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O governo federal começa a pagar nesta quarta-feira (6) o auxílio extraordinário para pescadores artesanais afetados pela estiagem na Região Norte. O direito é válido para quem tem seguro defeso concedido até 1º de novembro, referente ao ciclo passado (setembro de 2022) e ao atual.

O crédito será depositado em parcela única de R$ 2.640 na conta bancária do beneficiado. A primeira leva, a ser depositada hoje, será paga para quem tem Cadastro de Pessoa Física (CPF) terminado em 0, 1, 2 e 3.

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Na próxima quinta-feira (7), serão feitos os depósitos para beneficiados cujo CPF termina com os números 4, 5 e 6; e, na sexta-feira (8), serão contemplados os pescadores com CPFs terminados em 7, 8 e 9.

O benefício está previsto na Medida Provisória 1.192 e contempla pescadores que moram nos estados do Acre, Amazonas, Amapá e Pará. A seca pela qual passa a região amazônica é considerada pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) como a pior dos últimos 43 anos.

Municípios atendidos

Acre: Acrelândia, Assis Brasil, Brasiléia, Bujari, Capixaba, Cruzeiro do Sul, Epitaciolândia, Feijó, Jordão, Mâncio Lima, Manoel Urbano, Marechal Thaumaturgo, Plácido de Castro, Porto Acre, Porto Walter, Rio Branco, Rodrigues Alves, Santa Rosa do Purus, Sena Madureira, Senador Guiomard, Tarauacá e Xapuri.

Amazonas: Anori, Atalaia do Norte, Autazes, Barcelos, Barreirinha, Benjamin Constant, Beruri, Boa Vista do Ramos, Boca do Acre, Borba, Carauari, Careiro, Careiro da Várzea, Coari, Codajás, Eirunepé, Envira, Fonte Boa, Guajará, Humaitá, Ipixuna, Iranduba, Itacoatiara, Itamarati, Japurá, Juruá, Jutaí, Lábrea, Manacapuru, Manaus, Manicoré, Maraã, Nhamundá, Nova Olinda do Norte, Novo Airão, Novo Aripuanã, Parintins, Rio Preto da Eva, Santa Isabel do Rio Negro, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, São Sebastião do Uatumã, Silves, Tabatinga, Tapauá, Tefé, Uarini, Urucará e Urucurituba.

Amapá: Amapá, Tartarugalzinho

Pará: Alenquer, Almeirim, Aveiro, Belterra, Bom Jesus do Tocantins, Curuá, Faro, Itaituba, Jacareacanga, Juruti, Mojuí dos Campos, Monte Alegre, Óbidos, Oriximiná, Pacajá, Porto de Moz, Prainha, Rurópolis, Santarém e Terra Santa.

As gravuras rupestres que apareceram com a seca no Rio Negro são testemunhos do modo de vida dos povos que viviam na região de Manaus no período pré-colonial, é o que afirma o arqueólogo Jaime Oliveira, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Esta é a segunda vez que afloram as gravuras do sítio arqueológico Ponta das Lajes, com data estimada de 2 mil a mil anos. O primeiro registro foi em 2010, durante seca similar à que ocorre este ano. Segundo Oliveira, desta vez no entanto foi possível observar quantidade maior de figuras.

Localizado às margens do Rio Negro, o sítio tem área de aproximadamente 150 mil metros quadrados (m²), que comporta uma praia coberta de lajes de pedra. No bloco é possível observar gravuras que reproduzem rostos humanos, imagens de animais, além de cortes nas rochas que mostram resultados de oficinas líticas, onde os povos indígenas fabricavam as ferramentas que usavam, como machadinhas.

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À Agência Brasil, Oliveira disse que além de ser um local onde as populações pré-coloniais fabricavam artefatos líticos, utilizando os amoladores, polidores fixos, em depressões ou cavidades e incisões, os símbolos históricos nas rochas também eram utilizados pelos povos para registrar seus comportamentos sociais.

“Os locais que têm essas gravuras representam e são testemunho do modo de vida de populações pré-coloniais. Nesse sítio em especial, Ponta das Lages, temos dois contextos bem distintos - um onde há locais com oficinas líticas, que são aqueles com marcadores, amoladores, polidores fixos, em que os grupos fabricavam suas ferramentas, especialmente a partir da técnica de polimento, e outro com as gravuras rupestres, que tinham mais a função de ser um meio de comunicação social entre os grupos. As gravuras permitiam a comunicação entre um grupo e também, de forma externa, com outros”, complementou Oliveira.

Também já foram encontrados no barranco pedaços de peças de cerâmicas. Segundo Oliveira, a data delas é feita com base na comparação com outras peças e registros encontrados em sítios similares, como o Caretas, no Rio Urubu, no município de Itacoatiara, a 175 quilômetros de Manaus, na Reserva de Preservação Permanente Natural (RPPN) Dr. Daisaku Ikeda.

“Essas gravuras rupestres não são possíveis de serem datadas, no entanto, a gente estabelece uma cronologia e uma datação relativa, a partir da associação com as ocupações em sítios limítrofes como Ponta das Lages. Ao lado desse sítio temos mais três - O Lages, Daisaku Ikeda e o Porto Encontro das Águas”, afirmou o arqueólogo. “Essas gravuras rupestres têm datação relativa de aproximadamente 2 mil a mil anos. Elas pertencem aos grupos, aos povos originários, aos povos nativos que viviam nessa região em um passado bem distante. Já temos um aprofundamento das pesquisas arqueológicas, que conseguem demonstrar que essa região foi densamente ocupada no período pré-colonial. Tínhamos organizações de sociedades bem complexas e podemos verificar isso a partir também do sítio Ponta das Lajes, dada a complexidade de produção dessas gravuras”, informou.

Preservação

O sítio está situado na região do bairro Colônia Antônio Aleixo e é frequentado por moradores como opção de lazer, em razão do areal que contorna a laje de pedra. Ao redor, é possível ver lixo acumulado pelos visitantes que vão à área em dias de lazer para banhar-se no rio e pescar. Em nota, o Iphan informou que já realizou atividades com voluntários para a retirada de lixo do local.

O instituto disse ainda que mantém rotina de vistoria e fiscalização em Ponta das Lajes e que já acionou os órgãos de segurança para evitar possíveis danos aos bens arqueológicos, especialmente a Polícia Federal e a Secretaria de Segurança Pública de Manaus.

De acordo com o Iphan, a vazante do rio se apresenta como oportunidade para identificação, reconhecimento e atualização para fins de pesquisa e fomento do patrimônio arqueológico da região. O instituto lembra que a situação também “demanda total e irrestrita solidariedade às/aos amazonenses atingidas/os pelos efeitos da severa estiagem em curso.”

“Consideramos o momento oportuno para o fortalecimento dos trabalhos de arqueologia no Amazonas e na região, principalmente aliando educação patrimonial à ambiental, em virtude dos impactos que as mudanças climáticas podem ter no patrimônio arqueológico, além de sempre valorizar o significado que esses territórios têm para os povos originários”, disse a superintendente do Iphan no Amazonas, Beatriz Calheiro de Abreu Evanovick.

