O pastor Arilton Moura, envolvido no lobby do Ministério da Educação, se recusou a comparecer ao Senado na quinta-feira (7), para explicar as denúncias envolvendo a acusação sobre os pedidos de propina a prefeitos para a liberação de verbas do MEC. Contudo, nos últimos quatro anos, o lobista visitou a Câmara dos Deputados 90 vezes e foi ao menos em dez gabinetes de parlamentares de diferentes partidos, do PSL ao PSB e, inclusive, no gabinete do deputado Eduardo Bolsonaro (PL), filho do presidente da República, de acordo com O Globo.
O pastor está na mira de uma investigação da Polícia Federal com a suspeita de intermediar a liberação de recursos da Educação para prefeituras. O religioso foi acusado de pedir propina em bíblias e de atuar em parceria com o pastor Gilmar Santos. Ambos foram convidados para irem ao Senado na quinta-feira para dar explicações sobre os fatos, mas declinaram o convite, alegando já serem alvos de “procedimentos na esfera judicial”. De acordo com o jornal, Moura não se pronunciou, e Gilmar negou qualquer irregularidade nas redes sociais.
##RECOMENDA##->> Quem são os pastores envolvidos no lobby do MEC
Registros de visitantes da Câmara de 16 de outubro de 2019 mostram que Arilton informou que iria ao gabinete 350, no Anexo IV, ocupado pelo deputado Eduardo Bolsonaro. Dois dias depois ele acompanhou o colega Gilmar em um encontro com o presidente Jair Bolsonaro (PL), no Palácio do Planalto. O filho do presidente, por sua vez, não quis comentar a agenda com o lobista do MEC.
Quem mais recebeu o pastor Arilton na Câmara foi o deputado João Campos (Republicanos-GO), ao menos cinco vezes. O parlamentar também recebeu Gilmar em duas oportunidades que esteve na Câmara. Ao Globo, o republicano informou que Arilton pediu recursos de emenda parlamentar para uma fundação ligada a uma igreja. “Ele falou que tinha um projeto social lá, [perguntou] se eu poderia ofertar uma emenda para isso. Mas a entidade dele não preenchia os requisitos para receber os recursos. Então, acabei não fazendo, mas se estivesse regularizada, eu faria”, afirmou.
João Campos é o parlamentar que passou mais tempo como presidente da bancada evangélica da Câmara e é amigo de Gilmar Santos há mais de 30 anos. Eles já moraram no mesmo prédio e, segundo o próprio parlamentar, já chegaram a frequentar a mesma igreja em Goiânia. “A minha relação com ele antecede a política”.
->> Prefeito diz que 'pastor do MEC' pediu propina de R$15 mil
Sobre Arilton Moura, o deputado conta que o conheceu no início do ano passado através de Gilmar Santos, que lhe apresentou como “presidente do conselho político da igreja”.
O outro parlamentar que mais teve encontros com o pastor Arilton Moura foi Marcelo Brum (União-RS). Foram quatro encontros entre 2019 e 2022. Ele ocupou, temporariamente, a cadeira de deputado, e voltou a ser suplente nesta semana, quando o dono da cadeira, Onyx Lorenzoni, renunciou ao comando do Ministério do Trabalho para disputar as eleições deste ano. “Foi para solicitar recursos. As vezes em que o pastor foi no gabinete era em busca de recursos para projetos sociais da igreja, para idosos”, detalhou o suplente. Ele disse que não enviou a verba porque era deputado do Rio Grande do Sul e a igreja se situava em Goiás. “Não tem como um deputado de um estado mandar para outro [estado]”.
Em vídeo de um culto gravado em 2019, Brum promete, no púlpito, que encaminharia R$ 200 mil de emendas para o “lar do idoso do pastor Gilmar”. “Faz o seguinte: como eu sou muito ousado e a minha assessora, o meu chefe de gabinete estão lá n fundo, tu bota aí R$ 200 mil aqui para o lar do idoso do pastor Gilmar, tá?”, diz no vídeo.
Por sua vez, o deputado Elias Vaz (PSB-GO) chegou a se encontrar duas vezes com o pastor Moura na Câmara. Através da assessoria, o parlamentar explicou que o pastor foi pedir a filiação do genro do pastor Gilmar Santos para disputar a vaga de deputado estadual por Goiás. “Mas a filiação não ocorreu por diferenças ideológicas, já que o grupo tinha um posicionamento favorável ao presidente Bolsonaro, ao contrário do parlamentar. Elias Vaz desconhecia qualquer relação de tráfico de influência entre os pastores e o governo”, diz a nota.
O deputado Vicentinho Júnior (PP-TO) contou que Moura foi ao seu gabinete acompanhado de uma comitiva da embaixada de Israel. De acordo com ele, o objetivo era convidá-lo para um evento de tecnologia do Ministério da Agricultura. “Eu havia o conhecido num evento do Itamaraty. Era um pastor bem relacionado”, disse.
O líder religioso também chegou a visitar os gabinetes dos deputados Helio Lopes (União Brasil-RJ), amigo de Bolsonaro, e Guiga Peixoto (União Brasil-SP). No entanto, a assessoria dos deputados informou que, como o acesso à Casa estava mais restrito durante a pandemia, acabaram liberando a entrada do pastor para ir a outros gabinetes.