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Em tempo de efervescência tecnológica, em que os video games e as redes sociais ganham a atenção de crianças e jovens com muita facilidade, despertar neles o gosto por jogos de tabuleiro não é tarefa fácil. E a dificuldade pode aumentar quando o jogo vira sinônimo de recurso pedagógico. Mas, passando por cima dessas dificuldades e fortalecendo a ideia de que jogos de raciocínio lógico podem contribuir bastante para o ensino dos estudantes, há cerca de um ano o Programa MenteInovadora chegou às salas de aula das escolas municipais do Recife.

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Essa iniciativa você confere nesta quinta-feira (4), na última reportagem da série “Nossa Escola”. As matérias trazem uma seleção das ações da educação municipal recifense que estão dando bons resultados e mudando a vida escolar de muitos estudantes. Leia também as quatro primeiras histórias: Em busca do letramento; A doença, várias crianças, uma classe e muitos sonhos; Os reflexos da robótica na educação municipal do Recife e O silêncio que não cala a educação.  

O jogo em que a educação sai vencedora

Estimular os estudantes a pensarem de forma criativa, refletindo antes de tomar decisões. Controlar as emoções, competir lealmente e dar a volta por cima diante de conflitos. Atuar em equipe, ajudando os companheiros em determinados momentos, além de desenvolver o poder de argumentação e senso crítico. Descobrir em jogos de raciocínio lógico características que têm completa relação com disciplinas como matemática, português e ciências. Apesar de inúmeros, esses são apenas alguns dos objetivos do Programa MenteInovadora, fruto de uma parceria entre a Secretaria de Educação do Recife e a Mind Lab. Desde o ano passado, 24 mil alunos da Rede Municipal estão vivendo a experiência de utilizar jogos de raciocínio lógico nas salas de aula como ferramenta pedagógica para ajudar no aprendizado.

No geral, os jogos possuem missões que incentivam o pensar das crianças, com níveis de dificuldade que levam em consideração a idade dos estudantes. De acordo com a Secretaria de Educação, são beneficiados pelo MenteInovadora estudantes das turmas dos Grupos 4 e 5 da educação infantil e alunos das 36 escolas que possuem turmas de anos finais do ensino fundamental. “São jogos que estimulam a percepção visual. Eles refletem nas outras disciplinas, principalmente na leitura e na matemática. Mas não é só jogar por jogar! Antes de distribuir os jogos, existe um estudo de um texto que explica como o recurso deve ser utilizado nas aulas. Todas essas linguagens educativas fazem o aluno ficar mais letrado, compreendendo o mundo ao seu redor, tornando os estudantes mais participantes das aulas e interativos”, comenta a professora polivalente Bruna Vivian Martins.

Bruna atua há mais de 15 anos na Rede Municipal de Ensino. Atualmente, a professora leciona na Creche-Escola Doutor Albérico Dornelas Câmara, localizada no Centro do Recife. Sua missão, todas as semanas, é atrair a atenção das crianças de 5 e 6 anos do ensino infantil através dos jogos. Os recursos travam o olhar dos pequenos, que deixam de lado a desatenção e começam a racionar de forma lógica. O resultado, segundo a professora, são pequenos que raciocinam e interpretam mais durante as atividades das disciplinas tradicionais. Um exemplo é Cecília Maria Nascimento de Moura, 6 anos. “É muito divertido jogar com os amiguinhos e a professora. A gente aprende muito mais”, conta, aos risos.

Antes dos jogos serem trabalhados nas escolas municipais do Recife, mais de 60 professores passaram por formação. De início, de acordo com a professora Bruna, estimular os jogos de raciocínio lógico não foi uma tarefa fácil. “Primeiro que criança acha que jogo é apenas sinônimo de brincadeira. Então, isso gerou um pouco de desatenção. Além disso, a gente da Rede Municipal já tinha que trabalhar outros programas, como a robótica, por exemplo. Quando chegou o MenteInovadora, fiquei com receio de não dar conta, porém, depois dos jogos, nunca tive uma turma tão letrada e atenciosa como as minhas atuais”, relata a docente. Confira mais um depoimento da professora no vídeo a seguir:

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Da sala para o pódio

Se engana quem pensa que os jogos de raciocínio lógico caíram apenas no gosto dos alunos mais novos. Jovens dos anos finais do ensino fundamental também estão vendo nos recursos um incentivo para melhorar o desempenho na escola. Além disso, a habilidade de alguns estudantes rendeu uma premiação mais do que especial. Quatro alunos da Escola Municipal Olindina Monteiro, localizada no bairro de Dois Unidos, Zona Norte do Recife, venceram, em abril deste ano, a fase regional da 7ª Olimpíada de Raciocínio Lógico, resultando numa classificação para a etapa nacional, em São Paulo.

