartuda e por onde passava deixava os cabra zaroio. Na dança, era xumbregação medonha. Dona Jovita morria de medo que ele ficasse falada e no caritó. Maria de Jesus gosta do sarro, mas é cabaço; aos vinte e cinco anos deu o primeiro tiro na macaca. Foi um desespero. Dona Jovita haja fazer promessa e simpatia pra Santo Antonio. E Maria de Jesus nemmode coisa. 

Nessa lengalenga, teve um porém: foi inaugurada uma Upa em Casa Amarela, vizinha da casa do finado Tota. Por láchegou um doutor de nome bonito: Roberto Aarão. Bem-apessoado, muito lorde, instruído, clínico e urologista de dedos afiados. Jovita, que vivia enturida de achaque, marcou consulta. Um olho no doutor e já pensando em cortar-jaca para o genro dos sonhos. Foi uma hora de consulta. Nem parecia paciente do SUSpiro derradeiro.

Dia seguinte... Aí Toinho Bocão atravessou-se com a voz estridente de professor alopradoTô por dentro. Foi meu aluno. Dona Jovita levou bolo de bacia com goiabada feita em casa. Feitiço puro. Convidou o tampa da medicina pro lanchinho lá em casa. Maria de Jesus, A sobremesa, tava todemperiquitada. O casório tá marcado.

Ôxe, conversa chata arretada! Berrou Pitta e virou-se pra mim com um tom sarcástico, ô ex-quase tudo, meu apelido, como vai o furdunço da política? Acabou o espaço e priu!

PS. Este artigo é uma singela homenagem a todos os poetas, pesquisadores, cordelistas, repentistas, cantadores e contadores de causos” representados nas pessoas de Zelito Nunes e Jessier Quirino.

Os Presidentes das Repúblicas precisam da governabilidade para administrar seus países. No Parlamentarismo, outro modelo de gestão governamental, o primeiro-ministro também precisa da mesma capacidade para exercer as suas funções. A capacidade de governabilidade é uma premissa necessária para a tomada de decisões em ambos os modelos de governos.

Em ambos os sistemas de governo as decisões do presidente da República e do primeiro-ministro dependem, obrigatoriamente, do aval da maioria do Parlamento. Caso este apoio não exista, as decisões não são tomadas e como consequência, o governo adquire paralisia decisória e, com o tempo, não irá mais governar. É exatamente a manutenção da governabilidade que possibilita o exercício do comando.

O Brasil é uma república presidencialista. Aqui, o presidente é o líder das ações do Poder Executivo. Mas, para exercer esta liderança é necessário ter o aval da maioria do Congresso Nacional, apenas assim ele conseguirá implementar a maioria das suas ações. É pensando nisto que os governos constroem coalizões partidárias, que possibilitam a governabilidade e o exercício do poder. Sem essas alianças seria impossível governar.

Em qualquer período presidencial observamos inquietações parlamentares que podem proporcionar crises entre Congresso e presidente da República. É comum no presidencialismo brasileiro que os parlamentares solicitem ao presidente recursos para os seus estados através de emendas. 

As negociações entre presidente e parlamentares fazem parte da atividade regular de repúblicas presidencialistas e é uma dinâmica do exercício da governabilidade. Condenar a negociação entre parlamentares e presidente da República representa demonstrar um total desconhecimento quanto às características dos mecanismos do presidencialismo.    

Recentemente, o Parlamento brasileiro aprovou o Orçamento Impositivo. Com isto, o presidente da República ficará obrigado a “pagar” as emendas parlamentares apresentadas ao Poder Executivo. O Orçamento Impositivo proporcionará independência do Parlamento em relação ao Poder Executivo.

Neste caso, o exercício do diálogo por parte do parlamentar com o presidente da República não será, aparentemente, necessário. Diante desta hipótese, cabe perguntarmos: se o diálogo não será mais necessário, de que modo o presidente da República negociará com o Congresso Nacional e adquirir condições para tomar decisões?

As emendas parlamentares incentivavam o diálogo entre presidente da República e parlamentares. Quando o presidente desejava aprovar algo no Parlamento, prometia ao parlamentar a liberação de emendas e o parlamentar, geralmente, aceitava após um intenso diálogo. O Orçamento Impositivo exclui o incentivo a esta conversação. 

Entretanto, se não houver diálogo, como os presidentes construirão a governabilidade com o Parlamento? Isto, só o tempo revelará.  

Cada povo tem um senso de humor peculiar. Uma das peculiaridades do humor brasileiro é rir e fazer com que as pessoas riam do próprio infortúnio.

