A queda nos lançamentos e nas vendas de imóveis, somada à vagarosidade na execução das obras de infraestrutura, tem pressionado o Produto Interno Bruto (PIB) do setor da construção neste ano. A perspectiva é que o segmento tenha expansão em torno de 1,0% em 2014, o que representa o desempenho mais baixo dos últimos quatro anos. A estimativa é do novo presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), José Romeu Ferraz Neto. A projeção inicial do sindicato para o PIB nacional da construção em 2014 era de alta de 2,8%, mas o baixo nível de atividade nos últimos meses levou a uma revisão, em maio, para alta de 1,0% a 2,0%. "Esse número deve ficar mais próximo de 1,0%", disse Ferraz, em entrevista concedida ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
Caso a nova projeção seja confirmada, será o pior resultado desde 2009, quando o PIB da construção caiu 0,74% influenciado pela crise internacional. Em 2010, a alta foi de 11,65%, com a explosão do mercado imobiliário. Já nos anos seguintes, o crescimento foi mais moderado: 3,62% em 2011, 1,38% em 2012 e 1,90% em 2013.
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O desaquecimento no PIB da construção já afeta o número de empregos na área. Apesar do número de vagas ter aumentado ao longo do ano, foram registradas duas quedas consecutivas nas pesquisas mais recentes realizadas pelo Sinduscon-SP em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Entre janeiro e agosto foram criadas 21,8 mil vagas na construção no País, 0,62% mais do que no mesmo período do ano passado. Em julho, porém, o total de trabalhadores empregados na área caiu 0,13% ante o mesmo mês do ano passado. E em agosto, houve recuo de 0,49%. Com isso, o total de trabalhadores no ramo foi a 3,518 milhões no fim de agosto, menos que o montante de 3,535 milhões verificado um ano antes. "Se continuar assim nos próximos meses, o emprego vai terminar o ano em queda", afirmou Ferraz.
A avaliação é compartilhada por Ana Maria Castelo, coordenadora de estudos da construção da FGV. "Os próximos meses são sazonalmente mais fracos, com mais demissões que contratações. Então, a probabilidade é que o nível de emprego em dezembro de 2014 fique bem abaixo do que em 2013", afirmou a pesquisadora.
O baixo crescimento do PIB da construção é consequência, principalmente, da queda nas vendas e nos lançamentos de empreendimentos imobiliários ao longo do ano. Muitos potenciais compradores de imóveis desistiram de fechar negócios em meio à deterioração do quadro econômico nacional, com inflação e juros elevados, além das incertezas políticas. O calendário com carnaval tardio (realizado apenas em março), Copa do Mundo e eleições também atrapalhou as vendas.
A pesquisa de emprego do Sinduscon-SP e FGV mostra que, entre janeiro e agosto, o total de trabalhadores ligados ao mercado imobiliário caiu 1,49% ante o mesmo período do ano passado, enquanto no setor de infraestrutura houve alta de 0,78%. As obras relacionadas à Copa do Mundo, mobilidade urbana e concessões de aeroportos e rodovias contribuíram para sustentar a atividade desse segmento, ainda que o ritmo de execução dos projetos tenha sido mais lento do que o esperado.
2015
O PIB da construção e o nível de emprego no setor no próximo ano tendem a apresentar desempenho semelhante ao atual. Ana Maria observou que a expectativa dos empresários em relação a novos negócios vem diminuindo fortemente por conta dos receios com o desempenho geral da economia e a incerteza com o cenário político.
"A conjuntura econômica de baixo crescimento, que deve se manter no ano que vem, afeta as decisões de investimentos dos empresários", frisou Ana Maria. "Ainda existem muitas concessões de infraestrutura para serem feitas, principalmente, em portos e ferrovias. Mas isso depende da sinalização de quem assumir o governo federal", explicou.
No caso do mercado imobiliário, Ferraz acrescentou que ainda enxerga demanda dos compradores de imóveis, mas não vislumbra uma recuperação imediata na atividade, pois o menor volume de lançamentos neste ano vai representar menos obras em execução no ano que vem.
Na avaliação do presidente do Sinduscon-SP, a retomada do crescimento do PIB da construção e do PIB nacional são dependentes de ajustes na economia por parte do governo federal, como acerto da meta fiscal, controle dos gastos públicos e fim do controle artificial de preços para segurar a inflação. Segundo ele, essas medidas ajudarão na retomada da confiança de empresários e consumidores no Brasil, além de voltar a atrair o investimento estrangeiro. "Qualquer que seja o novo presidente, esperamos que os remédios na economia sejam aplicados", ressaltou. "Mesmo com esses ajustes, não deve haver um crescimento do País no ano que vem, só em 2016. Aí, se o PIB da construção se mantiver em 1,0% em 2015, já estará bom", projetou.