Tópicos | quilombolas

Mesmo após a titulação, a comunidade quilombola da Ilha da Marambaia, em Mangaratiba, no Rio de Janeiro, visitada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda espera melhorias em serviços públicos como educação, saúde e transporte. Localizada em uma ilha, a comunidade enfrenta também diretamente os efeitos da crise climática. Com o avanço do mar em direção à orla, o risco de alagamento de casas é cada vez maior.

Durante a visita de Lula, nesta quarta-feira (3), a presidente da Associação da Comunidade dos Remanescentes de Quilombo da Ilha da Marambaia, Jaqueline Alves, entregou ao presidente uma carta contando a trajetória da comunidade, os avanços conquistados e, também, trazendo as principais demandas locais. “Na realidade, a gente está tratando [de] direitos que ainda precisam ser conquistados para que a comunidade continue crescendo e permanecendo no território. Para que haja avanço e não haja a extinção da comunidade futuramente. Porque a tendência é as pessoas saírem para trabalhar, estudar, se formar. Se a gente consegue trazer essas políticas públicas para o território, a gente também consegue fazer com que a comunidade permaneça, cresça e se desenvolva”, defende.  

##RECOMENDA##

A comunidade abriga hoje, de acordo com Jaqueline Alves, 210 famílias, em um total de aproximadamente 440 moradores. A principal atividade é a pesca. Entre as principais demandas está a oferta do ensino médio na ilha, que hoje atende apenas até o ensino fundamental. Com isso, os jovens precisam se deslocar para seguir estudando. Além disso, melhorias no transporte, que é insuficiente para a demanda, e caro. A comunidade também pede melhorias na saúde e melhores condições de trabalho e renda.

A Ilha da Marambaia foi um local de abrigo de negros traficados da África para o Brasil. Além da herança quilombola, a ilha abriga equipamentos militares desde a década de 1970, quando passou a ser controlada pelas Forças Armadas. Somente em 2015, o título de posse da terra da comunidade da Marambaia foi concedido. Isso ocorreu 13 anos depois do início da ação civil pública que pediu o reconhecimento da comunidade, em 2002. Entre 1996 e 1998, a comunidade foi alvo de ações de reintegração de posse movidas pela União para retirar as famílias. No final de 2014, a Marinha e a comunidade assinaram o termo de ajustamento de conduta (TAC) que encerrou as disputas na Justiça.

“O TAC regulamentou muita coisa, porém, não é o final dos problemas, a gente vira uma página e inicia outra página, para a implementação de políticas públicas no território, melhoria dos serviços de saúde, melhoria na área de educação, na área econômica”, diz Jaqueline Alves.

Mudanças climáticas

Além da demanda por serviços públicos, a comunidade enfrenta uma nova questão, as mudanças climáticas. “A gente está dentro de uma ilha e a gente não consegue mensurar de que forma vão se dar os fenômenos da natureza. Existe um avanço da maré que é muito comum em áreas de ilhas, e a gente está sofrendo com isso. Existe uma casa que precisa sair de onde está”, conta a presidente, que diz que o problema não existia há nove anos atrás quando o TAC foi assinado, o que mostra que revisões são necessárias.

“Na realidade, essa questão territorial a gente não vê que está totalmente resolvida porque vai passar por várias situações que vai ter que alinhar novamente e ajustar para que a comunidade permaneça no território, a gente vai ter que estar dialogando sempre sobre a questão territorial”, ressalta, Alves. Segundo ela, a comunidade se articula com a União e outros órgãos como o Ministério Público para buscar formas de garantir os direitos à população local.

Acesso a políticas públicas

Segundo o secretário de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana Povos de Terreiros e Ciganos do Ministério da Igualdade Racial, Ronaldo dos Santos, o problema do acesso a políticas públicas não se restringe apenas ao quilombo de Marambaia.

“O Estado brasileiro construiu, a partir da Constituição de 1988, uma política de regularização fundiária, mas não construiu uma política de desenvolvimento, de acompanhamento desses territórios que serão regularizados”, diz e acrescenta: “Nunca se teve, de verdade, uma estratégia do Estado brasileiro de fazer investimento, política de reparação ou política de desenvolvimento.”  

Em busca de oferecer subsídios para que as comunidades possam ter acesso a políticas públicas e tracem os próprios planos de desenvolvimento, o governo federal lançou, em novembro de 2023, a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental Quilombola – PNGTAQ. “Para nós, é esse olhar do Estado para o território quilombola, no sentido de perceber uma demanda para além da questão agrária, para além da questão da propriedade, mas para como esse povo se desenvolve a partir da sua cosmopercepção, a partir dos seus parâmetros, como o Estado contribui e fomenta o processo de gestão de conservação ambiental de desenvolvimento local”, diz Santos.

A política começou a ser implementada de forma piloto em uma comunidade em Alcântara (MA). De acordo com o secretário, a pasta ainda busca recursos e cooperações e deverá lançar editais para selecionar outras comunidades para serem beneficiadas.

De acordo com a Fundação Palmares, comunidades remanescentes de quilombos são oriundas daquelas que resistiram à brutalidade do regime escravocrata e se rebelaram frente a quem acreditava serem elas sua propriedade.

Essas comunidades se adaptaram a viver em regiões por vezes hostis. Porém, mantendo suas tradições culturais, aprenderam a tirar seu sustento dos recursos naturais disponíveis, ao mesmo tempo em que se tornaram diretamente responsáveis por sua preservação, interagindo com outros povos e comunidades tradicionais tanto quanto com a sociedade envolvente.

O Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostra que, no Brasil, a população quilombola é de 1.330.186 pessoas, ou 0,66% do total de habitantes. A proporção de pessoas vivendo fora de territórios quilombolas oficialmente reconhecidos é de 87,39% (1,07 milhão).

“Eu costumo dizer que regularizar território quilombola e financiar esse processo de desenvolvimento tem muitos aspectos em jogo. Primeiro, precisa pensar na democratização do acesso à terra no Brasil. É mesmo uma política de reforma agrária complementar, podemos dizer assim. Mas podemos pensar no olhar da reparação histórica ao tempo da escravidão. São comunidades que estão aqui por conta do que foi a escravidão, e o Estado brasileiro não pode dizer que não é problema seu, então precisa assumir esse ônus. Também é preciso compreender os serviços ambientais que essas comunidades prestam em termos de emergência climática. Não é possível pensar justiça climática sem pensar na contribuição histórica que essas comunidades dão para a conservação ambiental”, destaca Santos. 

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta segunda-feira (20) a titulação de cinco territórios quilombolas, dos quais dois federais e três estaduais, estas no Estado do Maranhão. A ação faz parte do segundo "Pacote pela Igualdade Racial", que engloba um conjunto de 13 iniciativas, apresentado pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, em parceria com outros dez ministérios e órgãos federais.

Uma das titulações assinadas se refere ao título integral para comunidade da Ilha de São Vicente, que fica em Araguatins, no Tocantins, e conta com 55 famílias. O outro, foi o título de imóvel para 89 famílias de Lagoa dos Campinhos, que fica em Amparo de São Francisco e Telha, no Sergipe. Ambos territórios federais.

##RECOMENDA##

Ao lado de Anielle, Lula lançou o segundo pacote com as medidas pela igualdade racial. O Programa Nacional de Ações Afirmativas conta com R$ 9 milhões de investimento. De acordo com informações do Ministério dos Povos Indígenas, o pacote busca formular, promover, articular e monitorar políticas voltadas para mulheres e pessoas negras, quilombolas, indígenas, ciganas ou com deficiência.

Dentre as iniciativas do pacote, está o investimento de R$ 2 milhões destinados à regularização fundiária quilombola. Outros R$ 5 milhões estão previstos para cursos de capacitação para o uso de tecnologia social sustentável de baixo custo, formação empreendedora para a comercialização do excedente de produção e ações de transferência de tecnologia.

Hip-Hop

No evento, Lula também assinou decreto presidencial de reconhecimento do Hip-Hop como referência cultural brasileira, estabelecendo as diretrizes nacionais de valorização da cultura.