Seca

O estado do Amazonas enfrenta seca severa. De acordo com a Defesa Civil, todos os 62 municípios do estado permanecem em situação de emergência. Divulgado quarta-feira (22), boletim informa que são 598 mil pessoas e 150 mil famílias afetadas. No período de 1º de janeiro a 20 de novembro deste ano, foram registrados 19.404 focos de calor no estado, dos quais 2.805 na região metropolitana de Manaus.

Nessa quinta-feira (23), a chuva retornou à capital amazonense, depois de a cidade ficar, nos últimos dias, sob uma nuvem de fumaça causada por incêndios. A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é que as chuvas se estendam até o fim de semana na capital amazonense.

O Rio Negro, que em 27 de outubro atingiu cota mínima histórica na medição do Porto de Manaus, com 12,70 metros, vem subindo aos poucos. Ontem, o nível estava em 13,47 metros.

O aumento no volume do leito do rio é aguardado por pescadores e ribeirinhos que desejam retomar suas atividades. Eles enfrentam dificuldades de locomoção e relatam sofrer “abandono” por parte do poder público local e estadual. Entre os problemas enfrentados estão a falta de cestas básicas, de acesso à água potável e energia elétrica. 

 

A situação crítica do Rio Negro, no Amazonas, tem afetado a vida da população ribeirinha local que enfrenta problemas de acessibilidade para sair e voltar às suas comunidades. Na Marina do Davi, principal terminal público de Manaus para deslocamento a comunidades ribeirinhas, - a exemplo de Igarapé, Tarumã Mirim, Praia da Lua e Praia do Tupé -, o cenário é de muita dificuldade para a população que precisa chegar a diferentes locais.

Na Marina, após descer uma ladeira, os passageiros têm de caminhar quase um quilômetro atravessando lama, bancos de areia, pontes precárias de madeira, em um percurso arriscado, até chegar ao local onde aguardam os pequenos barcos que ainda conseguem fazer a travessia. É o caso da dona de casa Madalena Soares Fernandes, de 73 anos, que toda vez que precisa se deslocar enfrenta essa saga. Moradora de Tarumã, dona Madalena reclamou à Agência Brasil sobre a dificuldade de caminhar para chegar até o local de embarque.

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“É muita dificuldade, com muita areia. Está difícil de chegar em casa, está horrível. Vamos esperar, não é?”, disse a dona de casa referindo-se à volta do período de chuva.

Segundo dona Madalena, já são quase três meses enfrentando essa situação. Ela relatou ainda ter vivido uma seca similar, em 2010, mas de curta duração. “Em 2010 deu, mas não foi tanto quanto neste [período], entendeu? Foi uma seca grande, mas rápida. Essa aqui não, está sendo demorada”, disse.

Entre as compras que tenta levar para casa está um garrafão de água. Para auxiliar no transporte, ela contratou uma pessoa para carregar o saco com ração para as galinhas que cria. Entre sorrisos, dona Madalena contou que após o desembarque em Tarumã precisaria caminhar cerca de três horas para chegar em casa, já que, com o rio seco, o barco não consegue entrar na comunidade. No caminho, não contará com o auxílio do filho que mora com ela, para transportar as compras.

“Quando está cheio, o barco vai até perto de casa e agora acho que demora umas três horas para chegar”, afirmou. “E ele [o filho] nem está aqui, só vamos eu e Deus”, completou,

O cenário desafiador também gera oportunidades diversas para os moradores locais, que encontram na dificuldade vivenciada por uns a oportunidade de gerar renda. É o caso de Leandro da Silva, de 27 anos, que trabalha na Marina carregando mercadorias de quem quer atravessar para as comunidades. Ele foi contratado para transportar a ração das aves de dona Madalena.

“A gente carrega tudo, tanto variedades quanto mudanças e dá para fazer uma moeda”, disse Leandro à Agência Brasil. Segundo o jovem, o expediente começa bem cedo e acaba, em geral, por volta das 17h, em razão das dificuldades para voltar à comunidade.

Na volta, ele segue um caminho similar ao traçado por dona Madalena. “A maior dificuldade é na comunidade - o que era feito em 15 minutos você faz em uma hora de perna, areia, praia, lama”, observou Leandro, refletindo sobre a situação vivenciada na marina. “A seca quebra as pernas de todo mundo, tem gente que sobrevive de flutuante e pode ver, tudo parado. As lanchas não passam, agora só as rabetinhas (tipo de embarcação), ainda encalhando porque está seco”, resumiu.

A situação dos flutuantes, encalhados na Marina do Davi desde outubro, também é preocupante. Localizada no bairro Ponta Negra, às margens do Igarapé do Gigante, a marina também é utilizada para passeios turísticos no Rio Negro.

Um grupo de 56 barqueiros, organizados em torno da Cooperativa dos Profissionais de Transporte Fluvial da Marina do Davi (Acamdaf), presta tanto serviços para as comunidades, quanto realiza passeios turísticos na região.

Um dos cooperativados, João da Rocha Lopes, 52 anos, também disse à Agência Brasil que só tinha visto uma seca similar em 2010, mas com impacto muito menor. Parado desde outubro, ele contou que está sobrevivendo como pode.

“A gente se vira com o que tem, com o que conseguiu ganhar e guardar um pouquinho, não é? Vai se virando, afirmou. “Perdeu o comércio, perderam muitas áreas". Por exemplo, o Uber parou o movimento. Alguns colegas nossos ainda estão trabalhando na rabeta. A gente trabalha com sete comunidades e os transportes estão sendo feitos por meio de rabetinhas, que andam praticamente na lama. E eles [os moradores] têm necessidade de ir e vir, porque precisam comprar alimentos, remédios, precisam fazer essa locomoção".

Seca

Após a volta de nuvens de fumaça em pontos de Manaus durante o fim de semana, o Instituto Nacional de Meteorologia lançou alerta de perigo para a possibilidade de chuvas intensas na capital amazonense. O alerta, divulgado nessa segunda-feira (20), vale até esta terça (21) e também abrange regiões dos estados do Acre, de Mato Grosso, do Pará, de Rondônia e Roraima.

Segundo o Inmet, o alerta vale para as regiões do vale do Acre, leste rondoniense, centro amazonense, sudoeste amazonense, norte mato-grossense, sul amazonense, norte amazonense, madeira-guaporé, sul de Roraima, vale do Juruá,e sudoeste paraense.

Em Manaus, a nuvem de fumaça que deixou o céu cinzento voltou no sábado (18) e pôde ser observada até a manhã de ontem. No início da tarde, a cidade registrou chuva em pontos isolados. Segundo o monitoramento do Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva), da Universidade do Estado do Amazonas, a qualidade do ar em boa parte da capital ficou moderada.

O estado do Amazonas enfrenta seca severa, com o Rio Negro alcançando o pior marca em 121 anos, quando começaram as medições. No dia 26 de outubro, a cota do rio chegou ao nível mais baixo registrado, ficando em 12,7 metros. No início de novembro começou a subir, ficando novamente acima dos 13 metros. A última medição registrada pelo Porto de Manaus, no dia 17 deste mês, mostrou recuo no volume, com a calha do Rio Negro ficando em 12,96 metros.

De acordo com o mais recente boletim divulgado pela Defesa Civil do Amazonas, todos os 62 municípios do estado permanecem em situação de emergência. São 598 mil pessoas e 150 mil famílias afetadas.

