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Aproximadamente 30,8 mil venezuelanos vivem no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Destes, cerca de 10 mil atravessaram a fronteira nos primeiros seis meses de 2018.

Os dados do IBGE têm como origem informações da Coordenação Geral de Polícia de Imigração da Polícia Federal a partir de 2015, ano em que foram registrados cerca de mil venezuelanos morando no país. Desde então, a imigração venezuelana teve um aumento de 3.000%.

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“Precisamos considerar aqueles que morreram, os que tiveram filhos e que migraram para outros países. Então, sobre toda a população de venezuelanos que entrou no país, aplicamos taxa de mortalidade e taxa de natalidade, por exemplo”, esclareceu a pesquisadora do IBGE, Izabel Merri.

A pesquisadora ainda afirmou que o IBGE não levou em consideração imigrantes de outras nacionalidades. “Para a população brasileira, é irrisória a população de imigrantes que entram no país e a forma como eles se espalham. Mas para Roraima a gente teve que considerar a imigração venezuelana, por causa do contingente de pessoas daquele país buscando refúgio no Brasil”.

Além disso, o IBGE também afirmou que 99% dos venezuelanos que chegaram ao Brasil está em Roraima, na cidade de Pacaraima e também na capital, Boa Vista.

Os venezuelanos são suspeitos de cometer 65% dos crimes registrados em Pacaraima neste ano, conforme dados da Polícia Civil de Roraima. Entre janeiro e agosto, foram registrados 1.136 boletins de ocorrência na cidade, dos quais 738 teriam sido cometidos por venezuelanos. O número é quase seis vezes maior do que em todo o ano de 2016, quando houve 128. Neste ano, foram instaurados 69 inquéritos e 39 venezuelanos foram presos em flagrante ou indiciados.

Os dados informados, porém, não especificam quais os tipos de crime. Por isso, não é possível saber se há emprego de violência. "A maioria é de crimes de roubo, furto, lesão corporal e ameaça", publicou a delegada geral Giuliana Castro Lima, no Facebook. "É natural: quando existe maior número de pessoas, há aumento de alguns índices de violência", contextualiza o professor da UFRR João Carlos Jarochinski, especialista em Relações Internacionais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Um era oficial do Exército venezuelano que havia desertado e se juntado à oposição. O outro, um ativista político que fugiu depois que forças pró-governo atacaram sua casa. Os dois acabaram nos Estados Unidos, entre milhares de compatriotas em busca de asilo naquele que parecia ser o lugar óbvio para fazê-lo. Mas os dois homens foram rejeitados e aprenderam uma lição dura sobre os limites do refúgio nos EUA mesmo para pessoas vindas de um país em colapso, cujo governo foi condenado pela administração do presidente Donald Trump.

Helegner Tijera Moreno, o ex-oficial do Exército, está em uma instalação para detenção de imigrantes no Novo México, esperando uma ordem final de remoção ou uma suspensão de última hora da decisão do juiz que rejeitou seu pedido de asilo. O outro homem, Marcos Guada, foi repatriado à Venezuela em julho, mas fugiu para a República Dominicana. Eles ainda estão surpresos - e um tanto amargurados - que os EUA tenham rejeitado seus pedidos de asilo.

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"Eu vim para cá porque pensei que os EUA eram o principal oponente do governo venezuelano e porque achei que nós teríamos uma boa chance de conseguir ajuda", disse Tijera, de 39 anos, pelo telefone, direto do centro de detenção. "Infelizmente, eu estava errado."

O governo da Venezuela tem se tornado cada vez mais autoritário e o país vive um colapso econômico. Pelo critério de país de origem, os venezuelanos hoje compõem o maior grupo de pessoas em busca de asilo nos EUA. Apesar disso, são mais rejeitados a cada dia e obrigados a retornar ao país ou se juntar aos mais de 2 milhões que se tornaram refugiados em outros países.

"Eu estava tentando salvar minha vida", relembra Guada, sobre sua decisão de sair.

 

Cerca de 28 mil pedidos de asilo venezuelanos, alguns para mais de uma pessoa, foram submetidos em 2017 por pessoas dentro ou fora do território americano. Foi 50% a mais do que no ano anterior e cinco vezes mais do que em 2015. Milhares mais têm feito alegações "defensivas" para evitar a deportação, depois que seus vistos expiram que suas petições iniciais são rejeitadas.

Pedidos de asilo normalmente demoram até quatro anos para ser finalizados, embora a administração Trump tenha acelerado o processo como parte de uma política ampla de aumento da fiscalização sobre a imigração. No ano passado, ao menos 250 venezuelanos foram deportados, 36% a mais em relação ao ano anterior. Neste ano, ao menos 258 foram deportados no primeiro semestre e outros 265 estão detidos como Tijera, aguardando a deportação.

Funcionários da imigração não dizem quantos tiveram seus pedidos de asilo negados, mas advogados e outros especialistas dizem que este é o caso da maioria. A Transactional Records Access Clearinghouse, organização de pesquisa de dados da Universidade de Syracuse, descobriu que quase metade das petições de asilo venezuelanos que chegaram a juízes de imigração nos últimos cinco anos foram negadas. Em comparação, quase 90% dos pedidos vindos do Haiti e do México têm o mesmo destino, 20% dos pedidos da Síria e cerca de 10% dos pedidos da Bielorrúsia.

Para se qualificarem para o asilo, os migrantes devem provar que enfrentam ameaça iminente caso retornem ao país e sofrerão perseguição motivada por raça, religião, nacionalidade, opinião política ou participação em algum grupo social. "A violência geral, o caos e a economia não são suficientes", disse Juan Carlos Gomez, advogado de imigração que administra uma clínica legal na Universidade Internacional da Flórida, em Miami.

"Muitos venezuelanos solicitam asilo político pensando que estão saindo do inferno e alguém vai protegê-los, mas, infelizmente, essas não é a lei." Muitos dos requerentes de asilo originários da Venezuela acreditam que terão permissão para reivindicar asilo porque os EUA têm sido críticos firmes do governo do presidente Nicolás Maduro e seu predecessor, Hugo Chávez.

"O governo americano tem duas caras", disse Guada. "Eles dizem uma coisa e fazem outra." Defensores de imigrantes dizem que requerentes de asilo entendem mal o sistema por esse motivo. "É uma contradição na política de imigração dos EUA que nós muitas vezes condenamos as condições em um país estrangeiro e depois deportamos as pessoas para essas condições", disse a diretora de políticas Royce Murray, do Conselho de Imigração Americano.

O departamento de Serviços de Imigração e Cidadania dos EUA não comenta casos individuais, mas diz que está protegendo as leis de asilo quando são violadas. "A verdade é que os pedidos têm aumentado muito na fronteira nos anos recentes, porque os migrantes sabem que podem explorar um sistema falho para entrar nos EUA, evitar remoção e continuar no país", disse o porta-voz da agência, Michael Bars.