Três meses após o assassinato de Maria Bernadete Pacífico, a Mãe Bernadete, do Quilombo de Pitanga dos Palmares, na Bahia, a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e a Terra de Direitos divulgaram, nesta sexta-feira (17), um estudo que mostra o crescimento da violência em comunidades tradicionais. Segundo a nova edição da pesquisa Racismo e Violência contra Quilombos no Brasil, a média anual de assassinatos praticamente dobrou nos últimos cinco anos, se comparado ao período de 2008 a 2017. 

A morte de Mãe Bernadete, em agosto, não está contabilizada no estudo. Em 2023, há um levantamento preliminar de sete mortes. A pesquisa mostra que, entre 2018 e 2022, houve 32 assassinatos em 11 estados. Ainda de acordo com o estudo, as principais causas desses ataques foram conflitos fundiários e violência de gênero.

##RECOMENDA##

Ao menos 13 quilombolas foram mortos no contexto de luta e defesa do território.  As entidades pretendem entregar o estudo a autoridades do Executivo federal e estaduais e secretarias de Justiça dos estados, além do Poderes Legislativo e Judiciário a partir desta sexta-feira.

Na primeira edição da pesquisa (2008 a 2017), havia um mapeamento de 38 assassinatos ocorridos no período de dez anos (2008-2017). A média anual de assassinatos, que era de 3,8, passou a ser de 6,4 ao ano. Em 15 anos, 70 quilombolas foram assassinados.  

Racismo 

Segundo uma das pesquisadoras, a socióloga Givânia Maria da Silva, coordenadora do coletivo nacional de educação da Conaq, o levantamento foi feito em campo nas próprias comunidades. Ela identifica que os números vão além do que é noticiado pelos meios de comunicação e espelham uma estrutura racista da sociedade brasileira.

 A questão da terra no Brasil é fundamental na discussão, assinalam as entidades pesquisadoras. “Ao falar da política de terra, a gente vê o quanto essa questão é atravessada pelo racismo. No Brasil, a impressão que eu tenho é que falar de terra, tendo pessoas negras como proprietárias, parece que ainda é mais grave”, acentua. 

O coordenador da Terra de Direitos, Darci Frigo, sublinha que demonstrações de racismo estrutural e institucional formam o pano de fundo da violência. Ele acrescenta que a morosidade do processo de regularização fundiária proporciona que a violência se amplie. Por isso, é necessário, explica, que a gestão pública atue tanto no combate à violência como nas ações de garantia de direitos. “Não ter política pública gera mais violência”, opina.  

Os estados do Maranhão (9), Bahia (4), Pernambuco (4) e Pará (4) têm os maiores números de casos. “Se a gente fosse atualizar, a Bahia estaria em primeiro lugar. A Mãe Bernadette morreu da mesma forma que o filho dela. O filho morreu reivindicando o território e ela buscando justiça pela morte do filho. É mais um direito silenciado a partir do assassinato”, afirmou. 

Comunidades como alvos

O filho de Mãe Bernadete, Jurandir Wellington Pacífico, de 43 anos, também entende que a falta da titulação da terra propiciou o assassinato da mãe dele. “As terras quilombolas são fontes de energia e também são alvos da grilagem e do tráfico”, disse o gestor cultural, que também é liderança do Pitanga dos Palmares. “Minha mãe era uma representante mundial da causa e que sempre lutou pelo empoderamento feminino”, acrescenta.

A socióloga Givânia Silva entende que a pesquisa pode trazer mais visibilidade às necessidades dos governos federal e estaduais de darem mais atenção à problemática, uma vez que houve perda de orçamento para segurança pública desde 2016.  

As entidades realizadoras do estudo explicam que, além de assassinatos, o estudo traz um levantamento de violações de direitos sofridos por comunidades quilombolas em que houve identificação de morte causada por crimes. 

 Segundo a pesquisa, em 10 das 26 comunidades em que foram registrados assassinatos não há processos abertos no Instituto Nacional de Reforma e Colonização Agrária (Incra), autarquia responsável pela regularização fundiária dos territórios quilombolas. Nessa situação, sete assassinatos (70%) foram motivados por conflitos fundiários. 

Entre os 11 quilombos que estão totalmente ou parcialmente titulados, os conflitos fundiários representaram 27% dos assassinatos. O estudo chama atenção para 1.805 processos abertos no Incra para regularização fundiária de territórios quilombolas, segundo a Fundação Palmares

Proteção dos defensores

As entidades recomendam que o Estado e municípios elaborem planos de titulação dos territórios quilombolas, com metas concretas anuais, orçamento adequado e estrutura administrativa para a titulação dos territórios quilombolas. O levantamento reitera a necessidade de proteção a defensores e defensoras de direitos humanos.

Nessa linha, o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania reinstalou a Comissão Nacional do Enfrentamento à Violência no Campo. O grupo, em reunião nesta semana, reiterou a necessidade de consolidação da proteção coletiva de povos indígenas e quilombolas. 

A comissão pretende definir protocolo de investigação de crimes praticados “contra defensores de direitos humanos e a morosidade das ações voltadas à reforma agrária e demarcação de territórios tradicionais que acaba por escalar tensões e conflitos”.

Os membros do grupo devem ter encontros mensais para elaborar uma proposta de anteprojeto de lei sobre a Política Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, aos Comunicadores e aos Ambientalistas. O prazo para conclusão do trabalho é de seis meses.

A página do Incra (autarquia responsável pela titulação dos territórios quilombolas) aponta que a política de regularização fundiária de terras quilombolas é “de suma importância para a dignidade e garantia da continuidade desses grupos étnicos”. O endereço disponibiliza documentos como o acompanhamento de processos de regularização quilombola e a relação de processos de regularização de territórios quilombolas abertos.

Dor e luto

Filho da Mãe Bernadete, Jurandir Pacífico, mesmo em dias de dor e luto, busca honrar a memória de luta da mãe. No ano que vem, pretende inaugurar um instituto que leva o nome dela com o objetivo de manter todo o legado cultural e social da mãe. Além disso, quer ajudar comunidades com documentação. 

“O instituto terá a responsabilidade de desenvolver e executar o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação, que é fundamental para registro e titulação das terras quilombolas”, frisou. É assim também que ele quer fazer valer, na prática, o que repete diariamente em sua comunidade: “Mãe Bernadete, presente”.

 

Com 25 anos de aplicação, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que terá provas nos dias 5 e 12 de novembro, tem transformado o acesso às instituições de ensino superior e também os cursinhos preparatórios do país.. Alguns desses cursinhos passaram a se preocupar com a adaptação para receber alunos indígenas e quilombolas. .

Um desses cursinhos é o Colmeia, concebido na Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Limeira, interior de São Paulo, em 2010. No final do ano passado, a iniciativa, idealizada pela professora Josely Rimoli, conseguiu ser elevada de patamar e se tornou um programa da universidade, o que pressupõe maior apoio institucional.

##RECOMENDA##

O Colmeia tem aulas à noite e incorporou a modalidade online em 2019. São 17 professores, entre graduandos e pós-graduandos da Unicamp, que dão aulas de linguagem, exatas, biologia e ciências humanas.

Em entrevista concedida à Agência Brasil, a Josely Rimoli destacou que a atuação da equipe do cursinho pré-vestibular não deve parar no ensino, e sim se estender ao acompanhamento do aluno aprovado quando ingressa no ensino superior. O objetivo do Colmeia, portanto, é oferecer o suporte necessário e garantir que o estudante está se integrando bem na comunidade acadêmica e, mais, que tem condições de se manter até o final do curso, inclusive financeiramente. Assim, pode-se dizer que pensa na efetividade de ações de permanência estudantil.

