Ele nasceu na véspera de São João, 23 de junho. E parece até que este é o motivo de sua estrela abrilhantar o período junino. Acordeonista de primeira, a sua geração deixou uma marca pronfunda na música popular brasileira, mostrou para o Brasil, e para o mundo, a simplicidade complexa do forró. Nascido em Fazendo Velha, no município de Brejo da Madre de Deus, Agreste pernambucano, seu nome é Reginaldo Alves Ferreira, mas as pessoas o conhecem como Mestre Camarão.
Foi observando o pai, Antônio Neto, que Camarão aprendeu o ofício. Desde menino, seu interesse sempre foi pela sanfona e outros instrumentos de fole. Porém, houve um período em tocou teclado, e uma de suas bandas desta fase foi a Los Marines, com quem chegou a gravar um disco. “Naquela época, tocávamos muito em bailes, tanto no interior, como nas capitais”, conta o sanfoneiro.
##RECOMENDA##
Entretanto, o marco dessa história foi aos 18 anos, quando conheceu Luiz Gonzaga. “Eu trabalhava na Rádio Jornal do Commércio, em Caruaru, e ele me ouviu tocando com uma banda de metais. Já admirava-o mesmo antes de conhecê-lo, e por estarmos no mesmo meio a amizade fluiu mais facilmente”, lembra Camarão.
O Portal LeiaJá, foi até a casa do Mestre Camarão conversar com ele. Nesta quinta-feira (26), você pode ouviro bate-papo na íntegra, no podcast de São João.
Escute as músicas do mestre
[@#video#@]
Apadrinhado pelo Inventor do Nordeste, o sanfoneiro conta que o Rei do Baião colocava os músicos que ele achava promissores 'embaixo da asa' e que a sombra de Luiz Gonzaga é tão grande e forte que até hoje as festas usam o nome dele.
Em 1961, a convite do prefeito de Brasília, Paulo de Tarso, Camarão e mestre Vitalino representaram Pernambuco no aniversário do Distrito Federal. No período, fizeram uma turnê pelas cidades satélites da capital federal. O mestre sanfoneiro conta que, durante a viagem, o engraçado era a reação das pessoas que estavam a tanto tempo longe de casa, que sentiam como se fossem vizinhos dos representantes do seu Estado de origem.
Contemporâneo de Dominguinhos, Arlindo dos 8 baixos e outros grandes acordeonistas, Camarão toca de tudo com sua sanfona: xote, xaxado, baião, forró. E, por quê não, frevo? E, mantém, na frente de casa, a Escola Acordeão de Ouro - para os sanfoneiros que querem aprimorar sua técnica. Ele já perdeu as contas dos músicos que passaram por lá. Dentre eles, está Cezzinha.
“Fui criado ouvindo os discos dele, que sempre incluiu os metais e o frevo em seu repertório. Eu tive a honra de ser amigo, conviver e estudar com ele. Ele é muito importante para sanfona e ainda tem muito o que ensinar”, fala Cezzinha sobre o mestre.
Outro aluno aplicado é seu filho Salatiel, que é cantor. Pai e filho já tiveram a oportunidade de se apresentar juntos inúmeras vezes. Sobre o filho, Camarão conta que “É um dos maiores batalhadores que conheço. Baterista, cantor, aluno”.
Ele lembra com saudosismo da vez que viu o filho se apresentar no restaurante Arriégua, localizado na Zona Oeste do Recife: “Gravamos um disco juntos, com a participação de vários artistas forrozeiros. Mas eu acho que ele tem mesmo é futuro como professor, ele é um estudioso. Gosta de saber a origem dos instrumentos e dos ritmos”.
Durante a conversa com o Portal LeiaJá, o acordeonista mostrou estar indignado com a falta de organização da classe e do egoísmo de muitos músicos, que não ajudam os mais novos ou menos conhecidos. “O que falta nos dias atuais é vontade de ensinar e de aprender com os antigos, de se aprimorar”, lamenta o mestre.
Patrimônio Vivo de Pernambuco
Em maio de 2002, Camarão recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, através da Lei estadual n° 12.196.