Tijera parecia ter uma motivação sólida, já que era tenente do exército, e o apoio dos militares é visto como a chave para Maduro poder continuar no poder. Dois membros das Forças Armadas da Venezuela foram presos neste mês por terem supostamente participado da tentativa de assassinato contra o presidente e Tijera acredita que pode ser preso e torturado caso retorne ao país. Ele fugiu da Venezuela em janeiro de 2015, cruzando a fronteira para a Colômbia.

Então, procurou asilo na Itália, mas foi rejeitado. Em seguida, seguiu para o México e buscou asilo nos EUA, em um posto na fronteira com o Texas. "Se eu voltasse (para a Venezuela), eles me acusariam por qualquer motivo. Eles sabem que sou um traidor do país", disse.

Guada era um empresário na Venezuela, ativo nas campanhas de oposição do Estado de Carabobo, no norte do país. Ele fugiu em 2010, depois que partidários do governo atacaram sua casa com pedras e arrombaram a porta, eventualmente indo para Laredo, no Texas. Lá, ficou detido por quase três meses e foi libertado depois de pagar US$ 13 mil.

Sua mulher tinha residência legal no país, e seus dois filhos têm cidadania americana desde o nascimento, mas mesmo assim ele não conseguiu convencer as autoridades da imigração de que enfrentava perigo iminente em casa. Eventualmente, seus recursos judiciais esgotaram e Guada foi deportado em julho. "Estou frustrado", disse. "Não mereço isso."

Tijera também foi incapaz de convencer o juiz que enfrentaria prisão imediata caso voltasse para casa. Ele pode ser deportado a qualquer momento e teme o pior na Venezuela. De volta à Venezuela, Guada, não tentou correr riscos novamente com um juiz de imigração nos EUA. Depois de três dias no território venezuelano, ele embarcou em um avião e voou para a República Dominicana, onde está morando com o filho. "Fiquei apavorado, porque qualquer um que fale contra o regime pode ser silenciado", disse. (AP)

O presidente Michel Temer assinou nesta terça-feira, 28, um decreto de Garantia da Lei e da Ordem para a atuação das Forças Armadas em Roraima, Estado afetado pela migração de venezuelanos. Segundo o presidente, a medida foi tomada para "complementar ações humanitárias que governo promove há vários meses."

Na prática, o decreto garante condições para as Forças Armadas atuarem diretamente na crise humanitária que se instalou no Estado. "A crise em Roraima é devida a péssimas condições de vida a que está submetido o povo venezuelano", disse Temer. A informação já havia sido antecipada pela Coluna do Estadão.

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As Forças Armadas atuarão no Estado até o dia 12 de setembro na faixa de fronteira Norte e Leste e nas rodovias federais.

Crise

Na fronteira com a Venezuela, o Estado de Roraima tem recebido imigrantes, que vêm em busca de alimentos e emprego. A cidade de Pacaraima é responsável por abrigar a maior parte dos refugiados. No último dia 18, houve conflito entre refugiados e brasileiros.

187 venezuelanos deixaram Boa Vista, em Roraima, e foram encaminhados para João Pessoa (69), São Paulo (53) e Manaus (65). Ao decorrer da semana, serão transferidas 276 pessoas em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Na próxima quinta-feira (30), 60 deles serão encaminhados para a idade paranaense de Goioerê, 25 para o Rio de Janeiro e quatro para Brasília.

Entre abril e julho deste ano, 820 pessoas foram levadas para outras capitais brasileiras. A maioria deles foram encaminhados para abrigos em São Paulo. A estimativa da Casa Civil da Presidência da República, que coordena a ação, é que entre os meses de agosto e setembro, a interiorização inclua mais de mil venezuelanos.

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O presidente Michel Temer disse que as fronteiras brasileiras estão abertas desde que “disciplinadamente” para acolher imigrantes venezuelanos e de outros países. Segundo ele, limitar a entrada de estrangeiros no país é “incogitável e inegociável”. Durante ato de lançamento de uma ação médico-humanitária de médicos voluntários em Roraima, Temer respondeu às tentativas do governo de Roraima de suspender o ingresso de venezuelanos no país.

“As nossas fronteiras estão abertas. É claro que disciplinadamente, porque fomos capazes, lá em Pacaraima, de organizar um sistema de ingresso que desde logo importa, por exemplo, na vacinação mais ampla em relação a todos os eventuais males físicos que a eventual entrada de venezuelanos possa acarretar para o nosso país. É uma proteção a eles próprios e para todo país”, afirmou.

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Nos últimos dias, o Palácio do Planalto havia negado a hipótese de restringir a fronteira devido ao alto fluxo de venezuelanos, em especial após os conflitos com brasileiros no último fim de semana. Após ataques a abrigos em Pacaraima, 1,2 mil refugiados retornaram à Venezuela.

De acordo com o presidente, 60% dos 127 mil venezuelanos que atravessaram a fronteira já saíram do território brasileiro em direção a outros países. Ao discursar na presença dos 36 profissionais de saúde que embarcam amanhã (26) para Boa Vista, Temer buscou fazer um relato das ações que o governo tem promovido na região. Segundo ele, quando o Poder Público atua no acolhimento e interiorização dos venezuelanos, está ajudando também os roraimenses, ao desonerar os serviços locais de saúde, por exemplo.

“Vez ou outra há sugestão, até pleiteada judicialmente, no sentido de fechar as nossas fronteiras. Eu, desde o primeiro momento, disse que era incogitável e inegociável essa matéria. Não temos como fechar fronteiras no nosso país, sob pena de praticarmos um ato desumano em relação àqueles que vêm procurar abrigo”, disse, referindo-se ao pedido da governadora Suely Campos.

Os médicos, enfermeiros e técnicos de laboratório vão passar a próxima semana divididos em nove abrigos na capital, Boa Vista, e um na cidade fronteiriça de Pacaraima. Kleber Morais, presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), órgão onde trabalham os voluntários, disse que o trabalho será de “altíssimo nível” e elogiou a “missão nobre” de curar, orientar e educar as pessoas que passam por um momento difícil.

Temer agradeceu aos voluntários pelo gesto e sugeriu que o trabalho sirva de exemplo para outras regiões do país. As ações do governo federal no estado, destacou, têm ocorrido “há muito tempo”. Segundo ele, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) doou mais de 80 toneladas de alimentos em 2017 e continua enviando insumos à região. Nos últimos meses, de acordo com o presidente, foram enviadas oito ambulâncias, instaladas 11 antenas para transmissão de internet de banda larga e 22 profissionais se mudaram para o estado por meio do programa Mais Médicos.