Além disso, para falar de igual para igual, respeitando o chamado "lugar de fala", reivindicado por pessoas que fazem parte de grupos minorizados, como os indígenas e quilombolas, o Colmeia permite que os alunos conversem com alguém de perfil parecido, na hora de receber orientações e acolhimento, algo a que dedicam um dia da semana. Um estudante indígena dialoga com um instrutor também indígena, mesmo cuidado com que se trata a parcela quilombola das turmas, formadas, ainda, por adolescentes da Fundação Casa, mulheres e ribeirinhos.

Ensino básico e acesso à internet

Josely pontua que as falhas deixadas pelas escolas em que os alunos do cursinho estudaram vêm, com frequência, à tona, como ocorreria com qualquer estudante, independentemente de se pertencem ou não a grupos minorizados. Por isso, a equipe de professores entendeu que era preciso ajudá-los a fixar os conteúdos em vésperas de provas.

"A gente compreende que é importante dar acesso, contribuir para que acessem o ensino superior. É um direito à educação. E, uma vez que entraram [na instituição de ensino], precisam ter apoio à permanência", declara a coordenadora do Colmeia, que também é responsável pela acolhida de candidatos indígenas que passam no vestibular da Unicamp.

Josely conta que um levantamento organizado pelo programa recentemente revelou que 83% dos alunos inscritos estudam pelo celular, o que faz com que a atenção se volte para o acesso à internet, geralmente obtida por meio de pacotes de dados e que se esgota rapidamente, à medida que vão assistindo às aulas. "Um quilombola do Vale do Ribeira atravessava o rio, à noite, em uma canoa, sozinho, para pegar sinal. É uma batalha por vez ou várias ao mesmo tempo", diz a professora universitária.

Pertencimento

No caso do curso Jenipapo Urucum, da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí), as estudantes que assistem às aulas e são mulheres e meninas indígenas, muitas vezes, até mesmo o aparelho celular é compartilhado com outros membros de suas famílias, não sendo de uso exclusivo delas, o que marca mais um grau de dificuldade de acesso. Como as alunas não podem prescindir dos aparelhos eletrônicos, as organizadoras do cursinho se mantêm constantemente mobilizadas para conseguir doações de tablets, computadores e celulares.

Conforme verificou o Instituto Semesp, o contingente de estudantes indígenas, no ano de 2021, era de pouco mais de 46 mil pessoas, o equivalente a 0,5% do total de alunos do ensino superior, proporção que ainda pode melhorar. A entidade também descobriu que o gênero feminino predomina entre os alunos indígenas, correspondendo a 55,6%.

Aluna do Jenipapo Urucum, a jovem Suziany Kanindé, de 18 anos, vive na zona rural de Aratuba (CE) e estuda em uma escola indígena. Ela descobriu o cursinho através de seu pai, que viu um post de divulgação no Instagram.

Suziany planeja estudar psicologia em Fortaleza, tanto por se identificar com a área como por ver que há uma lacuna de profissionais desse campo no atendimento ao seu povo, conciliando, assim, os estudos com a vontade de manter intacto ao máximo o convívio com os familiares. Como vantagem do caráter singular do cursinho indígena, ela cita a oportunidade de conhecer o modo de viver de outros povos originários.

"São diferentes povos, de todo o Brasil. Então, é uma chance de conhecer outras pessoas, cultura, tradições", observa ela, que utiliza um tablet para ver as aulas, ministradas à noite, no contraturno da escola, e já reconhece avanços no desempenho em língua portuguesa e ciências da natureza, com o auxílio dos professores do cursinho, que são indígenas e não indígenas.

Perguntada sobre como espera que seja sua adaptação na universidade, Suziany exterioriza certa apreensão. "A gente conversa, dentro do cursinho, sobre a realidade dentro da universidade. No cursinho, a gente está entre a gente. Já na universidade, é outra realidade. A gente encontra uma série de dificuldades, quando vai para fora, sai da zona de conforto", afirma ela, que também atua no Museu Indígena Kanindé.

Política de cotas

A jovem pataxó hã-hã-hãe Narrary Lucília, de 18 anos, também foi aluna do Jenipapo Urucum e chegou até ele pela sua mãe, que é monitora do cursinho, além de ter sido aluna, em outro momento. Para Narrary, que agora reduziu a frequência às aulas, depois de começar a cursar nutrição em uma faculdade particular, com bolsa integral, também é fundamental a sensação de pertencimento que a turma gera. "A maioria das pessoas que está nas universidades não é indígena. Acho esse projeto muito bonito. Algum professor, às vezes, inicia a aula colocando um vídeo de algum ritual, as alunas se juntam e, quando há duas de um mesmo povo, cantavam juntas. E conhecer também as culturas das meninas", afirma.

Para Narrary, um dos fatores em que o governo acertaria, em termos de ampliação da presença de indígenas no ensino superior, seria a aposta no ensino básico, junto com políticas afirmativas, ou seja, cotas que permitam um maior acesso a eles. "As escolas indígenas são muito precárias. Às vezes, há poucos indígenas fazendo a prova do Enem porque não se sentem capazes. O ensino na aldeia não é tão bom assim e acaba que muitas pessoas achavam que os indígenas eram atrasados. Por causa disso, acabam sem querer estudar, por não se sentirem capazes. É por isso que não têm tanta representatividade [nas instituições de ensino superior]", resume ela.

O Senado aprovou, na noite dessa terça-feira (24), o projeto de lei que amplia o sistema de cotas na rede de ensino federal. O texto aprovado na Câmara dos Deputados foi mantido integralmente, depois de oito emendas apresentadas em plenário terem sido rejeitadas. O texto segue para sanção presidencial.

Entre as mudanças previstas estão a inclusão de quilombolas no texto da Lei 12.711/12, que reserva 50% das vagas em universidades e institutos federais para estudantes de escolas públicas. A metodologia também terá atualização anual nos percentuais de pretos, pardos, indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência, assim como nos critérios socioeconômicos, como renda familiar e estudo em escola pública.

##RECOMENDA##

Após a decisão do congresso, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, comemorou a decisão em suas redes sociais. “Que vitória a aprovação do aprimoramento da Lei de Cotas no Senado. Trabalhamos incansavelmente para defender essa política, que é a maior ação de reparação do nosso país. As cotas abrem portas e vão seguir abrindo!”

A matéria aprovada prevê que os critérios raciais sejam aplicados nas vagas que consideram a renda familiar e também nas vagas gerais, assim os candidatos cotistas só entrarão pela reserva de vagas se não forem aprovados nas vagas gerais.

Quanto aos critérios socioeconômicos, a classificação para cotistas passa a considerar estudantes em famílias com renda de até um salário mínimo por pessoa, atualmente R$ 1.320 e não mais 1,5 salário mínimo, como era anteriormente. As vagas de cota serão distribuídas entre os grupos raciais e pessoas com deficiência, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), incluindo os quilombolas, que passaram a fazer parte da contagem no último Censo.

A atualização anual dos percentuais raciais e de pessoas com deficiência recebeu uma metodologia para os próximos três anos após a divulgação do resultado do Censo. Com isso, será possível calcular a proporção de vagas gerais e das reservas que serão destinadas a pretos, pardos, indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência.

O texto determina ainda a elaboração e divulgação de relatórios que permitam a avaliação do programa a cada dez anos.

A líder quilombola Maria Bernadete Pacífico, de 72 anos, executada a tiros, na noite desta quinta-feira, 17, em Simões Filho, na Bahia, denunciou as ameaças que ela e outros membros da sua comunidade, Pitanga dos Palmares, sofriam durante encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, em julho deste ano. A reunião aconteceu na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador.

Em seu discurso, Mãe Bernadete, como era conhecida, falou de sua luta pelo esclarecimento da morte do filho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, assassinado em 2017 por homens armados, e contou que também estava sendo ameaçada.

##RECOMENDA##

"Para a senhora ter uma ideia, até hoje não sei o resultado do assassinato do meu filho. Abalou todo mundo. Foi no mesmo período em que aconteceu a morte de Marielle (Franco, vereadora assassinada no Rio). Inclusive, eu fui em diversos encontros com a mãe de Marielle. É injusto. Recentemente perdi outro amigo e uma amiga em quilombo. É o que nós recebemos: ameaças, principalmente de fazendeiros, de pessoas da região", disse, dirigindo-se à ministra.

