O modo como a Polícia Militar de Goiás conduziu a apreensão de Lázaro Barbosa evidencia o despreparo dos agentes da instituição. É a opinião da vice-presidente da Comissão de Advocacia Popular da OAB-PE, Anna Beatriz Silva, que também é especialista em Direito Penal e Processo Penal.
A informação oficial do Governo de Goiás é a de que Lázaro Barbosa, que ficou conhecido como o "serial killer do DF" (os crimes de Lázaro não têm as características de homicídios em série), foi atingido em troca de tiros com os policiais, pelo quais foi socorrido com vida, indo a óbito apenas no hospital, nesta segunda (28).
##RECOMENDA##Imagens que circulam nas redes sociais, contudo, mostram o momento em que os agentes arremessam seu corpo, desacordado, em uma viatura dos Bombeiros.
“A condução do corpo evidentemente poderia ter se dado de forma oposta. A gente vê o corpo de Lázaro sendo carregado como se fosse lixo e isso também se reflete a partir das nossas estruturas racistas enquanto sociedade, a partir do despreparo de nossos policiais e da estrutura de segurança pública”, pontua Anna Beatriz Silva, em entrevista ao LeiaJá.
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A criminalista pontua que a morte do homicida, que ocorreu no vigésimo dia de buscas, prejudica o andamento das investigações dos delitos que a ele são atribuídos. Lázaro é acusado de ter cometido pelo menos sete crimes, entre roubos, estupros, homicídios e latrocínios.
“Nesse momento, o que se observa é que a nossa estrutura de segurança pública ceifou um corpo negro, enquanto bode expiatório, já que são evidentes os indícios de que há atuação de uma organização criminosa. Quando a gente mata, também inviabiliza a produção de provas. Como é que a gente vai chegar nas outras cabeças e viabilizar melhor a análise estrutural dessa organização?”, questiona.
Preconceito e ilegalidade
Controversa, a força-tarefa responsável pelas buscas foi criticada por invadir pelo menos dez templos de religiões afro-brasileiras depois de circular a informação de que o Lázaro era praticante do candomblé. Terreiros tiveram objetos litúrgicos e portas quebradas e, em um deles, o caseiro responsável pela propriedade foi agredido pelos policiais.
Para Anna Beatriz Silva, a força-tarefa também atuou de maneira inconstitucional. “Durante uma investigação para que você apreenda pessoa, faça buscas em propriedades, em geral, você precisa de uma decisão do juiz que vai garantir aquela entrada. Um mandado de prisão ou busca e apreensão. Acredito que não houveram essas permissões”, conclui.