“De vez em quando, dizem que o governo não colocou um centavo em Roraima, mas foram liberados mais de R$ 200 milhões em ações naquela região. Apenas na área da saúde, foram repassados R$ 187 milhões. Quando nós repassamos essas verbas para Roraima, nós estamos agindo, volto a dizer, em favor dos refugiados, mas também pelos brasileiros”, listou.

Sobre a transferência de venezuelanos para outros estados, que deve se intensificar nas próximas semanas, o presidente lembrou da complexidade do processo, que tem sido feito em articulação com diversos ministérios. “As pessoas pensam que é fácil. Como se fosse: 'Vou pegar mil pessoas aqui e levar para estado tal'. Não é isso não, nós precisamos levá-los adequadamente. Então o que faz a Casa Civil? Contata os mais variados organismos para alugar locais para abrigá-los, formaliza desempregos, e com isso nós estamos praticamente retirando pessoas de lá pela chamada interiorização”, disse.

Segundo o ministro da Educação, Rossieli Soares, há uma “fila de pessoas” querendo participar das ações voluntárias. “Nós teríamos muito mais voluntários querendo ir apoiar essa iniciativa dentro da Ebserh. Não existe um calendário de ser anual. É possível que tenhamos outra ação ainda este ano no mesmo sentido. Se precisar voltar à fronteira com a Venezuela, eu tenho certeza que teremos voluntário desejando contribuir com seu tempo e conhecimento para ajudar aquelas pessoas”, disse. Ele lembrou que a ação Ebserh Solidária promove desde o ano passado mutirões itinerantes similares ao que irá a Roraima.

Exatamente uma semana depois dos protestos que culminaram em atos violentos entre brasileiros e imigrantes venezuelanos, os moradores de Pacaraima, cidade do norte de Roraima que faz fronteira com a Venezuela, fizeram nova manifestação neste sábado (25). Segundo moradores da cidade, desta vez participam do protesto imigrantes venezuelanos e indígenas brasileiros que pedem apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e investimentos do governo federal na cidade.

O local do manifesto foi novamente a rua principal do comércio de Pacaraima, ponto de maior movimento da cidade. Também houve foco de protesto nas imediações da rodoviária, na BR-174, porta de entrada dos venezuelanos recém-chegados ao município brasileiro. Não há relatos de nenhum incidente.

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Para quem chega da Venezuela, a rua do comércio de Pacaraima é praticamente a primeira a ser vista pelos visitantes. É nela que ficou marcada a imagem dos últimos anos de centenas de famílias venezuelanas perambulando, pedindo ajuda ou simplesmente sentadas à beira do caminho.

Nessa rua teve início o protesto de moradores na semana passada contra a agressão a um comerciante idoso assaltado e espancado por assaltantes venezuelanos. A manifestação avançou pela rodovia, onde grande parte dos imigrantes ficava aglomerada, e culminou em atos violentos entre brasileiros e venezuelanos que estavam em situação de rua.

Enquanto a Polícia Civil de Roraima ainda investiga o que aconteceu no último sábado, o fato tornou-se um marco na história de Pacaraima. Em apenas uma semana, o clima mudou na cidade, e o drama dos imigrantes que ali se instalaram ganhou páginas de jornais do mundo todo.

Há nove anos vivendo em Pacaraima, o padre espanhol Jesús López Fernández de Bobadilla relata que os desdobramentos do conflito entre brasileiros e venezuelanos representam um dos maiores desafios de sua vida. O pároco da cidade avalia que não se pode confiar na aparente calma da cidade, porque ainda há omissão do poder público e um clima de intolerância contra estrangeiros.

“Aparentemente há uma calma, mas é uma calma fictícia, falsa, enganosa. Não confio nada nela porque a violência continua no espírito das pessoas. Sempre digo que compreendo este vulcão que lança sua lava, mas não se justifica. Em alguns dias, não mudou nada. A raiva, a ira contra venezuelanos continuam. Aparentemente está oculta, mas a qualquer momento vai reaparecer. Isso vai depender das ações que a partir de agora o governo federal e as polícias mantiverem”, analisa.

O padre lamenta que a ação violenta tenha desembocado em pessoas inocentes, como crianças. Ele ressalta também que faltaram medidas que pudessem evitar o crescimento da xenofobia. “Essa ira deveria ser dirigida contra a passividade das autoridades. Confio em que o bom juízo e a cidadania voltem e cesse a violência dos dois lados. Porque, também da parte dos venezuelanos, há violências. Não cumprem nossas leis, há muito roubo, prostituição, drogas. E isso tudo desencadeia [violência]”, diz.

Desde a intensificação do fluxo migratório de venezuelanos para Pacaraima, o pároco da cidade atua na assistência social aos estrangeiros mais necessitados. Além de auxiliar na acolhida das famílias peregrinas, a paróquia oferece diariamente um café da manhã para os refugiados. Ali também são doadas roupas e outros itens de necessidade básica.

“Não houve medidas paliativas para conter essa violência por parte das autoridades ou foram muito escassas. De todo dinheiro que chegou aqui em favor dos venezuelanos, por que não destinou uma parte também para as necessidades dos pobres brasileiros? Essa é uma queixa que está no ar, na rua, e eu compartilho também. Houve também falta de integração de todas as instituições, a Igreja Católica incluída, para favorecer esta parte dessa população que se queixou”, comenta.

Segundo o representante da Associação Comercial de Pacaraima, João Kleber Soares, os protestos do fim de semana passado começaram de forma pacífica devido à revolta da população de Pacaraima com a agressão cometida contra o comerciante idoso na semana passada e os impactos negativos da migração venezuelana sobre a cidade.

Soares relata que pelo menos 80% dos comerciantes da cidade foram vítimas de assaltos, furtos ou arrombamentos desde 2015. Alguns dos casos foram registrados inclusive depois dos conflitos que motivaram a expulsão e fuga de milhares de venezuelanos de Pacaraima na última semana.

O comerciante conta que a manifestação estava tranquila até que alguns venezuelanos em situação de rua teriam se ofendido e reagido contra a passeata. Imagens feitas por Cléber também mostram brasileiros agredindo os venezuelanos com paus, pedras e ateando fogo nos locais de acampamento dos refugiados.

“Nós não pudemos julgar a pessoa por onde ela nasce e tampouco condenar ninguém. A manifestação que eu vi lá não foi contra venezuelano, nem pra expulsar quem quer que seja. A manifestação foi em busca dos direitos dos cidadãos brasileiros, que também são seres humanos”, afirma Soares.

Os moradores relatam que a força policial não está intimidando os atos criminosos e que o reforço no policiamento não foi suficiente para dar sensação de segurança. Muitos ainda temem que a situação não se resolverá tão cedo, por causa da disputa política em torno do problema. “Existe aí uma disputa de poderes entre a esfera federal e a esfera estadual, que estão em campanha [eleitoral]”, relata Soares.