Mas o feito não se resumiu a vitória regional. A Escola foi a única unidade de ensino brasileira da rede pública. E um dos responsáveis pelo bom desempenho é o professor de matemática Osman Estanislau, que dá aula para alunos do ensino fundamental.

De acordo com o professor, a vitória na competição regional foi consequência do bom trabalho que está sendo feito através do MenteInovadora, mas, a proposta inicial do programa, que é interligar os jogos com as matérias tradicionais e contribuir para o aprendizado escolar, é que deve ser mais valorizada. “A gente tenta encontrar um assunto em que podemos utilizar os jogos nas disciplinas. Hoje tenho alunos que interpretam, leem com mais facilidade e analisam suas respostas. Existe também um grande estímulo ao pensar”, explica o educador.

Wesley Lopes de Lima, de 15 anos, aluno do nono ano do ensino fundamental, foi um dos vencedores da fase regional da Olimpíada. Seu jogo, o Quoridor, tem como objetivo avançar o peão para a extremidade oposta da placa, além de criar barreiras para impedir o avanço do adversário. No game, os alunos podem aprender números positivos e negativos, além de noções de vetor, direção e sentido. “Antes, eu nunca tinha tido contato com jogos desse tipo. Depois que começaram a trabalhar eles nas salas, comecei a me interessar mais e com certeza estou aprendendo mais”, relata Wesley.

Jogando a tradicional Dama, Lucas Patrick de Melo (de camisa branca na foto abaixo), 16, aluno do nono ano e um dos vencedores regionais, afirma que melhorou não só como estudante, mas também como pessoa. “Antes eu perturbava muito na escola e em casa. Agora estou muito mais comportado e mais atencioso nas aulas. Acho que o MenteInovadora é um programa muito interessante e espero que ele possa continuar”, comenta.

Também detentor do título regional da Olimpíada de Raciocínio Lógico, Lucas Bezerra, 14, é o “cabeça pensante” do Octi. O jogo busca habilidades de planejamento e de cálculo para que o jogador seja o primeiro a ocupar a base do adversário. No vídeo a seguir, Lucas fala dos benefícios dos jogos, bem como o professor Osman descreve como acontece na prática a aplicação dos games e dos conteúdos.

De acordo com a Secretaria de Educação do Recife, o Programa MenteInovadora está presente em escolas públicas e privadas oriundas de quase 30 países. A Mind Lab, empresa responsável pelos jogos, possui reconhecimento internacional de suas pesquisas e desenvolvimento de tecnologias educacionais que buscam a inovação.

E assim o LeiaJá finaliza a série de reportagens “Nossa Escola”. Desde 6 de agosto deste ano, mostramos com boas práticas educacionais, aliadas ao interesse dos estudantes em sala de aula, podem contribuir para uma educação de qualidade, apesar dos problemas administrativos que assolam as prefeituras do todo o Brasil. Nunca é demais lembrar que educação pública igualitária e de qualidade é um direito de todo brasileiro.

 

 

 

 

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A série de reportagens “Nossa Escola”, que detalha ações da educação municipal que estão tendo bons resultados, chega nesta quinta-feira (20) a sua terceira matéria. O leitor pode entender como uma das principais iniciativas da rede de ensino do Recife está ganhando a atenção de cada vez mais estudantes e disseminando a tecnologia como uma ferramenta benéfica para a sociedade. A robótica vem tomando conta das escolas locais e despertando nos alunos o desejo pela construção do conhecimento. O principal objetivo é interligar assuntos de matérias tradicionais, como física e matemática, com tarefas desenvolvidas durante a programação dos robôs.

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>> Leia também as outras quatro reportagens da série: Em busca do letramentoA doença, várias crianças, uma classe e muitos sonhosO silêncio que não cala a educação e O jogo em que a educação sai vencedora.         

