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O Instituto Peabiru está lançando o projeto “Mangues da Amazônia” em parceria com o Laboratório de Ecologia de Manguezal – LAMA, da Universidade Federal do Pará (UFPA), e com a Associação Sarambuí. A iniciativa tem o objetivo de preservar e recuperar os manguezais em três Reservas Extrativistas Marinhas na costa nordeste do Estado do Pará.
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John Gomes, engenheiro de pesca, mestre em Biologia Ambiental e gestor do projeto, explica que a proposta surgiu da necessidade do LAMA, do Instituto de Estudos Costeiros (IECOS) da UFPA, de dar continuidade aos trabalhos já desenvolvidos pelo laboratório sobre as questões socioambientais no manguezal em apoio à população que depende desse sistema para a sobrevivência. O projeto também busca uma nova plataforma para aplicar suas abordagens sociais e ecológicas no âmbito da pesquisa, ensino e extensão, amplificando sua área de atuação na costa paraense.
Os esforços para recuperação de áreas degradadas de florestas de mangue são baseados em duas técnicas de reflorestamento, já adaptadas e utilizadas na região bragantina pelo LAMA, e no trabalho de base comunitária. John informa que sementes coletadas nessas florestas e mudas produzidas em viveiro serão utilizadas para o reflorestamento dessas áreas.
“A transferência das técnicas aplicadas para os comunitários e sua participação direta em todo esse processo, juntamente com o trabalho de educação ambiental direcionado para todos os grupos dentro da comunidade, são de suma importância para o sucesso das práticas de reflorestamento, garantindo a recuperação dos recursos, das funções do sistema e da paisagem e, em consequência, a conservação dos manguezais ao longo da área de atuação do projeto”, afirma.
O "Mangues da Amazônia" também vai focar na conservação de duas espécies de grande relevância para as comunidades-alvo. A primeira, o caranguejo-uçá, que tem um papel relevante nos processos ecológicos do ecossistema, além de ser importante para a economia das comunidades. A pesca dessa espécie é uma das mais antigas do país e fundamental para o setor artesanal em áreas de manguezal. A outra é o mangue branco, vegetal que desperta interesse pelo uso da sua madeira jovem para a construção de currais de pesca.
O engenheiro ressalta que as ações relativas à exploração desses recursos típicos das florestas de mangue vão ser abordadas em avaliação socioecológica do conhecimento tradicional, com o uso do mapeamento participativo das zonas de extração dessas duas espécies. “No intuito de propor estratégias de manejo cuja finalidade é o uso sustentável de ambos os recursos”, enfatiza.
John diz que as atividades do projeto já estão sendo realizadas, seguindo as orientações para a prevenção da covid-19, em três municípios do litoral paraense: Augusto Corrêa – cujo polo é a comunidade de Araí, localizada dentro da Reserva Extrativista Marinha (RESEX Mar) de Araí-Peroba; Bragança, com polo na comunidade de Tamatateua, próxima à zona de amortecimento da RESEX Mar de Caeté-Taperaçu; e Tracuateua, onde a comunidade escolhida como polo para as atividades do projeto é Nanã, também localizada fora dos limites da RESEX Mar de Tracuateua.
Tendo em vista que o projeto é de cunho socioambiental, os moradores locais (usuários das RESEX Mar) estão envolvidos em todas as atividades. “Os moradores locais estarão ajudando no mapeamento das zonas de extração, através do seu conhecimento sobre os recursos e as áreas de uso desses recursos (as espécies focais caranguejo-uçá e mangue branco)”, explica o pesquisador.
John ainda afirma que eles também estarão envolvidos no reflorestamento das áreas degradadas de manguezal, participando de todo o processo de coleta, produção de muda e reflorestamento, além de receber capacitações propostas pelo projeto e com origem de demanda espontânea abrangendo vários grupos do público-alvo. “Nesse universo do ensino, o projeto vai focar em crianças de até 6 anos, criando o Clube do Recreio; crianças de 7 a 12 anos, com o Clube de Ciências, além da criação do grupo comunitário Protetores do Mangue – PROMANGUE, para estudantes do ensino médio”, informa.
O "Mangues da Amazônia" também envolve a comunidade por meio de cursos de formação profissionalizante, voltados para temas de direito ambiental e social, disponibilizando advogado, psicóloga e assistente social. John destaca que o projeto busca a formação de pessoas mais participativas, especialmente em questões relacionadas à responsabilidade socioambiental.
De acordo com John, a transformação de uma comunidade é demorada e demanda a empatia e a realização conjunta com o público-alvo. “Esse processo contínuo de conscientização das questões ambientais é fundamental para o fortalecimento do sentimento de pertencimento dos comunitários, bem como para gerar inúmeros multiplicadores que se tornarão os futuros protagonistas da recuperação e conservação dos recursos dos manguezais, assim espera-se”, acrescenta.
Segundo o pesquisador, o entretenimento também será utilizado como instrumento de formação nas ações do projeto. "Vai englobar toda a comunidade através do cinema, sendo a interação com o manguezal também trabalhada através da etnomusicologia e os processos de transmissão de conhecimento inter e transgeracionais”, assinala.
Em dois anos de projeto, os pesquisadores acreditam ser possível conseguir benefícios relevantes para as comunidades. “Dentre essas mudanças estão aquelas decorrentes de ações ambientais: reflorestamento e mapeamento da exploração do caranguejo-uçá e mangue branco, cujos resultados promovem a recuperação dos recursos que utilizam e das funções do manguezal”, explica John. Para ele, essas mudanças poderão ser observadas na melhor percepção das questões ambientais.
“Mais questionamento sobre seus direitos, melhor pensar e fazer, mais responsabilidade social, mais prática do voluntariado e percepção das suas experiências através das práticas sociais, observando a participação dos diferentes grupos da comunidade na construção da sua própria identidade cultural”, diz.
Por enquanto, as atividades coletivas estão suspensas devido à pandemia. Porém, segundo o engenheiro, estão sendo realizadas ações de reflorestamento e mapeamento das áreas degradadas, de extração de madeira e de extração do caranguejo-uçá sem o envolvimento dos moradores locais. “As ações sociais estão sendo realizadas no formato remoto, através de webinários, entrevistas, palestras e cursos on-line”, acrescenta.
John diz que o projeto "Mangues da Amazônia", com patrocínio da Petrobras, tem duração de dois anos (2021–2022). “Embora a ideia e estrutura construídas, tanto antes quanto durante este projeto, permaneçam para um próximo ajuste e financiamento”, finaliza.
Por Isabella Cordeiro.