O Brasil sofre duas longas e históricas secas: a seca da vergonha e a seca d´água,  a estiagem que pelas bandas do sertão (mais amplamente, o semiárido) fez morada desde sempre  e matou de fome milhões de nordestinos. A solução da seca da vergonha foi proposta por Capistrano de Abreu pela mais sintética constituição do universo: Artigo único: Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara. E aíseríamos felizes para sempre.

Do espaço sideral, a exclamação A terra éazul!" foi uma ilusão de ótica do astronauta Yuri Gagarin: é quase tudo água salgada. E como se não bastasse, o homo sapiens tratou de maltratar a Terra, planeta água, uma das mais belas construções poéticas do grande Guilherme Arantes.

Pois bem, a seca chegou ao sudeste brasileiro e de forma devastadora em São Paulo, exatamente para onde fugiam da desdita, humilhados, que nem a ave migratória, a arribação que dánome ao romance de Antonio Sales (década de trinta) e foi fonte inspiração para a pungente, dolorida, sofrida obra do cancioneiro nordestino.

Nesta vasta e bela produção artística não tem espaço para o humor. Basta para verter lágrimas sobreviventes do sol ardente, inclemente, ouvir Triste Partidade Gonzaga, canto que mistura a dor lancinante da desesperança e a contrita prece de uma féinabalável em Deus. E se a gente ouve o crepitar da fogueira na metáfora a terra arder, bate um sentimento de tristeza e impotência transformadas por Gonzaga e Humberto Teixeira, na segunda música mais marcante do século XX ao lado de Carinhoso, de acordo com o julgamento dos imortais da ABL em 1997.

Se o que dáprárir, dápráchorar na conformação do ethos brasileiro, o humor do Jeca-Tatu, Macunaíma, Pedro Malasartes, Policarpo Quaresma nos transporta para a anarco-carnavalização do Reino de Momo. Aíos compositores das marchinhas brincam de humor/ironia com a água (ou a falta dela).

Aívão alguns exemplos: AllahLáÔ”, Cachaça(vocêpensa que cachaça éágua..), Saca-Rolha(as águas vão rolar...), Chuva, suor e cerveja. Estas e outras marchinhas de idêntica temática fazem parte dos carnavais passados. Porém, a crise hídricapaulistana levou Joaquim Candeias Junior a aproveitar Lata d´água na cabeçae concluir que Maria sem eira nem beiratermina na ressaca da Cantareirae, numa toada ainda mais irreverente, o compositor Emerson Boy do Jegue Elétrico, aproveitando o vocabulário da moda volume morto, manda o pessoal ir pro Uruguai/brincar com o Mujica/látem meu remédio/vou sair do tédio. Dando um tapinha, certamente.

Deixei por fim a marchinha Tomara que chova(composta por Romeu Gentil, cantada pela notável Emilinha Borba, 1950) que dizia: Tomara que chova/três dias sem parar/a minha grande mágoa/éláem casa não ter água/eu preciso me lavar.

Esta marcha me remete a uma história que presenciei na fazenda Pirauá, propriedade de minha família onde passava parte das férias escolares. Com curiosidade de adolescente ouvia as conversas de meu pai e tios com a matutada. Tinha um morador, chamado Neco de dona Menininha, rezadeira e parteira. Ele, um cara parrudo, não enjeitava trabalho, nem na roça, nem no curral, ordenhando e, no pasto, vaquejando. Tinha vinte cinco anos e casou com Eulina, cabocla brejeira e boa parideira: cinco anos de casamento cinco bruguelos. Por coincidência, conversavam sobre aquele ano que foi  de seca braba. No meio da conversa, sob a sombra de um Ficus exuberante que aplacava o mormaço, meu pai perguntou Neco, e essa danada da seca? Nunca vi nada parecido.  Neco, prontamente, concordou: Dotô, por Deus a fé, táfartando água pra tudo. Onte, Eulina, adespois de butá os mininoprádrumir, preguntô, o Neco tu vai pricisá deu hoje, a água tápôca, mai si tu pricisar, aíeu lavo os meu pissuídos. Eulina fez bom uso da água, tanto que no ano seguinte a gente conheceu o sexto rebento de Neco.

 

Investimento em educação pública é tese antiga e consensual. Certamente, não existem pessoas dispostas a criticar os gastos públicos com educação. O chavão comum, mas importante, é que a solução de todos os males de qualquer sociedade, passa, obrigatoriamente, por investimentos públicos em educação.

A educação está dividida em três âmbitos principais: Ensino básico; Ensino médio; e Ensino superior. No Brasil, até o governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), a tradição era de que todos os âmbitos estavam sob a responsabilidade do poder estatal. Porém, durante o governo FHC, ocorre adequada inflexão: o ministro Paulo Renato de Souza cria condições para a expansão do Ensino Superior Privado. Com isto, mais oportunidades de estudo foram ofertadas para os brasileiros.

