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Nesta terça-feira (9), Paulo César de Oliveira Silva é julgado pela morte da ex-namorada Remís Carla, morta aos 24 anos nas vésperas do Natal de 2017. Familiares e amigos acompanham a audiência no Fórum Thomaz de Aquino, área Central do Recife, e lembram que o réu fingia estar preocupado pelo desaparecimento da estudante.

"A gente vê as fotos e parece que ela ainda tá viva", lamenta a tia Luzinete da Silva. Após esperar quatro anos pelo julgamento, ela descreve o momento como "muito doloroso" e considera o réu "frio" e "um perigo para a sociedade". Por isso, espera que seja sentenciado à pena máxima por feminicídio. 

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"Até então ele aparentava ser uma pessoa que não é", apontou. "Só depois que houve a morte de Remís foi que ficamos sabendo de tudo que ele fazia, porque até então ele era uma pessoa dócil, só vivia sorrindo, tratava todo mundo bem. Inclusive meu pai [avô da vítima] que estava acamado e gostava muito dele", relatou momentos antes do início do julgamento. 

Nos seis dias de buscas em que Remís ficou enterrada a cerca de 400 metros da casa do namorado, ele costumava ligar para a família para mostrar preocupação. "Ele fez até depósito na conta dela para tirar a Polícia. Ele já tinha matado e enterrado e ainda depositou dinheiro", lembra Luzinete.

Acompanhante de Remís na Delegacia da Mulher para denunciar Paulo um mês antes da amiga ser asfixiada, Jéssica Alves entende que, na verdade, ele queria disfarçar a autoria do crime. A queixa não foi compartilhada com a família, que nem desconfiava da agressividade do companheiro.

"Ele agiu o tempo inteiro de forma fria como se tivesse procurando por ela assim como a gente, compartilhando o cartaz de desaparecida nas redes sociais, querendo se engajar nas buscas. Se colocando como se também não soubesse o que tinha acontecido", identificou.

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Desaparecimento registrado sem que o namorado tivesse conhecimento

No entanto, o interesse do ex-namorado levantou suspeita das pessoas que sabiam do seu comportamento, já que a estudante havia desaparecido após um fim de semana na sua casa.

A amiga tinha acolhido Remís em outras agressões e sabia que seu namorado era 'violento e perigoso', tanto que o boletim de desaparecimento foi prestado sem que ele soubesse. "Ele só ficou sabendo quando a policia foi buscá-lo para depor", confirmou. 

A tia de Remís reformou que os familiares não tinham conhecimento do perfil agressivo do acusado. "Inclusive teve uma briga na casa da mãe dela, ele bateu com a cabeça dele, quebrou o celular dela, quebrou até o guarda-roupa, a gente ficou sabendo depois", disse Luzinete, que ainda pontuou que Paulo César chegou a confessar o crime, mas sequer pediu desculpas à família da jovem.

Com informações de Vitória Silva

O acusado de assassinar e ocultar o corpo da então namorada de 24 anos, Remís Carla Costa, chegou ao Fórum Thomaz de Aquino, no Centro do Recife, por volta das 9h20 desta terça-feira (9). Preso há quatro anos, dias após o crime, Paulo César vai a júri popular e pode permanecer no sistema prisional por feminicídio.

O crime ocorreu às vésperas do Natal de 2017, mas a demora para ser julgado manteve o sentimento de perda presente nos familiares. O pai Carlos Costa lembra da personalidade dócil e da vida reservada da filha. Ele vai ficar de frente ao ex-genro e descreveu o julgamento como um dia de "angústia", mas de "felicidade" e "alegria" pela expectativa de que a Justiça dê uma resposta exemplar. 

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"A dor é muito grande. Foi cortado um membro e um membro não se recupera, quando se corta é para sempre. Mas eu espero muita efetividade e que o júri seja justo, que a gente receba um alívio da dor que a gente tanto sente. Somente a Justiça pode proporcionar isso", disse momentos antes da audiência regida pela juíza Fernanda Moura Carvalho. Antes, a magistrada e o júri devem ouvir cinco testemunhas intimadas pelo Ministério Público do Estado (MPPE).