Entre diferentes perfis de moradores, profissionais e autoridades da cidade ouvidos pela reportagem, é unânime a sensação de que o problema da segurança tem se agravado na região. Uma autoridade policial relatou à Agência Brasil que têm ingressado no país muitas pessoas com antecedentes criminais e falta filtro do serviço de inteligência da fronteira, principalmente do lado venezuelano.

Os principais flagrantes na fronteira da cidade são descaminho, contrabando, tráfico de armas e drogas. Há ainda a confirmação de que integrantes de dois grandes grupos do crime organização – Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho – continuam atuando na região, aliciando imigrantes e alimentando o tráfico.

Questionado sobre esta questão pela Agência Brasil, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, em visita a Pacaraima, disse que o ministério reforçou os recursos e o contingente de policiais que atua na região. Ele disse que o governo está adotando medidas para agilizar a interiorização dos imigrantes para evitar que eles fiquem expostos na fronteira.

“Infelizmente, esse processo de aliciamento das grandes facções não acontece só aqui em Roraima, mas evidentemente estamos preocupados com isso. Daí o reforço que estamos fazendo na Polícia Federal e também na Força Nacional é a reposta que damos a esta situação”, declarou o ministro.

As agências da Organização das Nações Unidas (ONU) estão preocupadas com a violência contra imigrantes e refugiados venezuelanos no Brasil, além da tensão no Peru, Colômbia e em outras partes da América do Sul. Numa declaração realizada nesta sexta-feira, 24, numa coletiva de imprensa em Genebra, as entidades apontaram que as cenas em Roraima no fim de semana contra os estrangeiros devem ser consideradas como "um sinal de alerta" sobre como a situação já difícil pode rapidamente se transformar em uma crise.

"A violência no Brasil foi inquietante", disse Joel Millman, porta-voz da Organização Internacional de Migração. Ele, porém, insistiu em apontar que os números de venezuelanos na fronteira com o Brasil "são baixos" em comparação aos da Colômbia e Equador.

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"Entendemos o que estão enfrentando essas comunidades e estão fazendo grande trabalho", disse o representante, admitindo que a tensão pode significar que a "paciência está acabando" em certos locais.

"Estamos vendo sinais, como a violência no Brasil e limites (impostos por outros países), como sinais de alerta de que situação difícil pode rapidamente se transformar em uma situação de crise", alertou Millman.

Além da violência em Roraima, as agências destacam novas exigências apresentadas por governos, como do Peru e Equador. Uma das medidas é a de solicitar passaportes desses venezuelanos e outros documentos. "Muitos não tem acesso a isso", alertou Millman. "Estamos preocupados com países que estão esgotando sua capacidade e que procuram formas de administrar esse fluxo, com medidas que podem afetar os mais vulneráveis", disse.

"Isso tudo está se acumulando para uma situação como vimos em outras partes do mundo, como no Mar Mediterrâneo, e precisamos começar a ver prioridades, recursos e meios para lidar com isso", alertou.

Um recado parecido foi também adotado pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados. Seu porta-voz, Andrej Mahecic, insistiu em apontar para a longa tradição de solidariedade na região. Mas também apontou para a violência. "Vimos imagens deploráveis vindas da região na semana passada", disse. "Estamos preocupados com esses recentes eventos e protestos contra esses imigrantes e refugiados em alguns dos países latino-americanos", disse.

"Isso leva à estigmatização e ameaça os esforços de integração", alertou. Num apelo, ele pediu "respeito aos refugiados". "Solidariedade aqui é chave, do país e da população", disse. Ele admite, porém, que existe uma situação em que regiões estão com suas capacidades em seus limites e que há uma "clara tensão".

Na quinta-feira, 23, a ONU emitiu um alerta apontando para o fato de que as principais potências internacionais estão ignorando a crise gerada pelo fluxo inédito de refugiados e imigrantes venezuelanos. Além disso, a entidade está preocupada com novas barreiras criadas por países da região contra os venezuelanos. O êxodo, segundo a entidade, é um dos maiores da história da América Latina e chegaria a 2,3 milhões de venezuelanos.

Desse total, 300 mil deles pediram asilo em países da região, enquanto os demais estariam em situação de irregularidade ou se estabeleceram nos diferentes países por meio de outros vistos. 500 mil venezuelanos teriam sido ainda regularizados por governos da região.

De acordo com a OIM, 64 mil venezuelanos ganharam cidadania americana entre 2006 e 2016.

Comunidade internacional

 

As principais potências internacionais estão ignorando a crise gerada pelo fluxo inédito de refugiados e imigrantes venezuelanos. Dados obtidos com exclusividade pelo jornal "O Estado de S. Paulo" apontam que a ONU conseguiu arrecadar menos de 50% do dinheiro necessário para poder atender os venezuelanos em 2018, em oito países diferentes da América Latina. Além disso, a entidade está preocupada com novas barreiras criadas por países da região contra os venezuelanos.

De acordo com os dados, a ONU havia solicitado US$ 46 milhões em março da comunidade internacional para reforçar o atendimento aos venezuelanos nas fronteiras com o Brasil e Colômbia, além de dar assistência de saúde, acolhimento e educação no Caribe e países como Equador ou Peru.

Até o início de agosto, porém, tinha entrado na conta da ONU apenas 48% do valor solicitado, prejudicando o atendimento e deixando comunidades locais de países vizinhos sob pressão.

Diante da falta de verbas, o temor da entidade é de que a tensão sobre os países sul-americanos acabe gerando uma proliferação de barreiras e uma maior confrontação entre as comunidades locais e os estrangeiros.

Na quinta-feira, diante dessa situação financeira, as principais agências da ONU apelam para que países de fora da América do Sul passem a ajudar na crise de refugiados venezuelanos, numa clara indicação que os países da região já não estão dando conta do fluxo. O êxodo, segundo a entidade, é um dos maiores da história da América Latina e chegaria a 2,3 milhões de venezuelanos.

O que as entidades ainda querem é que países de fora da América do Sul se apresentem como possíveis locais para relocalização desses refugiados, o que permitiria desafogar parte dos países de fronteira da Venezuela. Negociações estão ocorrendo nos bastidores com governos europeus e norte-americanos para buscar locais para esses venezuelanos, da mesma forma que foi feito com os refugiados sírios que se acumulavam no Líbano, Jordânia e Turquia.

Num comunicado emitido em Genebra, o Alto Comissariado da ONU para Refugiados e a Organização Internacional de Migrações solicitaram um "maior apoio por parte da comunidade internacional aos países e comunidades na região recebendo um número cada vez maior de refugiados e migrantes da Venezuela".

A estimativa das entidades é ainda de que esse fluxo pode ganhar força nos próximos meses, colocando locais de fronteira e cidades inteiras sob intensa pressão social, como já ocorreu no último fim de semana em Roraima. Apenas desde 2015, 1,6 milhão de venezuelanos deixaram o país, com 90% deles indo para os demais países sul-americanos.

