Tópicos | indígenas

Falta de estrutura governamental para a proteção aos indígenas e indícios de participação do crime organizado no garimpo em territórios protegidos. São essas as conclusões do presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), senador Humberto Costa (PT-PE), depois de uma audiência pública nesta quinta-feira (12), em Boa Vista. 

A diligência externa tem como objetivo tratar dos possíveis crimes cometidos por garimpeiros contra indígenas ianomâmi no interior de Roraima. Há denúncias de invasão de áreas protegidas, garimpo ilegal, intimidação, estupro e assassinato. Representantes de órgãos do governo, de comunidades indígenas e do Ministério Público participaram do encontro com a comissão. As diligências começaram na quarta (11) e vão até esta sexta-feira (13). 

##RECOMENDA##

De acordo com Humberto Costa, a comissão constatou que a unidade local do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está totalmente desestruturada, com apenas dois servidores de campo e outros dois acima da idade para esse tipo de trabalho. Ele também reclamou da falta de estrutura da Fundação Nacional do Índio (Funai). 

Para o senador, a crise envolvendo os indígenas de Roraima só está acontecendo porque o governo federal não tem cumprido sua responsabilidade. Ele disse que o governo insiste na postura de não cumprir a Constituição a respeito dos indígenas. O senador também criticou as autorizações dadas, e depois canceladas, pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para o garimpo na região da Amazônia. Na opinião de Humberto Costa, essa postura permissiva do Executivo serve de incentivo para práticas ilegais na região. 

"Este quadro está posto porque falta uma política ambiental para esse governo. Como a economia está fraca, muitos procuram atividades ilegais. Acima de tudo, falta fiscalização", afirmou. 

Soluções

Em entrevista coletiva após a audiência, Humberto Costa informou que os indígenas manifestaram preocupação com a manutenção do garimpo em suas terras. Ele disse que as autoridades do governo apontaram que é necessário aguardar que as investigações sobre possíveis crimes sejam concluídas. Conforme as informações colhidas pela comissão, o número de garimpeiros na região ultrapassa em muito os 3 mil estimados pelo governo.

O senador também cobrou uma solução para os trabalhadores que estão nos garimpos ilegais. "A função do governo é garantir a proteção dessas terras e impedir que morra um único indígena por conta dessas situações [envolvendo o garimpo]. Nosso papel é cobrar soluções", declarou.  Segundo o senador, os representantes dos órgãos estatais — como Ibama, Funai e Exército — se comprometeram a apresentar dados sobre atividades e operações envolvendo atendimento aos indígenas, como forma de subsidiar o relatório da comissão. Ele disse que percebeu boa vontade por parte dos servidores.

O senador ainda informou que deverá fazer um relatório único, envolvendo as comissões de Direitos Humanos do Senado e da Câmara dos Deputados e das frentes parlamentares relacionadas aos temas indígenas e amazônicos. 

Humberto Costa voltou a reclamar da falta de apoio para o trabalho da CDH. Ele informou que o Exército negou o pedido de ajuda na logística no estado de Roraima, ao alegar “restrição dos meios aéreos disponíveis na região amazônica”.

Inicialmente, a comissão queria ir até ao distrito de Surucucu, onde fica o território ianomâmi em que teriam ocorrido os crimes. Segundo o senador, também falta apoio da Presidência do Senado às atividades externas da comissão. 

Facções criminosas

Humberto Costa também informou que a comissão recebeu a denúncia de que há indícios de que o crime organizado está operando em garimpos ilegais nas terras indígenas em busca de ouro. O senador destacou que grupos como o Primeiro Comando da Capital (PCC) são suspeitos de estarem entrando na região para atuar na exploração de minérios, promovendo uma onda de violência contra os povos indígenas, especialmente os ianomâmi.

  O presidente da CDH ainda aproveitou para cobrar das agências reguladoras uma maior participação na proteção das terras indígenas. Ele disse que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), por exemplo, pode ter informações de aviões na região. Já a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) poderia ficar atenta aos recursos de comunicação na região dos garimpos ilegais. 

Vontade política

A comissão externa para acompanhar as denúncias em Roraima foi criada por sugestão da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA). Ela afirmou que o colegiado recebeu várias denúncias de possíveis crimes envolvendo a prática de garimpo em terras protegidas. Para a senadora, falta vontade política nas investigações de possíveis “atrocidades que atingem as comunidades indígenas”. 

"Eu saio daqui com uma relativa certeza de que houve crimes e de que precisa haver o aprofundamento das investigações. Que fique claro para o Brasil: mineração em terras indígenas é crime", declarou a senadora.   

Na visão da senadora Leila Barros (PDT-DF), é preciso cobrar investigação profunda sobre os possíveis crimes ocorridos em Roraima. Leila lembrou que o garimpo em terras indígenas é ilegal e disse que é necessário também alcançar “quem está por trás dos garimpeiros, que é muito poderoso e está afrontando as leis do país”. 

"Falta vontade política para criar uma rede para priorizar a saúde dos indígenas. Temos que ir atrás de quem financia o garimpo ilegal", pediu Leila. 

O senador Chico Rodrigues (União-RR) pediu que os garimpeiros não sejam criminalizados. Ele ressaltou que o possível assassinato de uma menina ianomâmi ainda não foi comprovado, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público. A comitiva é plural e precisa ouvir “os dois lados”, afirmou.  O senador Telmário Mota (Pros-RR) e os deputados José Ricardo (PT-AM) e Joênia Wapichana (Rede-RR) também acompanharam as diligências em Boa Vista.   

*Da Agência Senado

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) irá solicitar ao Senado a criação de uma comissão para acompanhar as investigações sobre denúncia de estupro e morte de uma menina yanomâmi em Roraima. Além disso, ela vai pedir uma audiência com a diretoria da Polícia Federal para conferir as providências tomadas em relação ao caso.

O ocorrido veio à tona na última segunda (29). Segundo a denúncia, a vítima é uma menina de 12 anos que foi estuprada e morta por garimpeiros em uma comunidade na região de Waikás, na Terra Indígena Yanomâmi.

##RECOMENDA##

Sobre o caso, a senadora responsabiliza a omissão do governo federal sobre a frequência dessas ações. “Essas denúncias apontam que o estupro teria sido por parte de garimpeiros. O que traz sobre nós a grande responsabilidade do aprofundamento desta investigação. Não é errado dizer que a omissão que nós temos acompanhado pelo governo federal tem contribuído para que ações dessa natureza possam acontecer. Dentre elas a defesa, inclusive, da exploração mineral dentro das comunidades indígenas”, afirmou.