Respeito da Justiça às mulheres

 Os familiares de Remís chegaram ao fórum por volta das 8h40 e se mostraram preparados para encarar o julgamento. O pai lembra que a jovem pedagoga foi enforcada sem direito à defesa e enterrada pelo réu a cerca de 400 metros da casa onde morava, no loteamento Nova Morada, na Zona Oeste do Recife. Ele espera que o Judiciário determine a sentença máxima como prova da atenção aos crimes contra a Mulher. "Por mim, ele ficaria eternamente preso [...] que ele pegue a máxima. A mulher precisa ser respeitada", requisitou.

"Não só para minha filha, mas para muitas outras mulheres que hoje sofrem. É hora de mudar esse contexto de lei que nós temos, muitas benesses para bandidos. Inclusive, como é que ele matou minha filha e tem direito a encontro conjugal dentro do presídio?", questionou o barbeiro.

Embora esteja confiante na decisão judicial, ele voltou a criticar a legislação brasileira. "Se ele ficar mais 5 anos quietinho, com 9 anos ele vai para casa pela porta da frente. Com 9 anos ele está na rua para cometer outro feminicídio e rindo da minha cara, debochando de mim", repugnou.

Surpresa e frustração com a brutalidade do acusado

Cerca de um mês antes de ser morta durante uma briga de casal, Remís Carla prestou queixa por injúria, ameaça, lesão corporal, cárcere privado e danos contra o namorado. Carlos aponta que a filha não comentou sobre o boletim de ocorrência, nem dava sinais sobre a postura agressiva de Paulo César, que mostrava ser um companheiro carinhoso na frente da família.

“Me surpreendeu. Foi brutal. Foi brusco. Foi algo que eu nunca esperava que fosse acontecer. Na nossa frente, no dia a dia da convivência, quando ele frequentava minha casa, ele era dócil e demonstrava ter carinho, afeto e depois se tornou um monstro. O que a gente não sabia é que por trás daquela doçura, por trás daquele carinho, tinha uma pessoa que reprimia, que controlava. Esse e o problema de muitas mulheres, homens que controlam. Homens que ditam a regra e no casamento não tem que controlar, não tem que ditar regra. Tem que expressar o amor, o companheirismo. Me frustrou muito porque era algo inimaginável", relatou.

O caso

Na Delegacia da Mulher para registrar a denúncia um dia após o namorado ter quebrado seu celular, no dia 23 de novembro de 2017, Remís teria sido recomendada pelos policiais a desistir do boletim. Depois da solicitação, ela conseguiu uma medida de afastamento pela Justiça. 

 Remís desapareceu no dia 17 de dezembro, quando deveria ter voltado de um fim de semana na casa de Paulo César de Oliveira Silva, na época com 25 anos. Seis dias após o desaparecimento, o corpo foi encontrado próximo à casa do companheiro, no bairro da Várzea. Ele fugiu e só foi localizado uma semana depois em Vicência, na Mata Norte de Pernambuco.

Com informações de Vitória Silva

A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) retoma as atividades legislativas nesta quinta-feira (1) e, já na sexta-feira (2), a partir das 9h, irá realizar uma audiência pública denominada “A questão do feminicídio em Pernambuco a partir do caso Remís”. 

Proposta pelo deputado estadual Edilson Silva (PSOL), o convite do evento no Facebook destaca que a taxa de feminicídios no Brasil é a quinta maior do mundo e que 50% dessas mortes são praticadas por familiares sendo 33% deles parceiros ou ex-parceiros. “O feminicídio é o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher. Muitas vezes, é cometido pelo parceiro íntimo, em contexto de violência doméstica e familiar. Geralmente, é precedido por outras formas de violências”, destaca o texto publicado. 

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A morte da jovem Remís, que dá nome ao encontro marcado, aconteceu no dia 17 de dezembro de 2017. Ela morreu ao ser asfixiada pelo namorado, o pedreiro Paulo César de Oliveira. O motivo do crime teria sido ciúmes e a briga começado por causa de um celular. 

A Casa Joaquim Nabuco retoma as atividades, às 15h, com a instalação da quarta Sessão Ordinária da 18ª Legislatura. Está prevista para a Reunião Plenária a leitura de mensagem pelo governador, ou por um de seus representantes, sobre as ações desenvolvidas em 2017 e as prioridades para 2018. 

O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) ofereceu denúncia contra o pedreiro Paulo César de Oliveira Silva, assassino da estudante de Pedagogia Remís Carla Costa. O órgão também solicita a prisão preventiva do acusado.