Barreiras

 

No comunicado assinado pelo chefe dos dois orgãos da ONU, Filippo Grandi e William Lacy Swing, as entidades reconhecem os esforços feitos por Brasil, Colômbia, Peru, Equador e outros no recebimento dos refugiados. Mas admitem que estão "preocupados" com recentes políticas adotadas na região "afetando refugiados e migrantes da Venezuela". "Isso inclui novos passaportes e exigências para cruzar a fronteira no Equador e no Peru, assim como mudanças nas autorizações de estadia temporária para venezuelanos no Peru", declararam as entidades.

"Reconhecemos os crescentes desafios associados com a chegada de grande escala de venezuelanos", disse Grandi. "É crítico que qualquer nova medida continue a permitir que aqueles em busca de proteção possam ter acesso à segurança e ao pedido de asilo", insistiu.

Swing, por sua vez, apelou para que os países da região continuem a manter suas fronteiras abertas. "Confiamos que essas demonstrações de solidariedade continuem no futuro", disse.

No Brasil, o governo federal tem sido pressionado com propostas de bloquear a entrada de imigrantes por Roraima. O líder do governo no Senado e presidente do MDB, Romero Jucá (RR), sugeriu ao presidente Michel Temer o bloqueio da entrada na fronteira do Estado, de forma temporária. Jucá também anunciou à imprensa que apresentará uma proposta ao Senado para estabelecer "cotas" para a entrada de imigrantes no País.

De outro lado, a governadora do Estado, Suely Campos (PP), adversária política de Jucá, já vinha pedindo o fechamento da fronteira nas últimas semanas e protocolou novo pedido no Supremo Tribunal Federal (STF). Ela tem acusado o governo federal de omissão diante da situação no Estado. O Palácio do Planalto resiste às ofensivas, mas passou a considerar a possibilidade apresentada por Jucá para medir a reação da população e, só então, tomar uma decisão.

De acordo com as agências da ONU, uma preocupação especial se refere às populações mais vulneráveis, como adolescentes, mulheres, crianças que cruzam as fronteiras sozinhas ou pessoas que estejam tentando encontrar suas famílias. Muitos deles podem não ter os documentos necessários para atender aos pedidos das autoridades e acabam em situações de risco, exploração, tráfico e violência.

"A atual situação reforça a necessidade urgente para aumentar o engajamento internacional e solidariedade em apoio aos planos de governos", apontaram as entidades. De acordo com a ONU, a comunidade internacional se comprometeu no ano passado em dar um apoio "previsível e rápido" a regiões que estejam sob pressão por um fluxo de refugiados.

Mesmo com a apreensão causada pelos conflitos entre brasileiros e venezuelanos há cinco dias, ainda há imigrantes que apostam no Brasil para fugir da crise política e econômica e melhorar de vida. Na estrada que liga Pacaraima (RR) a Boa Visita, um grupo de cinco jovens venezuelanos está há quase uma semana caminhando em direção à capital de Roraima.

Mais de 200 quilômetros separam a capital da cidade de Pacaraima. Com pouquíssimos objetos pessoais, o grupo anda apressadamente, na contramão da pista sem acostamento. O cansaço e a expressão de fome são visíveis.

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O grupo contou que a dificuldade do percurso da Venezuela até o Brasil foi amenizada com caronas, doações de alimentos e alojamento oferecido por comunidades indígenas situadas ao longo do caminho.

Os jovens passaram por Pacaraima, depois dos conflitos, e disseram que não desviaram a atenção nem desistiram do objetivo de chegar a Boa Vista.  “Não podemos voltar, estamos migrando porque lá [na Venezuela] não tem nada. Aqui é a única maneira que temos de conseguir a comida para os filhos”, relatou Julio Cezar Astudillo.

Fome

 “Minha família estava passando fome. Na Venezuela se passa muita necessidade, não há trabalho e quando tem não dá para comprar um frango. Um salário mínimo lá não dá para nada”, disse Astudillo, ao lado da mulher.

Visivelmente exausta e com a voz cansada, a mulher de Astudillo, Paola Enriquez, de 19 anos, confessa que teme não conseguir chegar onde deseja. O casal deixou os três filhos na Venezuela com as avós.

Jesus Gualdron, 28 anos, contou que o mais difícil do trajeto é conseguir carona e comida.  Padeiro na Venezuela, ele disse que tem esperança de encontrar emprego no  Brasil. Segurando uma caixa vazia, o venezuelano afirmou que guarda o objeto para colocar os quitutes que pretende vender quando se instalar.

“Sempre confiamos em Deus e seguimos no propósito de chegar para conseguir um emprego e enviar comida para nossos filhos, minha esposa e nossas mães”, afirmou Gualdron.

Por volta das 18h30 dessa terça-feira (21), um tremor fez trepidar vidraças, balançar móveis e bambear pontos de táxi na cidade. Assustados, brasileiros e venezuelanos correram para ruas e, cena incomum nos últimos dias, ficaram reunidos por alguns instantes. "Era só o que faltava em Pacaraima", comentou um morador da cidade que fica na fronteira com a Venezuela.

O tremor durou poucos minutos e logo os presentes voltaram às reclamações habituais. Recentemente, Pacaraima, no norte de Roraima, tem vivido dias de nervos à flor da pele. A tensão, provocada por troca de acusações entre brasileiros e imigrantes venezuelanos, teve o estopim no sábado, quando um grupo soltou bombas caseiras, destruiu objetos e incendiou barracas de refugiados que acampavam na rua.

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Cerca de 1,2 mil venezuelanos decidiram voltar para o país depois do episódio e o número de refugiados que cruzam a fronteira caiu de 1,2 mil por dia para 300. Mas autoridades e a polícia local demonstram preocupação sobre possíveis novos conflitos. Por causa do risco, cerca de 60 integrantes da Força Nacional começaram a patrulhar a cidade ontem. "Você viu algum policial aqui no centro? Tudo que eles anunciam é para os venezuelanos", reclamou um brasileiro, sem se identificar. Na cidade, a maioria chama o episódio de "protesto", "confusão" ou "aquela bagunça lá". Após críticas e acusações de xenofobia, muitos preferem o anonimato. À tarde, o Estado viu duas viaturas da Força Nacional nas ruas do centro.

Entre os brasileiros, o principal argumento é o de que os venezuelanos estariam provocando um onda de violência na região, além de dispor de suposta prioridade em unidades de saúde e de assistência. "Aqui antes era bem tranquilo, agora eu tenho medo de sair à noite", disse o comerciante Jaciento Silva, de 43 anos, que nunca foi assaltado, mas recebe quase diariamente no WhatsApp mensagens de supostos crimes dos imigrantes.

