Tópicos | demarcação de terras

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) foram às redes sociais para criticar os atos realizados em Brasília nesta sexta-feira (27), contra o marco temporal para a demarcação de terras indígenas e outras pautas envolvendo os direitos dos povos originários. Manifestantes atearam fogo em uma espécie de “caixão” feito de papelão, em frente ao Palácio do Planalto, na Praça dos Três Poderes.

Bolsonaro ironizou, falando que “esse tipo de gente” tem a intenção de retomar espaços de poder com o apoio “daqueles que censuram, prendem e atacam os defensores da Constituição Federal e da liberdade”, alfinetando o ministro Alexandre de Moraes e o Supremo Tribunal Federal.

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No mesmo fio, Carlos respondeu: “Haverá inquérito para MAIS este absurdo? Depois da esquerda, com políticos e conhecidos incentivarem, fatos vistos por todos, com depredações de bens públicos e privados e nada acontecer, fica mais essa questão”.

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Indígenas de diversas regiões do país têm se reunido em diferentes localidades de Brasília para pressionar os parlamentares sobre o andamento do marco temporal no Congresso. O tema chegou a entrar na pauta de julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF), na quinta-feira (26), mas foi adiado para o dia 1º de setembro.

A fumaça preta podia ser vista de longe, atrás do Congresso Nacional. O Corpo de Bombeiros esteve no local e apagou as chamas. Ninguém se feriu.

O presidente Jair Bolsonaro saiu de Brasília para cumprir agenda em Goiânia (GO). Este é o quarto dia consecutivo de protestos na capital federal.

Diante da tensão que assola a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) na Câmara e o Supremo Tribunal Federal (STF), que apreciam matéria prevista no Projeto de Lei 490/2007, lideranças indígenas aderiram também ao ato contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Recife, na manhã deste sábado (3). A principal reivindicação dos nativos é a anulação ou discussão do PL em audiência pública, por tratar de assuntos importantes para a sobrevivência e preservação da cultura indígena, como a demarcação de terras e respeito à expressão da fé.

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Parte dessa população tece fortes críticas ao Governo Federal, em especial à atuação através do Ministério do Meio Ambiente, que é investigado pela Polícia Federal por crimes de corrupção contra a administração pública e facilitação de contrabando por agentes públicos e empresários do setor madeireiro, na gestão do ex-ministro Ricardo Salles. Só em 2020, o desmatamento na Amazônia cresceu 30%, batendo o recorde dos últimos dez anos.

Uma das frentes a encabeçar o ato foi a associação indígena Karaxú Assikuka, primeira associação originária do país a ser criada em contexto urbano. Cerca de dez pessoas compareceram em nome da organização, liderada pela cacica Kyalonan Karaxú.

“Esse PL vem para destruir todos os direitos dos povos indígenas, inclusive o direito à terra, que é nosso direito sagrado. Precisamos que esse PL seja barrado, é um PL genocida e que tanto invade os (territórios) isolados, fazendo com que se flexibilize a entrada nas terras para a mineração e o garimpo, como também tira o direito às terras já demarcadas. Elas podem ser privatizadas e invadidas pelos grandes negócios, hidrelétricas e usinas nucleares. Precisamos barrar o PL pelo direito à vida, para salvar a Amazônia, para salvar o pulmão do mundo”, diz a cacica.

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O Projeto de Lei 490/2007

Na matéria, o ponto de maior interesse é a tese do marco temporal. A proposta garante como terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas brasileiros apenas aquelas que, na promulgação da Constituição de 1988, eram simultaneamente: por eles habitadas em caráter permanente; utilizadas para suas atividades produtivas; imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar; e necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

A comprovação desses requisitos deverá ser devidamente fundamentada e baseada em critérios objetivos. A ausência da comunidade indígena na área pretendida em 5 de outubro de 1988 impede o direito à terra, salvo em caso de conflito possessório, fato que deverá ser devidamente comprovado.

No entanto, lideranças indígenas em todo o país reforçam a noção do direito à propriedade e moradia, alegando o bom uso da terra e a permanência dos povos originários no país desde o seu descobrimento até a atualidade.

Segundo o texto, a demarcação contará obrigatoriamente com a participação dos estados e municípios em que se localize a área pretendida e de todas as comunidades diretamente interessadas, sendo franqueada a manifestação de interessados e de entidades da sociedade civil, desde o início do processo administrativo demarcatório, a partir da reivindicação das comunidades indígenas. É assegurado aos entes federados o direito de participação efetiva no processo administrativo de demarcação de terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) voltou a criticar, nesta quarta-feira (2), a demarcação das terras indígenas e quilombolas no país. Depois de transferir a questão para ser cuidada pelo Ministério da Agricultura, sob a tutela da ministra Tereza Cristina (DEM), ele publicou, no Twitter, que a gestão dele vai integrar índios e descendentes de escravos à sociedade.

Na ótica de Bolsonaro, essa população está isolada “do Brasil de verdade” e manipulada por entidades sociais.

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"Mais de 15% do território nacional é demarcado como terra indígena e quilombolas. Menos de um milhão de pessoas vivem nestes lugares isolados do Brasil de verdade, exploradas e manipuladas por ONGs. Vamos juntos integrar estes cidadãos e valorizar a todos os brasileiros”, escreveu no microblog mais cedo.

De acordo com uma Medida Provisória publicada nessa terça-feira (1º), que trata da reorganização dos ministérios no governo Bolsonaro, o novo presidente retira a atribuição de identificar, delimitar e demarcar as áreas quilombolas e indígenas da Fundação Nacional do Índio (Funai) para o Ministério da Agricultura, o que gerou polêmicas, uma vez que esses povos travam constantes brigas com fazendeiros e agropecuários sobre as terras reservadas para eles pela legislação.