O crime ocorreu no dia 17 de dezembro de 2017 no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. O texto da denúncia diz que Paulo matou a companheira por motivo fútil, dificultando a defesa e exercendo violência doméstica e familiar ao esganá-la.

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A promotora de Justiça Carolina de Moura Cordeiro Pontes cita nas denúncias atos de violência de Paulo contra Remís e a queixa dela em 23 de novembro do último ano, quando solicitou medidas protetivas. A violência teria ocorrido, diz a denúncia, porque no dia anterior a jovem foi ao lançamento do livro “A pequena prisão” e o denunciado achou que o autor da obra estava se insinuando para ela.

“Enciumado, o denunciado tentou acessar o celular da vítima para confirmar suas suspeitas. Por não conseguir a senha de acesso, danificou o aparelho telefônico dessa. A vítima ao perceber foi tomar satisfações, tendo o denunciado a lesionado no braço, fato que resultou numa equimose”, descreve a promotora.

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A estudante de Pedagogia Remís Carla Costa, de 24 anos, antes de ser assassinada pelo companheiro já vinha sendo vítima de violências do mesmo. Quando decidiu denunciar Paulo César Oliveira da Silva por agressões, a experiência na delegacia foi como uma extensão da violência que Remís pretendia relatar. Ao invés de oferecer acolhimento adequado a uma pessoa fragilizada, a polícia entregou um atendimento grosseiro, lento, intimidador e desdenhoso.

A história daquele 23 de novembro de 2017 está em um forte relato escrito por Jéssika Alves, amiga próxima de Remís. O LeiaJa.com traz este e mais alguns casos de mulheres que decidiram não se silenciar e procurar apoio das instituições de segurança, mas que acabaram vivendo uma experiência muito ruim por causa de policiais despreparados.

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Remís Carla Costa, 24 anos - Na Delegacia da Mulher de Santo Amaro, no centro do Recife, a estudante foi constantemente incentivada a desistir da denúncia de lesão corporal, crime de dano, injúria, ameaça e cárcere privado. "Tem certeza que você quer fazer isso? É muito burocrático, você vai ter que ir em muitos lugares" e "Por que você não largou esse homem?" foram algumas das frases que Remís precisou ouvir, segundo relato da sua amiga.

O procedimento era lento. Remís e Jéssika foram informadas que precisariam se deslocar sozinhas ao Instituto de Medicina Legal (IML) para exame de corpo de delito. Lá, a vítima entra só em uma sala. "O perito perguntou porque foi que eu não vim ontem, que foi o dia da agressão, esfregou minha roncha e perguntou se eu não tinha pintado de caneta", teria dito a jovem ao sair da sala.

Elas voltaram à delegacia para solicitar a medida protetiva. Foram horas de uma espera angustiante em um ambiente nada convidativo. O pedido de proteção seria encaminhado para um juiz fazer a liberação e demoraria cerca de dez dias, apesar da Lei Maria da Penha informar que o delegado deve remeter o pedido ao juiz para que este aprecie em até 48 horas.

Remís foi assassinada pelo companheiro no dia 17 de dezembro na residência dele, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. A Polícia Civil disse que Paulo César não foi notificado da medida protetiva porque não foi localizado pela Justiça. Confira o relato completo de Jéssika Alves:

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F.N., 35 anos - Moradora de uma comunidade pobre de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, a doméstica F.N. era vítima de violência psicológica constante praticada pelo companheiro. Mãe de duas crianças e grávida do terceiro filho, ela era verbalmente agredida na frente de todos.

"Ele tratava a mulher como se fosse uma serviçal", conta a amiga que levou F.N. até a polícia. Com o passar do tempo, a situação ficou mais crítica. O marido chamava a companheira de 'burra', dava empurrões e a puxava pelo cabelo.

Um dia, F.N. teve uma trombose. No celular da amiga, havia dez chamadas telefônicas não atendidas. Era a doméstica pedindo socorro. Do quarto, o marido gritou "é frescura".

Na 2ª Delegacia de Polícia da Mulher, na Estrada da Batalha, em Jaboatão, a doméstica foi recebida por um policial. "Você não percebeu essa situação antes? Por que demorou esse tempo todinho?", ela ouviu.

