A prefeitura do Recife reuniu cerca de 1500 professores e gestores da rede municipal em evento realizado na tarde desta terça-feira (3), no Centro de Convenções de Pernambuco. Mas o que deveria ser uma reunião amigável para apresentação da nova Política de Ensino da Rede Municipal e o lançamento das plataformas que podem contribuir para unificação das diretrizes escolares terminou em protesto. Logo no início da solenidade, integrantes do Sindicato Municipal dos Profissionais de Ensino da Rede Oficial do Recife (Simpere) tomaram conta do palco. Durante o pronunciamento do secretário de Educação da cidade, Jorge Vieira, os manifestantes tentaram interferir, fazendo suas reivindicações e tentando compor a mesa.
Apesar do protesto, o secretário foi breve e tentou seguir o discurso, argumentando que as novas políticas de ensino são benéficas para a comunidade escolar. “O objetivo das novas diretrizes é fazer com que as escolas tentem caminhar para um objetivo comum, que traga mais benefícios para alunos, professores e todos profissionais da educação do Recife”, defendeu o secretário, enfatizando que o investimento na tecnologia necessária para implantação do Diário de Classe Online foi de aproximadamente 10 milhões.
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Tentando seguir o roteiro, o secretário executivo de Gestão Pedagógica da Secretaria de Educação do Recife, Rogério Moraes, ressaltou a participação dos profissionais de educação da rede municipal na elaboração das novas diretrizes. “Temos uma nova política elaborada pelos professores da rede, com assessoria de mestres e doutores de universidades locais, depois de 13 anos da última versão. Esse é um marco muito importante, pois além de renovar o norte que queremos dar a todos os profissionais da educação, esta política é mais detalhada. Ela não só define as concepções, mas também os direitos e conteúdos de cada componente curricular, para cada bimestre” , afirmou Moraes.
Mas o Simpere nega a participação dos educadores na elaboração do projeto. Segundo a diretora da entidade, Claudia Ribeiro, os professores não foram ouvidos e por esse motivo o projeto não contempla as reivindicações da categoria.
“Esse plano não atende as reivindicações históricas dos profissionais de educação. Aqui vai ser apresentado um projeto educacional onde nós, professores, em nenhum momento fomos escutados ou participamos desse projeto. É um projeto que vem de cima para baixo e nos coloca apenas na condição de executores, fazendo que a gente perca nossa autonomia pedagógica e ainda sim querem nos avaliar sobre a execução desses projetos”, cravou.
Como o protesto ganhou força, a mesa foi desfeita e uma das integrantes do Simpere conseguiu proferir algumas palavras tecendo críticas ao prefeito do Recife, Geraldo Julio. Segundo a professora o prefeito não atende as reivindicações do grupo, desrespeitando a categoria. “Cadê o prefeito? Ele se esconde. Volte secretário, venha ouvir o que a gente tem a dizer”.
A atitude dos integrantes do Simpere foi considerada como desrespeitosa e mal educada perante alguns professores. Dona Maria José, que preferiu não informar o sobrenome, se sentiu envergonhada pela atitude dos colegas. “Somos profissionais de educação e algumas pessoas estão agindo como baderneiros. São essas coisas pequenas que me fazem sentir vergonha de ser professora. Como queremos educar se os próprios mestres mostram claramente a falta de educação, de respeito. A prefeitura pode ter errado de não convocar um representante do Simpere para compor a mesa, mas não é agindo de forma agressiva que vamos conseguir nossos direitos. Eles fazem isso e depois reclamam de represália”, criticou.
A ex-postulante ao senado pelo PSTU, no pleito de 2014, Simone Fontana, deu continuidade a manifestação na frente do Teatro Guararapes. De acordo com a professora, a ‘confusão’ começou porque o secretário havia garantido que o Simpere poderia compor a mesa e manifestar um breve discurso. Mas no momento da formação da bancada eles foram excluídos.
“Em todas as aberturas do ano letivo, em todas as gestões, o sindicato sempre pode se pronunciar. Se a prefeitura tem coisas boas para anunciar, que ela coloque e aceite o debate. O que ela fez hoje foi impedir o debate, porque o que tá reservado para a categoria não são coisas boas, pois se fosse eles fariam questão de debater com a gente. Nós fomos falar com o secretário para que fosse reservada uma fala do sindicato, eles falaram que iriam inserir, mas no momento não convocaram o sindicato. Se a gente se cala diante disso, mas na frente eles sempre vão querer calar a boca da categoria e do sindicato”, declarou.
Simone questionou a criação de uma central de monitoramento, que segundo ela irá engessar os passos dos profissionais da educação. “Foi criada por essa prefeitura uma gerência de monitoramento que vai controlar cada passo dos professores na escola. Nós temos sido vítima constante de violência, as escolas ainda não têm professores para cuidar de alunos especiais. Então no lugar de investir em profissionais de educação, a prefeitura coloca essas pessoas para fiscalizar os professores. A gente precisa de pessoas para auxiliar o nosso trabalho e não de fiscal”, criticou.
A Secretaria de Educação do Recife encaminhou nota lamentando o acontecimento desta tarde e informou que o Simpere teria direito ao pronunciamento, após a apresentação da nova política de ensino. “Durante o evento, foi informado a alguns representantes do Simpere que eles teriam espaço para a fala depois da apresentação técnica e do cumprimento da ordem de falas previamente combinada. Após este momento, o sindicato teria a oportunidade de se posicionar. A Secretaria de Educação do Recife lamenta o fato de os representantes do Simpere terem invadido o palco e desrespeitado o momento de fala dos integrantes da Secretaria”, informou o documento.
Novas Diretrizes Educacionais do Recife
Com o propósito de unificar as Políticas de Ensino da rede municipal, a prefeitura do Recife lançou esta teça-feira (3) as novas diretrizes que serão adotadas pelas escolas da cidade. O projeto que começou a ser discutido em dezembro de 2013, pretende facilitar o trabalho dos professores e gestores escolares, desenvolvendo uma grade curricular base que será aplicada na educação fundamental.
Também foi apresentada aos professores a nova plataforma que promete inovar a gestão educacional. O Diário de Classe Online, além de substituir as cadernetas escolares e facilitar o acesso as informações referente às dificuldades do educando, informa o conteúdo base para cada série, que devem ser utilizado por todas as escolas do Recife. “ O diário de classe online é uma ferramenta que vai facilitar muito a vida dos professores, facilitar o trabalho no dia a dia, a emissão de relatórios e acompanhamento de todas as escolas. Não havia um currículo por ano na rede. A gente vai poder melhorar monitorar", ponderou o secretario de Educação, Jorge Vieira, ressaltando que a Prefeitura do Recife investiu em 2500 notebook, com acesso internet, que será implantado nas salas de aulas das escolas municipais.
O Diário de Classe Online poderão ser acessado pelo endereço eletrônico www.recife.pe.gov.br/diariodeclasse. Mas será necessário ter login e senhas individuais para visualizar as informações armazenadas.
A Secretaria de Educação também anunciou a implantação de cursos à distância voltados, inicialmente, aos gestores escolares. Mas posteriormente serão estendidos aos professores e alunos da rede municipal.