Em nota divulgada nesta sexta-feira, a ministra Rosa Weber disse lamentar profundamente a morte. "Mãe Bernadete, que me falou pessoalmente sobre a violência a que os quilombolas estão expostos e revelou a dor de perder seu filho com 14 tiros dentro da comunidade, foi morta em circunstâncias ainda inexplicadas", disse a ministra.

As autoridades locais devem adotar providências para o urgente esclarecimento e reparação do acontecido, destacou Rosa Weber, "a fim de que sejam responsabilizados aqueles que patrocinaram o covarde enredo e imediatamente protegidos os familiares de Mãe Bernadete e outras lideranças locais".

"É absolutamente estarrecedor que os quilombolas, cujos antepassados lutaram com todas as forças e perderam as vidas para fugir da escravidão, ainda hoje vivam em situação de extrema vulnerabilidade em suas terras. Assim como é direito de todos os brasileiros, os quilombolas precisam viver em paz e ter seus direitos individuais respeitados", acrescentou.

Em nota publicada no Twitter, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou pesar. "O governo federal, por meio dos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e Cidadania, mandou representantes e aguardamos a investigação rigorosa do caso. Meus sentimentos aos familiares e amigos de Mãe Bernadete."

Defesa da cultura quilombola

A ialorixá (mãe de santo na umbanda) foi também secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial no município de Simões Filho, onde fica sua casa de cultos (terreiro), durante a gestão do prefeito Eduardo Alencar (PSD), entre 2009 e 2016. Em 2017, ela recebeu o título de cidadã de Simões Filho concedido pela Câmara de Vereadores.

Atualmente, ela estava à frente da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), uma das entidades de maior prestígio entre os quilombolas no País. Mãe Bernadete também era conhecida pela defesa da cultura popular quilombola.

De acordo com o filho Wellington Pacífico, a mãe era uma pessoa acolhedora e, no momento em que foi dominada pelos criminosos, estava acompanhada dos netos que costumavam frequentar e dormir em sua casa.

Segundo ele, a mãe "incomodava gente poderosa", envolvida na morte do Binho. "É um crime de mando, são as mesmas pessoas. Se o governo, a polícia, a Justiça quiserem resolver esse crime está fácil. A casa tem câmeras", disse, em entrevista. "Se a Justiça quiser resolver, ela resolve. Eu sei que sou o próximo alvo. Mas eu não tenho medo. Vou continuar lutando pelos meus direitos, porque quilombola é resistência", disse.

Além de ter expressão nacional no meio quilombola, Bernadete era uma liderança muito presente no quilombo Pitanga dos Palmares. Ela era a responsável por uma associação de mais de 120 agricultores que produziam frutas, como abacaxi, banana da terra e maracujá, inhame e tubérculos usados na fabricação da farinha para vatapá.

No total, 290 famílias vivem na comunidade, com área de 854 hectares. O quilombo foi certificado em 2004 pela Fundação Cultural Palmares, mas ainda não teve o processo de titulação concluído.

A líder lutava também pela regularização dos territórios quilombolas. Em agosto de 2019, ela assinou com outras lideranças do Estado da Bahia uma carta dirigida aos governos estadual e federal e ao Congresso Nacional, cobrando a garantia dos direitos territoriais de 18 comunidades remanescentes de quilombo na Bahia.

'Foi silenciada'

Denildo Rodrigues, da Conaq, disse que Bernadete se preocupava mais com a segurança da comunidade do que com sua própria segurança. "Ela sabia que quem matou o Binho estava por lá, estava perto da comunidade e nunca ficou quieta. Agora foi silenciada", disse.

Mãe Bernadete atuava em uma região com alta concentração de quilombolas. Salvador foi identificada pelo Censo Quilombola do IBGE como a capital com maior população quilombola do país.

São quase 16 mil quilombolas e apenas cinco quilombos registrados oficialmente. É também a região do País com maior concentração de terreiros de Umbanda. De acordo com o Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), são 1.165 terreiros cadastrados apenas na capital baiana.

A cidade de Simões Filho, onde o crime aconteceu, foi apontada como a terceira mais violenta do Brasil, segundo dados de 2022 divulgados no mês passado pelo Fórum Brasileiro de Segurança. O indicador de homicídios chegou a 87,4 por 100 mil pessoas. O Estado da Bahia tem um total de 12 cidades entre as 50 mais violentas do País.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou, nesta sexta-feira (18), no Twitter, sobre o assassinato de Mãe Bernadete, liderança quilombola, na Bahia.

"Com pesar e preocupação soube do assassinato de Mãe Bernadete, liderança quilombola assassinada a tiros em Salvador. Bernadete Pacífico foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Simões Filho e cobrava justiça pelo assassinato do seu filho, também um líder quilombola. O governo federal, por meio dos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e Cidadania, mandou representantes e aguardamos a investigação rigorosa do caso. Meus sentimentos aos familiares e amigos de Mãe Bernadete", escreveu o presidente.

##RECOMENDA##

A líder da comunidade quilombola Pitanga dos Palmares, Maria Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, foi assassinada a tiros na noite desta quinta-feira (17), em Simões Filho, região metropolitana de Salvador, na Bahia. Segundo o Ministério da Igualdade Racial, ela teve seu terreiro invadido.

Em nota, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania afirma que o ministro Silvio Almeida determinou o envio das equipes do Ministério para Simões Filho, no Estado baiano, "para que todas as providências necessárias sejam tomadas" na busca pelos responsáveis.

O governo brasileiro anunciou que vai se desculpar publicamente, nesta quinta-feira (27), por violações cometidas contra comunidades quilombolas durante a construção do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. O caso está sendo julgado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (IDH) em Santiago, no Chile.

Em nota, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania informou que a proposta é apresentar, durante a audiência de hoje, uma postura pautada pelo respeito às comunidades tradicionais e suas demandas, mas que também dialogue com a necessidade de avanço tecnológico da região e que possa primar pela construção de alternativas sustentáveis.  

##RECOMENDA##

“Uma postura que dialogue com as comunidades remanescentes de quilombos, seus direitos, garantias e respeito à tradicionalidade, além de enfatizar a importância dessas comunidades para o desenvolvimento socioeconômico do país”, afirmou a secretária-executiva da pasta, Rita Oliveira, antes do início da sessão.

No julgamento, que começou nessa quarta (26), estão sendo ouvidos vítimas, representantes do Estado, testemunhas e peritos. A denúncia foi apresentada em 2001 por povoados, sindicatos e movimentos sociais à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A queixa foi aceita em 2006 e levada à Corte somente em janeiro de 2022.  

Os denunciantes querem que o governo brasileiro conceda a titulação definitiva do território quilombola, pague indenização às comunidades removidas e às que permanecem no local, crie um fundo de desenvolvimento comunitário em conjunto com as famílias e realize estudo de impacto ambiental e cultural.

Também por meio de nota, o secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Ministério das Relações Exteriores, Carlos Márcio Bicalho Cozendey, lembrou que o Brasil aceita a jurisdição da Corte desde 1998. Segundo ele, o que for definido na audiência de hoje sobre o caso será “um compromisso internacional do Brasil aceitar”. 

“As audiências da CIDH são importantes para que os juízes entendam bem qual é a situação das vítimas. Obviamente é uma situação complexa, difícil, em que efetivamente o Estado brasileiro falhou em muitos aspectos, então, isso tudo estará em discussão. Mas é preciso que tudo isso seja enquadrado dentro das regras dos pactos de direitos humanos existentes na região.”

Entenda o caso

O Centro de Lançamento de Alcântara foi construído nas proximidades da capital São Luís na década de 1980 pela Força Aérea Brasileira (FAB) como base para lançamento de foguetes. Na época, 312 famílias quilombolas de 32 povoados foram retiradas do local e reassentadas em sete agrovilas.  

