As investigações da morte do promotor Thiago Faria, assassinado na última segunda-feira (14), estão cada vez mais marcadas por mistérios e brechas informativas. Diversas versões batem de frente com a apresentada pela polícia, que aponta uma briga por terras como o principal motivo do crime. A última contestação surgiu nesta terça-feira (22), quando a família do suposto executor do jurista rebateu a Secretaria de Defesa Social e apresentou materiais que podem inocentar o agricultor Edmacy Ubirajara. Ele, que foi preso 36 horas após o crime, é apontado como o atirador, enquanto o fazendeiro José Maria Pedro Rosendo Barbosa, que está foragido, seria o mandante.
De posse do material que pode provar a inocência de Edmacy, a equipe do LeiaJá foi até Águas Belas, no Agreste, para entrevistar a família do preso e algumas das testemunhas, além de refazer os passos do suspeito na manhã do assassinato. Confira:
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Reconhecimento - Edimacy foi reconhecido pela noiva do promotor, a advogada Mysheva Martins, que estava no carro quando Thiago foi atingido e saiu ilesa dos disparos. “Foi muito estranho, como é que Mysheva diz que não viu nada porque pulou do carro e de uma hora para outra mude de ideia e diz que viu meu irmão atirando?”, questiona Carlos Ubirajara, irmão de Edmacy.
Silêncio da polícia - Os familiares do suspeito também levantaram a questão da polícia ter resolvido silenciar, nesta terça-feira (22), sobre as investigações do caso. “Agora que a gente divulgou as imagens e trouxe as testemunhas que provam a inocência do meu irmão, eles se calam? Viram que estavam errados, por isso silenciaram”, rebate Carlos.
Insinuações - “Vocês viram que o ex-namorado de Mysheva (o empresário Glécio de Oliveira) foi chamado para prestar depoimento à polícia e tem vários crimes nas costas? (O LeiaJá apurou que em um dos casos a noiva do promotor foi advogada de defesa do ex-namorado). “É muito suspeito isso... E ela já quis falar com vocês para esclarecer alguma coisa? Quem tem culpa no cartório, se esconde”, disparou Carlos.
Passo a passo do suspeito - Segundo um documento entregue pelos familiares de Ubiracy, o agricultor saiu às 8h com a esposa da residência do sogro, localizada na Travessa Padre Nelson, e foi até a casa de uma das testemunhas para cobrar o aluguel de um som para um evento. Os nomes das testemunhas serão preservados pela reportagem para não atrapalhar as investigações. A pessoa em questão não foi encontrada pela reportagem.
A família de Edmacy diz que um veículo modelo Corsa, sem placa, é visto circulando pela cidade às 8h33. Eles acreditam que esse é o carro que era conduzido pelos assassinos do promotor. A afirmação se baseia em imagens tiradas de câmeras de segurança de comércios da cidade.
Logo em seguida, a família apresenta uma imagem, na qual, um carro modelo Gol passa às 8h45 em uma esquina da cidade de Águas Belas. Segundo os parentes, é o veículo de Edmacy que seguia pela cidade em sentido contrário ao carro suspeito. Eles alegam que o agricultor se dirigia até a casa da segunda testemunha: “Lá ele fica na porta sentado conversando e esperando a esposa que vai ao supermercado a procura de crédito para o celular”, afirmam.
Em outro momento, as imagens mostram o carro supostamente conduzido por Edmacy indo em direção ao centro de Águas Belas, onde o agricultor encontra um conhecido. “Após conversa ele segue o carro de Edmacy com sua moto puxando uma geladeira no reboque”, dizem.
A família afirma ainda que em seguida a esposa de Edmacy, Solange Ferreira, que acompanharia o marido no carro, coloca créditos de celular em uma farmácia, enquanto o agricultor espera no carro em frente ao estabelecimento. Nossa equipe entrevistou a balconista que atendeu Solange e ela confirma que a mulher foi até o local, mas alega que não viu Edmacy porque era dia de feira e a farmácia estava muito movimentada. “Não cheguei a olhar para o lado de fora, então não o vi”, garante.
Após sair da farmácia, cerca de quatro minutos depois, a esposa do suspeito volta mais uma vez ao estabelecimento, enquanto o agricultor desce do carro e conversa com algumas pessoas na Borracharia Central, que fica em frente à farmácia. “Ele veio aqui era umas 9h, perguntou o preço de rodas e foi embora”, afirma o borracheiro. “Estava bem calmo, não apresentava nenhuma pressa”, completa. Ele também acrescenta que o estabelecimento é de um irmão do suspeito.
Depois, o casal segue até o Posto de Gasolina do Mestre onde, segundo a família, passam alguns minutos abastecendo o veículo. “Ele esteve aqui entre 9h e 9h30, abasteceu, trocou a água do radiador e foi embora. Se a polícia quiser posso ir com o frentista confirmar a vinda dele aqui”, afirma o proprietário do estabelecimento, Emanoel Antônio Ferreira, conhecido como Toinho.
Após o abastecimento, Edmacy teria ido pela Avenida Santa Terezinha em direção a sua residência, um sítio, localizado na saída da cidade. A esposa liga para a sua filha avisando que estão indo para casa. A ligação também foi apresentada à polícia.
O delegado Rômulo Holanda informou que as imagens de câmeras apresentadas pela família de Edmacy serão avaliadas pelo Instituto de Criminalística (IC). De acordo com ele, os vídeos passarão por edição e devem retornar à delegacia, para acrescentar às investigações.
Já o secretário de Defesa Social de Pernambuco Wilson Damázio contestou essas imagens. Ele diz que esses vídeos não garantem que o agricultor não tenha participado do assassinato. Damázio ainda falou que existe a imagem de uma câmera de segurança da cidade de Águas Belas que registra o momento em que Edmacy entra no carro que interceptou o veículo de Thiago. “Se ele tem essas imagens porque não divulga igual a gente fez? Quem não deve não teme!”, rebate Carlos Ubirajara.
O irmão de Edmacy ainda completou: “Os horários não batem, só se meu irmão fosse um ‘Power Ranger’ ou ‘The Flash’ para conseguir chegar tão rápido ao local do crime. Pelas imagens fica possível perceber que ele só teria um tempo de 15 minutos, entre matar o promotor e voltar pra casa”, explicou. Depois de ouvirmos esse depoimento fizemos o caminho do Centro da cidade até o local do crime. A duração foi de 12 minutos, levando em consideração o estado da estrada que atualmente apresenta uma série de buracos.