A Justiça da Argentina iniciou nesta terça-feira (19) um julgamento que pretende lançar luz sobre o episódio que ficou conhecido como Massacre de Napalpí, ocorrido em 1924, quando entre 300 e 500 integrantes dos povos originários foram assassinados por forças policiais e gendarmes.

"Vamos mostrar, de maneira concreta e contundente, quem participou e quem foram os responsáveis por este genocídio", afirmou o procurador federal Federico Garniel, encarregado da acusação, durante a audiência que acontece em Resistencia, no nordeste da Argentina.

Trata-se do primeiro julgamento que investiga a perseguição sistemática dos povos originários na Argentina. Em 2018, o caso Napalpí foi declarado crime contra a humanidade e, por isso, imprescritível. Contudo, por não haver acusados vivos, trata-se de uma espécie de "comissão da verdade" para investigar, esclarecer e dar publicidade ao episódio como forma de reparação às vítimas, suas famílias e comunidades.

Os fatos investigados ocorreram em 19 de julho de 1924 em Napalpí, uma "redução" - como se chamava na Argentina os lugares de confinamento de indígenas - situada onde hoje é a província do Chaco. Lá viviam comunidades das etnias qom e moqoit em condições de semiescravidão, obrigadas a trabalhar nas plantações de algodão.

Naquela época, após ignorar os protestos dos indígenas para mudar suas condições de vida, o então governador Fernando Centeno ordenou uma operação repressiva da qual participaram cerca de 130 policiais, gendarmes e civis armados, que dispararam à queima-roupa contra crianças, idosos e adultos desarmados. Os corpos dos assassinados foram mutilados e enterrados em valas comuns.

As audiências judiciais começaram nesta terça - o Dia do Aborígene Americano (chamado de Dia do Índio no Brasil) - na cidade de Resistencia, a capital provincial, e o julgamento deve ser concluído em 19 de maio.

Após as primeiras alegações na sala de audiências, foram exibidos registros audiovisuais de entrevistas com dois sobreviventes, Pedro Valquinta, nascido há 110 anos, e Rosa Grilo, uma senhora de 114 anos.

"Para mim, é triste, mataram meu pai. Quase não quero mais me lembrar. Coisas tristes. Mataram muita gente", diz Rosa Grilo no testemunho filmado pelo Ministério Público em 2018.

Em 2008, durante o seu primeiro mandato, o atual governador de Chaco, Jorge Capitanich, havia pedido perdão pelo massacre em nome do estado provincial.

Os historiadores destacam que, durante o processo de formação da Argentina como nação independente, os povos originários foram subjugados e ficaram à beira do extermínio.

Um dos episódios mais trágicos é conhecido como "A Campanha do Deserto", para a incorporação da Patagônia ao território nacional, que deixou um saldo de pelo menos 14.000 indígenas mortos entre 1878 e 1885.

De acordo com o censo de 2010, dos 45 milhões de habitantes da Argentina, apenas 1 milhão se definem como integrantes ou descendentes de alguma das 39 etnias originárias. Desde 1994, a Constituição reconhece os direitos dos povos indígenas.

Nesta quarta-feira (24), o Procon-SP e o Ministério Público Federal (MPF) solicitaram explicações ao LinkedIn sobre a plataforma ter barrado anúncios de empregos com preferência a candidatos negros e indígenas. 

De acordo com o MPF, um ofício foi encaminhado para a plataforma solicitando informações sobre a exclusão de seleção, feita pelo Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (Laut), em que seria dada preferência a candidatos negros e indígenas. Ainda conforme com o MPF, a decisão da plataforma contraria os esforços realizados no Brasil, com base na Constituição Federal, para a inclusão de minorias por meio de ações afirmativas. 

##RECOMENDA##

O MPF solicitou ao LinkedIn que esclareça, no prazo de dez dias úteis (contados a partir de 23 de março), qual regra seguiu a exclusão do anúncio, detalhando seus fundamentos jurídicos, além de quantas vagas foram retiradas da plataforma nos últimos dois anos, com base na mesma argumentação. Também foi enviado um ofício ao Laut, pedindo mais informações sobre o anúncio. 

O Supremo Tribunal Federal entendeu essas medidas “não somente como reparação histórica em favor de grupos subalternizados, mas como forma de beneficiar toda a sociedade, por meio da construção de espaços menos excludentes”. Já de acordo com o Procon, a empresa foi notificada a explicar se há publicação de vagas, aplicação de políticas específicas e como os anunciantes são informados das mesmas.

O Procon também quer saber como a informação é passada ao anunciante no caso de recusa da publicação, em que condições e situações ocorre a exclusão de anúncio já publicado e, em caso positivo, como o anunciante é informado. 

Além disso, o LinkedIn deve informar se qualquer tipo de vaga e publicação pode ser anunciada e, em caso negativo, quais critérios são necessários para serem aceitas até esta quinta-feira. 

 

 

 

 

 

Na manhã desta sexta-feira (18), em cerimônia realizada na sede do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o presidente Jair Bolsonaro recebeu a medalha do Mérito Indigenista, criada em 1972 para reconhecer pessoas que tenham prestado relevantes trabalhos a favor da causa indígena brasileira. Durante toda a sua gestão, o mandatário vem sendo criticado pelo desmonte da Fundação Nacional do Índio e por defender o garimpo em áreas de preservação ambiental e terras indígenas.

Na ocasião, o presidente discursou utilizando um cocar e segurando uma criança indígena nos braços. “Nada como estar ao lado de crianças. Aqui está a pureza, aqui está a nossa responsabilidade, aqui está o futuro do nosso Brasil. É um evento ímpar, me sinto muito feliz com este cocar, graciosamente ‘me’ ofertado (sic). Somos exatamente iguais, todos viemos à terra pela graça de Deus [...] O que sempre quisemos foi fazer com que vocês se sentissem exatamente como nós. O dom, a possibilidade de fazer o bem ao próximo, não tem preço”, declarou Bolsonaro.

##RECOMENDA##

Presente no evento, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, insinuou que, antes da gestão Bolsonaro, a instituição era pautada por “posturas ideológicas”. “Inúmeros são os desafios que enfrentamos para executar o nosso trabalho. Entre eles, está o passivo deixado por décadas de fracasso da política indigenista brasileira, que, no passado, era guiada por interesses escusos, falta de transparência e forte presença de ONG’s, muitas delas nem sempre comprometidas com o melhor interesse público”, disparou.

