Ratos nos corredores, pombos no refeitório, esgoto a céu aberto e salas de aula sem climatização. Esse cenário destoa da propaganda elaborada para divulgar as Escolas de Referência de Pernambuco (EREMs), que deveriam servir de exemplo para as demais unidades públicas do estado, mas é justamente o ambiente revelado por um vídeo gravado pelos alunos da Escola de Referência Sylvio Rabelo, localizada no bairro de Santo Amaro, no Centro do Recife.
Nas imagens publicadas nas redes sociais, os estudantes também denunciam problemas na gestão da instituição, como a desorganização das disciplinas eletivas e o déficit no quadro docente. "Perante a situação deplorável dos terceiros anos da Escola de Referência do Ensino Médio Sylvio Rabelo, nós estamos aqui protestando e em direção a greve pra poder reivindicar nossos direitos, desde ar-condicionados, organização das eletivas, professores e também a higienização do local onde nós comemos”, diz uma das alunas no vídeo.
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A estudante Raquel Silva, de 18 anos, que participou da mobilização, conta que, embora não possua nenhuma tela de proteção, o refeitório da escola fica localizado ao lado de três caixas de esgoto quebradas, das quais apenas uma está sendo reparada. “De lá, saem ratos e mau cheiro. É uma coisa que já pedimos várias vezes para resolver, mas sempre davam uma desculpa”, lamenta.
A estudante também se queixa da ausência de professores de física para os alunos do terceiro ano, durante o semestre praticamente inteiro. “Fica difícil de estudar para o vestibular, a gente sentiu dificuldade. Outro problema é o calor na sala. Desde fevereiro instalaram ar-condicionado para a gente, mas nunca ligaram e os ventiladores não chegam em todo mundo”, completa.
Intimidações
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Após a publicação das primeiras imagens sobre os problemas estruturais da escola Sylvio Rabelo, no dia 5 de junho, Raquel gravou um novo vídeo, em que disse ter sofrido represálias da gestão da unidade de ensino por articular as denúncias. No TikTok, por exemplo, o conteúdo foi reproduzido mais de um milhão de vezes. “A escola pressionou os colegas dela que participaram do vídeo a assinar um papel dizendo que não tinham autorizado que ela publicasse as imagens. Disseram que esses estudantes e seus pais poderiam ser processados por difamar a instituição”, conta o produtor cultural Rodrigo Silva, pai de Raquel.
De acordo com Rodrigo, a informação sobre a intimidação foi dada pelos próprios alunos, que foram orientados pela escola a telefonar para Raquel com o intuito de convencê-la a apagar as imagens. “No dia 6 de junho, um dia após a denúncia, minha filha fez 18 anos. Uma pessoa da gestão insinuou que ela seria processada, por ser maior de idade. Conversei com um amigo que é advogado e, em seguida, formulei um e-mail para a Secretaria de Educação, informando o que estava acontecendo”, conta Rodrigo.
Pressionada pela instituição e pelos colegas, Raquel passou a lidar com o sentimento de exclusão no ambiente escolar. “Sempre ensinei para minhas filhas que temos deveres e direitos, como o de reivindicar melhorias do estado. Estou muito orgulhoso de Raquel”, completa o pai da estudante.
Por meio de nota, a Secretaria de Educação de Pernambuco informou que fará uma reunião com os gestores da escola sobre o ocorrido. Além disso, a pasta alegou que já promoveu uma detetização no local e que os equipamentos de ar-condicionado serão ligados em agosto. Leia o posicionamento na íntegra:
“A Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco informa que o serviço de dedetização foi feito assim que foi identificada a presença de roedores na Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Sylvio Rabelo, no Recife, e que as professoras de biologia estão realizando um trabalho de educação ambiental, que aborda a bioarte, tratando dos hábitos da população que gera proliferação de pombos no Parque 13 de Maio.
As imagens que aparecem no vídeo mostrando esgoto aberto são do início do ano. Portanto, a SEE esclarece que o esgoto está completamente fechado. Em relação às telas, a pasta comunica que já foi solicitado um orçamento para realizar a instalação delas. No que se refere à climatização das salas de aula, o órgão informa que a instalação de 38 aparelhos foi finalizada e a parte elétrica está em andamento, com previsão de conclusão até o mês de agosto.
Acerca do professor de física, a SEE informa que a gestão da escola já solicitou a reposição de um professor para o segundo semestre do ano letivo. Vale destacar que será criado um cronograma de reposição de aulas para que não haja prejuízo a nenhum estudante”.