Índios guarani ocuparam o Parque Estadual do Jaraguá no início da manhã de hoje (13) para protestar contra a anulação do processo de demarcação de suas terras. Cerca de 532 hectares reivindicados pelos guarani mbya foram liberados pelo governo para que façam parte das dependências do espaço e sejam incluídos no processo de concessão de parques à iniciativa privada. Participaram do ato índios guarani e tupi do litoral paulista, terena e tupi do interior e indígenas de Guarulhos.

O processo de demarcação foi interrompido pelo governo federal a pedido de Geraldo Alckmin. O território indígena se sobrepõe à area do parque estadual em alguns trechos e impede que ele seja negociado. De acordo com representantes do povo guarani, a iniciativa da administração pública interfere em 25 Unidades de Conservação (UCs) que poderão ser utilizadas para práticas como ecoturismo e extração de madeira.

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A região Oeste da cidade de São Paulo possui 700 indigenas e suas terras foram reconhecidas em 1980, demarcadas por 1,7 hectare. Antes desse período, o governo estadual construiu a Rodovia dos Bandeirantes, dentro das terras reivindicadas pelas cinco aldeias que ocupam o território. Em 2013, os líderes indígenas enviaram um relatório técnico que reconhecia pouco mais de 532 hectares como sendo terras guarani. O governo estadual pediu a suspensão do processo por não ter tido a chance de contestar o pedido. 

A ONU afirmou, em relatório divulgado na quinta-feira (1º) que os grupos indígenas brasileiros estão mais ameaçados hoje que há 30 anos e a demarcação de terras no País está estagnada. A organização ainda disse que os governos do PT enfraqueceram a Fundação Nacional do Índio (Funai) - por meio de cortes orçamentários - e avaliou que a administração do novo presidente, Michel Temer, pode aprofundar ainda mais a crise indígena.

O informe foi produzido pela relatora da ONU para Direitos dos Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, que esteve no Brasil em março deste ano, ainda no governo Dilma Rousseff.

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Impacto

Ao citar a "discriminação estrutural" contra indígenas no País, a ONU disse acompanhar "com preocupação" a decisão de Temer de acabar com o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos, o que "pode ter um profundo impacto sobre povos indígenas".

Segundo Victoria, o Brasil chegou a ser um dos líderes mundiais em demarcações, mas, nos últimos oito anos, não avançou. A relatora disse estar "preocupada com o fato de que a crise política e econômica sirva para tornar os problemas e direitos desses povos mais invisíveis e menos significativos". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Apesar de ter a permanência garantida na Fazenda Cambará, no Mato Grosso do Sul, após suspensão de liminar que determinava a retirada, o líder da etnia indígena Guaraní-Kaiowá, Eliseu Lopes, pediu que o governo apresse a demarcação da terra.

Em audiência realizada na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado, nesta quinta-feira (1º)) ele reclamou da demora do governo e disse que a suspensão da liminar não resolve o problema, pois é preciso garantir a permanência do grupo, formado por cerca de 200 pessoas, e boas condições de vida. "Enquanto o governo está se preparando, nós já vamos retomar o que é nosso. Nós não aguentamos mais viver em baixo de uma lona preta, as crianças tomando água suja, sem ter condição de vida digna com suas famílias. Guarani-Kaiowá vem morrendo de atropelamento na beira da estrada, ataque de pistoleiro, todos os dias, muitos matando nossas lideranças. Nós não aguentamos mais isso", frisou.

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O procurador da República no município de Dourados (MS), Marco Antonio Delfino, afirmou que a solução é conceder aos índios a titularidade das terras reivindicadas e indenizar os fazendeiros que são os atuais proprietários. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) concordou com a medida. A área é disputada há anos por índios e fazendeiros. "É uma população que não chega a ter nem um hectare por habitante, enquanto que nós temos no nosso Brasil, ainda, muitas vezes, propriedades, improdutivas ou não, em que apenas um proprietário tem mais do que 30 mil hectares. Se parte da elite diz que é muita terra para pouco índio, isso também nos daria o direito de dizer que é muita terra para pouco branco", afirmou.

O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) pediu que governo do estado do MS também se envolva para resolver esse impasse. "A solução para esse conflito é o diálogo. As soluções estão apontadas, nós precisamos de uma articulação forte da bancada dos senadores, dos deputados, das duas comissões que vão fazer um trabalho conjunto, do governo federal, através da Funai, do Ministério do Planejamento, do Palácio do Planalto, para que, inclusive, a gente ajuste essa solução ao orçamento do ano que vem também e dê a atenção devida a essa questão dos Guarani-Kaiowá", declarou.

A impunidade em relação aos assassinos dos índios também é motivo de queixa. Eliseu Lopes reafirmou que a etnia precisa de segurança. O senador João Capiberibe (PSB-AP) propôs que seja feito um levantamento para identificar os processos relativos às terras indígenas em andamento para cobrar providências do Judiciário.

Os senadores da comissão afirmaram que pretendem visitar o local do conflito, onde os índios estão instalados.

Histórico - O local é disputado há anos por índios e fazendeiros. A situação ficou mais crítica em setembro deste ano, depois que o Tribunal Regional Federal da 3ª Região determinou a retirada das famílias indígenas e a reintegração de posse aos fazendeiros. Numa carta, os índios afirmaram que não deixariam o lugar e lutariam pela terra nem que isso causasse a morte deles.

A determinação dos Guarani-Kaiowá ganhou fôlego em todo o País, com declarações de apoio nas redes sociais. Nesta semana, o TRF3 acatou o  recurso apresentado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e pelo Ministério Público Federal (MPF), permitindo que a etnia permaneça no local até que a demarcação seja definida.

Com informações da Agência Senado.

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