Nesta edição da premiação, um total de 26 pessoas foram agraciadas com a medalha. Participaram da cerimônia indígenas oriundos de povos de diversas regiões do Brasil, a exemplo de cinta larga, fulni-Ô, guajajara, kalapalo, xucuru e pankararu. Também esteve presente o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres.

Whindersson Nunes está empenhando em ajudar a população da Bahia que vem sofrendo com fortes chuvas desde o último mês de novembro. O humorista já havia enviado doações em dinheiro para auxiliar os desabrigados do sul do estado. Agora, ele anunciou que vai direcionar o seu apoio para a população indígena acometida pelas enchentes. Pelo Twitter, neste domingo (26), Nunes explicou como vai ajudar. 

Para levantar fundos que serão direcionados exclusivamente para a população indígena do sul da Bahia, Whindersson decidiu colocar alguns itens do seu acervo pessoal em um leilão. Serão vendidas peças de figurinos e até objetos como sua primeira guitarra. Todo o valor arrecadado será revertido para as aldeias atingidas pelas enchentes. Além dele, outros famosos estão empenhandos em mandar doações para o povo baiano. 

##RECOMENDA##

[@#video#@]

Os temporais que assolam a região extremo sul da Bahia acometeram diversas aldeias como Pequi, Kay e Tibá. Diversas famílias indígenas perderam suas casas e plantações, algumas estão impossibilitadas de se deslocar devido ao isolamento causado pelas cheias dos rios. O Governo da Bahia se mobilizou para fazer doações de cestas básicas para essa população. Aproximadamente 50 aldeias das etnias Pataxó, Pataxó Hãhãhãe e Tupinambá receberam os donativos entre os dias 15 e 17 de dezembro, de acordo com a FUndação Nacional do Índio (Funai.) 

Recentemente foi realizada a 52ª edição do São Paulo Fashion Week (SPFW). O evento aconteceu de forma híbrida e marcou pela diversidade, já que foram apresentados modelos de todos os tamanhos, cores e gêneros, o que agitou as redes sociais. Assim, abre-se a discussão sobre o papel da moda e como ela pode servir para abraçar todos os tipos de pessoas, desconstruindo estereótipos de beleza.

De acordo com Beatriz Garcia Damasceno, especialista da moda no Senac Lapa Faustolo (SP), não existe apenas uma definição sobre o conceito da moda. “Não podemos dizer que a moda é definida por uma única palavra, ela é múltipla e abrange várias áreas do saber humano. Moda é comportamento, arte, negócio, dinheiro, política, tendência e movimento. É a expressão cultural de um determinado período”, explica.

##RECOMENDA##

A especialista conta que todos querem se sentir bem vestidos e olhar para o espelho com o desejo de sentir a autoestima elevada. Desta forma, a moda tem o papel de pensar em soluções que atendam às demandas dos múltiplos corpos, a fim de abraçar de vez a diversidade que compõe uma sociedade.

Vale lembrar que, a moda não tem o poder de decidir o que é politicamente certo, nem ao menos definir um padrão de beleza. Segundo Beatriz, a arte de se vestir, conhecida também como indumentária, é apenas um dos elementos que ajudam a trazer uma tendência para uma próxima estação ou ano. “O certo e o belo, é aquilo que te faz bem. Aquilo que funciona para o seu estilo e aquilo que te faz sorrir”, esclarece.

Portanto, pode ser considerada uma contradição quando a moda passa a não valer para determinados grupos sociais ou ser excludente. “No mundo atual, a exclusão de um grupo não faz sentido, não temos a possibilidade de apertar um botão ‘delete’ e fazer com que pessoas sejam apagadas do mundo. Excluir qualquer tipo de grupo é fora de moda”, afirma.

Inclusão na moda

Não é de hoje que grandes eventos procuram abraçar todos os tipos de pessoas na moda. O SPFW por exemplo, desde 2009 estabeleceu uma cota mínima de 10% para modelos negros, afrodescendentes e indígenas nos desfiles, e segundo a especialista, esta é uma medida importante para estimular a participação racial no evento, para confirmar de vez um compromisso com classes de pessoas consideradas minorias.

Vale lembrar que em 2020 também o SPFW determinou que pelo menos 50% dos modelos deveriam ser compostos por negros, indígenas e asiáticos. “Foi um movimento inédito no cenário da moda e repercutiu no mundo inteiro. O resultado dessas iniciativas é nítido: uma passarela mais verossímil e condizente com a nossa realidade”, finaliza.

 

 

 Nesta quinta-feira (18), a Polícia Militar do Maranhão prendeu vinte indígenas do povo Akróa-Gamella, no território Taquaritiua, no município de Viana. De acordo com testemunhas, a ação foi violenta, tendo deixado pessoas feridas, e incluiu apreensão de celulares e equipamentos fotográficos de indígenas que registravam a abordagem.

Dentre os indígenas presos, está um agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Maranhão, Kum´Tum Gamella. De acordo com a instituição, os conflitos se acirraram na última quarta (17), quando a empresa Equatorial Energia retomou as obras para construção de uma linha de transmissão que atravessa o território indígena.

##RECOMENDA##

Nesta manhã, relatos dão conta de que seguranças armados, que se identificaram como funcionários da companhia energética, passaram a circular pela área, intimidando a população. "Eles chegaram aqui com bastante violência perguntando quantas pessoas tinha na casa...com as armas em punho, sempre com as pistola apontada pra gente... um dos policiais era muito agressivo e esse mesmo que machucou ainda o rosto de uma mulher indígena e de algumas outras pessoas também e jogou todo mundo no chão, sempre mandava as pessoa descer, deitar e pisava em cima”, contou uma das lideranças indígenas.

A CPT relata que a ação continuou com a chegada de diversas viaturas ao território, “abordando lideranças e revistando residências de dezenas de pessoas”, diz a nota da instituição. De acordo com os indígenas, nativos do território foram agredidos, bem como a PM disparou balas de efeito moral e spray de pimenta contra mulheres, crianças e idosos que estavam no local. Os vinte indígenas presos foram conduzidos para a delegacia de Viana, onde permanecem encarcerados.

Conflito

Segundo a CPT, o povo Akroá Gamella reivindica a titulação e seu território junto à FUNAI desde 2014. “A morosidade na demarcação do território ocasionou uma série de conflitos graves na região. Em 2017, políticos e fazendeiros da cidade de Viana, Penalva e Matinha, orquestraram um violento ataque ao território Taquaritiua, mobilizando centenas de pessoas da região para o que poderia ter sido um verdadeiro massacre”, explica a instituição.