Se antes a porta de entrada para o Ensino Superior dependia, exclusivamente, da oferta de vagas nas universidades públicas, o então ministro Paulo Renato colocou fim a restrição e criou oportunidades ao possibilitar a inauguração de diversas instituições privadas de ensino superior.

O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (Lula) não interrompeu a expansão do ensino superior privado. Ao contrário. Criou, através da iniciativa do então ministro da Educação, Tasso Genro, o Programa Universidade para Todos (Prouni) e ampliou o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES), que havia sido criado em 1999, pelo presidente FHC.

Encerrava-se ali a dicotomia entre ensino superior público e ensino superior, que impedia a criação de oportunidades para milhões de brasileiros que não conseguiam entrar em uma universidade pública. Portanto, parceria público-privada, tão comum em qualquer país desenvolvido, passou a existir na oferta de vagas na educação superior.

A presidente Dilma ao assumir, em 2011, o seu primeiro mandato presidencial, preservou as meritórias iniciativas dos governos FHC e Lula no que se referia ao ensino superior privado. E foi mais além: criou, em 2011, o Programa Nacional de Ensino Técnico e Emprego - Pronatec. Através dele, os brasileiros encontraram mais oportunidades para a qualificação profissional.

A parceria público-privada possibilitou que os brasileiros aproveitassem as oportunidades do crescimento econômico. Permitiu a ampliação do consumo, inclusive de bens culturais. E consolidou a imagem do Brasil no exterior como país promissor. Diante desta realidade, o Brasil não pode recuar no que se refere aos investimentos nos três níveis educacionais. A parceria público-privada precisa continuar no ensino superior e ser estendida para os ensinos básico e médio. Medidas restritivas como as implementas no último mês referentes ao Fies devem ser evitadas. Os desafios do Brasil só serão superados com a oferta de mais oportunidades para os brasileiros na área da educação.   

Mais uma vez, o número de casos de morte por balas perdidas aumenta no Brasil. Dados de 2014, revelados por um estudo da Organização das Nações Unidas - ONU, mostraram que o Brasil é o segundo país na América Latina com maior número de morte por esse tipo de ocorrência, ficando atrás apenas da Venezuela. Infelizmente, além da tragédia, as famílias dos mortos precisam enfrentam a impunidade do crime.

Em meados de 1990, o Rio de Janeiro era constantemente citado na mídia pelo número de pessoas vítimas de balas perdidas nas ruas. Na época, as justificativas para os índices eram os conflitos entre polícia e traficantes dos morros da cidade, além dos confrontos à distância, de um morro para o outro, entre os criminosos. Tamanha foi a repercussão que proprietários de imóveis residenciais e comerciais passaram a blindar as janelas.

Foi a partir desses eventos que, no Rio de Janeiro, começaram a ser implantadas as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). As UPPs trouxeram um ar de tranquilidade às comunidades cariocas, diminuindo o número de vítimas de balas perdidas e, também, a violência na região. Se em 2007, ano que mantém o pior índice, 279 pessoas foram baleadas e 21 mortas, em 2009, após a implementação da política das UPPs, o número de mortos foi quase três vezes menor, à semelhança do que ocorreu com outros crimes.

Infelizmente, a maioria das investigações sobre mortes por balas perdidas acaba sendo arquivada por falta de provas. São mortes que muitas vezes ficam sem respostas, sem punição. E famílias que ficam desacreditadas que a justiça possa ser feita. Pensar em uma morte por bala perdida é como pensar em um crime sem culpados. 

Claro que ainda não podemos comparar os casos de agora com os do passado. Ainda não é possível avaliar se é um aumento de casos isolados ou a consequência de uma movimentação de traficantes em busca de novos territórios.  Entretanto, é preciso se preocupar antes que os fatos do passado tornem a se repetir. 

A sociedade não pode ser indiferente a essas mortes. Não apenas por se tratar de um crime contra um cidadão, na maioria das vezes, inocente, mas também por ser uma questão que envolve muito mais que isso. É preciso garantir a segurança pública para que as crianças possam ir às escolas, os trabalhadores aos empregos e para que a cidade continue em funcionamento. 

Vale lembrar que uma cidade turística, como o Rio de Janeiro, se torna mais atrativa aos turistas quando ela transmite a "sensação maior de ordem pública e segurança".

Um grito de indignação percorreu os Estados Unidos nas últimas semanas: “Não consigo respirar”. Esta foi a última frase de Eric Garner, de 43 anos, negro e asmático, que morreu em Nova York no dia 17 de julho por asfixia, depois do policial à paisana Daniel Pantaleo te-lo estrangulado.

