O Movimento Ocupe Estelita pretende realizar um protesto durante a audiência pública da Prefeitura do Recife, marcada para as 14h30 desta sexta-feira (7), na Faculdade de Administração de Pernambuco (FCAP). Na ocasião, o órgão público deve apresentar o redesenho do projeto Novo Recife. Em contrapartida, os ativistas do Movimento alegam que a reunião é ilegal.
Na tarde desta quinta-feira (6), dois ativistas do Ocupe Estelita convocaram coletiva de imprensa para expor as ilegalidades da Prefeitura no processo. "A Prefeitura não está cumprindo o processo de participação popular, como eles dizem que estão fazendo", disse Luana Varejão, integrante do Movimento.
##RECOMENDA##
Ainda segundo a ativista, a audiência pública prevista para ocorrer amanhã é ilegal. "Eles estão passando por cima da lei municipal 16.745, que prevê aviso prévio com 15 dias de antecedência para realização de audiência pública. Além disso, o material divulgado durante a audiência também deve ser disponibilizado, o que não tem acontecido", ressalta. O edital de convocação só foi publicado no último dia 30 de outubro.
No encontro, o grupo também informou que entrou com uma representação no Ministério Público de Pernambuco (MPPE) solicitando anulação do edital de convocação da audiência pública e pedindo nova reunião. Em relação à coletiva realizada na manhã desta quinta, pelo Consórcio Novo Recife, o outro ativista presente no encontro desta tarde, Leonardo Cisneiros, disse que a apresentação é uma peça publicitária.
"O Consórcio só apresenta o que interessa a eles. O que a gente quer, na verdade, é que a Prefeitura tome a rédea do que é bom para cidade", disse. Cisneiros ressaltou, mais uma vez, que não é contra o empreendimento, apenas deseja que a cidade se desenvolva de forma sustentável e democrática.
"O avanço tem que ser benéfico para todos. A gente não pode desenvolver uma cidade e deixar os malefícios de lado. Por exemplo: o projeto vai aumentar o fluxo de veículos no local, aumentando ainda mais o trânsito no Recife. Com isso, o poder público terá que desenvolver mais obras de mobilidade”, falou.
Em nota, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Desenvolvimento e Planejamento Urbano, disse que "a legislação que estabelece o prazo para audiências públicas visa garantir o conhecimento prévio do material que será discutido em processos de licenciamento e proposições normativas. O órgão também falou que "o evento de amanhã tem a finalidade de apresentação das adequações no projeto Novo Recife, decorrentes da definição, pela Prefeitura do Recife, de diretrizes urbanísticas para a área. Assim, não houve material prévio a ser disponibilizado, o que acontecerá a partir da apresentação pública". Por fim, a pasta garantiu que a lei não se aplica a este tipo de situação, pois o debate público só será iniciado após a apresentação da Prefeitura.
Coletiva do Consórcio Novo Recife
Na manhã desta quinta-feira (6), o Consórcio Novo Recife divulgou para a imprensa o redesenho do empreendimento, que prevê a construção de 13 edifícios no Cais José Estelita, entre 42 e 37 metros de altura. Dos prédios, dez serão residenciais, um será empresarial, outro deve ser hotel e o último será misto (empresarial e flat). O projeto anterior previa a construção de 12 torres. Outra mudança foi em relação à ocupação pública. O antigo plano previa que 45% do terreno fosse área pública e 45%, privada. Agora, a parte pública corresponde a 65%, enquanto a privada foi diminuída para 35%. O espaço total do terreno é de 101,7 mil metros quadrados. O Consórcio Novo Recife é formado pelas empresas Moura Dubeux, Queiroz Galvão, GL Empreendimentos e Ara Empreendimentos.
Relembre o caso
O terreno do Cais José Estelita- no qual estão armazéns de açúcar que registram parte da história do Recife- foi comprado em 2008, em um leilão realizado pela Caixa Econômica Federal. Mas foi em maio deste ano que o local virou alvo de holofotes, quando um grupo de ativistas, formado pelo Movimento Ocupe Estelita, resolveu acampar no entorno dos armazéns, logo após o início da demolição do Cais, para dar espaço ao Projeto Novo Recife. O grupo passou 29 dias acampados no local e só deixou o espaço após reintegração de posse da Polícia Militar. No dia 17 de junho, a situação foi agravada: o Batalhão de Choque da PM usou bombas de efeito moral e spray de gás lacrimogênico para expulsar os ativistas do local. A violência, no entanto, não adiantou. O grupo só deixou o local no dia 11 de julho. Logo após, a Prefeitura do Recife marcou reuniões com as empreiteiras para debater o assunto e a liminar que impedia a demolição do Cais foi cassada. Até o momento, o Projeto Novo Recife foi redesenhado duas vezes.