O governo do Estado de Mato Grosso decretou situação de emergência ambiental por 60 dias devido às altas temperaturas. Segundo o decreto nº584, publicado hoje, o objetivo é buscar apoio do governo federal para reforçar as ações no combate aos incêndios florestais que vêm ocorrendo no Estado. O governo explicou, em nota, que a decisão considera as previsões de altas temperaturas e baixa umidade para os próximos dias, que favorecem a ocorrência dos incêndios.

"O documento é um reforço ao Decreto nº 579/2023, que determinou a prorrogação do período proibitivo para queimadas no Estado até 30 de novembro, para atender à exigência do governo federal no pedido de apoio para combate aos incêndios", afirmou o governo mato-grossense.

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"Dessa forma, as autoridades competentes, coordenadas pelo governo do Estado, ficam autorizadas a tomar todas as medidas necessárias à prevenção e ao combate aos incêndios florestais, como a compra de bens e materiais, com dispensa de licitação."

Um dia depois de atingir o mais baixo nível da história, o Rio Negro, um dos principais rios amazônicos, continua baixando. Na manhã desta terça-feira (17), o rio chegou à marca de 13,49 metros, dez centímetros a menos do que na manhã de segunda, em Manaus, capital do Amazonas. É o nível mais baixo em 121 anos, desde que o monitoramento começou a ser feito.

As chuvas esparsas que vêm caindo na região de Manaus já ajudaram a melhorar a qualidade do ar na capital, mas não detiveram a queda no nível dos mananciais. A seca deste ano é a pior da história no Estado.

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O monitoramento é feito diariamente pela administração do porto de Manaus. A medição do fim de semana mostrou queda de 13 cm no sábado, menos 9 cm no domingo e menos 10 cm na segunda. A queda se repetiu na manhã desta terça. No último dia 10, o Rio Negro tinha cota de 14,29 m, indicando baixa de 80 centímetros em uma semana. A previsão é de que as chuvas abundantes caiam apenas no final do mês de outubro.

Embora poucas, as chuvas dos últimos dias melhoraram o cenário das queimadas no Estado. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do dia 2 ao dia 8 de outubro, o Estado registrou 1.978 focos de incêndio. Do dia 9 ao dia 15, o número total de focos no estado caiu para 856, uma redução de quase 60%. Nesta segunda, foram registrados apenas 11 focos de queimadas no Estado.

O ar de Manaus, que na semana passada foi considerado um dos piores lugares do mundo para se respirar devido à fumaça das queimadas, também está mais respirável. Segundo o monitoramento de qualidade internacional World's Air Polution, a qualidade do ar saiu da classificação de "perigosa" para "moderada" e "boa", conforme a região da capital. Nos últimos três dias, choveu média de 30,8 milímetros na capital amazonense.

O período de seca que atinge a região Norte do País já afeta a navegação do rio Amazonas e pode reduzir a capacidade de transporte por ele em 40% em duas semanas e até 50% até outubro. A estimativa é da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (Abac), que monitora a vazão em três diferentes pontos, tendo identificado queda diária de até 35 centímetros, enquanto a média para este período é de 25. A cobrança do setor é por ações emergenciais, que, segundo o governo, estão sendo estudadas.

A seca é sazonal, sendo observada todos os anos. Neste, porém, teria chegado mais cedo do que o esperado.

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Desde agosto, a Marinha do Brasil decidiu restringir a navegação em rios no Estado do Amazonas, atingindo três pontos: a passagem do Tabocal, a 339 km de Manaus e as enseadas do Rio Madeira Enseada e do Rio Purus com o Rio Solimões.

O medo do setor de navegação é que o próximo afetado será o próprio Rio Amazonas, principal hidrovia da região.

No pior cenário, em função da segurança, não será possível a navegação pelo rio Amazonas. Ocorre que os navios que navegam por ele são os que permitem o escoamento da produção e mantêm o abastecimento da região com insumos básicos para toda a população e para a indústria local. No ano passado, a redução de capacidade de transporte foi, em média, de 40%, contra os 50% estimados para este ano. Os produtos que sofrem mais impacto são os mais pesados, como alimentos (arroz, congelados e resfriados), cimento, metais, cerâmica, porcelanato e fertilizantes.

"Manaus é uma ilha, não tendo produção de itens como alface e arroz. Nós é que levamos os insumos para lá, o ferro, a areia, o cimento. E também tiramos a produção feita lá. E como não estamos conseguindo navegar com o volume de carga normal, já prevemos para duas semanas uma redução de 45% da nossa capacidade de transporte", afirma o diretor-executivo da Abac, Luis Fernando Resano.

A crise atinge a população, podendo refletir em aumento direto do preço dos produtos, pela escassez e por aumento no frete. É impactada, ainda, a Zona Franca de Manaus, que não consegue escoar seus produtos, o que, dependendo da duração da crise, pode causar desabastecimento no mercado no Sul e Sudeste, em especial no "Black Friday".

Setor cobra medidas

Resano diz que, apesar de o problema da estiagem ter sua maior parte fora do controle humano, há iniciativas que podem ser usadas como mitigatórias. Para este momento, afirma ser necessária uma dragagem emergencial na enseada do Rio Madeira no trecho em que alcança o Amazonas. "Aquela área está assoreada, com acúmulo de areia. Precisaria de dragagem para abrir canal para que navios possam navegar próximo da capacidade", diz.

O Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) entrou em contato com os ministérios dos Transportes e de Portos e Aeroportos, já que ambos têm iniciativas ligadas ao setor. A pasta de Portos diz que o órgão responsável pela segurança da navegação é a Marinha do Brasil, que indica as possibilidades ou possíveis restrições e a impraticabilidade de percorrer determinados trechos.

"O Ministério de Portos e Aeroportos, juntamente com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), acompanha a situação e está preparado para fazer a intervenção necessária nos trechos possivelmente indicados", afirma a nota.

Tecnologia pode ser aliada

Para Mario Veraldo, CEO da MTM Logix e ex-diretor da Maersk, a saída está na tecnologia somada à "perspicácia estratégica". Ele cita como exemplo as torres de controle da cadeia de suprimentos. "Elas oferecem uma supervisão centralizada de toda a cadeia de suprimentos, permitindo que as empresas monitorem suas remessas, avaliem os níveis de estoque em tempo real e antecipem possíveis interrupções", diz.

Paralelamente às torres de controle, defende sistemas de navegação avançados. "Com os níveis de água do Amazonas mostrando flutuações imprevisíveis, a margem para erros de navegação diminuiu. Esses sistemas de última geração, equipados com dados em tempo real sobre profundidades de água e possíveis obstruções, garantem que os navios naveguem pelos desafiadores terrenos do rio com segurança e eficiência", explica Veraldo.

Outra estratégia apontada por Veraldo é a adoção de embarcações menores. "Embora a tecnologia ofereça uma infinidade de soluções, às vezes, a resposta está em revisitar métodos tradicionais com uma perspectiva renovada", defende. Mesmo com custos maiores, as embarcações menores permitem navegação em situações mais desafiadoras.

A comunidade internacional se comprometeu, nesta quarta-feira (24), na ONU, a doar US$ 2,4 bilhões (R$ 11,9 bilhões, na cotação atual) - dos US$ 7 bilhões (R$ 34,7 bilhões) necessários - para aliviar a fome no Chifre da África, causada por uma seca histórica e conflitos contínuos.