Foi nessa ação que dois indígenas tiveram mãos e pernas decepadas e outros vinte, aproximadamente, foram feridos. O Conselho Indigenista Missionário Regional Maranhão já realizou diversas denúncias de violações contra os indígenas da localidade.

“Já denunciamos ao Ministério Público Federal, à 6ª Câmara [de Coordenação e Revisão -Índios e Minorias], para a Defensoria Pública da União. Já pedimos também para que suspendessem esses empreendimentos já que, até o momento, não foi conduzido da maneira correta. Ou seja, com a participação e consulta ao povo sobre o licenciamento”, explica a assessoria jurídica do Cimi, Lucimar Carvalho.

As investidas da empresa no sentido de dar continuidade ao processo de implantação do linhão de energia datam de 2016. “A ação dessa empresa é completamente descabida. Primeiro que o licenciamento corre pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente, enquanto deveria ser pelo Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis]. Além disso, deveriam respeitar o componente indígena, que é o termo de referência para essas situações. Os impactos no território sequer foram observados. Já passa um trecho de uma linha de transmissão e há uma tremenda devastação embaixo dessas linhas”, completa Lucimar Carvalho.

O programa 'Português como Língua Adicional (PLA)' teve início no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), que visa ensinar o idioma para venezuelanos da etnia indígena Warao refugiados no Recife. O órgão responsável pela implementação do projeto é o Instituto Federal Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS), cuja realização ocorre em outras onze instituições.

O programa conta com uma carga horária de 250 horas, divididas em 18 lições apresentadas no ambiente virtual de aprendizado (AVA). Ainda há um encontro presencial por semana, que no Recife é realizado no Taller Warao, no bairro da Torre. O espaço é oferecido pelo Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), em parceria com as Irmãs do Colégio Damas.

##RECOMENDA##

Segundo o professor Diego Paixão, do Campus Barreiros, as aulas são fundamentais para as relações dos imigrantes com os espaços locais, como organizações não governamentais (ONGs). “Essa iniciativa facilitará a interação deles nas comunidades onde vivem, bem como no diálogo com o poder público e com as ONGs que acompanham a situação. Alguns sequer falam espanhol, comunicam-se majoritariamente na língua original dos Waraos. Nosso objetivo é que o Português seja mais do que uma língua adicional, seja na verdade uma língua de acolhimento desses migrantes aqui no Brasil”, explica o professor, que coordena o programa no IFPE e ministra as aulas para a turma de indígenas na capital.

O professor ainda destaca que a formação foi oferecida a partir da demanda dos indígenas. O pedido foi apresentado ao Comitê de Migração de Pernambuco (COMIGRAR), e desde janeiro começaram as articulações para preparar as aulas. Devido ao agravamento da pandemia do novo coronavírus, além de outros fatores, as atividades só puderam ter início no segundo semestre do ano, mas isso não desanimou o público alvo. “Eles estão muito animados e esperançosos de que outras portas sejam abertas aqui em Pernambuco. As dificuldades de acesso à internet, de falta de equipamentos para acompanhar o curso semanalmente no AVA e as adversidades do dia-a-dia não são motivo para desestímulo por parte desse público”, ele comenta.

As aulas também são ministradas nos Institutos Federais do Triângulo Mineiro, de Brasília, de Mato Grosso, do Amapá, de Mato Grosso do Sul, do Ceará, do Rio Grande do Norte, do Rio Grande do Sul, Sul-Rio-Grandense, de Roraima e de São Paulo. As atividades começaram no dia 23 de agosto, e serão realizadas até dezembro.

Cerca de uma semana antes do discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, o Brasil foi incluído na lista de alerta internacional de países que preocupam em relação à defesa dos direitos humanos. O país não era citado pela entidade desde a redemocratização.

Na abertura do Conselho de Direitos Humanos da ONU, nesta segunda (13), a representante de direitos humanos da entidade, Michelle Bachelet, afirmou que alteração de três leis do pacote antiterrorismo proposta pelo governo brasileiro ameaça ativistas e entidades da sociedade civil. A mudança é vista como uma movimentação para silenciar a oposição e limitar o direto de protesto, bem como liberdades individuais.

##RECOMENDA##

"Meu escritório também está preocupado com a nova proposta de legislação antiterrorista no Brasil que inclui disposições excessivamente vagas e amplas que apresentam riscos de abusos, particularmente contra ativistas sociais e defensores dos direitos humanos", criticou ao comentar sobre o projeto que estende a definição de terrorismo, libera a infiltração de agentes públicos em manifestações e autoriza operações sigilosas.

A comissária também se mostrou atenta aos abusos contra povos indígenas, em especial o Yanomami. "Estou alarmada com os recentes ataques contra membros dos povos Yanomami e Munduruku por garimpeiros ilegais na Amazônia [...] tentativas de legalizar a entrada de empresas em territórios indígenas, e limitar a demarcação de terras indígenas - notadamente através de um projeto de lei que está sendo analisado na Câmara dos Deputados - também são motivo de grande preocupação", destacou Bachelet.

A lista de alerta de direitos humanos da ONU é composta por aproximadamente 40 países dentre Haiti, Honduras, Guatemala e El Salvador, Mali, Filipinas, Myanmar, Níger, Ucrânia, China ou Venezuela.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) foram às redes sociais para criticar os atos realizados em Brasília nesta sexta-feira (27), contra o marco temporal para a demarcação de terras indígenas e outras pautas envolvendo os direitos dos povos originários. Manifestantes atearam fogo em uma espécie de “caixão” feito de papelão, em frente ao Palácio do Planalto, na Praça dos Três Poderes.

Bolsonaro ironizou, falando que “esse tipo de gente” tem a intenção de retomar espaços de poder com o apoio “daqueles que censuram, prendem e atacam os defensores da Constituição Federal e da liberdade”, alfinetando o ministro Alexandre de Moraes e o Supremo Tribunal Federal.

##RECOMENDA##

[@#video#@]

No mesmo fio, Carlos respondeu: “Haverá inquérito para MAIS este absurdo? Depois da esquerda, com políticos e conhecidos incentivarem, fatos vistos por todos, com depredações de bens públicos e privados e nada acontecer, fica mais essa questão”.

[@#podcast#@]

Indígenas de diversas regiões do país têm se reunido em diferentes localidades de Brasília para pressionar os parlamentares sobre o andamento do marco temporal no Congresso. O tema chegou a entrar na pauta de julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF), na quinta-feira (26), mas foi adiado para o dia 1º de setembro.

