Um grito de indignação percorreu os Estados Unidos nas últimas semanas: “Não consigo respirar”. Esta foi a última frase de Eric Garner, de 43 anos, negro e asmático, que morreu em Nova York no dia 17 de julho por asfixia, depois do policial à paisana Daniel Pantaleo te-lo estrangulado.
As mobilizações começaram em 24 de novembro, quando a Justiça americana decidiu não indiciar o policial Darren Wilson por atirar contra Michael Brown, um jovem negro que estava desarmado na cidade de Ferguson, Missouri. Para muitos norte-americanos, a justiça está dando privilégios aos polícias, por serem brancos, discriminando, os negros, sejam civis ou policiais.
Há muitas versões sobre o que, de fato, teria ocorrido durante a abordagem policial, mas alguns consensos, reconhecidos inclusive pela polícia, são fundamentais para se compreender o caso: Michael Brown estava desarmado.
Independente do país, a morte de um jovem desarmado causada por um policial é sempre chocante. E quando a vítima é negra, não há como evitar o início de uma discussão sobre racismo. Um tema polêmico. Nos Estados Unidos, infelizmente, ainda são muitos os comentários sobre a discriminação racial no país, mesmo tendo um presidente negro.
Um estudo de 2011 da Universidade de Brown, em Rhode Island, avaliou a composição média dos bairros americanos e constatou que o "branco típico" do país vive em um bairro onde 75% da população é branca e 8% é negra. Já o típico negro vive em um bairro onde 45% pertencem à sua raça e os outros 35% são brancos. O resultado do estudo, chamado “a persistência da segregação na metrópole”, é que negros e brancos têm poucos vizinhos de outra raça em seus próprios bairros. Outro ponto a ser analisado é que, em média, 75% dos policiais americanos são brancos.
Não estamos aqui para defender ou acusar policiais ou civis, sejam eles negros ou brancos, principalmente porque isso exigiria um estudo sobre os índices da criminalidade americana. Preferimos questionar a desigualdade racial que ainda é realidade não apenas nos Estados Unidos, mas em inúmeros países pelo mundo. Obviamente, os analistas lembram que desigualdade social e econômica são fatores que levam à criminalidade e, portanto, confrontos policiais com negros não são, necessariamente, sempre causados por preconceito racial.
Em agosto de 1963, o pastor batista Martin Luther King fez um discurso em Washington, nos Estados Unidos, que entrou para a história: em frente a uma multidão de 250 mil pessoas, ele pediu o fim da desigualdade racial. Mais de cinco décadas depois, sem dúvidas, ainda temos muito trabalho pela frente para que o racismo seja realmente extinto e para que negros e brancos tenham as mesmas oportunidades.