"A fome foi evitada" graças aos esforços das comunidades locais, das organizações humanitárias e ao apoio dos doadores, segundo o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA, na sigla em inglês).

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Mais de 32 milhões de pessoas em Etiópia, Quênia e Somália dependem de ajuda humanitária para sobreviver, após a pior seca em 40 anos, com falta de chuvas nos últimos cinco anos.

A ajuda prometida será usada para levar alimentos, água, cuidados médicos e nutricionais, e serviços de proteção às comunidades mais afetadas por uma combinação de fatores, como a seca, conflitos e crise econômica.

Mas esse dinheiro é insuficiente, alertou a ONU, que estima em US$ 7 bilhões o custo da ajuda humanitária necessária para a região ao longo de 2023.

Caso esse montante não seja alcançado, "as operações de emergência serão paralisadas e as pessoas vão morrer", afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na abertura da conferência de doadores.

O Chifre da África - região formada por Etiópia, Eritreia, Somália, Djibuti, Quênia e Sudão - é o epicentro de uma das piores emergências climáticas do mundo, de acordo com a ONU.

Seus habitantes "estão pagando um preço exorbitante por uma crise climática que não causaram", declarou Guterres.

Embora as chuvas recentes estejam começando a atenuar a seca, também estão causando inundações que já afetaram mais de 900 mil pessoas, apontou a ONU. E o fenômeno El Niño pode gerar mais deslocamentos, mortes e doenças no fim do ano.

No entanto, levará anos para que a região se recupere da seca histórica, portanto, representantes de ONGs, Estados e especialistas buscam soluções duradouras para que a população se adapte às mudanças climáticas.

Segundo um estudo publicado no fim de abril pela World Weather Attribution (WWA), a seca é resultado de uma união inédita de falta de chuva e altas temperaturas, consequência direta das emissões de gases que alimentam o aquecimento global.

O chão estala quando Guillermo Cuitino atravessa as terras secas que deveriam estar verdes e exuberantes nesta época do ano. Ele pega um pé de soja e facilmente pulveriza suas folhas com as mãos. "A seca este ano foi extrema", disse o engenheiro agrônomo esta semana, na fazenda onde trabalha em Urquiza, uma cidade a cerca de 230 quilômetros de Buenos Aires.

Cuitino normalmente tem uma política de não caminhar sobre terra cultivada, mas está tudo tão seco agora que não há absolutamente nada para danificar: nem as ervas daninhas estão crescendo. Essa cena se repete em fazendas por toda a Argentina, onde a colheita deveria estar a todo vapor, mas que foram arruinadas por meses de tempo seco.

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Os agricultores estão lutando para sobreviver, e uma queda brusca na expectativa de receita com exportação de produtos agrícolas será um duro golpe para a instável economia argentina. "Esta seca não tem precedentes", disse o agricultor Martín Sturla, de pé no meio de seus campos empoeirados na vizinha San Antonio de Areco.

"É dantesco. Ninguém nunca viu nada assim."

A situação é especialmente desastrosa porque a Argentina já vinha sofrendo com dois anos de clima excepcionalmente seco. "Os últimos dois anos foram ruins, mas sempre tivemos algumas chuvas que nos permitiram sobreviver", diz Cuitino. Até os especialistas estão tendo dificuldade em se adaptar à crise.

"Não há palavras para descrever o impacto de um ano agrícola marcado por recordes históricos: escassez de chuva no verão pelo terceiro ano consecutivo, ondas de calor que persistem até meados de março, e geadas que chegaram até outubro de 2022 e já em fevereiro de 2023", segundo um relatório recente da Junta Comercial de Rosário, que reduziu drasticamente as estimativas para a colheita deste ano. "As condições das plantações, animais e recursos naturais deterioram a cada semana, e nos deixaram à beira do inverno com uma tempestade de prejuízos."

Em seu último relatório semanal, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires informou que a produção de soja deste ano será de aproximadamente 25 milhões de toneladas, uma queda de 44% em relação à média dos últimos cinco ciclos. A produção total de trigo, por sua vez, está prevista para 36 milhões de toneladas, uma queda de 31% em relação ao ano anterior.

Safras foram perdidas

Osvaldo Bo sentiu isso na própria pele em sua fazenda, em Urquiza. "Perdemos 90%", disse Bo, enquanto mostrava uma plantação seca de milho. "Nunca vi uma seca como esta, porque já houve secas em que não havia soja, grão, mas havia trigo e milho. Agora, porém, todas as safras foram perdidas."

Levando em conta as safras de soja, trigo e milho, que compõem 87% da produção de grãos da Argentina, o prejuízo chega a um total aproximado de US$14,4 bilhões (R$75,5 bilhões), segundo a Junta Comercial de Rosário.

Os Consórcios Regionais de Experimentação Agrícola informaram recentemente em um relatório que as condições atuais levarão a quase US$20,5 bilhões (R$107,5 bilhões) de prejuízo nas exportações. Embora muitos tenham se apressado em culpar o aquecimento global pela seca, os especialistas dizem que não é tão simples.

La Niña

"Por enquanto, não temos indícios de que se trata de mudança climática", diz Anna Sörensson, pesquisadora de mudanças climáticas no instituto de pesquisa CONICET, financiado pelo governo. "Pelo contrário, vemos que a precipitação aumentou em razão das mudanças climáticas."

Ela acrescenta que há "grande certeza" de que a atual seca tenha sido gerada pela condição climática conhecida como La Niña, que envolve um resfriamento do Pacífico central, levando a mudanças no clima de todo o mundo. O fenômeno durou muito mais do que o normal desta vez. Mesmo não sendo diretamente responsáveis pela seca, as mudanças climáticas ainda desempenham um papel, segundo a cientista.

"O que acontece em razão das mudanças climáticas é que as ondas de calor se tornam mais frequentes e mais intensas", disse Sörensson.

Segundo ela, isso significa que "o solo seca mais rapidamente".

A Argentina sofreu com o verão mais quente desde 1961, de acordo com o Serviço Meteorológico Nacional. Na capital, os moradores enfrentaram o verão mais quente desde o começo dos registros, em 1906.

Os agricultores estão tentando descobrir como seguir em frente. "Já fiz algumas projeções e não tenho dinheiro para pagar as contas do ano e plantar novamente", diz Jorge Bianciotto, que administra a fazenda onde Cuitino trabalha.

"Perdemos muito capital de giro, então o que estou fazendo agora é procurar financiamento para cobrir o buraco financeiro, solicitando crédito na esperança de que o próximo ano seja melhor", disse Bianciotto.

"A gente sempre acredita que o que está por vir é melhor do que o que já passou." (Com Daniel Politi)

A seca sem precedentes que atinge o Chifre da África pode causar até 135 mortes por dia na Somália entre janeiro e junho deste ano, alertaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Unicef em um estudo publicado nesta segunda-feira (20).

Neste mês a OMS afirmou que quase 100.000 pessoas enfrentam um nível catastrófico de fome na Somália devido à pior seca em quatro décadas na região.

Este estudo - que é uma projeção feita com um modelo estatístico - estima que entre 18.100 e 34.200 pessoas podem morrer durante o primeiro semestre.