Pacaraima tem pouco mais de 12 mil habitantes e vem recebendo fluxos de imigrantes desde 2015. A situação se agravou no ano passado. "A maior parte da nossa população mora em terra de demarcação indígena. Na área urbana mesmo tem uns 5 mil, então os venezuelanos tomaram conta", afirmou um comerciante, que também pediu para não ser identificado. Em mercados, restaurantes e hotéis, muitos funcionários são estrangeiros que conseguiram ser acolhidos no município. Outros tantos, no entanto, estão desempregados e passam a tarde sentados na calçada, olhando o movimento.

O próprio conflito de sábado foi motivado por um assalto em que a vítima foi roubada e torturada - e reconheceu os agressores como sendo venezuelanos. Depois disso, já não se vê mais as barracas com imigrantes que tomavam as ruas de Pacaraima. "Fizemos uma limpeza", é o comentário mais frequente entre os moradores. "Foi uma grande humilhação", rebateu a venezuelana Jaqueline Astudillo, de 35 anos, que exibe um vídeo mostrando que havia cesta básicas entre os itens queimados no ataque. "Por que você não vai perguntar o que aconteceu para um brasileiro?", reclamou um morador que, observando a conversa, passou a gravar a reportagem com o celular. Questionado se queria dar sua versão, declinou.

Na sequência, houve aglomeração. Um policial militar desembarcou de uma motocicleta e intercedeu. "Aqui (em Pacaraima) está uma tensão muito grande. Eu estou com vergonha da xenofobia das pessoas. Eu mesmo sou da Paraíba, imigrante, por que vamos tratar os outros assim?"

Bancos vazios

Pela manhã, era incomum o cenário na tenda da Operação Acolhida, equipamento do Exército para receber e fazer a triagem dos venezuelanos. Em vez das costumeiras filas de refugiados, havia diversos bancos de espera vazios. Segundo agentes do local, o fluxo caiu de forma brusca desde o conflito. "Queimaram todos os meus documentos, só me sobrou a roupa do corpo", diz o engenheiro de sistemas Raul León, de 36 anos, um dos venezuelanos atacados no sábado. Havia cruzado a fronteira na véspera. "A triagem demorou mais de um dia."

León saiu da Venezuela para fugir de desemprego, da falta de comida e de remédios. "Já passei três dias sem comer." Após as agressões de sábado, León pensou em voltar. "Senti medo, mas depois as coisas foram se acalmando", relata.

Ao lado da mulher e de cinco filhos - a mais nova de 2 anos e o mais velho de 12 -, o comerciante Gregorio Bello, de 37 anos, estava com a passagem comprada para o Brasil quando recebeu a notícia do incêndio no acampamento. "Não podia devolver (a passagem), então pensei: Vamos em nome de Deus." O desejo, segundo conta, é chegar a Boa Vista e conseguir matricular as crianças na escola. "Até o momento, os brasileiros me atenderam muito bem", diz. "Espero que dê tudo certo." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.P

Com o objetivo de intensificar o processo de interiorização de refugiados pelo País, o governo federal quer realizar, até o final do mês, a transferência de mil venezuelanos de Roraima para outros Estados. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do Ministério da Casa Civil na noite desta terça-feira, 21.

O número foi acertado pela comissão interministerial enviada ontem pelo governo a Roraima para buscar soluções para a crise deflagrada no último final de semana, quando venezuelanos foram atacados por brasileiros. A definição das cidades que receberão os migrantes na próxima semana será alinhada a partir desta terça, com o retorno da comissão a Brasília.

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Até o momento, de acordo com dados da Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), 820 migrantes já foram enviados para outras regiões do País desde abril. Após os conflitos recentes, a ideia do Palácio do Planalto é passar a transferir, em média, 600 por mês. Para isso, será preciso identificar junto às secretarias municipais e Organizações Não Governamentais (ONG's) locais com capacidade para abrigar os venezuelanos.

Em reunião realizada no último final de semana com o presidente Michel Temer, ficou decidido o envio de mais 120 homens da Força Nacional a Roraima, que vão se juntar aos 31 policiais que já estão no Estado. Além disso, o governo federal anunciou, por meio de nota, o reforço de 36 voluntários na área de saúde.

Pressão

Após os conflitos entre brasileiros e venezuelanos, aumentou a pressão sobre o governo pelo fechamento da fronteira entre os países, no estado de Roraima. O impasse na região virou alvo de disputa política.

Na segunda-feira, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR), sugeriu ao presidente Michel Temer o bloqueio da entrada na fronteira de forma temporária. Jucá também anunciou à imprensa que apresentará uma proposta ao Senado para estabelecer "cotas" para a entrada de migrantes no País. O senador, candidato à reeleição, aparece em terceiro lugar em pesquisa de intenção de voto divulgada pelo Ibope.

De outro lado, a governadora do Estado, Suely Campos (PP), que é adversária política de Jucá, já vinha pedindo o fechamento da fronteira nas últimas semanas e protocolou na segunda-feira novo pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ela tem acusado o governo de omissão diante da situação no Estado. A governadora apresenta altos índices de rejeição nas pesquisas de intenção de votos.

Até o momento, o governo está resistindo às ofensivas, mas passou a considerar a possibilidade apresentada por Jucá para medir a reação da população e, só então, tomar uma decisão. Seria uma espécie de balão de ensaio, segundo uma fonte que participou das discussões.

Na manhã desta terça-feira, 21, era incomum o cenário na tenda da Operação Acolhida, em Pacaraima, na fronteira entre Roraima e a Venezuela. Em vez das costumeiras filas de refugiados, que até pouco chegavam a dar voltas do lado de fora do equipamento do Exército, responsável por receber e fazer triagem dos imigrantes, havia diversos bancos de espera vazios.

Segundo agentes do local, o fluxo de chegada de venezuelanos caiu de forma brusca desde sábado, 18, quando um grupo de moradores de Pacaraima destruiu objetos e incendiou barracas de refugiados. Se antes cerca de 1,2 mil pessoas cruzavam a fronteira, nesta terça não passavam de 300.

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"Queimaram todos os meus documentos, só me sobrou a roupa do corpo", diz o engenheiro de sistemas Raul León, de 36 anos, um dos venezuelanos atacados no sábado. Havia cruzado a fronteira na véspera. "A triagem demorou mais de um dia", conta.

Desempregado, León saiu da Venezuela para fugir da falta de comida e de remédios. "Já passei três dias sem comer", diz. "Sei operar redes de comunicação, câmeras de segurança... Me recomendaram trabalhar em Manaus, mas não sei quando vou conseguir ir."

Após as agressões de sábado, León pensou em voltar. "Senti medo, mas depois as coisas foram se acalmando", relata. "Os brasileiros pensaram que foram venezuelanos que agrediram o comerciante. Entendo. Mas nenhuma violência se justifica."