Os reflexos da robótica na educação municipal do Recife

Uma das iniciativas da educação municipal recifense mais bem sucedidas é sem dúvidas o Programa Robótica na Escola. De 2014, quando a ação foi iniciada, até agora, mais de 73 mil estudantes tiveram acesso ao programa, bem como 4,5 mil docentes foram capacitados na área de robótica. O resultado do trabalho desenvolvido é expresso através de vitórias em diversas competições da modalidade. Porém, o objetivo maior, segundo os professores responsáveis pelas aulas, é fazer com que as programações dos robôs utilizem temas relacionados a diversas disciplinas, como matemática e física.

Alunos da educação infantil aos anos finais do ensino fundamental da Rede Municipal trabalham com diferentes linhas de robótica. As mais comuns são a robótica que utiliza peças de encaixe da LEGO ZOOM e as que trabalham com robôs humanoides, chamados de NAO. Os alunos mais novos, dos anos iniciais, atuam com a montagem de alguns robôs. Depois, as crianças de séries mais avançadas, começam a fazer programações em softwares oriundos dos próprios fabricantes dos robôs. Eles utilizam computadores e com base em cálculos matemáticos e comandos, traçam ações e trajetos que as máquinas devem executar, geralmente com um objetivo pré-definido, seja pelo professor, no contexto de um treinamento, ou quando uma competição exige uma determinada tarefa, a ser realizada pelos competidores.

Leia também: Estudantes autistas terão aulas de robótica

Para a coordenadora do Programa de Robótica, Suely Bezerra, trabalhar com robôs nas escolas municipais instiga os alunos a construírem saberes e entenderem como a tecnologia pode ajudar a sociedade. “A robótica tem uma proposta que ajuda na construção do conhecimento. Antes, o que tínhamos nas escolas públicas era um conhecimento pré-fabricado, ou seja, já pronto pelo professor. Hoje, existe uma construção do conhecimento, em que professor e aluno vai traçando ações em conjunto. A gente também percebe a necessidade dos alunos interligarem a robótica a assuntos das matérias tradicionais”, explica a coordenadora.

Desde o início do programa que o jovem Yuri Lyra (foto abaixo), 16, tem contato com a robótica. Hoje, ele está concluindo o ensino fundamental, mas não abre mão de assistir as aulas. O aluno da Escola Municipal Pedro Augusto, localizada no bairro da Boa Vista, Centro do Recife, explica na prática como os robôs instigam os estudantes a trabalharem conteúdos das disciplinas tradicionais. “Quando eu comecei a aprender robótica, notei um envolvimento maior com matemática e física, porque isso tudo interage com a programação e montagem do robô. A gente trabalha com números, rotações, graus, lógica... Isso tudo influencia dentro da matemática e da física”, relata Lyra. A robótica na escola também despertou um desejo no jovem. “Quero trabalhar com mecatrônica, porque acabei me apaixonando por robótica”, revela.

Taylon Silva Guedes, de 14 anos, aluno da mesma escola que Yuri, também é apaixonado pela robótica. De acordo com o estudante, após ter aulas com os robôs, ele passou a gostar mais de matemática. “A matemática que aprendo na programação passou a me influenciar na escola. Hoje aprendo os assuntos com mais facilidade. Também tenho facilidade em aprender lógica”, conta o estudante, revelando também que quer se formar em robótica científica.

Para entender como a programação dos robôs funciona na prática, assista o vídeo a seguir e veja o que os humanoides são capazes de fazer, graças aos alunos das escolas municiais:

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Segundo a coordenação do Programa Robótica na Escola, a Rede Municipal de Ensino conta atualmente com 30 robôs humanoides, cada um ao preço de 25 mil dólares. As máquinas são fabricadas na França e apenas podem ser transportadas para as escolas ou eventos com o apoio de batedores da Guarda Municipal ou da Polícia Militar. De acordo com a Secretaria de Educação do Recife, levando em consideração todas as linhas de robótica aplicadas nas escolas, suas peças e recursos pedagógicos, já foram investidos R$ 32 milhões pela Prefeitura local.

Competições

Estudantes da Escola Municipal de Tempo Integral Dom Bosco já venceram a etapa estadual da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR). Além disso,  no começo deste mês, três alunos conseguiram a primeira colocação na etapa regional da OBR e se classificaram para a fase nacional, na cidade de São Carlos, interior de São Paulo.