A investigação também alertou que condições climáticas extremas podem ter causado "mortes em excesso" de 43.000 pessoas no ano passado, fazendo uma comparação com a seca de 2017.

O estudo, encomendado pelo Unicef e pela OMS, foi realizado pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, em conjunto com a Universidade Imperial de Londres.

"Estamos em uma corrida para evitar mortes e salvar vidas", disse Mamunur Rahman Malik, delegado da OMS para a Somália.

Várias regiões do Quênia, Etiópia e Somália sofrem com a falta de chuva há cinco estações consecutivas. Esta seca matou milhões de cabeças de gado, destruiu plantações e forçou mais de um milhão de pessoas a deixar suas casas em busca de comida e água.

De acordo com as previsões meteorológicas, a seca pode se estender para uma sexta temporada sem chuvas, confirmando os temores das agências humanitárias que alertaram sobre uma catástrofe humanitária iminente.

Uma comitiva de ministros do governo federal chega nesta quinta-feira (23) ao Rio Grande do Sul, onde vai visitar a cidade de Hulha Negra, na fronteira com o Uruguai. Nessa quarta (22), o governo anunciou a liberação de R$ 430 milhões para combater os efeitos da estiagem que afeta cerca de 300 municípios do estado pela terceira safra consecutiva.

Os recursos serão aplicados na agricultura, no desenvolvimento social e na defesa civil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou o repasse, após reunir-se no Palácio da Alvorada com ministros. Os participantes do encontro avaliaram as demandas de prefeitos, deputados, vereadores e entidades de trabalhadores do campo.

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Em entrevista à Agência Brasil na última terça-feira (21), o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, disse que dos municípios atingidos, 28 já apresentaram o seu plano de prioridades. Para atender a esses municípios, foram disponibilizados R$ 6,4 milhões. Os recursos estão sendo utilizados para liberação de carros-pipas e compra de cestas básicas.

As maiores perdas afetam as culturas de soja e milho, ambas fundamentais para a economia do município. Também há comprometimento da produção de mel e prejuízos na pecuária de leite. Os impactos atingem pelo menos 1,2 mil propriedades rurais, sendo que mais de 800 são pequenas e estão em assentamentos.

Segundo o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), o prejuízo estimado é de quase R$ 5 milhões na pecuária de leite e de corte. Somados os danos nas lavouras, o impacto econômico ultrapassa R$ 38 milhões. Ainda segundo a Emater, somente na soja, as perdas já alcançam 40% na produção de Hulha Negra.

A expectativa é de que, durante a viagem, sejam anunciadas medidas de auxílio aos atingidos pela seca, entre elas uma linha de crédito emergencial para pequenos e médios produtores. No início de fevereiro, uma comitiva gaúcha esteve em Brasília em busca de ajuda para o estado.

Devem integrar a comitiva ao Rio Grande do Sul os ministros do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira; da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro; do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, além do presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edgar Pretto.

Forçada por sua família a se casar, a jovem Bisharo aguentou apenas cinco dias com o marido abusador antes de fugir de casa para o sul da Etiópia, território assolado pela seca.

Bisharo, um nome falso para proteger sua identidade, buscou ajuda na nova clínica para sobreviventes de violência sexual no hospital de Gode, um município na empoeirada região Somali da Etiópia.

É a área mais castigada pela pior seca dos últimos 40 anos no Chifre da África, região que deixou milhões de pessoas famintas e empobrecidas.

Segundo médicos e assistentes sociais, a seca provocou outro efeito: um aumento nos casamentos forçados e na violência sexual.

A Unicef garante que os casamentos infantis, ilegais no país, cresceram mais que o dobro nas quatro regiões mais atingidas pela seca durante a primeira metade de 2022, em uma comparação com os dados do ano anterior.

Para muitas famílias desesperadas, casar uma filha tem múltiplos benefícios: por um lado, reduz o número de pessoas para alimentar, por outro, o dote pago pela família do marido ajuda a cobrir as despesas.

A dote de Bisharo foi de 3.000 birr etíopes (cerca de US$ 56), disse a adolescente, originária de um vilarejo nos arredores de Gode.

"Meus pais e os pais do meu marido fecharam o acordo de casamento. Eu não sabia de nada. Ele se aproximou de mim antes e me pediu em casamento, mas eu recusei", disse ela.

O matrimônio com o homem de 20 anos, da família de seu pai e que já está na segunda esposa, aconteceu mesmo assim.

- "Me batia" -

"Moramos juntos durante cinco dias e ele me batia", disse a garota com as mãos cobertas por uma tatuagem temporária. "Me batia porque queria fazer sexo comigo, mas eu negava".

Ela ainda sente dor nas costas, nos ombros e na cabeça por conta dos abusos que sofreu após seu casamento, no começo do ano.

"Não consigo nem dormir de noite por causa da dor", lamenta.

Bisharo ficou refugiada na casa de seus vizinhos. O marido foi levado pela polícia, que exigiu a garantia do divórcio mesmo contra a vontade do pai dela.

"Meu pai me disse: 'se você se divorciar, não sou mais seu pai'", contou a jovem.

A segunda mais jovem de uma família de cinco irmãos está sozinha. "Só minha mãe pode entender meus problemas, mas não pode me apoiar porque tem medo do meu pai", disse Bisharo.

"Não recebi nenhuma ajuda dele, por isso vim para cá", explicou ela na clínica de Gode.

- "A violência é normal" -

Desde sua abertura em novembro, este pequeno complexo atrás do hospital local recebeu oito vítimas de estupro e quatro mulheres e jovens que escaparam da violência doméstica.

A seca contribuiu em muitos destes casos, analisou Fahad Hassan, médico da clínica.

Hassan acredita que os acampamentos temporários para pessoas desabrigadas pela seca colocam as mulheres em risco. "A violência é normal" nestes lugares, acrescentou o doutor, que já atendeu uma menina de sete anos violentada em um acampamento próximo.

Sahra Haji Mohammed, uma assistente social, assegurou que os ataques ocorrem quando os profissionais deixam as instalações "para comprar alguma coisa ou ao sair do vilarejo para ir buscar água".

A pobreza também contribui para a violência doméstica. "Vemos conflitos quando o marido vende itens do lar para comprar cigarros ou khat (uma folha levemente narcótica) por falta de dinheiro", diz ela.

As mulheres atendidas na clínica são só a ponta do iceberg, dizem funcionários do acampamento, explicando que muitas vítimas preferem ficar em silêncio pelo medo do estigma.

"Nós sabemos de casos de pessoas que não vêm até aqui mas que estão em suas casas e tentando se esconder. Nós sabemos. Nós tentamos dizer para elas que aqui é um centro que quer ajudá-las", disse Fahad.

Bisharo é a única sobrevivente que aceitou falar à AFP e incentiva as outras a seguirem seu exemplo.

Enquanto espera que cheguem os papéis de divórcio, vive com sua avó. Entretanto, quer começar a decidir novamente seu destino: "Quero me casar com alguém da minha idade".

Enfrentando calor e seca, que reduziram o volume dos rios, além da guerra na Ucrânia, que afetou o fornecimento de energia, a Europa começa a se preparar para um inverno difícil sem o abastecimento de gás russo. Alemanha, França, Reino Unido e Suíça já anunciaram medidas para reduzir o consumo de energia e acumular reservas para o período mais frio do ano.