Alguns grupos permaneceram no local e, segundo os denunciantes, sofrem ameaças constantes de expulsão para ampliação da base. Em 2004, a Fundação Palmares certificou o território e, em 2008, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) identificou e delimitou a área.

Ontem, o governo federal determinou a criação de um grupo de trabalho (GT) interministerial encarregado de propor uma solução para a disputa territorial em Alcântara. O decreto foi assinado pelo presidente em exercício, Geraldo Alckmin, pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, e pelo advogado-geral da União adjunto, Flávio Roman.

Composto por representantes de 12 órgãos federais, da Aeronáutica e de comunidades quilombolas, o GT deve encontrar formas de o governo conceder às comunidades remanescentes o título de propriedade das terras sem criar empecilhos às operações do centro de lançamento.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos (IDH) vai julgar denúncias apresentadas por comunidades quilombolas que acusam o Estado brasileiro de ter cometido violações durante a construção do Centro de Lançamento de Alcântara, localizado no Maranhão. Pela primeira vez, o Brasil será julgado por um caso envolvendo quilombolas. 

As audiências ocorrerão nesta quarta (26) e quinta-feira (27) na sessão itinerante da Corte em Santiago, no Chile, às 15h30 (horário de Brasília) e às 10h, respectivamente. Serão ouvidas as vítimas, representantes do Estado, testemunhas e peritos. 

##RECOMENDA##

A denúncia foi apresentada em 2001 por povoados, sindicatos e movimentos sociais à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A queixa foi aceita em 2006 pela comissão e levada à Corte somente em janeiro de 2022.  

“O julgamento é de importância histórica. É a primeira vez na história do país que o Brasil será julgado em um tribunal internacional por crimes cometidos contra quilombolas. Além disso, constitui importante oportunidade para a própria Corte IDH consolidar jurisprudência de proteção aos territórios ancestrais de comunidades afrodescendentes na região”, disse Danilo Serejo, quilombola de Alcântara e assessor jurídico do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial (Mabe), em nota divulgada pela organização Justiça Global.  

Os denunciantes querem que a Corte determine que o governo brasileiro conceda a titulação definitiva do território quilombola, pague indenização às comunidades removidas e às que permaneceram no local, crie fundo de desenvolvimento comunitário em conjunto com as famílias quilombolas e realize estude de impacto ambiental e cultural.  

“A imposição do Estado de construir o Centro de Lançamento de Alcântara num território tradicional, deteriorando modos de vidas, laços familiares e tentando apagar uma parte da nossa história, mostra como o racismo ambiental orientou a política. Por isso, o Brasil tem o dever, perante a Corte Interamericana, de reconhecer sua responsabilidade como ator nas violações contra os quilombolas de Alcântara, bem como avançar imediatamente com a titulação do território. O que está em jogo na Corte, nos próximos dias, é o real compromisso do Estado brasileiro com o enfrentamento ao racismo”, afirmou a diretora executiva da Justiça Global, Glaucia Marinho. 

Para a ministra substituta dos Direitos Humanos e da Cidadania, Rita Oliveira, que irá compor a delegação do governo, a audiência servirá para reconstruir a relação entre o Estado e os remanescentes dos quilombos. “Aprendemos nessa trajetória que o desenvolvimento científico e tecnológico não é incompatível com a defesa e promoção dos direitos humanos. Apenas o desenvolvimento baseado nos seus princípios legitima os avanços da ciência e da tecnologia com sustentabilidade etnoambiental e integridade pública”, avalia, conforme nota publicada pela pasta. 

A delegação terá ainda integrantes da Advocacia-Geral da União (AGU), do Comando da Aeronáutica, do Centro de Lançamento de Alcântara e dos ministério das Relações Exteriores (MRE), da Defesa e da Igualdade Racial.

Entenda o caso  

O Centro de Lançamento de Alcântara foi construído nas proximidades da capital São Luís, na década de 80 pela Força Aérea Brasileira (FAB), como base para lançamento de foguetes. 

Na época da construção, 312 famílias quilombolas, de 32 povoados, foram retiradas do local e reassentadas em sete agrovilas. Alguns grupos permaneceram no território e, conforme os denunciantes, sofrem com a constante ameaça de expulsão para a ampliação da base. 

Em 2001, representantes de comunidades quilombolas do Maranhão, do Movimento dos Atingidos pela Base de Alcântara (Mabe), da Justiça Global, da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Maranhão (Fetaema), do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alcântara (STTR) e da Defensoria Pública da União (DPU) apresentaram denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. 

O grupo acusa o Estado brasileiro de ter cometido violações com a instalação do centro, com desapropriação e remoção compulsória de famílias quilombolas. Segundo a denúncia, a perda do território causou impacto no direito dessas comunidades à cultura, alimentação, educação, saúde e livre circulação. Além disso, não foi concedido aos quilombolas os títulos definitivos de propriedade.

Em 2004, a Fundação Palmares certificou o território. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) identificou e delimitou a área em 2008.  

Cinco anos após a apresentação da denúncia, a comissão a considerou admissível. Em relatório de 2020, depois de audiências feitas em 2008 e 2019, o grupo recomendou que o governo brasileiro fizesse a titulação do território tradicional, consulta prévia aos quilombolas sobre o acordo firmado pelo Brasil e os Estados Unidos (que permite atividades espaciais de companhias norte-americanas na Base de Alcantâra, chamado acordo de salvaguardas tecnológicas) no ano anterior, reparação financeira para os removidos e pedido público de desculpas.  

As recomendações não foram seguidas pelo governo brasileiro. Dessa forma, a comissão levou o caso à Corte em janeiro de 2022. 

Nesta terça-feira (21), quando é celebrado o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, o governo federal anunciará sete medidas para promoção da igualdade racial no país. Dentre elas, está a titulação de três áreas quilombolas que aguardam há duas décadas pela regularização: Brejo dos Crioulos (MG), Lagoa dos Campinhos (SE) e Serra da Guia (SE). Além disso, o governo também formulará ações de combate à violência contra religiões de matriz africana e criará um programa de proteção aos jovens negros.

A data marca também os 20 anos de criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), primeiro órgão com status de ministério voltado para a questão racial no Brasil, fundada em 2003, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No atual mandato, foi criado o Ministério da Igualdade Racial.

##RECOMENDA##

Em publicação nas redes sociais, nesta manhã, Lula destacou que não deve existir espaço para a intolerância em espaços democráticos.

[@#video#@]

As medidas serão anunciadas às 15h pelo presidente Lula, acompanhado da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e demais ministros, no Palácio do Planalto. 

O pacote de ações envolve titulação de áreas quilombolas e criação de grupos de trabalho para ampliar o acesso de estudantes negros a universidades, reduzir assassinatos de jovens negros e valorizar a cultura afro-brasileira.

Veja abaixo as medidas:

Quilombolas

- O presidente Lula irá assinar a titulação de três áreas quilombolas que aguardam há duas décadas pela regularização: Brejo dos Crioulos (MG), Lagoa dos Campinhos (SE) e Serra da Guia (SE). Será anunciado o programa Aquilomba Brasil, que irá promover os direitos dos povos quilombolas à terra, inclusão produtiva, qualidade de vida, desenvolvimento local e cidadania. Estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas sejam quilombolas.

  Acesso a universidade

- Decreto irá criar grupo interministerial para elaboração do Programa Nacional de Ações Afirmativas, que tem como objetivo ampliar o acesso e a permanência de estudantes negros em cursos de graduação e pós-graduação, além de estabelecer reservas de vagas em órgãos públicos.

Redução de homicídios

- Decreto prevê grupo de trabalho para criação do Plano Juventude Negra Viva, que visa reduzir o número de assassinatos, desigualdades e vulnerabilidades sociais entre jovens negros de 15 a 29 anos.

Cais do Valongo

- Criação de um centro no local para valorização da herança africana. Pelo Cais do Valongo, na região portuária do Rio de Janeiro e patrimônio histórico da humanidade, passaram mais de um milhão de escravizados.