As perguntas eram feitas logo na recepção, na frente de outras pessoas. "O senhor vai fazer a ouvida aqui mesmo? Não tem sala adequada?", a amiga cobrou.

F.N. foi levada para uma sala para dar mais detalhes pessoais. Foi nesse momento que o policial que a atendeu deu em cima dela. "Ela saiu dizendo 'cheguei lá, o policial ficou se insinuando para mim, disse que qualquer coisa eu podia ligar para ele, anotou o número no papelzinho, ficou dando em cima de mim. Eu já estava numa situação difícil, suando frio, que absurdo'", lembra a amiga.

T.C., 29 anos – Em outubro, a mulher, que tem o costume de dormir despida, acordou com um pedreiro na janela, lhe encarando. O condomínio onde mora, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, passava por obras, mas em local distante, o que faz T.C. pensar que o homem possa ter premeditado aquilo.

Ela procurou a Delegacia de Boa Viagem no dia seguinte, quando estava um pouco mais calma. A vítima foi recebida por dois agentes. “Eles se comportaram como se fosse algo comum, disseram que não era motivo de fazer boletim de ocorrência”, ela conta. Para os agentes, não havia provas e o pedreiro poderia argumentar que estava apenas trabalhando.

T.C. diz ter ficado em choque e cobrado pelo menos um boletim para ser colocado na portaria do prédio. O agente disse que iria fazer apenas por ela estar pedindo, porque não daria em nada e não havia motivo para o homem ser chamado. “Por isso tantas desgraças acontecem”, disse T.C. aos policiais. Os agentes resolveram chamar o delegado de plantão. “Ele veio, disse ‘isso aí nem...’ e foi embora. Hoje continuo com medo. Não sei o que pode acontecer amanhã ou depois. Foi chocante, você já está chocada e ter que escutar isso tudo. Eu me senti humilhada, indefesa, desprotegida e arrependida de ter ido”.

L.C., 34 anos - Em outubro deste ano, L.C. sofreu quase uma hora de espancamento do marido em seu apartamento em Boa Viagem, Zona Sul do Recife. A agressão só parou porque ela conseguiu fugir até a portaria do prédio. Lá, pediu ao porteiro que acionasse sua família e a polícia.

Quando os policiais chegaram, questionaram se ela tinha certeza que queria que subissem até o apartamento, pois acarretaria na prisão do companheiro. "Daí eles, os policiais, disseram que estavam largando e foram embora", lembra a fisioterapeuta. 

Na delegacia, L.C. passava mal e vomitava. "Quando [a delegada] perguntou pelo agressor aos meus pais e soube que os policiais não subiram por eu não permitir, pois essa foi a versão dos policiais para justificar que não entraram, ela começou a dizer que eu não permiti porque fiquei com peninha dele e da mãe dele e se fiz isso era porque iria voltar para ele", lembra a vítima. 

"Depois com o escrivão, tive que ouvir de outro agente o seguinte: 'menino, o cabra tava com raiva mesmo, que estrago que ele fez', mas isso com um tom de deboche misturado com a rotina", diz a mulher. 

Na delegacia, ela foi informada para ligar dentro de oito dias para saber onde buscar a medida protetiva. "Ser vítima vai além da dor física, dos traumas. A gente tem que lutar e gritar para que todos entendam que isso não pode ficar assim".

O LeiaJa.com procurou a Polícia Civil para conversar com alguma representante do Departamento de Polícia da Mulher. O órgão informou que irá se posicionar através de nota. 

 

Entrevista com Wânia Pasinato, socióloga, representante da ONU Mulheres no Brasil e consultora independente em pesquisas aplicadas sobre Gênero, Violência e Políticas de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres para projetos do governo e de ONGs

LeiaJa.com (LJ) - Por que há tantos casos de mulheres que são destratadas nas delegacias e têm suas denúncias minimizadas?

Wânia Pasinato (WP) - Infelizmente nós ainda precisamos investir mais nesse atendimento, na capacitação dos policiais. Esse primeiro atendimento é fundamental para que a mulher tome coragem de fazer a denúncia, para que se sinta respeitada, e para que o caso tenha o encaminhamento correto na rapidez que é necessária. Precisamos investir em procedimentos novos, protocolos para atendimento.

LJ - Este é um problema nacional ou você acha que é uma situação exclusiva de certas regiões?