A fumaça preta podia ser vista de longe, atrás do Congresso Nacional. O Corpo de Bombeiros esteve no local e apagou as chamas. Ninguém se feriu.

O presidente Jair Bolsonaro saiu de Brasília para cumprir agenda em Goiânia (GO). Este é o quarto dia consecutivo de protestos na capital federal.

O instituto Junior Achievement, com atuação na área de educação empreendedora, lança o programa “Montando sua carreira - Diversidade''. A iniciativa promove capacitação gratuita e, nesta edição, tem como público alvo jovens mulheres negras e indígenas pernambucanas, de 15 a 23 anos de idade.

As inscrições para o Programa, que é direcionado às áreas STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática), são feitas, exclusivamente, pela internet, até 25 de agosto. As aulas da formação serão realizadas em setembro de maneira remota. O acesso aos conteúdos será por meio de plataforma exclusiva do projeto.

##RECOMENDA##

"Nosso objetivo é mostrar às jovens como essas áreas são relevantes e promissoras e incentivá-las a se desenvolver e se preparar para o mercado. Não importando seu gênero, raça, orientação sexual ou classe social”, explica a diretora da Junior Achievement Pernambuco, Rosane Schereschewsky, através da assessoria de comunicação.

O tenente da reserva do Exército e coordenador da Funai no Vale do Javari, Henry Charlles Lima da Silva, encorajou líderes do povo marubo a abrir fogo contra indígenas isolados no Amazonas, caso sejam “importunados”.

A declaração, referente a uma reunião no dia 23 de junho, foi capturada em áudio e divulgada nesta quinta-feira (22) pelo jornal Folha de S. Paulo, que comprovou a autenticidade da mensagem de voz.

##RECOMENDA##

Dias antes, indígenas isolados raptaram uma mulher de 37 anos da aldeia, segundo relatos dos marubos. A mulher foi encontrada, mas já havia sido vítima de outros dois sequestros desde 2020.

“Eu vou entrar em contato com o pessoal da Frente [de Proteção Etnoambiental] e pressionar: ‘Vocês têm de cuidar dos índios isolados, porque senão eu vou, junto com os marubos, meter fogo nos isolados. São eles que estão saindo do território deles para importunar os marubos”, disse Henry, durante reunião na aldeia Paulinho, no mês passado.

O surgimento dos isolados nessa região do rio Ituí está sendo investigado pela Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari, que não é subordinada à Coordenação Regional, responsável apenas pelas populações indígenas contatadas.

“Não estou aqui pra desarmar ninguém, também não estou aqui pra ser falso e levantar bandeira de paz. Eu passei muito tempo da minha vida evitando a guerra, mas se a guerra vier, nós também não vamos correr. Se vierem na terra de vocês, vocês têm todo o direito de se defender. Se eles [os isolados] cometerem algum delito, alguma ameaça a vocês, a gente tem de ver o que pode fazer pra poder parar”, afirmou o coordenador. E continuou: “eles já entendem. Já pedem cesta básica, já falam português, já têm contato direto com a frente, não se justificam certas atitudes deles”.

No entanto, segundo informações de arquivo da própria Funai, não há registros de falantes de português entre os povos isolados mencionados, tampouco eles são contemplados pelos programas de segurança alimentar.

"A gente tem de tomar uma providência para evitar um mal maior. Eu não tiro o direito de vocês, independentemente da lei penal ou não, de defender o seu território, a sua maloca, a sua casa, o seu povo, a sua mulher, as suas crianças”, prosseguiu.

Ao final do áudio, Henry diz que o governo Jair Bolsonaro (sem partido) não consegue atuar na área indígena “por questões ideológicas”: “A Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) vai, denuncia, e a gente fica nesse impasse”.

Diante da tensão que assola a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) na Câmara e o Supremo Tribunal Federal (STF), que apreciam matéria prevista no Projeto de Lei 490/2007, lideranças indígenas aderiram também ao ato contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Recife, na manhã deste sábado (3). A principal reivindicação dos nativos é a anulação ou discussão do PL em audiência pública, por tratar de assuntos importantes para a sobrevivência e preservação da cultura indígena, como a demarcação de terras e respeito à expressão da fé.

[@#galeria#@]

##RECOMENDA##

Parte dessa população tece fortes críticas ao Governo Federal, em especial à atuação através do Ministério do Meio Ambiente, que é investigado pela Polícia Federal por crimes de corrupção contra a administração pública e facilitação de contrabando por agentes públicos e empresários do setor madeireiro, na gestão do ex-ministro Ricardo Salles. Só em 2020, o desmatamento na Amazônia cresceu 30%, batendo o recorde dos últimos dez anos.

Uma das frentes a encabeçar o ato foi a associação indígena Karaxú Assikuka, primeira associação originária do país a ser criada em contexto urbano. Cerca de dez pessoas compareceram em nome da organização, liderada pela cacica Kyalonan Karaxú.

“Esse PL vem para destruir todos os direitos dos povos indígenas, inclusive o direito à terra, que é nosso direito sagrado. Precisamos que esse PL seja barrado, é um PL genocida e que tanto invade os (territórios) isolados, fazendo com que se flexibilize a entrada nas terras para a mineração e o garimpo, como também tira o direito às terras já demarcadas. Elas podem ser privatizadas e invadidas pelos grandes negócios, hidrelétricas e usinas nucleares. Precisamos barrar o PL pelo direito à vida, para salvar a Amazônia, para salvar o pulmão do mundo”, diz a cacica.

[@#video#@]

O Projeto de Lei 490/2007

Na matéria, o ponto de maior interesse é a tese do marco temporal. A proposta garante como terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas brasileiros apenas aquelas que, na promulgação da Constituição de 1988, eram simultaneamente: por eles habitadas em caráter permanente; utilizadas para suas atividades produtivas; imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar; e necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

A comprovação desses requisitos deverá ser devidamente fundamentada e baseada em critérios objetivos. A ausência da comunidade indígena na área pretendida em 5 de outubro de 1988 impede o direito à terra, salvo em caso de conflito possessório, fato que deverá ser devidamente comprovado.

No entanto, lideranças indígenas em todo o país reforçam a noção do direito à propriedade e moradia, alegando o bom uso da terra e a permanência dos povos originários no país desde o seu descobrimento até a atualidade.