Combate ao racismo religioso

- Formulação de ações de combate à violência em relação às religiões de matriz africana e povos de terreiro. No total, o grupo de trabalho terá representantes de 13 órgãos e de nove organizações da sociedade civil.

A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu dois inquéritos civis ligados à proteção de indígenas durante o governo Jair Bolsonaro. A gestão do ex-chefe do Executivo já está na mira de investigações do Ministério Público Federal em Roraima sobre suposta desassistência aos povos originários, em especial os Yanomami. Também é alvo de investigação sobre suposto genocídio, omissão de socorro e crimes ambientais.

As novas apurações foram oficialmente abertas pelo Ministério Público Federal com base em procedimentos preparatórios que já tramitavam na Procuradoria. As portarias de instauração dos inquéritos foram assinadas no último dia 13.

##RECOMENDA##

Um deles vai se debruçar sobre possível prática de improbidade administrativa na gestão da Fundação Nacional do índio (Funai). O outro trata de suposta irregularidade no uso, pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, de somente 44% do orçamento previsto para 2020, 'impactando programas vinculados às políticas de proteção das populações indígenas e quilombolas'.

Na avaliação da procuradora Luciana Loureiro Oliveira ainda havia necessidade de realização de diligências para que o MPF decidisse quais medidas deveriam ser adotadas nos casos. Para ela, não cabe o arquivamento das apurações preliminares.

O governo Bolsonaro já é alvo de outras investigações envolvendo a proteção de povos indígenas. No final de janeiro, a Procuradoria da República em Roraima abriu um inquérito civil para apurar como 'ações e omissões' de agentes públicos contribuíram para a crise humanitária na Terra Indígena Yanomami.

Segundo o Ministério Público Federal, no âmbito de outras investigações em curso, já há 'vasto acervo de evidências para a imediata responsabilização' do Estado pela crise que assola a comunidade indígena.

Por ordem do ministro Luís Roberto Barroso, a tragédia na terra indígena também é investigada pela Polícia Federal, que mira 'altas autoridades federais' do governo passado por suposto crime de genocídio de povos indígenas, assim como delitos ambientais relacionados à vida, à saúde e à segurança de tais comunidades.

Acompanhamento e explicações

A repercussão sobre a tragédia em Roraima levou o Senado a instituir uma Comissão Temporária Externa para acompanhar a situação dos indígenas no local, assim como a saída de garimpeiros da Terra Yanomami. No entanto, uma visita do presidente do grupo à comunidade no último dia 20 chamou atenção do Ministério Público Federal.

Na terça-feira, 21, a Procuradoria da República em Roraima oficiou o senador Chico Rodrigues, presidente da Comissão, solicitando informações sobre sua visita.

A Procuradoria quer identificar os objetivos e atividades do grupo na Terra Indígena, 'na perspectiva da defesa dos povos que habitam' o local. Chico Rodrigues tem dez dias para responder o documento, que também foi remetido à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Pela primeira vez, um censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai contabilizar a população quilombola do Brasil. A iniciativa já vinha sendo trabalhada há algum tempo pelos pesquisadores. Ao todo, serão 5.972 localidades quilombolas, que começaram a ser visitadas pelos recenseadores às 9h de hoje (17), dia de mobilização do censo quilombola.

“É o primeiro censo em que o IBGE poderá oferecer à sociedade estatísticas oficiais sobre quantos são os quilombolas, onde vivem e como vivem. É muito importante que a própria população quilombola esteja preparada e sabendo que o censo está trazendo essa possibilidade pela primeira vez”, disse a coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais, Marta Antunes.

##RECOMENDA##

De acordo com a pesquisadora, com este dia de mobilização a intenção é sensibilizar as lideranças quilombolas para abrirem suas comunidades ao censo e receber os entrevistadores, compreender o que é e a importância do levantamento de dados para retratar a realidade dessa população. “Outro grande objetivo é mostrar para a população em geral essa grande novidade do Censo 2022 em termos de povos e comunidades tradicionais. Esse é o grande avanço neste censo, a inclusão de mais um grupo de povos e comunidades tradicionais, que é o grupo quilombola”.

Os dados nos territórios quilombolas serão coletados a partir da pergunta: sua cor ou raça é branca, preta, amarela, parda, indígena? Independentemente da resposta,pré-registrada, aparecerá a próxima pergunta: você se considera quilombola? Se a resposta for sim, o questionário vai querer saber: qual o nome da sua comunidade? Já existe uma lista de comunidades pré-registradas no aplicativo usado pelo recenseador, mas é possível acrescentar nomes que não estejam citados.

Cor ou raça

Segundo a coordenadora, essa pergunta e a de cor ou raça são feitas separadamente. “Uma não interfere na outra, como está definido no Decreto 4.887, em que se fala em presunção de ancestralidade negra e não de que existe cor ou raça pré-definida para a população quilombola”.

“O IBGE considera quilombola toda pessoa que se autoidentifica como quilombola. Então, no momento da entrevista, o recenseador vai perguntar: você se identifica como quilombola?, e o informante vai responder. No caso de pessoas que estiverem ausentes do domicílio, ele também vai responder se se considera, ou não, quilombola”, completou a coordenadora.

Marta Antunes disse que para incluir um grupo populacional pela primeira vez é preciso saber o que perguntar e, no caso dos quilombolas, a definição das perguntas do questionário foi um desafio para o IBGE.

“Tem que ser uma pergunta que funcione para todas as pessoas, para o idoso, para o mais jovem, aquele que está mais ativo nas discussões e aquele que é quilombola, mas não participa tanto do processo mobilizatório associativo e organizativo, tanto no próprio local quanto no estado ou no país. Outro grande desafio do IBGE foi saber qual a pergunta a ser feita para que essa população possa compreender o questionário".

Segurança

Para garantir o princípio de respeito à declaração do informante sobre a sua identificação étnico-racial e à dos demais moradores do domicílio, o recenseador ou qualquer outra pessoa da equipe de coleta não pode questionar o informante, nem colocar em dúvida a sua declaração. Se houver desrespeito à declaração, o fato pode ser informado ao IBGE por meio do telefone 0800 721 8181, com os dados sobre nome e matrícula da pessoa responsável pela coleta, sempre disponível no colete dos agentes, nome e endereço da ocorrência. Todas as situações serão minuciosamente avaliadas e corrigidas internamente, quando for o caso.

As declarações dos informantes não podem ser alteradas. “Mesmo que ele se considere quilombola e não saiba informar o nome da comunidade, a opção sim na pergunta se se considera quilombola deve ser mantida. Nesse caso, no campo destinado ao nome da comunidade, o recenseador deve anotar: não sabe”, informou.

Mapeamento

Fora das áreas pré-mapeadas, a pergunta você se considera quilombola? não vai abrir. Nesse caso, o recenseador deve fazer o registro como domicílio quilombola no cadastro de endereço. O gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE, Fernando Damasco, disse que embora o direito dos quilombolas esteja previsto na Constituição de 1988, o Estado brasileiro teve muitas dificuldades, nas últimas décadas, para organizar um cadastro nacional das comunidades e fazer o mapeamento dos seus territórios.

Segundo Damasco, o desafio sempre presente na construção de uma proposta técnica e metodológica para a realização do censo dessa população foi, justamente, entender como ela está organizada do ponto de vista espacial. “Como ela se distribui no território brasileiro e, efetivamente, mostrar essa representação socioespacial não é algo trivial. Fizemos um longo processo de reunião e levantamento de dados, que envolveu inicialmente os registros administrativos disponíveis nos órgãos oficiais do Estado brasileiro, em diferentes esferas de gestão”, contou.

Guias comunitários

O censo nos territórios quilombolas vai contar ainda, quando o recenseador não for quilombola, com a presença de guias comunitários “para a condução segura do recenseador por todos os domicílios a serem visitados, indicando as melhores rotas de percurso, os melhores horários para a visita e os códigos de conduta a serem adotados”

Marta Antunes lembrou que outra etapa importante na preparação do censo dessas comunidades foi o treinamento dos recenseadores. “Para que a população se sinta confortável em responder ao censo é importante que sinta que a sua identidade, sua forma de organização social é respeitada e, para isso, era importante preparar os entrevistadores para saber lidar com a diversidade, com a chegada a um território quilombola e com todo o trabalho de inciar a coleta de dados em território tradicional", 

Protocolos de saúde

Também na preparação do censo, as equipes de coleta receberam orientações básicas sobre o contexto da pandemia de covid-19.