WP - Do que eu conheço de Brasil, é um problema nacional. Talvez pudéssemos apontar raríssimas exceções, que são casos pessoais, homens ou mulheres que já tenham uma formação anterior. No quadro geral, é uma falha histórica na constituição das delegacias da mulher. Entendemos que é preciso um serviço especializado para atender mulheres vítimas de violência. A delegacia da mulher não pode ser limitada à existência de uma placa na porta, equipe formada só por mulheres ou predominantemente de mulheres. Tem que ser um local orientado para dar uma resposta adequada às violências cotidianas, física, psicológica, ameaças, para que a gente possa de forma mais concreta não só aplicar a Lei Maria da Penha, mas evitar mortes como a da estudante, que teve um alcance nacional.

LJ - O que é preciso para que a construção de um atendimento mais adequado às mulheres nas delegacias seja feita com maior celeridade?

WP - A Secretaria de Segurança Pública precisa responder pela morte dessas mulheres. O inquérito tem que ser mais ágil. Há uma parcela de culpa do judiciário, que não aprecia as medidas protetivas no tempo previsto da lei, de 48 horas. E quando a medida for aprovada, que seja logo entregue ao autor da violência. Essa é a mensagem do Estado de que está de olho no comportamento dele. Só isso não vai inibir o comportamento criminoso, mas nos ajuda a ter alguma garantia que o Estado está se mobilizando para aplicar a Lei Maria da Penha. Temos que investir na formação dos policiais, dos oficiais de Justiça, dos próprios juízes e ministério público e desenvolver mais protocolos. É preciso que delegacias estejam equipadas. Tudo já está previsto na legislação e nenhum governo deu cumprimento de uma maneira integral. Precisamos que nossos governos cumpram aquilo que já temos nos nossos instrumentos legais. Não é preciso mais lei nem punição mais severa.

LJ - Queria voltar à primeira pergunta. Tudo bem que é preciso investir em capacitação, mas, novamente, por que há tantos casos de mulheres destratadas nas delegacias? O tratamento adequado não deveria ser o básico?

WP - Sim, atendimento digno é óbvio, é o básico, já devíamos ter condição de parar de cobrar isso. Falam que o policial precisa ser sensível para o atendimento. Ele não precisa ser sensível, é um funcionário público, tem que atender com respeito qualquer cidadão. Infelizmente, embora tanto se fale na gravidade da violência contra a mulher, isso ainda é visto como problema de menor importância, é um problema cultural. Ainda temos na nossa sociedade como se isso fosse um problema da mulher, privado, que ela tem que resolver porque provavelmente ela provocou, pelo seu comportamento, pela forma de tratar seu companheiro. Há uma minimização da gravidade da violência e de ver isso como um problema estrutural, que precisa ser resolvido com políticas públicas. Falamos muito mais do que falávamos 11 anos atrás, temos certo alerta quando se trata desses casos, mas ainda há um longo caminho.

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O deputado estadual Edilson Silva (PSOL) contou, nesta quinta-feira (28), que vai realizar na segunda quinzena de janeiro uma audiência pública para debater os “procedimentos padrões” da segurança pública nos casos como da jovem Remís Carla, que foi morta asfixiada pelo namorado. 

Edilson falou que houve um procedimento investigado “inadequado” enquanto a estudante estava desaparecida e também comentou a coletiva de imprensa concedida pela Polícia Civil. “Além do procedimento investigativo inadequado enquanto estava desaparecida, Remís ainda foi responsabilizada publicamente pela tragédia em entrevista coletiva concedida pela Polícia Civil”, escreveu em sua página do Facebook. 

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“Esses procedimentos do mandato buscam apurar responsabilidades, qualificar o serviço público e instrumentalizar as polícias para tratar de forma adequada os casos de violência contra as mulheres”, destacou o deputado. 

Durante a coletiva de imprensa que Edilson se refere, o chefe da Polícia Civil de Pernambuco, Joselito Amaral, chegou a dizer que Remís foi ao encontro da morte. “Ela tinha ciência de que o pedido dela fora acatado. Isso é um fato relevante, que deve ser retratado para que as mulheres, em uma situação dessas onde ela tem a ciência de que o afastamento foi decretado, não vá ao encontro. Se ele convidou e ela foi, ela foi ao encontro da morte”, disse na ocasião o delegado. 