Segundo o texto, a demarcação contará obrigatoriamente com a participação dos estados e municípios em que se localize a área pretendida e de todas as comunidades diretamente interessadas, sendo franqueada a manifestação de interessados e de entidades da sociedade civil, desde o início do processo administrativo demarcatório, a partir da reivindicação das comunidades indígenas. É assegurado aos entes federados o direito de participação efetiva no processo administrativo de demarcação de terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.

Ouvidos pela CPI da Covid nesta quinta-feira (24), Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil e representante do Movimento Alerta, e o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (RS), apresentaram números sobre a pandemia de Covid-19 no Brasil a partir de suas pesquisas que dão um retrato da resposta do país desde março de 2020, quando foi registrada a primeira morte pelo coronavírus. Ao comentar os resultados, os pesquisadores deixaram claro que a população indígena, a população negra (pretos e pardos), e a população pobre são as mais afetadas pela pandemia.

Durante o testemunho, dado na condição de convidado, Hallal também mostrou dados do seu grupo coordenado e que mostram que o Brasil poderia ter poupado quatro em cada cinco das mortes ocorridas por Covid nacionalmente. O número também pode ser lido da seguinte forma: 400 mil mortes evitadas, se o país tivesse conseguido, ao menos, entrar para a média mundial.

##RECOMENDA##

Para os especialistas, o posicionamento anticiência e a falta de comunicação unificada por parte do Ministério da Saúde foram decisivos para que o Brasil chegasse à triste situação atual. Atualmente, o Brasil é o quarto país em número absoluto de doses aplicadas, o 78º que mais aplicou primeiras doses e o 85º que mais aplicou segundas doses ou primeiras doses da vacina Janssen. O Brasil também é, geograficamente, o segundo pior da América do Sul no índice de mortalidade, atrás apenas do Peru.

Entre os dez países mais populosos do mundo, a nação brasileira, novamente, ocupa a pior posição. O mesmo se repete entre os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Entenda os dados por pesquisa:

Grupo Alerta de Jurema Werneck

— A pandemia provocou, em um ano (março de 2020 a março de 2021), 305 mil mortes acima do esperado no Brasil. Essas mortes ocorreram direta ou indiretamente por Covid-19 (99% de confiança);

— Se medidas eficientes de distanciamento social e controle tivessem sido adotadas, haveria uma redução de 40% no potencial de transmissão do vírus;

— Com política efetiva de controle baseada em ações não farmacológicas (uso de máscara, álcool em gel, distanciamento e isolamento, entre outros) 120 mil vidas poderiam ter sido poupadas no primeiro ano da pandemia no Brasil;

— Menos de 14% da população brasileira fez testes de diagnóstico para a Covid-19 até novembro de 2020. Pessoas com renda maior do que quatro salários mínimos consumiram quatro vezes mais testes do que pessoas que receberam menos de meio salário mínimo;

— Desigualdades estruturais tiveram influência sobre as altas taxas de mortalidade, atingindo principalmente negros e indígenas, pessoas com baixa renda e baixa escolaridade;

— 20.642 pessoas morreram em unidades de atendimento pré-hospitalares, sendo 20.205 em unidades públicas;

— Pessoas mais pobres tiveram o dobro do nível de infecções;

— População negra (pretos e pardos) tiveram o dobro da infecção dos brancos, enquanto a população indígena teve cinco vezes mais casos de infecção do que a população branca;

—Durante a fase três do estudo, no final de junho de 2020, o índice apontava 7,8% para os indígenas, enquanto 1,7% para brancos.

[@#video#@]

Estudo Epicovid de Pedro Hallal

— Brasil tem 2,7% da população mundial e concentra quase 13% das mortes no mundo; Nesta quinta-feira (24), 33% das mortes mundiais por covid-19 aconteceram no Brasil;

— 4 de cada 5 mortes teriam sido evitadas se o Brasil estivesse na média mundial de óbitos pela covid-19, ou seja, 400 mil mortes não teriam ocorrido. No país, 2.345 pessoas morreram pelo coronavírus para cada um milhão de habitantes; média mundial é de 494 pessoas;

— Em março de 2020 havia seis vezes mais casos de contaminados por covid-19 que números oficiais. Hoje, seriam de 3 a 4 vezes mais que as estatísticas oficiais;

— Em comparação com os dez países com maior população, o Brasil tem o pior resultado de mortes por milhão de habitantes, assim como na comparação dos países que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul);

— Na América do Sul, Brasil é o segundo país com mais mortalidade de covid-19 por milhão de pessoas, atrás do Peru;

— Em todas as fases do Epicovid, estudo realizado em 133 cidades, os mais pobres tiveram o dobro de risco de infecção na comparação com pessoas mais ricas;

— Na terceira fase (21 a 24 de junho), 7,8% dos indígenas tiveram contato com o coronavírus, contra 1,7% dos brancos, 4,5% dos pardos, 3,6% dos negros e 3,6% dos amarelos;

— Com relação à vacinação, o Brasil é o 4º em número absoluto em doses aplicadas, o 78º país que mais vacinou com uma dose e o 85º com a população imunizada;

— A demora em compras de vacinas anticovid teria causado entre 95,5 mil e 145 mil mortes.

Censura

À CPI, Hallal afirmou ainda que um recorte étnico apresentado através dos resultados do Epicovid-19 foi censurado em evento no Palácio do Planalto, em junho de 2020. Na apresentação, seria exibido o alto grau de contágio dos indígenas do país, além do índice de mortalidade nessa população, junta à população negra (considerando pretos e pardos), e à população pobre. O slide foi retirado arbitrariamente do material. Segundo Hallal, a atitude pode ter sido do ex-secretário-executivo Elcio Franco. 

*Dados das pesquisas via Agência Senado

O epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), afirmou nesta quinta-feira (24) à CPI da Covid que um recorte étnico apresentado através dos resultados do Epicovid-19 foi censurado em evento no Palácio do Planalto, em junho de 2020. Na apresentação, seria exibido o alto grau de contágio dos indígenas do país, além do índice de mortalidade nessa população, junta à população negra (considerando pretos e pardos), e à população pobre. O slide foi retirado arbitrariamente do material. Segundo Hallal, a atitude pode ter sido do ex-secretário-executivo Elcio Franco.

Hallal coordenou o Epicovid, programa financiado pelo Ministério da Saúde que tinha como meta monitorar o avanço do novo coronavírus no Brasil. O projeto foi a campo entre maio e junho do ano passado, e acompanhou moradores de 133 cidades. Segundo artigo publicado na revista científica The Lancet, considerando os 300 melhores projetos ativos de acompanhamento, o Epicovid ficou entre os oito que atingiram nota máxima, sendo o estudo de maior credibilidade em vigor no país, à época.