Outra experiência interessante aconteceu com dois alunos da Rede Municipal. Em novembro de 2014 eles viajaram para a Rússia e participaram da Olimpíada Mundial de Robótica. Já em setembro deste ano, nos dias 11 e 12, cerca de 90 alunos das escolas municipais vão participar de mais uma etapa regional da OBR. O evento será realizado no Recife.

Na próxima semana, dando continuidade a série Nossa Escola, o LeiaJá publica a quarta reportagem, na quinta-feira (27). O público poderá conferir a aplicação de salas bilíngues nas escolas municipais.

 

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A luta pela vida e em prol da educação é o que você confere na segunda matéria da série de reportagens “Nossa Escola”, do LeiaJá. Uma parceria entre instituições e a rede de ensino do Recife está possibilitando que crianças com câncer continuem estudando dentro do hospital. São lições para a gente aprender com pequenas pessoas que passam por cima da dor da doença e se debruçam sobre o aprendizado.

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A doença, várias crianças, uma classe e muitos sonhos

Nem sempre o dia começa bem para as crianças diagnosticadas com câncer. Os efeitos do forte tratamento de quimioterapia e a baixa no sistema imunológico dos pequenos os deixam indispostos para algumas atividades. Em alguns momentos, a dura rotina do internamento também provoca tristeza. Arrancar sorriso dos pacientes, então, pode até parecer uma tarefa difícil. Não para uma professora que, de segunda a sexta-feira, dedica toda sua sabedoria para ensinar crianças dentro do hospital.


É no Centro de Onco-Hematologia Pediátrica (CEONHPE) do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), no Recife, que funciona a Semear, a primeira classe hospitalar de Pernambuco que tem o objetivo de manter crianças com câncer estudando. A classe funciona de forma experimental desde setembro do ano passado. Oficialmente, após um decreto municipal, as atividades começaram em março deste ano. Mas independente de quando começou de maneira oficial, a certeza que há, segundo depoimentos dos envolvidos, é que a dor da doença é amenizada graças ao dom do aprendizado. Seja no leito do internamento ou na própria sala de aula, a educação tenta ganhar o espaço da tristeza e alimenta a esperança das crianças por uma vida melhor e mais saudável.

“Às vezes eu acordo triste, sem vontade de fazer nada, com o corpo doendo. Só que a tia vai lá no quarto, brinca, me faz sorrir e diz que me quer perto dela e dos outros amiguinhos. Quando a gente chega na sala e começa a estudar, toda aquela tristeza vai embora. E pra falar a verdade, eu gosto mais daqui do que minha antiga escola”, conta o paciente João Gabriel Quirino, de 11 anos, aluno da 5ª série. João é natural de Maceió, em Alagoas, e faz tratamento no Recife desde novembro do ano passado.

A classe hospitalar é fruto de uma parceria entre o Grupo de Ajudada à Criança Carente com Câncer (GAC-PE), Prefeitura do Recife e o Instituto Ronald McDonald. A Secretaria de Educação Municipal é responsável por todo aparato pedagógico material e pessoal. As aulas são aplicadas com base nas informações prestadas pelas escolas de origem dos pacientes, podendo, inclusive, as provas serem aplicadas no próprio hospital. São beneficiadas crianças de 6 a 14 anos, alunas do 1º ao 5º ano do ensino fundamental.

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Professora da Rede Municipal de Ensino há 15 anos, Cristiane Pedrosa nunca viveu a experiência de ensinar para crianças enfermas. Agora, diante dessa nova realidade, a docente afirma que é feito um trabalho que prima pelas obrigações escolares, mas que respeita o estado de saúde dos meninos. “Falando pelo meu lado profissional, é uma experiência maravilhosa. Aqui eu convivo com crianças de várias séries e de conhecimentos diversos. E claro que vou aprendendo também como professora. Agora, pelo lado pessoal, é um pouco difícil porque são crianças com doenças crônicas. Nem sempre elas estão bem para estudar e eu tenho que respeitar isso. É um trabalho muito rico e que precisa ser espalhado para crianças de outros cantos do Brasil”, conta Cristiane.