Edilson também falou que recebeu hoje, em seu gabinete, algumas amigas e companheiras de militância de Remís.  “Nosso mandato entrará nas próximas horas com pedido de investigação junto à Corregedoria para apurar denúncias de negligência por parte de agentes da Polícia Civil”, avisou. 

 

A estudante de Pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Remís Carla Costa, vítima de feminicídio, será homenageada com um sarau, na quinta-feira (28). O evento ocorrerá às 18h no Centro de Educação (CE) da Universidade, no Campus Recife, local onde a jovem, de 24 anos, estudava. 

Remís foi assassinada na casa do namorado, o pedreiro Paulo César, no dia 17 deste mês. O corpo da mulher foi encontrado no último sábado (23), enterrado próximo ao local do crime, na Várzea, Zona Oeste do Recife. 

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O deputado estadual Edilson Silva (Psol) também lamentou a morte da estudante de pedagogia Remís Carla. O namorado da jovem, o pedreiro Paulo César de Oliveira confessou que a asfixiou, após uma briga na casa dele. Edilson disse, por meio de sua página no Facebook, que conheceu Remís e que ela fazia parte de uma equipe de militantes que aprendeu a respeitar. 

O parlamentar ressaltou que a morte da estudante impõe mais empenho na luta contra o patriarcado. “O assassinato de Remís, mais um feminicídio para confirmar que o machismo mata e precisa ser enfrentado com toda força, nos impõe ainda mais empenho na luta contra o patriarcado e sua função estruturadora de relações de brutal opressão contra o gênero feminino. Revoltante”, lamentou o parlamentar.

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“Esse crime contra Remís nos traz a tona, da forma mais cruel, que tipo de sociedade gera esta violência e estes desfechos. André Balaio escreveu que o assassino em questão não é um monstro, mas um homem comum que levou seu machismo às últimas consequências. Concordo com ele. É por isso que devemos todos lutar contra a ideologia e a cultura do patriarcado, aparentemente tão natural, mas que é o pano de fundo desta violência machista, que chega a matar”, frisou. 

Edilson ainda falou que o empoderamento feminino é uma urgência. “O patriarcado trata as mulheres como objeto, como patrimônio e algo a ser subjugado. Aquela função doméstica que é "naturalmente" das mulheres, carrega uma visão de mundo que pode chegar aos extremos da violência física, obstétrica, e até ao feminicídio. Isso é grave. O empoderamento feminino é uma urgência. Respeitar seu local de fala ė um gesto revolucionário”, escreveu. 

O deputado contou que irá encaminhar, na próxima semana, uma solicitação à corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) para apurar a suposta negligência de agentes da Polícia Civil no caso, que foi denunciada por amigos e familiares. 

Uma história que se repete, uma tragédia já anunciada. Assim pode se resumir o caso envolvendo a estudante Remís Carla, morta pelo próprio namorado, o pedreiro Paulo César de Oliveira. Como diversas mulheres, Remís havia prestado queixa do namorado exatamente há um mês e um dia, no dia 23 de novembro, por agressão física, injúria e dano por ele ter destruído o seu celular. 

Essa primeira briga, na casa dele, teria acontecido um dia antes, 22 de novembro, mas ela só decidiu prestar a queixa um dia depois na Delegacia da Mulher. Remís também fez um requerimento de medida protetiva de afastamento, ou seja, nem ela nem ele deveriam se aproximar. Essa medida foi deferida pela Justiça no dia 6 de dezembro, mas Paulo César não foi notificado porque, de acordo com o que contou o chefe da Polícia Civil de Pernambuco, Joselito Amaral, ele não foi encontrado. Foram duas tentativas sem êxito. 

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No último dia 15, uma sexta, os dois voltam a se encontrar e ela vai para a casa de Paulo, onde fica até o dia 17, no último domingo, onde foi morta asfixiada. Familiares, amigos e a população se perguntam: caso Paulo tivesse sido notificado pela polícia, teria se sentido coagido a não encontrar-se com Remís? Teria sido evitado a briga, que resultou em morte? Ou eles se encontrariam de qualquer forma? 

A estudante de pedagogia foi enterrada no Cemitério Campo Santo São José, em Paulista, neste domingo (24). Centenas de pessoas deram o último adeus para a jovem em um momento de muita comoção.  