As mobilizações começaram em 24 de novembro, quando a Justiça americana decidiu não indiciar o policial Darren Wilson por atirar contra Michael Brown, um jovem negro que estava desarmado na cidade de Ferguson, Missouri. Para muitos norte-americanos, a justiça está dando privilégios aos  polícias, por serem brancos, discriminando, os  negros, sejam civis ou policiais.

Há muitas versões sobre o que, de fato, teria ocorrido durante a abordagem policial, mas alguns consensos, reconhecidos inclusive pela polícia, são fundamentais para se compreender o caso: Michael Brown estava desarmado.

Independente do país, a morte de um jovem desarmado causada por um policial é sempre chocante. E quando a vítima é negra, não há como evitar o início de uma discussão sobre racismo. Um tema polêmico. Nos Estados Unidos, infelizmente, ainda são muitos os comentários sobre a discriminação racial no país, mesmo tendo um presidente negro.

Um estudo de 2011 da Universidade de Brown, em Rhode Island, avaliou a composição média dos bairros americanos e constatou que o "branco típico" do país vive em um bairro onde 75% da população é branca e 8% é negra. Já o típico negro vive em um bairro onde 45% pertencem à sua raça e os outros 35% são brancos. O resultado do estudo, chamado “a persistência da segregação na metrópole”, é que negros e brancos têm poucos vizinhos de outra raça em seus próprios bairros. Outro ponto a ser analisado é que, em média, 75% dos policiais americanos são brancos.

Não estamos aqui para defender ou acusar policiais ou civis, sejam eles negros ou brancos, principalmente porque isso exigiria um estudo sobre os índices da criminalidade americana. Preferimos questionar a desigualdade racial que ainda é realidade não apenas nos Estados Unidos, mas em inúmeros países pelo mundo. Obviamente, os analistas lembram que desigualdade social e econômica são fatores que levam à criminalidade e, portanto, confrontos policiais com negros não são, necessariamente, sempre causados por preconceito racial.

Em agosto de 1963, o pastor batista Martin Luther King fez um discurso em Washington, nos Estados Unidos, que entrou para a história: em frente a uma multidão de 250 mil pessoas, ele pediu o fim da desigualdade racial. Mais de cinco décadas depois, sem dúvidas, ainda temos muito trabalho pela frente para que o racismo seja realmente extinto e para que negros e brancos tenham as mesmas oportunidades.

Quando o assunto é o acesso à escola, o Brasil vem comemorando os índices de atendimento atingidos nos últimos anos, que permitem dizer que o ensino fundamental já foi universalizado. De acordo com dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de atendimento escolar das crianças de 7 a 14 anos está acima de 90%. 

Entretanto, como está o acesso à educação pelas outras faixas etárias? Além disso, como avaliar o alto índice de evasão que o Brasil tem? Podemos afirmar que, apesar dos esforços para atender à demanda social por educação, infelizmente, a oferta ainda é restrita e nem sempre garante a aprendizagem. 

Engana-se quem pensa que a democratização da educação se limita ao acesso e à instituição educativa. O acesso é apenas a porta inicial para a democratização, mas é necessário também garantir que todos que ingressam tenham condições de permanecer nas escolas. Da mesma forma, não é a modalidade de ensino que garante a qualidade. Existem programas de ensino a distância excelentes e que podem vir a auxiliar nas metas propostas pelo Plano Nacional de Educação (PNE). 

De fato, entre as ações propostas pelo PNE, a destinação de 10% do PIB do País para a educação tem sido a mais celebrada delas. Sem dúvidas, devemos comemorar esse incentivo, principalmente se ele vier para suprir disparidades como o baixo salário dos professores e a precariedade física de grande parte das escolas públicas do Brasil, principalmente as localizadas no interior dos Estados. 

Concordo com o Programa Internacional de Avaliação de Alunos – Pisa, iniciativa da Organização para Coordenação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, quando ele afirma que um maior gasto de dinheiro não conduz, obrigatoriamente, a melhoria da educação. Oferecer educação de excelência para todos os alunos e atingir um alto nível de exigência são pontos essenciais para alcançar e, depois, manter uma educação de qualidade. 

Esse deve ser um compromisso com toda a sociedade, mas também um compromisso da sociedade. Cabe a nós, que fazemos parte dela, observar e cobrar que a destinação correta dos recursos propostos como meta do PNE, relativa à gestão democrática da escola. Infelizmente, essa meta é de difícil acompanhamento e averiguação, pois não há um indicador específico que determine seu cumprimento.

Segunda-feira, 16/11/14, em entrevista coletiva, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, declarou o seguinte: Temos contratos com a SBM de operação de oito FSOPS (navios-plataformas) com performance acima da média. Não vamos interromper contratos com ela nem com outras empreiteiras que estão trabalhando conosco atéque tenhamos informações que sejam tão avassaladoras assim que justifiquem que nós encerremos os contratos.