##RECOMENDA##

Sem aviso prévio ou justificativa técnica, o Ministério da Saúde decidiu descontinuar o monitoramento. Desde junho do ano passado até março de 2021, o Brasil ficou sem esse tipo de mapeamento epidemiológico.

[@#video#@]

O epidemiologista contou que o estudo descobriu que o número de indígenas infectados em junho de 2020 era cinco vezes maior do que a quantidade de infectados na população branca. "Pegando a fase 3 do estudo, [vimos que] 7,8% dos índios já tinham tido contato com o vírus, e entre os brancos esse percentual era 1,7%. Esse abismo de diferença foi o que o Epicovid mostrou", disse Hallal.

"Esse slide que apresentava a diferença entre os grupos étnicos foi censurado na coletiva de imprensa do Palácio do Planalto na qual apresentei os resultados dessa pesquisa. Faltando 15 minutos, fui avisado pela assessoria de comunicação do Planalto de que o slide tinha sido retirado da apresentação”, continuou o professor da Ufpel.

Questionado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) se sabia dizer de quem partiu a censura, Hallal respondeu que não poderia ter certeza que a ordem tenha saído de pessoas do evento ou de uma autoridade superior.

"Mas quem estava lidando com a questão da coletiva e participou dela foi o secretário executivo do ministério à época, Elcio Franco, que acho que até esteve aqui na CPI. Então, antes que se tenha outra informação, foi dele a decisão de que aquele slide mostrando a desigualdade étnico-racial não poderia ser apresentada no Palácio do Planalto".

A deputada Talíria Petrone (RJ), líder do PSOL, reafirmou em plenário, nesta quarta-feira (23), que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), teria sido racista ao dizer que grupos indígenas ‘ficaram usando algum tipo de droga’ durante protestos realizados em oposição a um projeto de lei (PL 490). A declaração ocorreu após Lira notificar Petrone extrajudicialmente, em decorrência de uma fala semelhante proferida no dia anterior.

"Uma ação como essa de intimidação é um ataque à própria Câmara, é um ataque à nossa possibilidade de falar, de denunciar, de representar os nossos eleitores", disse a deputada. "Ao ler a interpelação extrajudicial, o conteúdo dela, está óbvio que o senhor desconhece o que é racismo", enfatizou. A deputada disse, ainda, que "associar rituais indígenas ao uso de drogas é também racismo".

##RECOMENDA##

Os grupos indígenas organizaram atos na última terça-feira (22), em frente à Câmara dos Deputados, localizada em Brasília, em oposição a um projeto de lei (PL 490) que, segundo as lideranças, dificulta a demarcação de terras e prejudica diversas etnias, já que também estabelece o chamado “marco temporal''. Ou seja, prevê que só poderão ser reconhecidos os territórios indígenas que já estavam em posse destes na data da promulgação da Constituição de 1988.

Durante os protestos, pelo menos seis pessoas ficaram feridas, três policiais - dois legislativos e um policial militar - e três indígenas. Na sequência do episódio, do plenário, o presidente da Casa defendeu a ação da polícia, que, de acordo com nota emitida pela Apib (Articulação dos Povos Indígenas no Brasil), foi de “repressão” frente a um “ato pacífico”. Arthur Lira chegou a afirmar que eram inaceitáveis as tentativas de invasão da Câmara por parte das etnias.

“Para ser fiel, na semana passada, alguns representantes dos índios chegaram aqui e invadiram o Congresso Nacional, subiram ao teto das cúpulas e ficaram usando algum tipo de droga, fumando e dançando aqui em cima. Com muita paciência, nós negociamos, e a Polícia Militar, com a Polícia Legislativa, veio à Casa e recompôs a ordem para aquele momento", disse Lira na sessão de terça-feira.

No mesmo dia, Talíria Petrone reagiu à fala: "É lamentável que ele chame os rituais que são parte das culturas indígenas - do alto do seu racismo ele não deve conhecer de uso de drogas - de dança sei-lá-o-quê", respondeu. "Lamentavelmente, ouvimos palavras de cunho racista proferidas na Presidência da Câmara".

 

 

O Brasil poderá ter uma campanha de vacinação permanente contra a covid-19 para povos indígenas. A afirmação foi feita pelo secretário especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Robson Santos da Silva.

De acordo com o secretário, o sistema de distribuição e aplicação de vacinas para populações indígenas que vivem em aldeias é capaz de absorver uma futura demanda por vacinações constantes contra a covid-19, assim como já acontece com outras doenças.

##RECOMENDA##

“O Brasil tem um sistema muito sofisticado de vacinação. Não houve nenhum sobressalto nisso. Houve aprimoramentos. Uma crise como essa, por exemplo, traz oportunidades de melhoria”, informou.

Segundo o secretário, a pandemia foi uma oportunidade para ampliar os subsistemas de saúde em áreas remotas. Entre as melhorias, estão o armazenamento e a logística de distribuição de vacinas que precisam ser resfriadas e guardadas em câmaras especiais.

“Fazemos uma busca ativa. Estamos sempre nos adaptando. Se ela [a covid-19] ficar parecida com a influenza, por exemplo, a vacinação vai continuar. A vacinação contra a influenza tem todo ano, é contínua. Se for necessário para o novo coronavírus, seguiremos o mesmo caminho”, disse Robson Santos Silva, que atribuiu o sucesso da imunização ao apoio de lideranças indígenas e às Forças Armadas.

Saúde indígena

Sobre a cobertura de saúde para outras doenças, Silva afirmou que há reformulações e adaptações constantes à crescente população de indígenas brasileiros. Segundo dados do Ministério da Saúde, a população indígena passou de 650 mil para cerca de 755 mil indivíduos nos últimos cinco anos.

Índices como a expectativa de vida dos indígenas também aumentaram, informou. Com isso, doenças que antes eram incomuns passaram a ser mais observadas nas comunidades.

“A população indígena está aumentando e envelhecendo. Há doenças que não eram comuns, como diabetes e problemas cardíacos. Quando temos essas situações de média e alta complexidade, precisamos de ajuda estadual e federal. Estamos nos reinventando para atender melhor essa população”, acrescentou.

[@#galeria#@]

Marcados por estereótipos enraizados, os indígenas estão, cada vez mais, batendo de frente com os estigmas e lutando para conquistar seus lugares nos mais diversos âmbitos da sociedade. Para muitos, a universidade é o lugar do pontapé inicial, para estudar e buscar o sonhado diploma.