A Alemanha aprovou nesta quarta (24) uma norma que restringe o aquecimento em prédios públicos e proíbe a instalação de painéis publicitários luminosos por um prazo de seis meses. A Suíça estabeleceu uma meta voluntária de reduzir em 15% o consumo de gás até a chegada do inverno.

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O Reino Unido reconheceu que a pressão sob o sistema energético alcançou níveis "extremos", passando a projetar os piores cenários em caso de escassez, como restrições no fornecimento de gás às indústrias e centrais elétricas, resultando em cortes de energia para empresas e residências.

Alerta

Na França, o presidente, Emmanuel Macron, alertou que a população precisará fazer "sacrifícios" pelo fim do que chamou de "era de abundância", em sua primeira reunião de gabinete após as férias de verão. As iniciativas nacionais são parte de um esforço dos países europeus para superar a crise proveniente do apoio à Ucrânia na guerra, que entrou no sexto mês.

O envio de armas a Kiev e as sanções aplicadas à Rússia e a autoridades e personalidades ligadas ao presidente russo, Vladimir Putin, acenderam um alerta sobre um possível boicote de Moscou por meio do fornecimento de gás - principal matriz energética utilizada para o aquecimento residencial em certos países.

A preparação dos europeus começou a tomar forma em junho, quando os países da União Europeia chegaram a um acordo para reduzir o consumo de gás em 15% para diminuir a dependência energética da Rússia. A lei, que inicialmente previa medidas voluntárias, continha também um gatilho para ações obrigatórias, caso os objetivos não fossem alcançados.

A Rússia não chegou a anunciar um corte total no fornecimento de gás para a Europa, mas certas sinalizações aumentaram o nível de preocupação sobre o uso político do gás e já afetam o preço da energia: o megawatt-hora passou dos € 300 ontem, após anúncios da estatal russa Gazprom de que suspenderá o fornecimento de gás pelo NordStream 1, principal gasoduto da Europa, entre 31 de agosto a 2 de setembro, alegando razões técnicas e de manutenção.

O receio é o de que sem um recuo nas posições adotadas pela guerra na Ucrânia, os cortes aumentem, se tornem mais constantes ou mesmo definitivos, à medida que o inverno se aproxima. As consequências poderiam variar de apagões, frio extremo para parte da população e consequências econômicas para além do preço da energia.

Miséria

"Os governos ocidentais devem fazer um convite à miséria econômica em uma escala que testaria o tecido da política democrática em qualquer país ou enfrentar o fato de que o fornecimento de energia restringe os meios pelos quais a Ucrânia pode ser defendida", disse Helen Thompson, professora de Economia da Universidade Cambridge em artigo publicado no Financial Times.

Pela via política, líderes europeus tentam resistir. Em Paris, Macron afirmou que as dificuldades dos próximos meses seriam "o preço a se pagar" por defender a liberdade na Ucrânia. "Nosso sistema com base na liberdade em que nos acostumamos a viver, às vezes, quando temos de defendê-lo, pode significar fazer sacrifícios", afirmou.

Na terça-feira, 23, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou que a UE deve reafirmar sua unidade para frustrar os plano de Putin - que, segundo ele, aposta em uma ruptura do apoio do bloco à Ucrânia. Para Borrell, Putin observa a "relutância" dos europeus "em arcar com as consequências de apoiar a Ucrânia", o que obriga a UE a "diluir os custos" do conflito.

Apoio

Borrell enfatizou a necessidade de "assumir e distribuir os custos" da energia e defendeu uma reforma na definição dos preços, que atualmente estão indexados aos preços do gás. "O presente mais bonito que a Europa pode dar à Rússia agora é pagar pela eletricidade ao preço do gás", concluiu.

Uma reunião entre chanceleres e ministros da Defesa da UE está marcada para 30 e 31 de agosto, em Praga, para discutir o apoio à Ucrânia e a continuidade da campanha de pressão contra a Rússia. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Metade do território da China enfrenta uma seca, incluindo áreas do normalmente gélido planalto do Tibete, de acordo com os dados oficiais, em meio a uma onda calor sem precedentes no país.

Um gráfico do Centro Nacional do Clima mostrou na quarta-feira (24) que amplas áreas do sul da China, incluindo partes do Tibete, estavam em condições de seca de "grave" a "extraordinária".

A área mais afetada, a bacia do rio Yangtze, que vai da província de Sichuan (sudoeste) até Xangai (costa leste), tem quase 370 milhões de habitantes e abriga grandes centros industriais, como a megacidade de Chongqing.

A segunda maior economia do planeta foi muito afetada recentemente por temperaturas recorde, inundações e secas, fenômenos extremos que os cientistas afirmam que serão cada vez mais intensos e frequentes devido à mudança climática.

O sul da China enfrenta a onda de calor mais prolongada desde o início dos registros de dados meteorológicos há mais de 60 anos, informou esta semana o ministério da Agricultura.

Os cientistas afirmam que a intensidade, extensão e duração desta onda de calor podem transformá-la em uma das mais graves do mundo.

A Administração Meteorológica da China prevê que as temperaturas devem prosseguir acima de 40 graus Celsius nas próximas 24 horas em Chongqing e nas províncias de Sichuan, Jiangxi e Zhejiang.

Em Sichuan, o termômetro atingiu a temperatura recorde de 43,9 graus na quarta-feira, segundo serviço meteorológico provincial.

- Pressão alimentar -

Algumas regiões tiveram um alívio no calor. Partes do sudoeste de Sichuan registraram fortes chuvas durante a noite, o que obrigou a retirada de quase 30.000 moradores da área, segundo o canal estatal CCTV.

No sudeste do país, o tufão Ma-on tocou o solo na manhã desta quinta-feira na província de Guangdong e em Hong Kong.

O Conselho de Estado da China anunciou subsídios de 10 bilhões de yuanes (1,45 bilhão de dólares) para ajudar os produtores de arroz afetados pela seca que, segundo as autoridades, representa uma "grave ameaça" para a colheita de outono (hemisfério norte, primavera no Brasil).

A China produz mais de 95% do arroz, trigo e milho que consome, mas uma queda na colheita pode levar o país a recorrer às importações e aumentar a pressão em um mercado global já tenso pela guerra na Ucrânia.

As autoridades defenderam "garantir água potável para a população e garantir água para a irrigação agrícola".

A rede CCTV exibiu na quarta-feira imagens de um serviço de carros-pipa para moradores e agricultores nas zonas rurais de Sichuan e Chongqing.

Além disso, estas regiões enfrentam desde a semana passada com incêndios florestais, exacerbados pelas temperaturas elevadas e a falta de água.

Os fazendeiros também foram afetados. As autoridades de Chongqing prometeram medidas de emergência para proteger as fazendas de porcos.

Um vídeo que mostra uma mulher de Sichuan chorando porque todas as suas galinhas morreram devido ao calor e os apagões viralizou nas redes sociais.

Temperaturas de até 45ºC levaram diversas províncias a restringir o fornecimento de energia às fábricas para garantir o serviço aos moradores, cuja demanda disparou com o uso do ar acondicionado.

Além disso, a redução do leito do rio Yangtze afeta a produção de barragens hidrelétricas.