 

A declaração merece detida análise.

 

Vamos a ela: (a) a Sra. Graça Foster fez esta declaração ao admitir que sabia do caso de suborno, embora, em junho, quando prestou depoimento na CPI Mista da Petrobras, mencionou, apenas, possíveis erros de um trabalho técnico; (b) a SBM Offshore, empresa holandesa, informou, em maio, que houve pagamento de propinas a funcionários da Petrobras; (c) a referida empresa celebrou um acordo com o Ministério Público holandês e comprometeu-se a pagar 240 milhões de dólares para encerrar as investigações; (d) no entanto, segundo a presidente da empresa, a SBM não participaráde nenhuma licitaçãoe, quanto aos contratos em curso, eles serão mantidos a não ser que informações tão avassaladoras assim que justifiquem que nós encerremos os contratos.

 

Inacreditável, mas real. Avassaladoré, convenhamos, um adjetivo assustador.  Os adjetivos passam, e os substantivos ficamensinava o gênio da raça, Machado de Assis. Particularmente, entre dois adjetivos escolho um substantivo. No caso, o substantivo ésuborno, corrupção, escândalo que valem por si sós, independente dos qualificativos.

 

Neste sentido, a Sra. Foster, ao adjetivar, quis revelar as proporções gigantescas da pilhagem que sofreu a Petrobras. Mais que uma grande empresa, a Petrobras éum verdadeiro símbolo do nosso progresso e da nossa capacidade de explorar, ainda hoje, a mais cobiçada das fontes energéticas, o petróleo; uma obra que mobilizou forças nacionalistas bem intencionadas; obra construída com o suor de milhares de trabalhadores decentes, dedicados, competentes, afirmando, perante o mundo, um valioso patrimônio de saberes tecnológicos e de possibilidades econômicas. Hoje, anda olhando pro chão, triste, envergonhada, enfraquecida.

 

Com efeito, testei o sentimento das pessoas, indagando o que entendiam por avassalador e houve uma coincidência na associação de ideias: um tsunami. Ou seja, a percepção desviou do sentido etimológico de avassalador, que avassala, que torna vassalo; desviou, inclusive, do sentido figurado segundo o qual avassalar é dominar, submeter, cativar, seduzir; vai, além da construção poética de Lenine, na música, Aquilo que dáno coração/E nos joga nessa sinuca/que faz perder o ar e a razão/E arrepia o pelo da nuca/Aquilo reage em cadeia/Incendeia o corpo todo/Faísca, risca, trisca, arrodeia/Dispara o tiro certeiro/Avassalador/Chega sem avisar/Toma de assalto, atropela.."

 

A rigor, a palavra conota destruição. E, de fato,o que estáem jogo éum conflito entre as forças destruidoras da corrupção e a resistência das nossas instituições, por consequência, o êxito ou o fracasso de um projeto de nação.

 

Infelizmente, o projeto de poder, colocado em prática pelo conjunto de forças políticas hegemônicas, tem como estratégia o aparelhamento do Estado, o discurso e a ação populista de sedução das massas, a cooptação dos movimentos sociais e da base parlamentar mediante o argumento infalível do dinheiro.

 

Em paralelo, a dialética dos donos do poder obedece a uma fórmula simples e eficaz: eu faço, mas quem não faz?, patifaria com patifaria se anulam, e mais, abre-se a vala comum, com a ajuda o sentimento de desencanto com os políticos, e... é tudo igual. As mídias disponíveis e subservientes se encarregamde bombardear a consciência dos cidadãos.

 

Tudo éfeito em nome de uma grande causa. Os fins justificam e legitimam os meios: roubaréexpropriar; matar éjustiçar; mentir? legal, desde que os resultados apareçam. Afinal de contas, a pureza dos propósitos estácontida no determinismo da marcha da história, na superioridade ética do novo homeme na utopia do novo mundoonde jorraráleite e mel.

 

Se vai jorrar leite e mel, duvido. Émais provável que, ao se enfiar o dedo em qualquer pontodo amplo espectro dos malfeitos (detestável eufemismo para a grossa bandalheira), vai jorrar um líquido escuro e viscoso.

Não épetróleo. Élama mesmo. Avassaladora.

 

Em 2008, a crise econômica mundial deixou clara a fragilidade e necessidade da criação de novos modelos de desenvolvimento. Economistas e cientistas políticos trouxeram à tona discussão da dicotomia entre capitalismo e socialismo. Entretanto, o debate, apesar de ter encontrado adeptos no auge da crise, não prosperou. Concluímos, então, que existe um aparente consenso de que o capitalismo é o sistema econômico adequado para a sociedade.