Ao lado da mulher e de cinco filhos, a mais nova de dois anos e o mais velho de 12, o comerciante Gregorio Bello, de 37 anos, estava com a passagem comprada para o Brasil quando recebeu a notícia do incêndio no acampamento. "Não podia devolver, então pensei: 'vamos em nome de Deus'."

O desejo, segundo conta, é chegar a Boa Vista e matricular as crianças na escola. "Até o momento, os brasileiros me atenderam muito bem", diz. "Espero que dê tudo certo."

O presidente Michel Temer está reunido neste momento com ministros para discutir soluções para a crise com os imigrantes venezuelanos em Roraima. Desde as 15h, ele coordena um encontro com representantes de pastas ligadas à Defesa, Direitos Humanos e também à área energética.

A expectativa é de que sejam intensificadas as negociações para o início das obras do “linhão”, que permitirá a integração do estado de Roraima com o sistema elétrico nacional. Há vários anos, o estado busca ajuda do governo federal para concluir a construção do Linhão de Tucuruí, já que a maior parte da energia elétrica consumida em Roraima tem como origem a Venezuela. Além de representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Eletrobras, participa também o líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB), que é de Roraima. 

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Após discutir esse assunto, o gabinete presidencial agendou uma reunião ampliada, com a presença do ministro da Educação, Rossieli Soares, e de representantes das pastas da Saúde, Planejamento e Secretaria de Governo. As reuniões ocorrem dois dias após o ataque de brasileiros a abrigos de venezuelanos ocorrido no último sábado (18) em Pacaraima, cidade que faz fronteira com o país vizinho. No início da tarde de hoje, uma comissão interministerial embarcou ao estado com poderes de tomar as medidas necessárias para acalmar os ânimos

Segundo o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sergio Etchegoyen, fechar fronteira com a Venezuela continua sendo uma questão "impensável". Ele também disse que o governo vai acelerar o processo de interiorização dos venezuelanos que chegam a Roraima.

O Equador vetou a obrigação de passaporte para a entrada de crianças e adolescentes venezuelanos acompanhados dos pais ou responsáveis no país.

“Não será exigida como requisito prévio a apresentação de um passaporte válido para a entrada em território equatoriano de meninos, meninas e adolescentes originários da Venezuela, na qualidade de turistas, transeuntes ou com a intenção de se radicarem no Equador”, afirmou o Ministério de Relações Exteriores e Mobilidade Urbana.

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Os pais deverão comprovar a relação de parentesco com os menores por meio de documentos válidos, como certidão de nascimento original ou cópias autenticadas. Também será permitida entrada de jovens com outro responsável com passaporte válido, desde que seja comprovada a tutela por meio de documentos autenticados.

O clima de tensão em Pacaraima se mantém. A fronteira continua aberta, porém a população local responsabiliza os venezuelanos, mesmo que indiretamente, pela insegurança. Nesse domingo (19), Vanderbegue Ribeiro, um dos manifestantes que chegaram a fechar vias no sábado (18), participou com outros brasileiros de uma "carreata da paz". O comércio fechou. Eles exigiram das autoridades o controle de entrada dos venezuelanos. "Queremos apoio do governo, tanto federal quanto estadual."

Na Rua Suapi, uma das principais do município, o trabalhador autônomo e morador da fronteira Ari Silva afirmou que a revolta do fim de semana ocorre ainda pela intensa movimentação do tráfico de drogas na localidade. "Não estamos revoltados com os imigrantes, mas com a criminalidade que essa desorganização social trouxe à nossa cidade." Outros falam em superlotação de serviços de saúde e em abandono pelos governos local e federal.

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OAB

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, que esteve em Roraima na semana passada, também relatou o clima de revolta na fronteira. Ele defendeu que todos os Estados brasileiros devem dividir a responsabilidade para preservar moradores de Roraima e imigrantes venezuelanos, "antes que aconteça uma tragédia". "A população de Roraima está se revoltando porque a criminalidade está crescendo e o Estado não tem recurso. O que era uma questão humanitária agora tem forte conotação de segurança." (COLABORARAM RICARDO GALHARDO, ANA PAULA NIEDERAUER E CYNEIDA CORREIA, especial para a AE) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Depois do tumulto registrado no último sábado, 18, na cidade de Pacaraima (RR), na fronteira do Brasil com a Venezuela, o governo pretende enviar 60 homens da Força Nacional de Segurança para o local. Eles deverão seguir só na segunda-feira, mas já estão de sobreaviso.

O presidente Michel Temer convocou uma reunião na manhã de hoje, no Palácio da Alvorada, para discutir a situação na fronteira. Participam os ministros da Segurança, Raul Jungmann, e do Gabinete Institucional, Sérgio Etchegoyen.

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A situação em Pacaraima é de tensão, um dia depois de moradores terem tentado expulsar os venezuelanos, após um assalto violento a um comerciante local, cometido supostamente por quatro imigrantes. No tumulto, um acampamento improvisado foi queimado e bombas caseiras foram lançadas nas ruas e praças.

Assustados, vários venezuelanos atravessaram a fronteira de volta a seu país. Em nota, o governo de Roraima voltou a pedir o fechamento temporário da fronteira.

Após os tumultos ocorridos neste sábado, 18, em Pacaraima (RR), na fronteira do Brasil com a Venezuela, perto de 1.200 imigrantes venezuelanos deixaram o País, informou há pouco ao Estadão/Broadcast o comandante da base local da Operação Acolhida, coronel Hilel Zanatta. O posto de recepção onde são realizados os procedimentos de controle de passaporte e vacinação chegou a ser fechado entre as 11h de ontem e as 8h de hoje, para garantir a segurança do pessoal interno.

"Calculamos que foram cerca de 1.200 pessoas", informou. Na conta, entram perto de 500 venezuelanos que estavam no posto de recepção e mais perto de 400 que, pelo fluxo normal, chegariam ao País ao longo da tarde. Além desses, há perto de 300 imigrantes que viviam nas ruas de Pacaraima e, por questão de segurança, cruzaram a fronteira de volta.

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Parte dessas pessoas, porém, já retornou ao Brasil na manhã deste domingo. "A situação está se normalizando", disse o coronel. "O fluxo está um pouco menor em relação aos demais dias, mas a recepção e a triagem estão funcionando normalmente."

Ele explicou que muitas das pessoas que passam pela fronteira estão com passagem comprada para outros países, como Argentina, Chile e Paraguai. Outras não solicitam a acolhida na fronteira porque já têm contato em outros pontos do Brasil.

A cidade de Pacaraima, em Roraima, viveu uma tarde de tumulto ontem após uma manifestação resultar em atos de agressão e destruição de acampamentos de venezuelanos que vivem na cidade, na fronteira com a Venezuela. Bombas caseiras foram jogadas em praças e nos abrigos improvisados nas ruas. Alguns venezuelanos foram expulsos e deixados do outro lado da fronteira, enquanto seus pertences foram queimados. Eles reagiram, formando uma confusão generalizada, que deixou um rastro de destruição pelo município.

