Como jogador do Goiás, São Paulo e até da seleção brasileira, ele sempre se destacou. Apesar de não ser um craque, como ele mesmo reconhece. Como treinador, foi campeão estadual pelo Náutico e pelo Ceará. Mas em 2011, aceitou o desafio de tentar soerguer o Santa Cruz, que vinha de cinco anos de frustrações e decepções.
No primeiro semestre, o trabalho foi coroado com o título do pernambucano, taça que não ficava no Arruda desde 2005. Mas faltava o principal: tirar o tricolor da Série D do futebol nacional. E com muito sofrimento o objetivo foi alcançado. Já classificado para a Terceira Divisão, o Santa Cruz se prepara para a semifinal contra o Cuiabá-MT.
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Mas antes Zé Teodoro atendeu a reportagem do Leia Já. Em uma entrevista exclusiva, o treinador fala deste ano positivo à frente do Santa Cruz, dos seus planos para o futuro e também de sua vida fora das quatro linhas.
Leia Já: É evidente que essa é uma vontade de quase todo brasileiro... E você foi jogador, vive do futebol. Como surgiu e aconteceu isso?
Zé Teodoro: Nunca fui um craque. Sempre tive a humildade de dizer que sempre fui um operário, mas também um líder positivo, agregador e motivador. Como jogador e treinador, meu lema sempre foi buscar desafios e acreditar que o trabalho só vai aparecer se pegar a coisa de baixo, transformar e chegar lá em cima. Às vezes pego uns trabalhos que todo mundo acha que é impossível e eu transformo, juntamente com o grupo e com a comissão técnica. Sempre aposto no projeto. Tive 11 propostas para deixar o Santa Cruz e achei melhor permanecer por causa do resultado final. Não me arrependo de nada que fiz.
LJ: Em todo esse trajeto, qual foi a maior dificuldade? Algum momento pensou que não dava mais para continuar?
ZT: Nunca recuei diante das adversidades. Mas já tiveram momentos que não me deram tempo necessário, não tiveram a paciência de fazer um trabalho de médio a longo prazo. Hoje infelizmente no Brasil a leitura de jogo, a parte tática não é entendida por todos. O treinador sempre fica encostado na parede, no fio da navalha, sempre responsabilizado. Os clubes não dão o tempo necessário, às vezes são induzidos pela imprensa, pelo torcedor e o dirigente não aguenta a pressão.
LJ: Título pernambucano, acesso de divisão... Hoje seria o melhor momento da carreira de Zé Teodoro?
ZT: Já tive momentos melhores, em divisões como Série A, Série B, Campeonato Paulista, no Ceará também conquistei títulos. O Santa Cruz foi o maior desafio. Eu queria fazer um povo humilde, simples, que estava com traumas, passando por situações que eu tinha que dar uma ajuda, colaborar. Achei melhor, juntamente com o Sandro, que foi o responsável por ter me trazido, sem dinheiro, sem nada e a gente ajudou, colaborou e estamos dando sequência.
LJ: Como jogador você chegou ao ápice atuar na Seleção Brasileira e disse planejar chegar ao topo também como treinador. O que falta para isso?
ZT: Hoje eu estou preparado. Já estou em condições de esperar a oportunidade aparecer, já estou merecendo uma oportunidade em um time de ponta, pois todos os trabalhos que eu fiz obtive resultados e uma coisa importante para o treinador é conquista, título, currículo. É lógico que eu ainda não tive oportunidade em trabalhar em um time grande, que é totalmente diferente, tem estrutura. Às vezes aqui o desgaste é maior, aqui você se preocupa com todos os setores. E em um time como o São Paulo, Palmeiras, Corinthians, você tem tudo praticamente mastigado. Tem jogadores, elenco, investimento. No dia que eu chegar, vou chegar para ficar.
LJ: E o futuro no Santa Cruz?
ZT: Eu não sei qual é o pensamento, até agora não conversamos. Eu tenho contrato para cumprir até novembro e eles vão esperar. Mas temos que continuar dando seguimento, avaliar o que se pode aproveitar e se eu não ficar vou deixar praticamente o trabalho na metade do caminho. Uma base montada, como deixei no Atlético-GO, no Ceará... Eu acho que esse trabalho pelo conhecimento que eu tenho do mercado, já vou contribuir, mas se eu permanecer é lógico que terão exigências para reforçar mais ainda, melhorar a estrutura, condições, tudo isso nesse ponto eu sou chato e exigente. Quanto mais se conquista mais o clube cresce na cobrança, então eu acho que só posso ficar aqui se receber uma condição melhor que essa de 2011.
LJ: Mas a vontade é ficar?
ZT: Eu estou bem, estou satisfeito. Lógico que a gente não pode dizer que vai ficar, pois tudo pode acontecer. Propostas podem acontecer. Sabemos que a vida é questão de oportunidade, mas estou bem e satisfeito. E se me atenderem, a mim e minha comissão, tudo aquilo que pretendemos, sem dúvida, a intenção do treinador é ficar mais tempo no clube, ficar aqui dois, três anos para realmente dar um resultado e levar o time para uma condição até a Série A.
LJ: Como é o Zé Teodoro fora do futebol?
ZT: Eu sou muito família. Estou longe, mas procuro estar perto pelo telefone da minha mulher, dos meus filhos e sempre que posso eu vou para lá ou eles vêm. Gosto da minha música sertaneja, da minha vida em Goiânia. Adoro minha pelada, a fazenda, para curtir meus amigos. Também de teatro, cinema e atividade física, como dar um trote, jogar bola. Eu sou bem natural, tanto que agora com esse tanto de problemas que estão acontecendo com os treinadores, meu cuidado é maior, principalmente para tirar o estresse, a tensão, pois a pressão e a responsabilidade são enormes. A solidão às vezes acontece, mas temos que conviver e enfrentar todos os tipos de situação. Vamos amadurecendo a cada trabalho.
LJ: O que você mudaria no mundo do futebol?
ZT: Melhores condições de trabalho no aspecto das divisões de base, patrocinador... O maior produto hoje no futebol é o atleta, então deveríamos “desviar” verbas para aquilo que no Brasil nasce com as pessoas, começou a caminhar já é com uma bola. Então deveria ter um interesse e um investimento maior. Também deveria ter mais honestidade e profissionalismo da cartolagem.
LJ: O que o “jornalista Zé Teodoro” iria perguntar para o treinador “Zé Teodoro”?
ZT: Ih. Essa é uma pergunta bem difícil, hein?... Perguntaria qual é o sonho. Mesmo com 48 anos eu tenho sonhos. E respondo: tenho o sonho de trabalhar em um clube grande, em uma Seleção Brasileira Sub-20, uma Copa do Mundo. Essa seria uma pergunta que me faria deixar com otimismo, confiança e de trabalhos futuros.