Gustavo Krause

Gustavo Krause

Livre Pensar

Perfil: Professor Titular da Cadeira de Legislação Tributaria, é ex-ministro de Estado do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, no Governo Fernando Henrique, e da fazenda no Governo Itamar Franco, além de já ter ocupado diversos cargos públicos em Pernambuco, onde já foi prefeito da Capital e Governador do Estado.

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O DIALETO

Gustavo Krause, | seg, 30/03/2015 - 09:41
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— Pessoal, Tota bateu a cassuleta! Ar de espanto. Depois, uma brisa de tristeza atravessou o magote de camumbembe que, todo santo sábado, se reúne em torno da marvada, comes e bebes para celebrar velhas amizades e, o que éde lei, fuxicar.

 

Justo naquele dia, foi feita a aposta: pagaria a conta quem no bate-papo deixasse de dizer, pelo menos, uma palavra do dialeto pernambuquês/nordestinês.

(Dialeto, ensinam os bam-bam-bam no assunto, é uma variação do idioma, jeito de falar de uma região, grupos sociais, profissionais, etários, com palavras próprias, mas que são entendidas por quem fala e por quem ouve. Logo, se no mesmo país a linguagem não éentendida, éo caso de um país com mais de uma língua).

— Ô Vadinho  atalhou Didi, o gigante de Tambaba, apelido dado em homenagem aos seus dotes anatômicos lá vem tu que, além de fuxiqueiro, só traz aperreio.

Aí Beto, Boca de Caçapa, apressou-se em evitar a arenga: - Tava na cara. Tota tinha tudo quanto era quizila: espinhela caída, lombriga, fraqueza de sangue e dos nervos, andava piongo, xoxo, além de zambeta, os cambito fino e tomava, todo dia, uma tuia de cachete

Também – emendou Lu, vulgo azia, vencedor do troféu, O Cabuloso ele aguentou, 40 anos, Jovita, um estrupício, barraqueira, tinha cabelo na venta, sofria de gastura, xanha na canela que virava pereba, tome a mardita e aí ela ficava com a bixiga lixa no couro. Faltou cabra arrochado que lhe desse um cocorote. Tota era uma alma penada. Deus o tenha.

Nelsinho Cabeção, conciliador, ponderou: Lá vem tu com brabeza. Dona Jovita tava longe de ser uma Xamboquiera. Mulher decente. Demorou dez anos pra emprenhar. Pensavam que era Maninha. Na mangação, chamavam Tota de Gala Rala. Nunca teve beliscada, teúda e manteúda que, quando sai da zona, passa a proceder. Jovitadeu dois bruguelos a Tota: Zédo Pão e Maria de Jesus, os nomes são paga de promessa. O macho tátomando conta da bodegasortida de brebote e catrevagem. Um galalau, pirangueiro, mas, orgulhoso, estufa o peito,não sou xexeiro. Se faz de abilolado, pamonha, mas é nócego no negócio, só entra de cum força nas parada. Diferente do pai, é raparigueiro, não pode ver quenga, fica amostrado, cheio de munganga, pantim e com trancelim no pescoço. Nada de amigação, nem casamento. É gasto e apoquentação, diz ele.

Didi, o gigante de Tambaba, reservou-se na prosa pra falar de Maria de Jesus. – Cruz credo, derna de pequena era virada no moi de coentro; foi se pondo mocinha espevitada, empinada pra frente e arrebitada pra trás; virou mulher, ficou quartuda e por onde passava deixava os cabra zaroio. Na dança, era xumbregação medonha. Dona Jovita morria de medo que ele ficasse falada e no caritó. Maria de Jesus gosta do sarro, mas é cabaço; aos vinte e cinco anos deu o primeiro tiro na macaca. Foi um desespero. Dona Jovita haja fazer promessa e simpatia pra Santo Antonio. E Maria de Jesus nemmode coisa. 

Nessa lengalenga, teve um porém: foi inaugurada uma Upa em Casa Amarela, vizinha da casa do finado Tota. Por láchegou um doutor de nome bonito: Roberto Aarão. Bem-apessoado, muito lorde, instruído, clínico e urologista de dedos afiados. Jovita, que vivia enturida de achaque, marcou consulta. Um olho no doutor e já pensando em cortar-jaca para o genro dos sonhos. Foi uma hora de consulta. Nem parecia paciente do SUSpiro derradeiro.

Dia seguinte... Aí Toinho Bocão atravessou-se com a voz estridente de professor alopradoTô por dentro. Foi meu aluno. Dona Jovita levou bolo de bacia com goiabada feita em casa. Feitiço puro. Convidou o tampa da medicina pro lanchinho lá em casa. Maria de Jesus, A sobremesa, tava todemperiquitada. O casório tá marcado.

Ôxe, conversa chata arretada! Berrou Pitta e virou-se pra mim com um tom sarcástico, ô ex-quase tudo, meu apelido, como vai o furdunço da política? Acabou o espaço e priu!

PS. Este artigo é uma singela homenagem a todos os poetas, pesquisadores, cordelistas, repentistas, cantadores e contadores de causos” representados nas pessoas de Zelito Nunes e Jessier Quirino.

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