"Que ele pegue a sentença máxima", afirma pai de Remís
Paulo César de Oliveira Silva é acusado de feminicídio por enforcar a namorada Remís Carla Costa, de 24 anos, durante uma briga em 2017. O corpo foi encontrado perto da sua casa, na Zona Oeste do Recife
O acusado de assassinar e ocultar o corpo da então namorada de 24 anos, Remís Carla Costa, chegou ao Fórum Thomaz de Aquino, no Centro do Recife, por volta das 9h20 desta terça-feira (9). Preso há quatro anos, dias após o crime, Paulo César vai a júri popular e pode permanecer no sistema prisional por feminicídio.
O crime ocorreu às vésperas do Natal de 2017, mas a demora para ser julgado manteve o sentimento de perda presente nos familiares. O pai Carlos Costa lembra da personalidade dócil e da vida reservada da filha. Ele vai ficar de frente ao ex-genro e descreveu o julgamento como um dia de "angústia", mas de "felicidade" e "alegria" pela expectativa de que a Justiça dê uma resposta exemplar.
"A dor é muito grande. Foi cortado um membro e um membro não se recupera, quando se corta é para sempre. Mas eu espero muita efetividade e que o júri seja justo, que a gente receba um alívio da dor que a gente tanto sente. Somente a Justiça pode proporcionar isso", disse momentos antes da audiência regida pela juíza Fernanda Moura Carvalho. Antes, a magistrada e o júri devem ouvir cinco testemunhas intimadas pelo Ministério Público do Estado (MPPE).
Respeito da Justiça às mulheres
Os familiares de Remís chegaram ao fórum por volta das 8h40 e se mostraram preparados para encarar o julgamento. O pai lembra que a jovem pedagoga foi enforcada sem direito à defesa e enterrada pelo réu a cerca de 400 metros da casa onde morava, no loteamento Nova Morada, na Zona Oeste do Recife. Ele espera que o Judiciário determine a sentença máxima como prova da atenção aos crimes contra a Mulher. "Por mim, ele ficaria eternamente preso [...] que ele pegue a máxima. A mulher precisa ser respeitada", requisitou.
"Não só para minha filha, mas para muitas outras mulheres que hoje sofrem. É hora de mudar esse contexto de lei que nós temos, muitas benesses para bandidos. Inclusive, como é que ele matou minha filha e tem direito a encontro conjugal dentro do presídio?", questionou o barbeiro.
Embora esteja confiante na decisão judicial, ele voltou a criticar a legislação brasileira. "Se ele ficar mais 5 anos quietinho, com 9 anos ele vai para casa pela porta da frente. Com 9 anos ele está na rua para cometer outro feminicídio e rindo da minha cara, debochando de mim", repugnou.
Surpresa e frustração com a brutalidade do acusado
Cerca de um mês antes de ser morta durante uma briga de casal, Remís Carla prestou queixa por injúria, ameaça, lesão corporal, cárcere privado e danos contra o namorado. Carlos aponta que a filha não comentou sobre o boletim de ocorrência, nem dava sinais sobre a postura agressiva de Paulo César, que mostrava ser um companheiro carinhoso na frente da família.
“Me surpreendeu. Foi brutal. Foi brusco. Foi algo que eu nunca esperava que fosse acontecer. Na nossa frente, no dia a dia da convivência, quando ele frequentava minha casa, ele era dócil e demonstrava ter carinho, afeto e depois se tornou um monstro. O que a gente não sabia é que por trás daquela doçura, por trás daquele carinho, tinha uma pessoa que reprimia, que controlava. Esse e o problema de muitas mulheres, homens que controlam. Homens que ditam a regra e no casamento não tem que controlar, não tem que ditar regra. Tem que expressar o amor, o companheirismo. Me frustrou muito porque era algo inimaginável", relatou.
O caso
Na Delegacia da Mulher para registrar a denúncia um dia após o namorado ter quebrado seu celular, no dia 23 de novembro de 2017, Remís teria sido recomendada pelos policiais a desistir do boletim. Depois da solicitação, ela conseguiu uma medida de afastamento pela Justiça.
Remís desapareceu no dia 17 de dezembro, quando deveria ter voltado de um fim de semana na casa de Paulo César de Oliveira Silva, na época com 25 anos. Seis dias após o desaparecimento, o corpo foi encontrado próximo à casa do companheiro, no bairro da Várzea. Ele fugiu e só foi localizado uma semana depois em Vicência, na Mata Norte de Pernambuco.
Com informações de Vitória Silva