As aulas na classe são realizadas no turno da tarde. O horário da manhã fica reservado para que a professora visite nos leitos as crianças que não reúnem no dia condições para assistir à aula. Mesmo impedidas de se locomoverem, a docente leva livros e materiais pedagógicos em bandejas até elas e aplica o assunto, respeitando limite de cada aluno. No encontro da sala, os pacientes são acomodados conforme suas séries. Adrienne Isabelly Alves, de 6 anos, é uma dos alunos que fazem questão de frequentar as aulas. Sorridente e brincalhona, a pequena é clara ao responder sobre o que mais gosta de fazer. “O que eu mais gosto de fazer aqui é a tarefa. Português é a minha matéria preferida, mas, também amo muito fazer pintura”, relata a aluna do 1º ano.

Entre as cerca de 20 crianças atendidas pela Semear, existem casos que o contato escolar foi retomado dentro do hospital ou incrivelmente apenas teve início após o internamento hospitalar. A jovem Larissa Gomes, 13, não estava estudando onde mora, no município de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife. “Deu vontade de voltar a estudar aqui com a professora e os colegas. Escrevi até uma história bem bonita da sereia”, conta, aos risos.

Reflexos da educação no tratamento

Segundo uma das médicas responsáveis pelo tratamento dos pacientes, Laurice Siqueira, aplicar educação dentro do hospital, possibilitando que os pacientes continuem o que faziam antes do internamento, ajuda no processo médico. “A sala de aula hospitalar contribui fortemente para essa adesão ao tratamento, principalmente porque implica numa continuidade das atividades habituais da criança dentro do hospital. A criança vem para o hospital sabendo que vai ser submetida ao seu tratamento para a doença, atrelado a vários motivos de sofrimento, mas também com a certeza de que vai continuar com sua atividade escolar”, explica a médica.

A profissional também destaca que o psicológico dos pacientes é beneficiado pelas aulas. “É como se não houvesse uma interrupção da sua atividade, que é a única obrigação da criança: ir para a escola. Ele vem, faz o tratamento e continua com sua atividade cotidiana”, salienta a médica.

Mãe do paciente João Gabriel, a técnica em enfermagem Maria Nilza Machado acredita que a sala de aula ajuda João a se manter feliz e esperançoso pela melhora. “Em alguns momentos difíceis, quando ele está pra baixo e triste, a professora chega, fala das brincadeiras, das leituras, e ele se levanta e vai para a sala. Quando reencontro ele, João já está bem melhor e às vezes nem sente mais dor. Ele também sabe que aqui é um lugar que tem uma grande probabilidade da sua cura. Sempre digo pra ele que é melhor passar uns dias aqui e se curar”, relata dona Maria.

O investimento para construção da Semear, oriundo do Instituto Ronald McDonald, foi de pouco mais de R$ 44 mil. Além de contar com profissionais da Rede Municipal de Ensino do Recife, os alunos são beneficiados com diversos materiais pedagógicos, como tablets, livros e robôs das aulas de robótica. E justamente a pedagogia atrelada aos robôs é o tema da próxima matéria da série de reportagens “Nossa Escola”. Você poderá conferir, na próxima quinta-feira (20), como a robótica vem mudando a vida de alunos das escolas municipais do Recife.

>> Leia também as outras quatro reportagens da série: Em busca do letramentoOs reflexos da robótica na educação municipal do RecifeO silêncio que não cala a educação e O jogo em que a educação sai vencedora.         

 

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Um direito digno de toda a sociedade brasileira é ser beneficiada com uma educação pública de qualidade. Pelo menos na teoria. Se na prática a boa educação não abrange uma totalidade do povo, é preciso valorizar e tentar manter vivas iniciativas que estão dando bons resultados e levando conhecimento a uma parcela da população, apesar dos problemas administrativos e governamentais que existem no Brasil. Muitos educadores, inclusive, apontam que a educação, seja ela pública ou privada, é a principal estratégia de mobilidade social. É por isso que o poder público, mesmo deixando a desejar em alguns aspectos e precisando melhorar bastante, investe em ações que buscam disseminar a educação escolar e social entre seu povo.