A Polícia Civil de Pernambuco também pediu, neste domingo (24), durante coletiva de imprensa realizada no auditório do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que a sociedade evite o que denominou de “vingança privada” contra a família de Paulo César de Oliveira, acusado de asfixiar e assassinar a namorada Remís Carla. A polícia fez a solicitação após terem sido divulgadas notícias de que pessoas revoltadas queremo incendiar a casa onde o pedreiro mora, estendendo as ameaças aos familiares. 

De acordo com os delegados, durante todo o decorrer do caso, os familiares de Paulo contribuíram com as investigações até mesmo para encontrar o paradeiro dele. Ressaltaram ainda que a família não tem culpa, nem mesmo os parentes de Vicência  que o abrigaram e chegaram a “repugnar” o crime. 

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A polícia pediu para que o caso fosse tratado com bastante responsabilidade. “Evitar esse tipo de vingança privada porque a resposta dada pela Polícia Civil foi a localização do corpo, a prisão e o encaminhamento ao Judiciário”, foi destacado.

Durante a coletiva de imprensa concedida neste domingo (24), a equipe da Polícia Civil à frente do caso envolvendo a estudante Remís Carla informou que o pedreiro Paulo César, que confessou ter matado a namorada, falou durante a negociação com a polícia que queria tirar a própria vida. 

A negociação aconteceu após o pedreiro fugiu para o município de Vicência, onde nasceu. Segundo a informação, Paulo teria sido informado por alguém da comunidade de que estavam cavando justamente o local onde ele havia enterrado o corpo de Remís. “Ligamos para o Paulo para começar uma negociação com ele. Inicialmente, ele disse que ia se matar, essa negociação demorou cerca de duas horas, via telefone, foi chamado familiares para falar com ele”, foi exposto durante a coletiva. 

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A negociação até o pedreiro se entregar durou mais de duas horas. No entanto, depois de ter se rendido, Paulo não teria demonstrando arrependimento contando detalhes de como tudo aconteceu. 

Em Vicência, ele não se escondeu na casa de familiares, mas sim em uma serra conhecida na cidade, na área rural. No deslocamento até o Recife, ele confessou ter sido o autor do crime. 

Um homem frio e calculista. Foi assim, categórico, que o delegado Elder Tavares, designado para investigar o caso envolvendo a estudante Remís Carla Sousa, definiu o pedreiro Paulo César, que confessou ter matado a própria namorada.

O delegado contou detalhes de como encontraram o autor do crime, no município de Vicência. “No sábado (23), após tomar conhecimento de que um corpo tinha sido encontrado na localidade [nas proximidades da casa de Paulo], foi mantido contato telefônico com ele [Paulo] e, através de uma monitoração, descobriu-se ele no município de Vicência. A equipe do DHPP foi até ele e teve sucesso. No traslado, ele confessou a prática do feminícidio. Durante o interrogatório, corroborou o que havia dito durante o translado com bastante calma. O perfil dele: frio e calculista”, contou neste domingo (24), durante coletiva de imprensa.

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O pedreiro também tentou despistar a família de Remís. “Ele depositou R$ 50 reais na conta da namorada e informou isso via aplicativo WhatsApp para a mãe de Remís na tentativa de ludibriar. Também franqueou [facilitou] a entrada da polícia no imóvel dele para a gente fazer a perícia. Ele ficou passando mensagens dizendo que estava preocupado e compartilhou anúncios para procurar Remís”, falou o delegado.

Elder Tavares ressaltou que os setores da polícia estavam empenhados na localização de Remís. “E, ontem, através de informações repassadas por um colaborador, foram para a localidade e através de uma varredoura se descobriu onde provavelmente estava enterrado o corpo de Remís. E aí, com uma breve escavação, descobriu que existia um corpo ali, que foi retirado pelo Corpo de Bombeiros e encaminhado para o IML onde foi submetido à perícia e onde descobriu-se realmente que aquele corpo ali tratava-se do corpo de Remís”.

 

O corpo da estudante foi achado perto da casa de Paulo, no terreno do vizinho. “Ele foi atuado em flagrante por ocultação de cadáver e será encaminhado para audiência de custodia nesta tarde. Todos os elementos que foram coletados serão colocados no inquérito de feminicídio”, detalhou o delegado.   

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