Apesar do consenso, como manter a política capitalista diante de crises que causam instabilidades política, social e econômica? Os países europeus, principalmente a Espanha, Grécia e Portugal, orientados pela Alemanha, optaram por alcançar o superávit através da redução drástica dos gastos públicos. As consequências são contraditórias – os resultados oscilam entre momentos positivos e negativos. Esses países mantêm taxas de desemprego elevadas e baixo crescimento econômico.

Já os Estados Unidos optaram por realizar várias ações. Inicialmente, aumentaram os gastos públicos para salvar bancos privados e indústrias. Em consequência, tiveram uma crise fiscal. Com a política dividida, Republicanos e Democratas continuam diante do seguinte impasse: o estado deve continuar a gastar para proteger os que possuem menor renda? De fato, a crise econômica de 2008 produziu alto desemprego na América, no entanto, lentamente, a economia se recupera.

O Brasil também foi afetado. Para manter o crescimento da economia, à época, o presidente Lula incentivou o consumo e o crédito. Em 2011, já com Dilma na presidência, o Brasil parou de crescer de modo semelhante à era Lula. As consequências da crise econômica de 2008 foram usadas como justificativa para o baixo crescimento. Porém, chegou o momento de discutir o novo governo Dilma.

O que a presidente irá fazer para o Brasil voltar a crescer economicamente? Políticas anticíclicas, ou seja, intervenção forte do Estado na economia e mais gastos públicos são necessários para a superação de crises?  Essas estratégias já foram utilizadas na era Dilma. Porém, é preciso, em um novo governo, desconsiderar um pouco a crise e analisar novos fatos.

Como reduzir os gastos públicos sem diminuir os gastos sociais? Qual política industrial deve ser criada, sem recorrer a um  forte protecionismo? A redução de impostos deve continuar para determinados setores da indústria? Qual deve ser o tamanho do superávit? O que fazer para aumentar o investimento público em infraestrutura?

Temos a expectativa de que o novo ministro da Economia apresente respostas para as questões apresentadas. A economia e o mercado brasileiro não esperam que a crise econômica de 2008 continue a ser argumento para justificar o pífio crescimento econômico do Brasil. É necessário coragem e capacidade inovadora para a construção de uma nova política econômica.

Mais uma vez os nordestinos foram hostilizados por outras regiões do País. E, novamente, a expressão “orgulho de ser nordestino” surgiu como reação a mensagens discriminatórias e xenófobas postadas na internet por ensejo da eleição de Dilma, para presidente do Brasil. Mesmo fato já acontecido em 2010.

Disse o memorável Ariano Suassuna: “… é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos”. Se a discussão for de cunho político, vale lembrar que o país não está dividido e não foi apenas no Nordeste que Dilma teve vitórias importantes, já que o Sudeste também apresentou resultados expressivos na contagem dos votos: com 54,9% no Rio de Janeiro (RJ) e 52,4% em Minas Gerais (MG). Na realidade, 54,82% dos votos em Dilma vieram das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. 

Eu não tenho vergonha e muito menos omito dizer que nasci em Santana dos Garrotes, no estado da Paraíba. Fui adotado pelo Recife, isso também me deixa muito orgulhoso. O povo brasileiro é um povo heterogêneo e multicultural, pois se não for, como explicar uma terra onde nasceram Abelardo da Hora, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Gilberto Freyre, Ariano Suassuna, Sivuca, José de Alencar, Patativa do Assaré, Dom Helder Câmara e tantos outros?

Esse tipo de discurso preconceituoso ao nordestino é lastimável, pois, foi com a força dos nordestinos que o Brasil foi desbravado e construído. Quem escreve e fala assim, demonstra desconhecimento profundo sobre a realidade do nordeste brasileiro. O Nordeste não é mais uma região marcada pela fome, desemprego e pela falta de oportunidade.

Ao contrário. Somos a região onde a economia cresce mais que a taxa registrada no País. A região que mais de dezesseis mil estudantes dessas universidades foram estudar no exterior com o Ciência sem Fronteiras e onde, dos vinte milhões de empregos criados no país, quase 20% foram no Nordeste. Mais de 140 escolas técnicas foram implantadas na região, representando 33% do total no país.

Sinto enorme orgulho de ser nordestino. Esse orgulho de ser nordestino não pode ser entendido como contrário ao orgulho de ser brasileiro, pois sinto imenso orgulho em ser brasileiro. Não importa em quem cada região votou ou quem venceu as eleições. O que importa é deve existir a união para construir um país melhor para todos. Um país mais justo, menos corrupto, mais solidário e com mais oportunidades.