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Para destacar iniciativas que vêm apresentando bons resultados na educação pública, o Portal LeiaJá inicia nesta quinta-feira (6) a série de reportagens “Nossa Escola”. Cinco matérias vão mostrar programas e ações municipais do Recife que tentam melhorar a educação de crianças e jovens. As histórias serão publicadas todas as quintas-feiras e para abrir a série, conheça o ProLer. Trata-se de um programa que busca alfabetizar crianças das escolas municipais através de atividades lúdicas e interativas.

Em busca do letramento

As crianças chegam comportadas e em fileiras. Já almoçaram, brincaram e estão indo de volta para a sala de aula. O espaço é colorido, cheio de livros, ambiente propício ao aprendizado e para brincadeiras. Os pequenos, de 4 a 5 anos de idade, são os personagens principais de uma iniciativa que é municipal, mas que foca numa meta federal. Como o Plano Nacional da Educação (PNE) tem como intuito alfabetizar todas as crianças até o final do terceiro ano do ensino fundamental, a Prefeitura da capital pernambucana (PCR), por meio da Secretaria de Educação, criou em fevereiro de 2014 o Programa de Letramento do Recife (ProLer). Nele, os alunos começam a ter contato com a leitura aos quatro anos de idade, através de atividades que estimulam não apenas a leitura e a escrita, mas também a criatividade e a habilidade lúdica.

A proposta é boa, honesta e de direito. Mas os desafios são muitos. Em um deles, as crianças chegam à escola com diferentes bases de conhecimento, principalmente por falta de auxílio familiar no processo de letramento. “Algumas crianças chegam zeradas e isso complica um pouco o aprendizado. Aquelas que já tiveram experiência apresentam melhores resultados de início. Para passar o conteúdo de uma maneira que possamos atender a todo mundo, sem separar um aluno do outro, realizamos diversas capacitações com os professores, durante todo o ano”, explica a chefe de divisão e letramento da Secretaria de Educação, Cláudia Hellena Fragoso.

Na Creche Escola Iraque, localizada no bairro da Estância, Zona Oeste do Recife, o ProLer é realizado nas turmas do Grupo 4 da educação infantil. Nas mais de 300 escolas municipais da cidade, além desse público, são beneficiados alunos até o terceiro ano do ensino fundamental. Mas é justamente entre os mais novos, com idade de 4 a 5 anos, que o trabalho precisa ser feito com muito cuidado e atenção. É quando a alfabetização começa a tomar forma e a criança solidifica sua base de conhecimento. De acordo com a coordenadora técnica do ProLer, Valéria Marques, os recursos utilizados em sala de aula, como mesas de leitura, teatros, livros, canções e histórias, são ferramentas essenciais para tornar o aprendizado atrativo.

“Temos vários recursos importantes que chamam a atenção dos alunos. De uma forma bem natural, eles começam a tomar gosto pela leitura. Nossos professores também procuram trabalhar os assuntos de uma forma lúdica, seja usando um teatro ou contando histórias. Também sabemos que é natural recebermos crianças com níveis diferentes de aprendizado, porém, o objetivo da nossa avaliação não é medir conhecimento. Quando identificamos que algum aluno não está tendo êxito ou não está acompanhando os demais, começamos um acompanhamento intensivo com ele para tirar essa dificuldade”, explica Valéria Marques.

Na sala de aula do Grupo 4 da educação infantil da Creche Escola Iraque, a professora Andrea Araújo (foto abaixo), educadora há quase 15 anos, busca todos os dias trabalhar a oralidade, escrita e leitura entre as crianças. A tarefa não é tão fácil. A ânsia por brincadeiras faz alguns pequenos ficarem inquietos. Só que tudo volta ao normal quando a professor pega um livro e começa as dinâmicas. A educadora inicia a leitura e pouco a pouco as crianças vão acompanhando lendo trechos da obra.

 

Segundo Andrea, como o letramento virou rotina após a implantação do ProLer, os alunos criaram um gosto natural pelas atividades. “Dentro dessa proposta do ProLer, eles não enxergam o letramento como uma obrigatoriedade. Ocorre tudo normalmente, como se eles estivessem brincando. Uso letras grandes, figuras, músicas, brincadeiras... Tudo vai interagindo e proporcionando que, de uma forma pedagógica, eles aprendam a ler e escrever como se estivessem brincando”, relata a professora.