Imprensa

Entre as localidades, o IBGE separou nove em Alagoas, na Bahia, no Distrito Federal, Maranhão, Pará, Rio de Janeiro, em Rondônia, no Rio Grande do Sul e Tocantins, onde o trabalho dos recenseadores poderá ser acompanhado pela imprensa. Para a definição desses lugares, houve um trabalho prévio com as lideranças quilombolas para saber se poderiam receber os jornalistas, e uma preparação inclusive sanitária, para proteger e evitar a contaminação de moradores. Ao longo do censo, sempre com uma organização prévia, outras áreas poderão ser selecionadas para o acompanhamento da imprensa.

[@#galeria#@]

O livro “Como lidar com uma Amazônia sensível: identidades, direitos e qualidade de vida em comunidades urbanas, rurais, ribeirinhas e quilombolas no Pará”, organizado pelos pesquisadores João Cláudio Arroyo, Hilton Silva e Poliana Bentes, foi lançado na noite de terça-feira (15), na UNAMA – Universidade da Amazônia, campus da Alcindo Cacela, em Belém.

##RECOMENDA##

O professor e mestre em Economia João Claudio Arroyo diz que a obra propõe a reflexão sobre o papel dos amazônidas no processo de desenvolvimento. Para isso, ele entende que é necessário refletir também sobre o que significa esse desenvolvimento. “É só crescer a produção ou é a qualidade de vida, saúde, educação das pessoas?”, questiona.

O professor explica que, se focarmos no nível e na qualidade de vida das pessoas, é possível perceber que esse processo é fundamental no cotidiano delas. “É impossível pensar o desenvolvimento da Amazônia sem a inclusão das comunidades rurais e urbanas”, afirma.

Arroyo ressalta que o desenvolvimento econômico pressupõe a inclusão das comunidades e aprendizados com os valores e com a cultura delas, para que haja a compreensão de que a qualidade de vida desses povos não pode ser elevada sem a interação. “Essa é a principal mensagem no nosso livro”, destaca.

Apesar de ter sido organizada por três pessoas, a obra foi escrita por 15 autores – pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), da UNAMA, do Sindicato das Indústrias Minerais do Pará (Simineral) – e conta com o apoio do UNICEF, reunindo aprendizados com quilombolas, indígenas, ribeirinhos e comunidades urbanas. “Esse livro expressa esse ponto de maturidade como cientistas deste grupo de autores”, diz o professor.

Arroyo diz ainda que, para o Programa de Pós-Graduação em Gestão de Conhecimentos (PPGC) da UNAMA, o livro também é muito importante por apontar o caminho de prestação de serviço para a sociedade e de diálogo com os tomadores de decisão. “Não podemos mais insistir em coisas que não deram certo. Então, é o compromisso da UNAMA e do PPGC, em particular, levar soluções para a sociedade”, afirma.

A pesquisadora Poliana Bentes, mestre em Gestão de Conhecimento para o Desenvolvimento Socioambiental, conta que foi uma honra poder organizar essa obra que apresenta tantas experiências e vivências, principalmente de grupos que são muito vulneráveis. “Poder ter esse olhar e levar esse conhecimento para a sociedade é muito gratificante”, relata.

A respeito da contribuição do lançamento do livro para o desenvolvimento do PPGC, Poliana afirma que acadêmicos devem produzir e levar cada vez mais informações para que elas não fiquem somente na universidade. “Que elas possam chegar a ter acesso e que as pessoas possam também conhecer essa realidade”, diz.

A assessora de comunicação do UNICEF na Amazônia, Ida Oliveira, esteve no evento e explica que o lançamento do livro foi uma oportunidade muito importante de dar visibilidade a uma comunidade que era e continua sendo invisível. “Os quilombolas no Pará, como na Amazônia de uma maneira geral, são invisíveis. Há uma impressão de que Amazônia é indígena, mas Amazônia é negra e certamente até mais que indígena”, afirma.

Ida ressalta que há uma mistura de etnias, cores e de culturas na região amazônica que poucas pessoas conhecem. “O registro disso, o conhecer isso, possibilita que a gente possa de fato contribuir para outra Amazônia. Uma Amazônia em que os direitos dessas populações, de crianças e adolescentes possam ser respeitados e de fato realizados”, reforça.

Além disso, Ida acrescenta que a obra também contribui para que essas comunidades tenham capacidade e competência para escrever a própria história. “Não teria sentido a gente apoiar o fortalecimento comunitário, a construção dessa identidade, dessa visibilidade, se a própria comunidade não fosse ela mesma protagonista da sua história, então eu fico muito feliz de o UNICEF ser parte disso”, enfatiza.

O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, também esteve presente no lançamento e parabenizou a UNAMA pela vitória do saber científico. Para ele, o livro não se resume a um manual. “É um conjunto de artigos que tentam captar a alma daquela comunidade, o seu modo de relacionar com a natureza, os modos de viver naquele lugar, os modos de relação entre as pessoas, e que se expressam na cultura, no trabalho, nos sonhos”, afirmou.

Edmilson Rodrigues destacou que a grande contribuição do livro é incentivar a sensibilidade e permitir que as pessoas aprendam sobre a essência da Amazônia, que é a sua natureza e o seu povo na sua diversidade.

“São muitos povos na Amazônia, são muitas línguas, muitas culturas. E estudar com foco na antropologia, na economia solidária, em uma comunidade quilombola é realmente a possibilidade de estabelecer uma revolução para aquela comunidade e para todas as demais que possam se apropriar desse conhecimento”, conclui.

Por Isabella Cordeiro.

O Brasil tem 2,24 milhões de habitantes que vivem em terras indígenas ou quilombolas, a maioria deles em estados do Norte e Nordeste. Os dados fazem parte de um estudo realizado pelo IBGE que combinou médias de moradores por domicílio do censo de 2010 e as estimativas de domicílios levantadas junto à Base de Informações sobre os Indígenas e Quilombolas de 2019.

Os números foram tornados públicos nesta sexta-feira, 15. O estudo do IBGE surgiu a partir de um pedido feito pelo Ministério da Saúde em dezembro de 2020. O objetivo era planejar a logística de vacinação contra a covid-19 nesses grupos específicos.

##RECOMENDA##

Segundo o instituto, no fim do ano passado estimava-se que 1.108.970 pessoas viviam em áreas indígenas, e outras 1.133.106 em localidades quilombolas do País. O IBGE ressalva, contudo, que o estudo tem caráter experimental, e que trata somente da estimativa de pessoas que vivem nessas áreas. Esses números não são o total da população indígena ou quilombola do País.

De acordo com a análise, do total de 1,13 milhão de residentes em localidades quilombolas, 698,1 mil estão na Região Nordeste. Bahia (268,6 mil) e Maranhão (170,9 mil) concentram quase metade da população brasileira em áreas quilombolas. As regiões Sudeste e Norte têm, respectivamente, estimativa de 172 mil e 154,9 mil pessoas em áreas quilombolas. O Sul, com 73 mil, e o Centro-Oeste, com 35 mil, completam o levantamento.

Quando são considerados os moradores de localidades indígenas, o IBGE aponta que mais da metade (560,4 mil) estão na Região Norte.

Os Estados com maior concentração indígena são Amazonas (284,5 mil), Mato Grosso (145,3 mil), Pará (105,3 mil) e Roraima (83,8 mil). Juntos, eles contabilizam 55,8% do total de residentes em áreas indígenas. Pernambuco (80,3 mil) e Mato Grosso do Sul (78,1 mil) também registram grande presença de moradores nesses locais.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) realiza curso de extensão “IFPE Conecta: informática básica para os povos do campo e territórios quilombolas", por meio da Coordenação de Extensão com os Povos do Campo e  Pró-Reitoria de Extensão (Proext).