Para alguns, se tornou lugar comum falarmos da importância da educação na vida das pessoas. Muitos ainda se recusam a acreditar que, através dos estudos, podemos mudar como pessoas, mudar o país e mudar o rumo de nossas vidas. O aprendizado contínuo faz bem para a mente, o corpo e a alma.

Mas, o que a chamada “boa idade” tem a ver com isso? Infelizmente, muitos têm em mente que os idosos não têm que trabalhar ou estudar. Que devem apenas se preocupar em curtir a aposentadoria, os filhos e netos, se os tiver. No entanto, esquecem que é preciso envelhecer com sabedoria e mente ativa. E que envelhecer dessa forma, vai proporcionar muito mais anos de vida.

Em 2010, o IBGE contabilizou 19,28 milhões de brasileiros acima dos 60 anos. Em 2014, o número atingiu a marca de 26,3 milhões ou 13% da população. Aos 60 anos, pode-se ter uma vida social mais ativa e participativa na sociedade. Ainda é possível ter realização profissional e conhecer novas pessoas, ter oportunidade de novos relacionamentos. 

Se antigamente estudar era caro e poucas pessoas tinham condições de chegar à universidade, hoje a realidade não é essa. Existem vários cursos de graduação, pós-graduação e cursos técnicos disponíveis em diversas áreas do saber, tudo depende da vontade e do interesse de cada um. Idade e experiência de vida não são empecilhos.

Neste ano, 15,5 mil idosos fizeram a inscrição para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). E esse número tem crescido anualmente - segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2013 foram 10,9 mil inscritos e em 2009, foram 4,7 mil.

Existem comprovações cientificas que estudar após os 60 anos previne doenças e melhora a depressão, já que a motivação ativa o sistema límbico do cérebro, região que está ligada às emoções e ao prazer. Quanto mais se aprende, maior o número de conexões neurais que se formam. Nosso cérebro aprende o tempo todo. Seja criança ou adulto, é claro que no início, vai existir uma dificuldade, considerada normal. 

Não importa se a procura pelos estudos está relacionada à realização de uma vontade antiga de aprender a ler ou escrever, ou se há um sonho de cursar uma segunda graduação. O que, de fato, importa, é que a ato de continuar ou voltar a estudar está diretamente ligado à condição de ter uma vida melhor e que não há idade ou tempo para recomeçar.

Um dos meus dez fieis leitores, ou seja, 10% deste vasto universo, me cobrou: “Como écara? Não escreve mais?.

De fato, resolvi dar um tempo diante do bate-boca eleitoral e do furor analítico que tomaram conta da mente e do coração dos brasileiros. Afinal, nada acrescentaria ao acalorado debate, não poucas vezes, contaminado pelo veneno da ofensa.

Enquanto a pauleira corria solta, não sei por quê, uma súbita associação de ideias me fez refletir sobre o idiota. Talvez, uma autoanálise que me denunciava como o próprio idiota.

Que tipo de idiota? Eis uma questão pertinente (no meu caso, deixo o enquadramento a critério do leitor).

Com efeito, a palavra idiota, desgarrada da origem grega (pessoa leiga, o homem privado face ao homem público) e do diagnóstico psiquiátrico, tem dois significados.

De um lado, o significado inspirado no personagem central da obra canônica de Dostoiévski, O Idiota, na qual o príncipe Michkin é criatura benevolente, generosa, ingênua, portadora de pureza e de compaixão reveladoras de um ser inadaptado ao mundo perverso; de outro lado, estáo significado corrente que empresta ao idiota uma cesta de sinônimos, entre os quais, estão: cretino, tolo, pateta, palerma, parvo, abobalhado, abilolado, energúmeno, estúpido, leso, mentecapto, banana, bocó, desmiolado, pato, mané, etc.., etc..

Ora, diante desta amplitude, quem não cometeu idiotices, atire o último sinônimo! Cuidado, épecado, diz a Bíblia, atribuir ao próximo a pecha de idiota.

Assim sendo, épreciso identificar tipos: existe o idiota ocasional e o idiota fundamental; o idiota, pessoa física, e o idiota coletivo, o maria-vai-com-as-outras, a massa, o rebanho, a manada, a multidão, o consumidor, o torcedor, o eleitor. Todos, vulneráveis àmanipulação.

Existem os inofensivos e os de alta periculosidade, estes, em geral, ativos, influentes, imodestos. Aliás, alguém jádisse que, atualmente, o idiota perdeu a modéstiao queé um corolário da constatação genial de Nelson Rodrigues: O grande acontecimento dos nossos dias foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota.

E o que tem Seu Lungaa ver com isso? Seu Lunga, Joaquim dos Santos Rodrigues, cearense, residente em Juazeiro do Norte, estabelecido no ramo do comércio de sucata, tornou-se conhecido como o homem mais ignorante do país, rude, grosso que nem papel de embrulhar prego e, sobretudo, implacável combatente da idiotice.