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O pequeno Iuriel Rafael Gomes da Silva, de 4 anos, demonstra no olhar o gosto pela leitura. O garoto fica fantasiado com as diversas obras espalhadas pela sala de aula. “Gosto de ler porque aprendo e vejo figuras. A professora é muito legal. Ela lê com a gente”, diz Iuriel.

Nas ondas da leitura

Se alfabetizar os alunos nos anos iniciais não é uma tarefa simples, continuar o processo de alfabetização com as crianças a partir dos seis anos também não é fácil. Os professores do ProLer continuam o desafio de manter o letramento como algo atrativo, dentro e fora da sala de aula. Uma das ações do Programa, além de trabalhar a própria leitura, estimula os alunos do ensino fundamental a se tornarem autores de obras literárias. É o projeto Ondas da Leitura, inaugurado também no ano passado.

Após a leitura, os alunos podem contar e recontar histórias. Depois desse processo e estimulado pelos professores, os pequenos podem trabalhar suas próprias produções textuais. Segundo a Secretaria de Educação, no final do ano letivo as produções textuais são expostas em eventos nas próprias escolas, contando inclusive com a participação dos familiares.

E se tem um ponto importante no processo de letramento da Rede Municipal de Ensino do Recife é o envolvimento com a família. De acordo com a coordenadora pedagógica da Escola Municipal Miguel Arraes, situada no bairro de Areias, Zona Oeste da cidade,  Simone Maria Jorge, a alfabetização dos pequenos se torna mais difícil quando as famílias não se envolvem e não incentivam a leitura dentro de casa. “A educação não é feita apenas na escola. Os pais são figuras importantes nesse processo também. É preciso chegar aos filhos e incentivar: vamos ler e escrever! Esse retorno familiar atrelado ao que se aplica nas aulas é fundamental para o sucesso do letramento dos alunos”, conta a coordenadora.

O politerapeuta Sérgio Franklin da Silva, pai de Vitória Maria da Silva, de 7 anos, também compartilha da ideia que a presença da família é importante. Para Sérgio, o Ondas da Leitura gera um benefício para o estudante, mas também reflete na família. “Hoje as condições de aprendizado estão bem melhores na escola pública e eu sempre fui um incentivador da educação pública de qualidade. Hoje as crianças têm uma gama incrível de atividades que ajudam a aprender. Minha filhar aprendeu a contar histórias através da leitura, por meio do projeto, mas também já tinha uma base familiar. Na minha casa, sempre incentivava ela. É por isso que eu acredito que a família tem um papel fundamental. Minha filha, de tanto tomar gosto pela leitura, já começou a influenciar meu filho mais novo, de três anos. Apesar de pequeno, ele fica muito ligado em livros”, relata Sérgio.

É dentro da sala de aula que tudo acontece. As crianças embarcam em viagens lúdicas através dos livros. O projeto, conduzido pelos professores, é realizado todos os dias do período letivo, alternando entre brincadeiras, teatros e a leitura de livros propriamente dita. Mikaelly Braga, 7, é um exemplo de como a leitura desenvolve a criança. “Começo a ler no colégio, mas também pego os livros em casa. É muito bom porque a gente aprende muito mais. Eu quero crescer lendo”, conta a pequena.

Há 17 anos ensinando para crianças da educação infantil e fundamental, a professora Letícia Souza acredita que o Ondas da Leitura deve ser reproduzido em escolas de todo o Brasil. Para a docente, a iniciativa é positiva e de fato ajudou a melhorar as aulas de alfabetização. “Eu achei o projeto extremamente positivo e importante para as crianças. Minha turma, por exemplo, está toda alfabetizada. Acredito também no poder da interação entre a família e a escola. Se isso acontecer, a probabilidade do aluno se tornar um leitor natural é bem maior”, opina a professora.

De acordo com a PCR, não existe um levantamento para descrever os índices de alfabetização dos alunos integrantes do ProLer. Segundo a Prefeitura, o que há é uma análise interna sobre os alunos que precisam ou não de um acompanhamento mais próximo, no que diz respeito àqueles que estão tendo dificuldade durante o letramento.

>> Leia também as outras quatro reportagens da série: A doença, várias crianças, uma classe e muitos sonhosOs reflexos da robótica na educação municipal do RecifeO silêncio que não cala a educação e O jogo em que a educação sai vencedora.  

 

 

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