A iniciativa conta com 45 vagas que foram distribuídas entre as seguintes entidades: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (FETAPE), Movimento Camponês Popular (MCP), Comissão Estadual dos Quilombolas de Pernambuco e Associação Agroecológica do Pajeú (ASAP).

##RECOMENDA##

As aulas já tiveram início e seguem até 3 de dezembro. Toda a formação é oferecida de forma on-line uma vez na semana. Entre os assuntos abordados no curso estão uso de smartphone, internet e computadores e ferramentas on-line.

"Promovemos a troca de experiências e o entendimento da realidade socioeconômica e cultural das organizações atendidas. A Extensão tem essa missão de subverter a ordem, trazendo as comunidades para o papel de protagonista no processo de ensino e aprendizagem”, explica, através da assessoria, o coordenador da comissão organizadora do projeto, Marcelo Melo da Silva. 

 

Na manhã desta terça-feira (17), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a comemorar a suspensão de demarcações de território indígena em seu governo e disse que o fazendeiro está mais tranquilo com a posse de fuzis. O mandatário também apontou que as críticas sobre desrespeito ao Meio Ambiente são motivadas por outros países em razão da concorrência no mercado agrícola.

Em entrevista à rádio Capital Notícia, Bolsonaro confirmou a visita a uma comunidade indígena do Mato Grosso na próxima quinta (26) para a "entrega de algum material". Ele também comentou sobre um projeto no Congresso de autoria do Executivo sobre a permissão para que os nativos possam explorar as terras demarcadas.

##RECOMENDA##

"Os fazendeiros não acordam mais preocupados em saber se foi publicado no Diário Oficial da União uma portaria iniciando a demarcação de uma nova terra indígena. Nós fizemos uma série de exigências de modo que, em dois anos e meio de governo, nenhuma nova terra indígena começou a ser demarcada", celebrou o Bolsonaro, que continuou, "nós também zeramos essa questão de quilombolas".

Fazendeiros armados

Ele acrescentou que outro motivo de tranquilidade aos empresários rurais foi a ampliação das regras de armamento. Segundo o presidente, o Governo Federal tem a missão de “não atrapalhar quem produz e, obviamente, facilitar a vida dessas pessoas”.

"O homem do campo passou a ficar mais tranquilo quando nós conseguimos a posse de arma estendida. [Antes] o elemento comprava uma arma e só podia usar dentro de casa, nós ampliamos isso aí. Hoje, o fazendeiro pode pegar seu cavalo, sua viatura e andar armado em toda a extensão da sua propriedade, inclusive comprando fuzis", ressaltou.

LeiaJá também:

---> Bolsonaro: "Forças Armadas jamais vão motivar ruptura"

---> Bolsonaro diz que vetará 'Fundão' na íntegra

---> TSE ordena que redes bloqueiem verba de bolsonaristas

Fiscalização abusiva do Ibama

Para o gestor, o alinhamento com os fazendeiros também se deve pela diminuição do poder do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). "O Ibama chegava e era um festival de multas. Nós racionalizamos isso. Multa é a última instância para ser aplicada por parte do Ibama e assim foi feito, uma multa racional, multa legal, e não uma multa abusiva como sempre existia no passado", avaliou.

Pressões internacionais

Criticado por entidades ambientais nacionais e internacional, Bolsonaro indicou que “poderosas pressões internacionais” têm objetivo de “desmoralizar o governo, desgastar, falar que não gosta do índio, não trata bem a questão ambiental, isso logicamente vai impactando a gente, a gente luta contra isso”.

As críticas sobre o descuido do Meio Ambiente seriam motivadas por países como Estados Unidos, Austrália e França para enfraquecer a atuação do Brasil no Mercado. "Essa concorrência não faz bem para os países que produzem aquilo que nos cultivamos aqui, então esse e o motivo desse desgaste enorme que vem de fora para dentro do Brasil", concluiu.

 De acordo com a Secretaria de Saúde de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, já foram vacinadas 478 pessoas do quilombo de Xambá, localizado na Rua Severina Paraíso da Silva, número 65, em São Benedito. A vacinação deste grupo teve início no último domingo (20).

A administração municipal promete imunizar toda a população de Xambá entre 18 e 90 anos. Na comunidade, 2,5 mil moradores se declaram quilombolas. O Quilombo Portão de Gelo, em Xambá, recebeu o título da Fundação Palmares, no ano de 2006, sendo identificado como o segundo maior quilombo urbano do Brasil. 

##RECOMENDA##

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) recebe inscrições, até 31 de março, para a seleção de ingresso em cursos de graduação, semestre letivo 2021.2, direcionado a índios aldeados, moradores de comunidades quilombolas e pessoas trans. Também podem participar do processo seletivo refugiados em situação de vulnerabilidade e imigrantes.

De acordo com a instituição de ensino, os estudantes devem escolher uma opção de curso e requerer inscrição até 17h do dia 31, por meio do site da seleção. Os candidatos devem ter feito o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2019 ou 2020; esse requisito, porém, será opcional para refugiados e imigrantes. As candidaturas não cobram taxa de participação.

##RECOMENDA##

A previsão é que sejam selecionados até quatro concorrentes além da quantidade de vagas definida para cada graduação. Haverá uma vaga para índios aldeados, uma para moradores de comunidades quilombolas, uma oportunidade para pessoa trans que tenha estudado o ensino médio em escola pública, além de uma vaga para imigrante/refugiado em situação de vulnerabilidade social, que tenha cursado o ensino médio ou equivalente em outra nação.

Ainda no que diz respeito aos imigrantes e refugiados, essa condição deverá ser comprovada por meio de visto humanitário permanente ou temporário emitido pelo Conselho Nacional de Imigração. Já as condições de quilombola e índio aldeado serão comprovadas por meio da Fundação Cultural Palmares e da Fundação Nacional do Índio (Funai), respectivamente.

Segundo a UFBA, a condição de pessoa trans poderá ser comprovada por meio de documento de autodeclaração disponível no próprio site da instituição de ensino. Confira os cursos disponíveis na Universidade e, para mais informações, acesse o edital do processo seletivo.

A Secretaria de Saúde de Olinda - Região Metropolitana do Recife (RMR) - iniciou, no último domingo (21) a vacinação do segundo maior Quilombo Urbano do Brasil, o Quilombo Portão de Gelo, localizado em São Benedito. Segundo a gestão municipal, foram vacinados até agora 105 quilombolas.

Segundo a prefeitura de Olinda, o objetivo é imunizar todo o grupo quilombola do Portão de Gelo, independente da idade. De acordo com o presidente do Quilombo, Pai Ivo do Xambá, são cerca de 2.500 pessoas declaradas quilombolas no território, com idades entre 18 e 90 anos.

##RECOMENDA##

Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que inclui no Cadastro Único do governo federal (CadÚnico) comunidades quilombolas, povos indígenas, pessoas em situação de rua e pessoas que tenham sido submetidas a trabalho em condição análoga à de escravidão.

O CadÚnico é utilizado para o pagamento da Bolsa Família. O texto em análise na Câmara dos Deputados altera a lei que criou o programa.

##RECOMENDA##

O objetivo dos autores, os deputados Luiza Erundina (PSOL-SP) e Ivan Valente (PSOL-SP), é promover a inclusão social de “grupos populacionais com processos conjunturais, históricos e culturais diversos que provocam, estruturalmente, situação e condições de maior vulnerabilidade”.

Pela proposta, o cadastramento será realizado ainda que o interessado não disponha de documentos de identificação. Nesse caso, o Poder Público fará o registro provisório, para o recebimento temporário do benefício, sob condição de posterior apresentação dos documentos no prazo máximo de quatro meses.

Tramitação - A proposta será analisada, em caráter conclusivo, pelas comissões de Direitos Humanos e Minorias; de Seguridade Social e Família; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.​

*Da Agência Câmara de Notícias

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando