De acordo com um estudo do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas, Nutrição e Saúde da USP, aproximadamente 20% dos brasileiros ganharam pelo menos dois quilos no período pandêmico. Segundo a Associação Brasileira Para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica, a ABESO, em três anos, o Brasil teve um aumento de quase 72% no índice de obesos ou indivíduos com sobrepeso; em 2006 a porcentagem subiu de 11,8 % para 20,3% em 2019. Já o número de pessoas acima do peso saltou de 42,6% para 55,4% na mesma época.
O cardiologista Dr. Carlos Portela explica que a pandemia do Covid-19 contribuiu para esse aumento exponencial, pois a maioria das pessoas se tornou mais sedentária nesse período. Com a maioria das pessoas trabalhando no formato home office, houve uma mudança de rotina: elas passaram a se locomover menos, aumentaram o consumo de fast-food, delivery e bebidas alcóolicas e passaram a ter o sono e uma alimentação desregulada.
##RECOMENDA##“Isso devido ao isolamento social, o que elevou o sedentarismo. Portanto, pessoas que antes praticavam atividades físicas, não conseguiram fazer mais com tanta frequência. A alimentação ficou desregulada, desregrada, muitos alimentos industrializados, com maior teor de calorias e o aumento considerável do consumo do álcool” ressalta o médico.
A obesidade geralmente é causada pelo sedentarismo e consumo exagerado de alimentos ricos, principalmente, em açúcar refinado e gordura. E pode levar a outros sérios problemas de saúde, caso não seja levada a sério e tratada da forma adequada.
“A obesidade gera diversos malefícios na vida pessoal, como o desenvolvimento de várias doenças: diabetes, pressão alta, alterações do colesterol, entre outras. Por ser uma doença inflamatória sistêmica, também altera a parte hormonal e cognitiva. Pode estar atrelada ainda à indisposição e à baixa autoestima, o que gera, nesses casos, sérios problemas emocionais” diz Portela.
Além de problemas cardiovasculares, o excesso de peso piora o índice de doenças de quadros emocionais. A obesidade ainda pode causar refluxo, síndrome do intestino irritável (patologia comum de origem psicossomática), quadros de diarreia, dor abdominal e excesso de gases, sendo capaz de “alterar a parte hormonal, levando a quedas de hormônios importantes para o organismo e, consequentemente, mais fadiga, cansaço e queda de libido”, explica o especialista.
O tratamento precisa ser multidisciplinar. É necessário ter força de vontade e dedicação. O médico alerta que, como qualquer doença crônica, o tratamento é a longo prazo e não existem fórmulas ou medicamentos milagrosos
“O uso de medicamentos é necessário em momentos específicos do tratamento. Em muitos casos precisamos utilizá-los para tentar reverter alterações metabólicas importantes e auxiliar na aderência do paciente à jornada do tratamento. O que faz o paciente ter resultados satisfatórios é entender o processo e trilhar o caminho da construção de hábitos. Criar uma dependência medicamentosa ou medidas de padrões alimentares restritivos vão de oposto à construção de hábitos saudáveis. Por isso, nosso papel hoje é proporcionar entendimento e quebrar tabus, simplificando o processo e fazendo o paciente sentir e enxergar o que significa realmente ter saúde”, esclarece.
Ele ressalta a importância de que alguns fatores, vêm desde a infância da pessoa com obesidade. Esses problemas emocionais perduram até a vida adulta. “É preciso olhar o paciente como um todo: emocional, psicológico, orgânico”.
Além da mudança do estilo de vida, é preciso ajustar o planejamento alimentar e as atividades físicas “Também é preciso haver uma melhora da saúde intestinal, acompanhamento do ponto de vista emocional, melhora da qualidade do sono e apoio psicológico" finaliza.
Por Maria Eduarda Veloso