Em partes de Sichuan e Chongqing, os moradores começaram a dormir em estacionamentos e estações do metrô em busca de temperaturas mais amenas.

Uma seca no estado americano do Texas secou o leito de um rio que atravessa o Parque Estadual do Vale dos Dinossauros e revelou pegadas de répteis gigantes que viveram há 113 milhões de anos, anunciou um funcionário nesta terça-feira.

Imagens divulgadas no Facebook mostram pegadas de três dedos que descem pelo leito de um rio seco. Trata-se de "um dos mais longos conjuntos de pegadas de dinossauros do mundo", diz a legenda.

Stephanie Salinas Garcia, do Departamento de Parques e Vida Selvagem do Texas, explicou que o clima seco os tornou visíveis: “Devido às condições excessivas de seca no verão passado, o rio secou completamente na maioria dos lugares, permitindo que mais pegadas fossem descobertas no parque. Em condições normais do rio, essas pegadas novas ficam sob a água e geralmente estão cobertas por sedimentos."

A maioria das pegadas recém-reveladas corresponde ao Acrocanthosaurus, de 6.350 kg quando adulto e cerca de 4,5 metros de altura. Outro dinossauro, o Sauroposeidon, também passeou pelo parque. Ele tinha 18 metros de altura e pesava 44 toneladas.

Localizado a sudoeste da cidade de Dallas, o parque ficava à beira de um antigo oceano e os dinossauros deixavam suas pegadas na lama, segundo seu site. Estão previstas chuvas, o que voltará a cobrir as pegadas.

“Embora em breve elas vão ser novamente enterradas pela chuva e pelo rio, o Parque Estadual do Vale dos Dinossauros continuará protegendo essas pegadas de 113 milhões de anos, não apenas para esta geração, mas também para as gerações futuras", ressaltou Stephanie.

O Fórum Econômico Mundial destaca, em seu site, alguns efeitos "inesperados" da seca na Europa. O texto nota que há secas recordes pelo mundo, com a Europa enfrentando um calor prolongado e ondas de calor. Um dos efeitos é visto na França, onde a pior seca já registrada prejudica a produção de trigo. Apenas a metade da produção atual de trigo no país estava em "condição boa ou excelente" em 8 de agosto.

Por outro lado, as altas temperaturas aceleraram a evaporação da água, o que garante aos produtores de sal na região francesa de Guerande produção recorde de flor de sal, que poderia quase dobrar neste ano.

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Já na Alemanha, a falta de chuvas provocou queda no nível do Reno, uma importante artéria fluvial do país. Isso provoca atrasos e custos mais altos, aponta o Fórum Econômico Mundial.

As embarcações estão recebendo apenas de 30% a 40% de sua capacidade, para evitar problemas nos trajetos, no rio que corta o coração industrial da Alemanha, dos Alpes Suíços até o Mar do Norte, transportando grãos, produtos químicos e carvão, por exemplo, e com potencial impacto negativo no crescimento do país.

A seca também coloca pressão sobre a oferta de energia, lembra o texto. A geração de hidrelétricas no continente caiu 44% na Espanha, segundo a BBC, e 20% em geral no continente.

O Guardian ainda reportou que a falta de água suficiente para refrigerar usinas nucleares levou algumas usinas na França a reduzir a produção.

Na Itália, foram encontradas duas bombas não detonadas da Segunda Guerra, no leito do rio Pó, perto de Mântua.

Já na Espanha, perto de Barcelona, uma igreja romanesca do século nono voltou a ser vista, intacta. A leste de Madri, o reservatório Buendía deixa ver agora ruínas de uma vila. Na província de Cáceres, no centro espanhol, a seca permitiu que se visse um ciclo de pedras pré-histórico, apelidado de Stonehenge espanhol, no reservatório de Valdecanas.

O papa Francisco pediu neste domingo (14), durante a oração do Angelus, ajuda internacional para combater a seca "mortal" que assola a Somália e a região do Chifre da África e que causou um milhão de deslocados, segundo a ONU.

O pontífice de 85 anos alertou para a situação de "grave crise humanitária" que existe na Somália, bem como em vários países vizinhos.

"Os habitantes da região, que vivem em condições precárias, estão agora em um momento mortal por causa da seca".

"Espero que a solidariedade internacional possa responder a esta emergência", pediu.

"Infelizmente, a guerra distrai a atenção e os recursos, mas esses são os objetivos que exigem o máximo envolvimento: o combate à fome, saúde, educação".

Mais de 755.000 pessoas foram deslocadas na Somália este ano devido à grave seca no Chifre da África, de acordo com o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados e o Conselho Norueguês de Refugiados (NRC).

Com isso, já são mais de um milhão de deslocados desde janeiro de 2021, quando começou a atual seca, a pior em 40 anos.

As últimas quatro temporadas de chuvas desde o fim de 2020 foram insuficientes e atualmente 7,1 milhões de somalis, quase metade da população, passam fome, incluindo 213.000 que enfrentam uma situação muito crítica, segundo a ONU.

A Somália, um país mergulhado na violência, mal tem recursos para lidar com essa situação.

Além disso, rebeldes fundamentalistas islâmicos limitam o acesso de ajuda humanitária a algumas áreas do país.

A taxa de desnutrição disparou no sul e leste da Etiópia devido à seca, e mais de 185.000 crianças estão gravemente afetadas, anunciou a ONG Save the Children nesta quinta-feira (16).

Depois de quatro temporadas consecutivas sem chuva suficiente no Chifre da África, às vésperas de um quinto ciclo que se anuncia seco, esta região sofre a pior seca em 40 anos e uma grande crise alimentar está se formando no Quênia, Somália e Etiópia.

Mais de um milhão de pessoas precisam urgentemente de assistência nutricional nas regiões etíopes da Somali, Oromia, SNNP e no Sudoeste, explicou a ONG em comunicado.

A organização estima que existam 185.000 crianças sofrendo da forma mais mortal de desnutrição.

"As crianças – especialmente as mais jovens – estão sofrendo o peso de uma crise horrenda e multicausal na Etiópia", disse o diretor da ONG para o país, Xavier Joubert.

"Uma seca prolongada, crescente e debilitante está minando sua capacidade de recuperação, já sobrecarregada por um conflito extenuante e dois anos de pandemia de covid-19", acrescentou.

Na região Somali, uma das mais afetadas e onde quase não chove há 18 meses, a taxa de desnutrição aumentou 64% no ano passado, disse a Save The Children.

Esta seca afeta cerca de 8,1 milhões de pessoas na Etiópia, o segundo país mais populoso da África, que também sofre um conflito armado há 19 meses no norte do país.

A Save the Children estima que cerca de 30 milhões de pessoas, o equivalente a um quarto da população, precisam de assistência humanitária.

Somado a essas duras condições climáticas há o conflito na Ucrânia, que aumentou o preço do combustível e dos alimentos.

Diante da seca que ameaça suas colheitas e seus meios de subsistência, os curdos da Síria trouxeram de volta nesta sexta-feira (19) um ritual centenário para fazer chover.

Na cidade de Qamichli, no nordeste do país, residentes curdos, entre eles muitas crianças, marcharam pelas ruas com uma boneca de madeira vestida com tecidos coloridos, a chamada "noiva da chuva", e a encharcaram com água. Outros recitaram orações especiais.