Seu Lunga fica arretado quando contam suas histórias. Diz que émentira. Não adianta. Virou verdade. São tiradas saborosas. Aívão algumas: Seu Lunga estava coçando a cabeça por cima do chapéu. Aíum cara perguntou: Seu Lunga, por que não tira o chapéu?. Seu Lunga, rápido no gatilho: Vocêtira a calça pra coçar a bunda?. Seu Lunga estava sentado noônibus e, ao lado, o lugar vago, aío cara perguntou: Seu Lunga tem alguém sentado do seu lado?. Se tem, tô cego. Num tô vendo. Seu Lunga ia saindo de casa e deu de cara com o vizinho. Bom dia, Seu Lunga, para onde vai tão cedo. Vou pro enterro do Chico. E Chico morreu. Não.  A família se reuniu e vai enterrar Chico vivo mesmo. Seu Lunga levou o carro pra oficina. O mecânico perguntou: Seu Lunga esse carro ronca? Sei não. Ele dorme na garage. Um amigo encontrou Seu Lunga:  Nunca mais vi o sinhô. Por onde o sinhô anda?. Pelo chão mesmo. Ainda não aprendi a voar.

No dia da eleição, Seu Lunga, abusadíssimo, foi votar. A jovem mesária perguntou: Veio votar, Seu Lunga?. Não. Vim doar sangue para o bem do Brasil.

Por essas e outras, foi instituído o troféu Seu Lunga, um prêmio para as pessoas que, a exemplo dele, contribuem para reduzir a Taxa de Idiotice Nacional TIN. Conte sua história e envie para o seguinte endereço: bradoretumbante@giganteadormecido.com

E fique tranquilo. A Comissão Espertobras julgará, com decência e isenção, os casos apresentados.            

A agenda da disputa presidencial sugere consensos. No primeiro turno, os três principais candidatos, Marina Silva, Aécio Neves e Dilma Rousseff, abordaram no debate eleitoral temas, desafios e problemas semelhantes. Entretanto, Marina Silva, tentou incentivar os sonhos de uma nova prática política entre os eleitores. Sonhos de um Brasil melhor. Mas, os brasileiros não aceitaram as sugestões da candidata do PSB e ela não conseguiu chegar ao segundo turno.

Aécio e Dilma disputam o segundo turno. Aécio convoca o eleitor para a mudança. Entretanto, para qual mudança? O candidato do PSDB aborda, acertadamente, o tema da corrupção e apresenta as suas meritórias ações quando era governador de Minas Gerais. Aécio mostra os desafios do Brasil: inflação fora da meta e reduzido crescimento econômico. Entretanto, não diz como trará a inflação para a meta e nem apresenta caminhos para a retomada do crescimento.

Dilma fala excessivamente do passado. Ela apresenta as ações importantes da era Lula e do seu governo nos âmbitos da inclusão e proteção social. Porém, a candidata do PT não fala do Brasil do futuro. Assim como Aécio, ela não mostra soluções para a inflação fora da meta e ações para o País voltar a crescer pujantemente. O tema da corrupção é abordado por Dilma. Contudo, soluções para a corrupção na Petrobrás não estão sendo apresentadas. Tanto Aécio quanto Dilma não sugerem caminhos para o futuro do Brasil.

Mudar para onde? Esta deve ser a pergunta do eleitor indeciso para Aécio. E, qual será o futuro do Brasil? Certamente, esta é a pergunta do eleitor indeciso para a candidata do PT. Campanhas eleitorais requerem o uso da emoção e devem prestar contas das ações dos candidatos à reeleição. Mas, não apenas isso. As campanhas eleitorais precisam apresentar caminhos para o futuro. Todos nós queremos saber qual será o nosso futuro.

Em 2015, a inflação brasileira diminuirá, ficará estável ou aumentará? Qual será o crescimento econômico do Brasil nos próximos quatro anos? As empresas estatais e agências reguladoras terão os seus cargos preenchidos em razão do mérito do indicado ou em virtude da importância do partido que lhe indicou? Os empresários serão convocados pelo presidente da República para cooperar com o crescimento econômico? A previdência pública será reformada ou a discussão em torno dela ficará restrita a extinção ou a manutenção do fator previdenciário? Quais serão os meios utilizados para a expansão do ensino superior privado e a qualificação da educação básica?

As respostas para essas perguntas construirão o Brasil do futuro. Mas, se elas não foram dadas pelos presidenciáveis e, em especial, pelo próximo presidente da República, a economia perderá vigor e os programas sociais serão enfraquecidos. 

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