A Espanha se ofereceu nesta segunda-feira (11) para receber o "Aquarius", barco de uma ONG que navega pelo Mediterrâneo com 629 migrantes resgatados no mar, depois que Itália e Malta se negaram a abrir seus portos.
A ONG SOS Méditerranée, que freta a embarcação, respondeu, no entanto, que as condições de segurança não permitiam seguir viagem até a Espanha.
"Chegar à Espanha levaria vários dias. Com 629 pessoas a bordo e condições meteorológicas que se deterioram, a situação poderia se tornar crítica", tuitou a organização.
Embora tenha qualificado de "sinal positivo" a proposta da Espanha de receber seu barco no porto de Valencia (leste), a ONG voltou a pedir ajuda da Itália.
"A prioridade deve ser a segurança de todos os sobreviventes. São as autoridades marítimas italianas que devem encontrar uma solução segura e rápida", acrescentou a SOS Méditerranée.
Segundo a jornalista da Euronews, Anelise Borges, que está a bordo do "Aquarius", a tripulação considera muito perigoso o fato de enfrentar ondas de dois metros com um barco superlotado.
Uma embarcação da Marinha maltesa levou comida e água ao barco da ONG, que na noite de segunda-feira estava a dezenas de milhas náuticas da costa de Malta.
Segundo a organização, as provisões permitirão oferecer "comida adicional" aos migrantes na terça-feira, mas que serão insuficientes para viajar até a Espanha, situada a 1.300 quilômetros, isto é, quatro dias de viagem, segundo estimativas da AFP.
"O 'Aquarius' sairá até Valencia, acompanhado por nossas lanchas da Marinha e guarda costeira", indicou o ministro italiano de infraestrutura, Danilo Toninelli, após uma reunião de crise do novo governo na segunda-feira.
Na manhã de terça-feira serão levadas mais provisões para o barco dos migrantes, que serão visitados por uma equipe médica.
O "Aquarius" sairá o "quanto antes", insistiu o novo ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, o líder da ultradireitista Liga.
Horas antes, tinha celebrado o fato de que o barco de migrantes não tivesse atracado na costa de seu país. "VITÓRIA", escreveu no Twitter. "É a primeira vez que um barco que socorre migrantes na Líbia desembarca em um porto que não é italiano, é o sinal de que algo está mudando", comemorou, depois de coletiva de imprensa.
Em Madri, dez dias depois de sua chegada ao poder, o chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, assegurou que a Espanha devia cumprir "com os compromissos internacionais no campo de crise humanitária".
"Dei instruções para que a Espanha acolha o barco Aquarius no Porto de Valencia", tuitou o líder espanhol.
- Discurso anti-imigração -
O "Aquarius" resgatou no sábado em frente à costa da Líbia 629 migrantes, entre eles sete mulheres grávidas, 11 crianças pequenas e 123 menores sozinhos.
Malta e Itália se negaram a abrir seus portos à embarcação.
A Comissão Europeia havia reivindicado uma "solução rápida" para esta crise. A Agência da ONU para os Refugiados (Acnur) destacou que havia "um imperativo humanitário urgente" e pediu à Itália e Malta que permitissem o desembarco de imediato dos migrantes.
É a primeira vez desde a chegada ao poder da coalizão entre a Liga e o Movimento 5 Estrelas (M5S, antissistema) que a Itália bloqueia seus portos. Salvini prometeu durante a campanha prévia às legislativas que fecharia as fronteiras aos migrantes.
"Salvar vidas é um dever, transformar a Itália em um grande campo de refugiados, não, a Itália deixou de abaixar a cabeça e obedecer, desta vez TEM ALGUÉM QUE DIZ NÃO", escreveu na segunda-feira no Twitter.
Salvini advertiu que todos os barcos de ONGs que ajudem os migrantes na Líbia terão a mesma sorte que o "Aquarius": "Quero por fim a este tráfico de seres humanos" e o "problema virá para todos os barcos que seguirem".
Apesar do discurso do ministro do Interior, espera-se que o barco "Diciotto" da quarta guarda costeira italiana chegue à Sicília na terça ou na quarta-feira com 937 migrantes a bordo.