Por séculos, a comunidade curda praticou esse ritual durante os períodos de seca no inverno. A cerimônia, abandonada nas últimas décadas, ressurgiu após várias estiagens e o recorde de falta de chuva na região.

“Abandonamos essa tradição há muito tempo, mas a recuperamos nos últimos dois anos devido à forte seca”, explicou Farhan Ahmad, um agricultor de 54 anos.

Hajji Suleiman, de 71 anos, lembra de ter realizado o ritual quando era criança, mas disse que as circunstâncias mudaram.

"Já estamos em pleno inverno e não choveu nenhuma vez!", destacou.

A maior seca dos últimos 91 anos é a principal ameaça à próxima safra de grãos do País. O plantio no Centro-Sul de culturas como a soja começa neste mês, mas, por conta da falta de chuvas, enfrenta dificuldades em vários locais. O risco climático já entrou no radar de economistas como um fator que pode pressionar os preços da comida e elevar os índices de inflação no ano que vem.

"Não vamos ter um cenário tão amistoso para alimentos, o que pode pressionar a inflação de 2022", afirma André Braz, coordenador de índices de preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Contando com o risco climático, o economista projeta uma inflação de alimentos ao consumidor de 8,71% para 2022. É um pouco mais da metade da que deve ser registrada neste ano, de 14,1%, complicando ainda mais a tarefa do Banco Central (BC) de cumprir a meta de inflação, de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

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"A falta de chuvas é uma das maiores preocupações dos produtores hoje", afirma Flávio Turra, gerente de Desenvolvimento Técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). A entidade reúne 58 cooperativas do agronegócio, com 185 mil agricultores, num dos principais Estados produtores de grãos do País.

No momento, a maioria dos agricultores do Paraná, por exemplo, está com os insumos em casa - adubos, sementes, herbicidas -, mas o clima não é favorável ao plantio. "Se a soja atrasar muito, pode comprometer o milho da segunda safra, que é plantado após a colheita da soja", antevê Turra.

Um dos sinais da inquietação dos agricultores com o risco climático aparece na forte contratação de seguro rural. "Já foram comprometidos no País quase todos os recursos do programa de subvenção ao seguro rural do Ministério da Agricultura", diz Turra. A oferta é de R$ 924 milhões, e R$ 890 milhões estão empenhados.

O risco de chuva está nas previsões dos meteorologistas. A partir do final deste mês, as chuvas devem voltar ao Centro-Sul do País. Em dezembro, porém, o cenário deve mudar, com a redução das precipitações, apontam os meteorologistas da consultoria Climatempo. A segunda metade da primavera e do verão será marcada pelo fenômeno climático da La Niña, que reduz as chuvas na região. "Os efeitos da La Niña serão mais sentidos a partir do final de novembro, e o fenômeno deve continuar até o primeiro trimestre de 2022", prevê a consultoria.

Área maior

Apesar da falta de chuva, e mesmo com custos 30% maiores em média em relação aos do ano passado (no caso da soja), os agricultores estão dispostos a ampliar a área plantada de praticamente todas as lavouras. Isso se deve aos bons preços das commodities agrícolas no mercado internacional - o que, na contramão, também tem efeitos diretos na alta da inflação no País.

A imagem usada pelos analistas do agronegócio para ilustrar o bom momento das cotações é que "hoje o milho está com preço de soja, soja com preço de boi e boi virou Hilux", a marca de picape usada pelo agricultor. Antes da pandemia, a saca de milho estava em torno de R$ 30, a de soja, R$ 90, e a arroba do boi estava na faixa de R$ 180. Hoje, o milho gira em torno de R$ 90, a soja está na faixa de R$ 170 e a arroba passa de R$ 300.

"Os preços andaram porque houve uma combinação de aumento de demanda com oferta escassa", diz Guilherme Bellotti, gerente da consultoria Agro no Itaú BBA. Para ele, serão necessários dois anos bons de produção de milho e soja para que o mercado volte ao equilíbrio.

Nas projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Ministério da Agricultura, algodão, arroz, milho e soja terão aumentos de área plantada, na safra 2021/2022, de 13,4%,1,4%, 4% e 3,6%, respectivamente, em relação à última safra. Só para o feijão a expectativa é de estabilidade. Com esse aumento de área, a projeção de safra feita pela Conab é de 289,6 milhões de toneladas, o que configuraria um novo recorde.

Para o economista Fabio Silveira, sócio da consultoria MacroSector, o cenário pode não ser tão positivo assim. Segundo ele, os preços da soja e do milho se mantiveram em patamares elevados, em boa parte, pela grande liquidez de recursos no mercado internacional, fruto dos estímulos fiscais dados pelo governo americano e pelos juros baixos naquele país. Agora, com a sinalização do governo dos EUA de retirada dos estímulos e aumento de juros, a perspectiva de recuo dos preços, que já começou, deve se acelerar. "O risco de furo da bolha de preços agrícolas no começo de 2022 é grande", adverte.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governo deve emitir alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro em cinco Estados brasileiros - Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Todos estão na bacia do Rio Paraná, onde se concentra parte da produção agropecuária e grandes hidrelétricas. Na região, a situação é classificada como "severa" e a previsão é de pouco volume de chuvas para o período.

É o primeiro alerta dessa natureza em 111 anos de serviços meteorológicos do País. A medida corrobora as declarações do presidente Jair Bolsonaro e do ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, de que o Brasil enfrenta a maior crise hídrica dos últimos tempos.

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O alerta, obtido pelo Broadcast/Estadão, será divulgado de forma conjunta hoje pelo Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), órgãos federais ligados à meteorologia, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). No documento, as instituições reforçam que a emergência hídrica é associada à escassez de precipitação na região hidrográfica e a previsão de que o cenário persista até setembro.

De acordo com o SNM, o déficit de precipitação na bacia do Paraná está provavelmente relacionado à influência de dois fenômenos atmosféricos de grande escala. O primeiro é La Niña, de outubro de 2020 a março de 2021. O fenômeno traz resfriamento das águas do Oceano Pacífico, diminui a temperatura da superfície do mar, altera o padrão de circulação global e, entre as características do período, reduziu chuvas no sul do Brasil. O segundo é a Oscilação Antártica (OA), responsável por alterar o padrão de pressão atmosférica na região. Desde outubro de 2020 a OA tem atuado para impedir que sistemas causadores de chuvas se desloquem sobre as regiões continentais da América do Sul.

A situação de escassez hídrica, no entanto, é anterior. Segundo levantamento feito pelos órgãos pela análise de chuvas entre outubro de 2019 e abril de 2021 na bacia do Paraná, apenas em dezembro de 2019, agosto de 2020 e janeiro de 2021 as precipitações ficaram acima da média. "Durante a maior parte do período houve predomínio de déficit de precipitação, principalmente a partir de fevereiro de 2021. Essa característica se mantém no mês atual, com acumulado parcial de 27 milímetros para a bacia, ou seja, abaixo do acumulado climatológico que é de 98 milímetros", informa o texto do alerta.

O SNM alerta que o índice de precipitação na maior parte da bacia hidrográfica apresenta-se moderado a extremo, considerando os últimos 6 e 12 meses, bem como em uma análise de um período mais longo, dos últimos 48 meses. Ou seja, a situação atual de déficit de precipitação é severa, alerta.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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