Moradores da ocupação Leonardo Cisneiros, no Centro do Recife, organizaram um novo protesto na manhã desta quinta-feira (28). O grupo acusa a Polícia Militar de agredir uma idosa de 60 anos e uma criança de colo, de um ano. De acordo com a versão dos ocupantes, a PM chegou, por volta das 7h, ao antigo prédio do INSS, onde a ocupação está instalada. A corporação foi acompanhada pela Autarquia de Trânsito e Transporte (CTTU) para recolher pneus armazenados no edifício e que seriam utilizados na realização de uma manifestação.
Durante um conflito verbal, um dos policiais teria jogado um pneu na criança, um menino, filho de uma moradora identificada como Carol, mas que não participou do protesto. De acordo com Thaís Maria, de 27 anos, articuladora de um movimento por moradia popular e que mora na Leonardo Cisneiros há um ano e dois meses, o suposto ato truculento teria motivado a ação de última hora, já que não havia manifestação prevista para esta quinta-feira (28).
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“Chegou uma carga de pneus para fazermos um protesto, que não seria hoje. Pouco tempo depois, chamaram várias viaturas. Quando eles [a PM] chegaram lá, jogaram um pneu em uma criança de um ano e agrediram uma idosa de 60 anos. Eu quero saber se o governador Paulo Câmara permite a Polícia Militar do estado fazer um absurdo desses com crianças e idosos. Pra fazer isso, ele ele não tem consciência, não tem coração e nem tem filhos”, disse Thaísa ao LeiaJá.
De acordo com os moradores, foram seis viaturas da Polícia Militar e uma da CTTU. A criança não se machucou, mas ficou muito assustada e a mãe optou por não deixar o prédio. Dona Luísa, como foi identificada a idosa supostamente agredida, também não participou do protesto.
“Já tivemos outras situações assim. A PM quer entrar lá e abordar de uma maneira agressiva com as pessoas. Se a obrigação deles é abordar, que seja uma abordagem digna, sem violência, e respeitando a criança e os idosos”, continuou a articuladora.
A ocupação Leonardo Cisneiros passa por problemas desde o ano passado. O edifício, que fica na Rua Marquês do Recife, no bairro de Santo Antônio, foi ocupado em 17 de maio de 2021, e pertence ao Governo Federal. A maior preocupação dos ocupantes era o despejo, previsto para junho deste ano, com o fim da validade da campanha Despejo Zero, garantida desde o começo da pandemia da Covid-19. Com a nova prorrogação da política paliativa, a preocupação dos moradores volta a ser a situação de irregularidade e indefinição de qual será o destino da propriedade federal.
“Estou dormindo na rua por falta de moradia. Antes da prefeitura atual, eu recebia um auxílio moradia de R$200, a cesta básica todo mês, mas isso foi cortado. A secretária de assistência social me acompanhava todo mês, agora não acompanha mais. A minha esposa faleceu há sete meses, eu tenho filhos e netos, estudei e trabalhei. Tenho mais de um diploma e pretendo fazer advocacia e direito do trabalho. Estou aqui dando uma forma à ocupação, mas é porque também preciso da comunidade. O prédio [do INSS] seria um bom lugar para morar. Quero morar no Centro. Quero que eles forneçam o prédio para a gente, sem violência e sem agressão”, disse o morador Marcos André dos Santos, de 51 anos.
PM não reconhece o conflito
Em conversa com o LeiaJá, o subtenente Erinaldo, do 16º Batalhão (Frei Caneca) de Polícia Militar, informou que a versão dos moradores não é verdadeira. De acordo com o militar, a PM e a CTTU receberam denúncias de que um protesto estaria sendo organizado entre a Avenida Guararapes e a Dantas Barreto, também no bairro de Santo Antônio. As equipes foram ao local verificar a atividade, e durante o atendimento à ocorrência, recolheram os materiais que seriam utilizados na manifestação.
Ainda de acordo com a versão do policial, durante o recolhimento dos pneus, foi iniciada uma discussão verbal entre as duas partes, o que, segundo ele, costuma ser comum nessas ocorrências. No entanto, nenhuma agressão física ou ameaça teria sido cometida. O LeiaJá solicitou uma nota de esclarecimento à Polícia Militar de Pernambuco e aguardava retorno até o momento desta publicação.
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Trânsito
A CTTU identificou os efeitos do protesto no trânsito da região por volta das 9h30. Ônibus alteraram a rota e, até às 11h20 desta quinta-feira (28), orientadores de trânsito estavam no local para indicar desvios aos motoristas. Os seguintes pontos de bloqueio foram registrados:
- Rua Maria e Barros x Rua Nossa Sra do Carmo;
- Ponte Maurício de Nassau x Rua Madre de Deus;
- Av. Mariz e Barros x Primeiro de Março;
-Praça da República x Av. Dantas Barreto;
-Praça da República x Rua do Imperador;
-Rua Do Sol x Av Guararapes.