Produtores rurais de Minas estão sendo vítimas de um crime comum em filmes de faroeste: o roubo de gado. Além de prejuízo aos pecuaristas - e da suspeita de participação da polícia -, ele oferece risco à saúde da população, pois boa parte dos animais vai para abatedouros clandestinos, que abastecem frigoríficos com carne sem garantia de procedência e sem cuidado com conservação e higiene.
O problema tem, literalmente, tirado o sono dos produtores, já que muitos roubos ocorrem à noite. Segundo a polícia, criminosos agem em grupo e aproveitam o gado já recolhido no curral ou em pastos menores. Ao contrário das sagas hollywoodianas, porém, levam o gado em caminhões pelas mesmas estradas usadas por vítimas e patrulhas.
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Produtores reclamam de roubos de gado nas regiões sul, nordeste, norte, sudoeste e do Triângulo Mineiro, a maioria perto da divisas com outros Estados. Segundo o Sindicato Rural de Pará de Minas, o problema também cresce de forma acelerada na área, a 70 km de Belo Horizonte.
A Secretaria de Estado de Defesa Social diz que o problema já foi pior. Em 2010, a PM mineira registrou 2.339 roubos de gado, pouco mais de 194 casos por mês. Em 2011, foram 2.228, ou 185 ocorrências mensais. No primeiro quadrimestre deste ano, foram 674 casos - média mensal de 168 ocorrências.
Mas o presidente do Sindicato Rural de Pará de Minas, Eugênio Diniz afirma que essa redução é ilusória, pois as vítimas já nem registram mais ocorrências. "Denunciamos os casos e, além de não vermos resultado, parece que ficam rindo da gente", desabafou, com uma pilha de BOs. Pelos cálculos dele, cerca de 500 cabeças de gado foram roubadas na região desde 2010, e só uma pequena parte foi registrada.
A situação é a mesma no sul de Minas, segundo o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Cássia, Domingos Inácio Salgado. A cidade fica a 22 km da divisa com São Paulo. Além de gado, criminosos agora levam tratores, ordenhadeiras mecânicas, tanques de leite, caminhões de adubo. "A maior parte do que é roubado vai para fazendas de Goiás ou São Paulo."
O procurador Robson Lucas da Silva, subsecretário de Integração do Sistema de Defesa Social de Minas, confirmou que há subnotificação dos casos, reflexo do "alto grau de informalidade" do setor. "Mas, se os produtores não se dirigem às unidades policiais, a PM não chega ao local e a Polícia Civil fica sem condições de investigar."
Geraldo Luciano Chaves, de 59 anos, de Florestal, foi uma das vítimas. No ano passado, perdeu 40 cabeças de gado, um prejuízo de R$ 60 mil. Ele suspeita de um homem que 15 dias antes do roubo alugou um pasto ao lado do seu dizendo ser dono de frigorífico. "Logo depois, ele entregou a terra e sumiu. Disse para a polícia, mas não fizeram nada."
A insegurança é agravada pela suspeita de participação ou conivência de policiais. Acusado de roubar gado e máquinas, Wellington Sidnei da Silva, o Ica, de 35 anos, disse na delegacia de Bom Despacho que, no caso de Pará de Minas, "policiais civis recebem mesada para não apurar crimes". O acusado disse que já viu policiais receberem dinheiro do receptador e que eles sabem, inclusive, quem é o dono do matadouro onde o gado é abatido. O subsecretário Silva disse que a Secretaria de Defesa Social recebeu denúncias de corrupção apenas informalmente, mas o caso está em apuração.
Segundo o major Gilmar Luciano Santos, da PM mineira, vários crimes têm participação de funcionários ou ex-empregados das fazendas. "Eles sabem os horários das pessoas e quais equipamentos e insumos há na propriedade." Já para Inácio Salgado, de Cássia, a maior parte dos crimes é cometida por quadrilhas especializadas. Ele estima prejuízo de R$ 2 milhões para os colegas da região nos últimos dois anos porque, além de gado, criminosos levam equipamentos. "É gente do ramo, que sabe mexer com gado e o valor de uma ordenhadeira ou um tanque de leite." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.