A situação fez o presidente Michel Temer convocar uma reunião de emergência na manhã deste domingo com os ministros Raul Jungmann (Segurança Pública) e Sérgio Etchegoyen (Segurança Institucional) para debater o tema. O Exército cercou a área ainda ontem.

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A revolta começou após assalto a um dos moradores da cidade, o comerciante Raimundo Nonato de Oliveira, de 55 anos. Ele teve a casa invadida e foi espancado. O roubo teria sido praticado por quatro venezuelanos na sexta-feira. Atingido na cabeça, ele foi levado para uma hospital da capital, Boa Vista. Seu estado de saúde é estável.

"Alguns imigrantes atravessam a fronteira para cometer crimes. Eles renderam a família toda e o espancaram. Precisamos que as autoridades tomem providências", afirmou Vanderbegue Riberio, brasileiro e um dos organizadores da manifestação. Outro brasileiro, Almir Bueno, que vive na fronteira, disse que a criminalidade aumentou. "Com a tentativa de latrocínio desse comerciante, a população se revoltou, queimaram barracas, jogaram bombas no local chamado de 'favelão', onde havia vários venezuelanos", diz.

Controle

O ministro Jungmann disse, ontem, que "a situação está tensa, mas se estabilizou e está sob controle". O ministro requisitou um avião da Força Aérea para transportar uma equipe de reserva da Força Nacional, de Brasília, para reforçar a segurança local.

Por meio de nota, o governo federal informou repudiar "atos de vandalismo e violência contra qualquer cidadão, independentemente de sua nacionalidade". O governo mantém no local uma força-tarefa, composta pelas Forças Armadas, organismos internacionais, organizações não governamentais e entidades civis.

Ainda no texto, a força-tarefa afirma que busca conter os ânimos dos manifestantes e que um reforço de seu efetivo foi mandado para a fronteira. "A força-tarefa deslocou parte de sua equipe médica para o Hospital Délio de Oliveira Tupinambá para apoiar eventuais casos, em consequência da manifestação".

Jungmann disse ainda que, para evitar maiores problemas, o Exército está reforçando a segurança do perímetro do acampamento legalizado, também em Pacaraima. Ao mesmo tempo, a Polícia Federal devolveu os venezuelanos que estavam em situação irregular. O governo quer evitar novos confrontos e o patrulhamento na cidade foi aumentado.

Auxílio

O governo de Roraima enviou reforços para o hospital de Pacaraima, com profissionais de saúde e medicamentos. Além disso, pediu aumento no efetivo policial. Em nota, o governo do estado criticou o governo federal. "A solução para a crise migratória só acontecerá quando o governo federal entender a necessidade de fechar temporariamente a fronteira, realizar a imediata transferência de imigrantes para outros estados e assumir sua responsabilidade de fazer o controle de segurança fronteiriça e sanitária." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governo federal está acompanhando a evolução do confronto ocorrido na manhã deste sábado (18) em Pacaraima, em Roraima, com atos de violência e destruição de acampamentos improvisados de imigrantes venezuelanos nas ruas da cidade.

De acordo com o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, "a situação está tensa, mas se estabilizou e está sob controle". O ministro informou que requisitou um avião da Força Aérea para transportar uma equipe de reserva da Força Nacional, de Brasília, para reforçar a segurança local, se houver necessidade. O presidente Michel Temer está sendo informado e as autoridades federais estão monitorando e acompanhando o desenrolar dos acontecimentos no local.

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Pacaraima fica na fronteira entre Brasil e Venezuela. A revolta começou por causa de assalto sofrido pelo comerciante Raimundo Nonato de Oliveira, de 55 anos, quando chegava em casa com uma familiar, na noite de sexta-feira. O assalto teria sido praticado por venezuelanos. O comerciante foi agredido, sofreu uma lesão na cabeça possivelmente causada por uma paulada e precisou ser removido para Boa Vista, por causa da gravidade do ferimento, onde está se recuperando.

Revoltados com a possibilidade de o assalto ter sido praticado por venezuelanos, os moradores de Pacaraima passaram a atacar um acampamento improvisado na cidade, queimando os pertences dos imigrantes, e expulsando os moradores do país vizinho.

De acordo com o ministro Jungmann, para evitar mais problemas, o Exército está reforçando a segurança do perímetro do acampamento legalizado, também em Pacaraima. Ao mesmo tempo, a Polícia Federal devolveu os venezuelanos que estavam em situação irregular. O governo quer evitar novos confrontos e o patrulhamento na cidade foi aumentado.

Moradores do município de Pacaraima (RR), que fica na fronteira com a Venezuela, expulsaram venezuelanos de barracas e abrigos e atearam fogo a seus pertences, num princípio de revolta contra a presença deles na cidade.

A população local realizou neste sábado (18) um ato em frente ao Comando Especial de Fronteira do Exército, que fica na cidade, contra a presença de refugiados do país vizinho. A manifestação pacífica culminou com os episódios de violência.

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Nessa sexta-feira (17), um comerciante local foi assaltado e espancado em casa supostamente por quatro venezuelanos, provocando revolta nos moradores. Também irritou a população a falta de uma ambulância para socorrer o comerciante, que ao final foi atendido no hospital local e encontra-se em estado estável.  

O prefeito da cidade, Juliano Torquato, que está fora do estado, disse que a situação ainda não está controlada e que, segundo sabe, venezuelanos continuam a ser perseguidos para fora de Pacaraima.

“Lamentamos muito que isso esteja ocorrendo, mas não foi por falta de aviso. Ficamos tristes pelo lado dos venezuelanos, a gente sabe a situação difícil deles, mas infelizmente entram [no Brasil] essas pessoas que não tem boas intenções”, disse Torquato à Agência Brasil.

O governo de Roraima informou, em nota, ter enviado reforços da Polícia Militar para conter os ânimos, bem como profissionais de saúde e medicamentos para suprir as necessidades do hospital de Pacaraima. O texto também afirma ser “preciso que o Exército Brasileiro garanta a ordem na fronteira com a Venezuela”.

Na nota, o governo de Roraima voltou a reivindicar o fechamento da fronteira com a Venezuela e uma maior atuação do governo federal para lidar com a crise humanitária. Neste mês, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou uma liminar (decisão provisória) que havia sido pedida para fechar a fronteira entre os dois países. Procurada, a Polícia Federal não informou como está a situação na fronteira do Brasil, em Pacaraima.

A Força-Tarefa Logística Humanitária, composta pelas Forças Armadas e integrada por organismos internacionais, organizações não governamentais e entidades civis, divulgou nota em que diz prestar apoio aos atendimentos no hospital local e que “repudia atos de vandalismo e violência contra qualquer cidadão, independentemente de sua nacionalidade”.

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