Um dos meus dez fieis leitores, ou seja, 10% deste vasto universo, me cobrou: “Como écara? Não escreve mais?”.
De fato, resolvi dar um tempo diante do bate-boca eleitoral e do furor analítico que tomaram conta da mente e do coração dos brasileiros. Afinal, nada acrescentaria ao acalorado debate, não poucas vezes, contaminado pelo veneno da ofensa.
Enquanto a pauleira corria solta, não sei por quê, uma súbita associação de ideias me fez refletir sobre o idiota. Talvez, uma autoanálise que me denunciava como o próprio idiota.
Que tipo de idiota? Eis uma questão pertinente (no meu caso, deixo o enquadramento a critério do leitor).
Com efeito, a palavra idiota, desgarrada da origem grega (pessoa leiga, o homem privado face ao homem público) e do diagnóstico psiquiátrico, tem dois significados.
De um lado, o significado inspirado no personagem central da obra canônica de Dostoiévski, O Idiota, na qual o príncipe Michkin é criatura benevolente, generosa, ingênua, portadora de pureza e de compaixão reveladoras de um ser inadaptado ao mundo perverso; de outro lado, estáo significado corrente que empresta ao idiota uma cesta de sinônimos, entre os quais, estão: cretino, tolo, pateta, palerma, parvo, abobalhado, abilolado, energúmeno, estúpido, leso, mentecapto, banana, bocó, desmiolado, pato, mané, etc.., etc..
Ora, diante desta amplitude, quem não cometeu idiotices, atire o último sinônimo! Cuidado, épecado, diz a Bíblia, atribuir ao próximo a pecha de idiota.
Assim sendo, épreciso identificar tipos: existe o idiota ocasional e o idiota fundamental; o idiota, pessoa física, e o idiota coletivo, o maria-vai-com-as-outras, a massa, o rebanho, a manada, a multidão, o consumidor, o torcedor, o eleitor. Todos, vulneráveis àmanipulação.
Existem os inofensivos e os de alta periculosidade, estes, em geral, ativos, influentes, imodestos. Aliás, alguém jádisse que, atualmente, “o idiota perdeu a modéstia”o queé um corolário da constatação genial de Nelson Rodrigues: “O grande acontecimento dos nossos dias foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota”.
E o que tem “Seu Lunga”a ver com isso? Seu Lunga, Joaquim dos Santos Rodrigues, cearense, residente em Juazeiro do Norte, estabelecido no ramo do comércio de sucata, tornou-se conhecido como o homem mais ignorante do país, rude, grosso que nem papel de embrulhar prego e, sobretudo, implacável combatente da idiotice.
Seu Lunga fica arretado quando contam suas histórias. Diz que émentira. Não adianta. Virou verdade. São tiradas saborosas. Aívão algumas: Seu Lunga estava coçando a cabeça por cima do chapéu. Aíum cara perguntou: “Seu Lunga, por que não tira o chapéu?”. Seu Lunga, rápido no gatilho: “Vocêtira a calça pra coçar a bunda?”. Seu Lunga estava sentado noônibus e, ao lado, o lugar vago, aío cara perguntou: “Seu Lunga tem alguém sentado do seu lado?”. “Se tem, tô cego. Num tô vendo”. Seu Lunga ia saindo de casa e deu de cara com o vizinho. “Bom dia, Seu Lunga, para onde vai tão cedo”. “Vou pro enterro do Chico”. “E Chico morreu”. “Não. A família se reuniu e vai enterrar Chico vivo mesmo”. Seu Lunga levou o carro pra oficina. O mecânico perguntou: “Seu Lunga esse carro ronca”? “Sei não. Ele dorme na garage”. Um amigo encontrou Seu Lunga: “Nunca mais vi o sinhô. Por onde o sinhô anda?”. “Pelo chão mesmo. Ainda não aprendi a voar”.
No dia da eleição, Seu Lunga, abusadíssimo, foi votar. A jovem mesária perguntou: “Veio votar, Seu Lunga?”. “Não. Vim doar sangue para o bem do Brasil”.
Por essas e outras, foi instituído o troféu “Seu Lunga”, um prêmio para as pessoas que, a exemplo dele, contribuem para reduzir a Taxa de Idiotice Nacional – TIN. Conte sua história e envie para o seguinte endereço: bradoretumbante@giganteadormecido.com
E fique tranquilo. A Comissão Espertobras julgará, com decência e isenção, os casos apresentados.