Tópicos | Venezuelanos

A prefeitura de Manaus vai comunicar o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário ainda hoje (8) sobre o decreto municipail de emergência social devido ao intenso processo migratório de venezuelanos na cidade e espera receber ajuda federal.

O decreto foi publicado na última quinta-feira (4) no Diário Oficial do município e determina, entre outras coisas, que a Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Direitos Humanos (Semmasdh) priorize ações emergenciais humanitárias e solicita que todos os órgãos e entidades do município fiquem em alerta para atender às ações e atividades requeridas ou solicitadas pela pasta.

##RECOMENDA##

“O que nós queremos verdadeiramente é a inclusão do governo federal e do governo do Amazonas nas ações que tem como objetivo dar uma solução a curto prazo para o drama dos venezuelanos indígenas warao que estão em Manaus desde o início de dezembro do ano passado. Quando eles aqui chegaram eram um grupo de 35 pessoas. Hoje nós já temos mais de 350. A situação é verdadeiramente de emergência”, disse o secretário da Semmasdh, Elias Emanuel.

Esmolas

A maioria dos indígenas venezuelanos que migraram para Manaus está acampada em condições precárias debaixo de um viaduto e na rodoviária da capital amazonense. Durante o dia, eles se espalham pela cidade, principalmente em semáforos, para pedir esmola. “A informação que nós temos é que os warao, assim como todos dos indígenas, são exímios artesãos. Eles vão para as ruas para vender o artesanato e quando acaba, partem para a mendicância. E as crianças são o chamariz do público aqui na cidade”, disse Emanuel.

Uma das maiores preocupações, segundo o secretário, é com a disseminação de doenças, principalmente entre os próprios indígenas, que são mais vulneráveis. “A gente já identificou alguns casos aqui de tuberculose e de catapora. Há uma preocupação com várias doenças que podem vir junto com esse grupo para a cidade. A saúde municipal está acompanhando muito de perto esse assunto.”

Atualmente, as secretarias municipal e estadual de Saúde, de Assistência Social e Direitos Humanos estão oferecendo atendimento médico e vacinação aos imigrantes. De acordo com o secretário, a prefeitura vai pedir à Polícia Federal que providencie a regularização de permanência dos venezuelanos em Manaus, tendo em vista que muitos não têm sequer documento de identidade.

A Pastoral do Migrante e o Ministério Público Federal no Amazonas também acompanham a situação dos indígenas warao em Manaus.

Crise

A Venezuela vive uma crise política e econômica que tem levado a população do país a buscar melhores condições de vida no Brasil. A principal porta de entrada é o município de Pacaraima, em Roraima, que faz fronteira com o município venezuelano de Santa Elena do Uiarén.

“Um chamariz para esse grupo é a supervalorização do real frente ao bolívar venezuelano. Com um real é possível trocar por mil bolívares na fronteira. Portanto, qualquer arrecadação feita aqui, eles são capazes de potencializar financeiramente no retorno à Venezuela. Nós já observamos que dos 351 que chegaram aqui, 60 foram à Venezuela e já voltaram pra Manaus”, disse o secretário municipal.

Na Venezuela, o salário mínimo é de 15.051 bolívares, e, com um subsídio do governo para quase todos os trabalhadores, chega a quase 18.600 bolívares, um valor que, dificilmente, é suficiente.

Sob a rígida taxa de câmbio oficial decretada pelo governo - de 10 bolívares por dólar - o salário mensal equivale teoricamente a 1.500 dólares. Mas esta taxa está reservada à importação de produtos básicos, como alimentos e remédios essenciais.

##RECOMENDA##

Existe outra taxa flutuante chamada DICOM, aplicada às compras com cartões de crédito internacionais, por exemplo. Ela alcança 452,08 bolívares por dólar.

Para os venezuelanos comuns, que não podem importar alimentos e não têm um cartão de crédito estrangeiro, a taxa de câmbio que encontram nas ruas é muito superior: 1.000 bolívares por dólar.

Esta cara taxa de câmbio é aplicada a quase tudo o que é importado ou que requer ingredientes importados. Isso engloba a maioria dos bens na Venezuela, que dependeu durante muito tempo de sua riqueza petrolífera para adquirir o que precisa.

Sob esta taxa, o salário mínimo se reduz a menos de 20 dólares por mês.

Inclusive para os venezuelanos que ganham mais do que isso, a hiperinflação atinge seus bolívares, fazendo com que as coisas sejam inimaginavelmente caras.

Isso faz com que a classe média, que está caindo na pobreza, encare todos os bens, salvo os alimentos, como um luxo. Comprar um hambúrguer, ir ao cinema ou uma diária de hotel estão simplesmente fora de seu alcance.

"Todos estão caindo", afirma à AFP Michael Leal, gerente de uma ótica de 34 anos. "Não podemos respirar".

Lojas fechadas

Em Chacao, bairro da classe média de Caracas, um grupo de funcionários públicos faz fila em uma loja de mantimentos para comprar o almoço mais barato possível. Ao redor, os restaurantes estão vazios.

Vista de cima, Caracas se parece com qualquer outra cidade da América Latina, com arranha-céus, estradas de tráfego intenso e pedestres que caminham com pressa.

Mas um olhar um pouco mais atento descobre um profundo mal-estar econômico. Muitas lojas, especialmente de produtos eletrônicos, fecharam as portas.

"Está horrível agora", diz Marta González, de 69 anos, dona de uma loja de produtos de beleza.

"Não há compras, só se compra comida", prossegue a mulher, enquanto atende uma cliente que paga com cartão débito um par de lâminas de barbear descartáveis.

Um cartaz colado no caixa indica: "Não aceitamos cartões de crédito".

Filas e mais filas

No mesmo bairro, um moderno e elegante shopping center com vários restaurantes, um espaçoso Hard Rock Café e lojas de redes internacionais como Zara, Swarovski ou Armani Exchange está deserto, salvo pela presença de seus entediados funcionários.

Em contraste, quase 200 pessoas fazem fila pacientemente para entrar em uma farmácia.

Não sabem exatamente o que vão comprar, mas é a rotina destes tempos, fazer fila para tentar adquirir algum produto de higiene pessoal de preço regulado, como, por exemplo, pasta de dente, antes que esgote, o que normalmente ocorre em poucos minutos.

"Fazemos isso toda semana. Não sabemos o que vamos poder comprar", afirma Kevin Jaimes, vendedor de autopeças de 21 anos que espera junto a sua família. "O difícil é quando há uma fila gigante e todos estão cansados antes de chegar", acrescenta.

Quando não é possível adquirir os produtos de preço regulado nas lojas, a única alternativa é se dirigir aos revendedores no mercado negro, que os oferecem cem vezes mais caros.

Jaimes vive com a família - um total de sete pessoas - e tenta se virar com um salário de 35.000 bolívares ao mês, o correspondente a 35 dólares.

É muito pouco para que possa sequer pensar em ir uma vez ao cinema do shopping, onde a entrada custa 8.800 bolívares.

Se conseguisse de algum jeito entrar no cinema, o letreiro anuncia os mesmos filmes em exibição nos Estados Unidos: "Capitão América 3: Guerra Civil", "Mogli" e "Angry Birds: o filme".

Mas uma ida ao cinema e um saco de pipoca são luxos que os venezuelanos dificilmente podem se permitir nestes dias.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando