Mesmo com o empenho do ex-governador Márcio França (PSB) e após a costura de alianças em dois Estados, o PT ficou sem o apoio do PSD em São Paulo. O fracasso nas investidas sobre o partido de Gilberto Kassab, que hoje deve anunciar chapa com Tarcísio de Freitas (Republicanos), se dá no momento em que petistas e líderes do PSB externam conflitos nas articulações no Rio e em mais cinco Estados.
A decisão de Kassab pelo apoio a Tarcísio foi informada a diretórios e pré-candidatos do PSD ontem. A composição envolve a indicação do ex-prefeito de São José dos Campos Felício Ramuth (PSD) a vice de Tarcísio, candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no Estado.
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Petistas e aliados que queriam o PSD com o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) ficaram frustrados. França, que desistiu de disputar o Palácio dos Bandeirantes para concorrer ao Senado, chegou a abrir mão de indicar um vice em favor de um nome ligado a Kassab.
Petistas minimizaram a adesão a Tarcísio. "Não perdemos o PSD porque nunca o tivemos. Estamos muito animados com a frente que está se formando em torno do Haddad", disse o deputado estadual Emídio de Souza (PT) e coordenador da campanha do petista ao governo.
O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) afirmou que até agora o correligionário já conseguiu uma "ampla coalizão", com apoios de Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (PSOL), ambos candidatos à Câmara. Segundo Padilha, Haddad precisa buscar "uma mulher ou uma grande liderança do interior" para vice.
Já a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse "lamentar" a posição de Kassab por entender que ele está reforçando o "palanque de Bolsonaro em São Paulo". No entanto, segundo ela, a decisão não afeta alianças com o PSD em Minas Gerais, onde o PT apoia o ex-prefeito Alexandre Kalil e na Bahia, onde o PT recebeu o apoio do PSD.
Argumento
As alianças do PT com candidatos do partido de Kassab são usadas como argumento pelo PSB para criticar a tentativa de tirar o deputado federal Alessandro Molon (RJ) da disputa pelo Senado no Estado. Petistas defendem a candidatura do deputado estadual André Ceciliano (PT-RJ) na chapa encabeçada por Marcelo Freixo (PSB) ao Palácio da Guanabara.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), seu candidato a vice, estiveram ontem no Rio e fizeram uma série de afagos em Ceciliano, que também é próximo de bolsonaristas. O impasse local levou preocupação a aliados do PT no Nordeste, como mostrou ontem a Coluna do Estadão. Nessas disputas, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, criticou uma suposta quebra de acordos.
"Estamos reivindicando o que o PT fez em Minas Gerais. O PT tinha candidato e abriu mão para apoiar o candidato do PSD, que não apoia o partido em nível nacional. No Rio Grande do Norte, reivindicamos a candidatura ao Senado, e eles preferiram apoiar um nome do PDT alinhado ao Bolsonaro. Por que não podem fazer essa concessão no Rio? Apenas o PT pode resolver essa questão. Queremos que os dois (Molon e Ceciliano) sejam candidatos", afirmou Siqueira.
Já Gleisi afirmou que a cobrança do PSB é "injusta". Segundo ela, são o PSB e Molon que estão descumprindo acertos. "No Rio de Janeiro, eu fiz um acordo com o Siqueira lá atrás. Ele disse: 'Olha, tem a candidatura do Freixo, e o Molon está querendo ser candidato'. Eu disse: 'Mas nós queremos participar da chapa'. Ele disse: 'Se o PT quer indicar o nome para participar da chapa, o Molon retira, sem problema'. O acordo é que a vaga seria do PT", disse Gleisi.
Durante um encontro de sambistas com Lula no centro do Rio ontem, Molon afirmou que não participou de nenhum acordo. E disse estar "perplexo" com a cobrança pública feita por Freixo para que abra da disputa. "Nossos adversários são outros. Fogo amigo não ajuda", afirmou.
O deputado federal tem se apegado a pesquisas eleitorais para se manter na disputa. Levantamento divulgado pelo RealTime Big Data na quinta-feira passada mostra o senador Romário (PL) e Molon empatados na margem de erro, com 19% e 14%. Daniel Silveira (PTB) tem 8%, e Ceciliano, 4%.
Pelo País
Além do Rio, as desavenças entre PSB e petistas se dão em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Minas e Rio Grande do Sul. No Rio Grande do Norte, a governadora Fátima Bezerra (PT), por exemplo, fará um evento no próximo dia 23 para homologar a candidatura em aliança com Carlos Eduardo (PDT), com quem rivalizou em 2018. Naquela eleição, ele chegou a apoiar Bolsonaro.
O candidato do PSB é o ex-deputado federal Rafael Motta, presidente do diretório estadual. As bases petistas têm compartilhado nas redes sociais falas dos últimos anos em que Carlos Eduardo criticou duramente a petista.
Outro ponto de conflito é a Paraíba, em que o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) é o candidato de Lula ao Senado. O PT vai apoiar Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ao governo. Coutinho está cassado pelo TSE e busca reverter a decisão da corte. Bancado por Lula, é um crítico feroz do governador João Azevêdo (PSB), que busca a reeleição. Ambos, um dia já foram do PSB.
Nessa briga, Siqueira tem cobrado "equilíbrio". Gleisi, por sua vez, disse que decisões tardias tanto na Paraíba quanto no Rio Grande do Norte levaram ao desalinhamento. Já no Rio Grande do Sul, as siglas encerraram as tratativas na semana passada, sem acordo, e ambas vão disputar o governo.
Expulsão
Em Pernambuco, o PT abriu mão de uma candidatura ao governo e está com o deputado federal Danilo Cabral (PSB). No entanto, Marília Arraes (Solidariedade), que se desfiliou do PT, se lançou colada à imagem de Lula e com apoio de ex-correligionários. Quadros petistas lançaram a campanha "oPTeiMarília".
A iniciativa é liderada pela vereadora Fany Bernal, de Garanhuns, terra natal de Lula, que acabou expulsa do PT. "Hoje, o manifesto conta com 500 lideranças petistas. Para a surpresa nossa, não filiados estão participando do manifesto", afirmou. Além dela, outros nove petistas foram expulsos do partido por manifestar apoio a Marília. A decisão foi tomada nesta terça, 5, pelo diretório estadual da legenda.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.