##RECOMENDA##

Nos últimos anos, o cenário tem mudado. Porém, a passos lentos. Segundo o Censo da Educação Superior de 2019, os estudantes de etnias indígenas representam somente 56.257 entre 8.603.824 matriculados na graduação. O número representa aproximadamente 0,65% do total. Em 2010, eram apenas 7.256.

Um dos principais motivos do aumento do número de estudantes indígenas foi a implantação da Lei de Cotas, sancionada em 2012. A lei garante que sejam reservadas 50% das vagas nas universidades e institutos federais para candidatos pretos, pardos e indígenas.

Além das cotas, parte das universidades públicas brasileiras aprovou políticas afirmativas para o ingresso de estudantes indígenas, com processos seletivos especiais. A Universidade Federal do Pará (UFPA), por exemplo, realiza um processo seletivo especial destinado a candidatos indígenas e quilombolas. São abertas vagas em todos os cursos de graduação.

Foi o caso de Jacira Tembé, indígena da etnia Tembé Tenetnerrara, localizada no município de Paragominas, na divisa entre o Pará e o Maranhão. A estudante, que atualmente cursa Psicologia na UFPA, entrou na universidade pelo Processo Seletivo Especial (PSE). “Entrei através da inscrição no PSE, que é constituído por uma equipe pedagógica, no qual passamos por duas etapas. Após a seleção dos aprovados, temos duas opções de curso”, explica.

A universitária conta que veio para cidade com o pai que é cacique, intérprete e pacificador, que precisou fazer a mudança a trabalho, mas afirma que não perdeu o vínculo cultural nem os costumes. Jacira, atualmente, é mãe de duas crianças e ficará na cidade até a conclusão da graduação. Ela optou pelo curso de Psicologia com o objetivo de voltar para a aldeia e trabalhar com a saúde mental voltada para povos indígenas e nas demais regiões. “Decidi essa carreira por existir uma carência muito grande de psicólogos voltados para a área indígena. Muitos profissionais da cidade não sabem lidar com a demanda que existe dentro das aldeias, como idosos, crianças e adolescentes”, conta a futura psicóloga.

Jacira destaca que os indígenas conquistam espaços em áreas como saúde, educação e meio ambiente. "São nossos direitos como indigenas nas cidades", afirma, relembrando que os estigmas ainda existem, tanto institucionalmente como estruturalmente, mas podem ser quebrados.

Também existem cursos de ensino superior dentro do Programa de Licenciaturas Interculturais Indígenas, realizado pelo Ministério da Educação (MEC). O programa tem o objetivo de apoiar projetos de cursos de licenciaturas específicas para a formação de professores indígenas para o exercício da docência nas escolas indígenas, que façam parte do ensino, pesquisa e extensão e que promovam a valorização do estudo em temas como línguas maternas, gestão e sustentabilidade das terras e culturas dos povos.

Entre os dez cursos mais procurados estão Direito, Enfermagem, Administração, Psicologia, Pedagogia, Farmácia, Fisioterapia, Engenharia Civil, Ciências Contábeis e Educação Física.

“Educação é um direito fundamental de todo cidadão brasileiro, mas os indígenas precisam lutar todos os dias para ingressar e permanecer em uma universidade”, declara o jornalista e doutor em Comunicação, Linguagens e Cultura Thiago Barros, que escreveu uma tese sobre como a etnia indígena Munduruku é representada politicamente pela Organização Não Governamental (ONG) Greenpeace.

O professor explica que, até os anos 1980, a Fundação Nacional do Índio (Funai) tutelava o acesso de estudantes indígenas, mas em número ínfimo se comparado à atualidade. “Agora, permanecer na universidade até se formar é um dos maiores desafios: sair da comunidade para a cidade, precisar de apoio financeiro para aluguel e alimentação, sofrer com o preconceito de não indígenas. O poder público precisa estar pronto para garantir que jovens indígenas tenham auxílio”, diz.

O último Censo do Ensino Superior aponta que o Norte concentra o maior número de indígenas matriculados em universidades públicas em comparação com outras regiões do país. “Muitos munduruku são graduados e atualmente são estudantes de cursos de graduação. De forma geral, o acesso de indígenas às universidades tem crescido, mas políticas públicas mais efetivas poderiam reforçar esse processo. No entanto, desde que Michel Temer assumiu a presidência da República, até agora, no governo Bolsonaro, o governo federal tem ignorado criminosamente os direitos indígenas”, declara. O atual presidente do Brasil, em declaração, lembra o professor, diz que “índio não fala nossa língua, não tem dinheiro, é um pobre coitado, tem que ser integrado à sociedade, não criado em zoológicos milionários”, expondo visões etnocêntricas e racistas.

Como extensão da universidade, os estágios também são parte importante no processo de aprendizado e inserção no mercado de trabalho. Por isso, algumas instituições implantaram o sistema de cotas para indígenas e quilombolas, como a Defensoria Pública do Estado do Pará. No órgão de justiça, as cotas foram ampliadas de 30% para 40%, sendo 5% para indígenas e 5% para quilombolas, nos concursos e seleções para ingresso de estagiários, servidores e defensores.

Neste ano, será realizado o primeiro concurso para defensor público com reserva de vagas para indígenas e quilombolas, além de uma resolução que prevê, a cada dois anos, um censo etnicorracial e o monitoramento das políticas de ações afirmativas. “Quando se fala em ingresso de indígenas e quilombolas na instituição, temos que pensar neles como usuários do serviço da Defensoria Pública, para acessar políticas públicas, mas também como integrantes da instituição, seja como estagiários, servidores e defensores públicos”, explica a defensora pública, Andrea Barreto, que diz reconhecer que as ações ainda são poucas, mas que estão evoluindo.

A defensora pública afirma que é de grande importância a inserção dos povos indígenas e quilombolas que queiram integrar as instituições públicas, universidades ou mercado de trabalho. “A política de cotas visa criar equidade entre etnias e classes sociais. Todavia, temos que ter ciência que as cotas não são suficientes para reparar mais de trezentos anos de escravidão, de exclusão de afrodescentes e indígenas em um país que se ergueu no racismo estrutural, como é o caso do Brasil. Espero que nesse caminhar, tenhamos a presença marcante de indígenas e quilombolas na Defensoria e em outras instituições do sistema de justiça”, finaliza o pesquisador Thiago  Barros.

Por Larissa Silva e André Maia.

 

 

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando