Longo, difícil e concorrido, o caminho até à universidade exige dedicação. O contato com os livros, muito mais do que um simples prazer pela leitura, se torna obrigatório para quem sonha em chegar ao ensino superior, assim como as aulas e resolução de questionários. Em todo o Brasil, jovens enfrentam a rotina dos estudos e focam na preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), considerado hoje o principal meio de ingresso na academia e nos principais programas públicos voltados para a educação. Todo esse é contexto é o combustível de um projeto de extensão formado por estudantes de licenciaturas que, relembrando seus passados, compartilham conhecimento com alunos do ensino médio que também sonham estampar em suas vidas o status de universitários.
Criado em 2005 pelo professor Valteir Silva, o Projeto Interação é realizado por alunos de licenciatura da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e também conta com voluntários e professores formados de outras instituições de ensino. No Campus Recife da UFPE, a iniciativa prepara jovens carentes que sonham em chegar à universidade através do Enem. A grande maioria dos beneficiados não reúne condições financeiras para arcar com um cursinho privado, mas encontraram no Interação a chance de ouvir histórias de professores que, assim como eles, um dia sonharam em alcançar o ensino superior. Todas as aulas são promovidas de forma gratuita e os docentes participantes não recebem nenhum salário.
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Com aulas de segunda a sábado, sempre no período da tarde ou em alguns casos no turno da manhã, o projeto de extensão oferece, anualmente, cerca de 80 vagas. Neste ano, o processo seleção recebeu mais de 300 inscrições. O que justifica o sucesso do número de inscritos, segundo a coordenadora do projeto, Natacha Freire, é o trabalho bem feito dos professores e alunos envolvidos, assim como a “propaganda” promovida pelos centenas de feras que chegaram ao ensino superior graças ao apoio do interação. Por mais que as aprovações sejam importantes, entretanto, a formação do cidadão enquanto futuro universitário é um dos principais objetivos da extensão. De acordo com Natacha, além de estudarem para o Enem, os alunos são preparados para a vida acadêmica que vão enfrentar entre os muros da universidade. O combate ao preconceito é um dos grandes desafios dos jovens.
“O aluno de universidade tem um papel diferente do estudante do ensino médio. Existe também o fato que a maioria dos nossos estudantes é carente e, quanto a gente fala do ensino não só para a prova, é que também buscamos preparar o aluno para a vivência universitária. Há o risco de alguns encontrarem preconceito por serem carentes ou cotistas. Não consideramos cotas um privilégio, porque elas têm uma função de inclusão, e por isso tentamos fazer com que eles reflitam e saibam se posicionar se de repente forem vítimas de olhares preconceituosos”, explica Natacha Freire.
Antes de ser coordenadora do Interação, Natacha, que é formada em geografia, também atuou como professora. E mesmo antes de ser docente da extensão, ela sentou nas mesmas cadeiras onde os feras se acomodam para assistir às aulas. Com 27 anos, Natacha é um dos exemplos de luta pelo ingresso na universidade e faz questão de mostrar aos alunos que eles também são capazes.
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Aluno professor
Em uma das salas do Campus Recife da UFPE, alunos e professores mergulham no universo da educação e trocam conhecimentos. Não existe ensino unilateral, pois no Interação, o estudante aprende com o professor e o docente conhece novas histórias contadas pelos seus alunos. Os benefícios também são inúmeros, tanto para quem conduz a aula, como para quem assiste.
Ao todo, o Interação conta com 32 professores, boa parte ainda cursando licenciatura. Para a maioria deles, o projeto de extensão é a primeira experiência no contato com a sala de aula, como no caso de Renato Ribeiro. Ele foi aluno do projeto em 2005, depois conseguiu chegar à graduação, se formou em história e voltou ao preparatório, agora como professor. As justificativas para o retorno são inúmeras. Confira no vídeo a seguir:
O amor pela educação, na ótica dos integrantes do Interação, sempre tem lugar cativo. É esse sentimento que inspira muitos professores a deixarem de lado alguns compromissos, até mesmo profissionais, para se dedicar de forma voluntária ao projeto. André Luiz Barbosa da Silva, formado em química, viu um anúncio do Interação convocando candidatos para a seleção de ingresso. O professor procurou o projeto, mas não para se inscrever: “Em 2014, mandei um e-mail para o coordenador da época, demonstrei interesse e encontrei as portas abertas para ter minha primeira experiência como professor”, conta o docente. No áudio a seguir, André Luiz descreve como é o seu dia a dia no projeto:
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Personagens fundamentais no Interação, os alunos, mesmo jovens, começam a construir uma responsabilidade de dedicação e ao mesmo tempo cobrança pelo ingresso na universidade – muitas vezes vinda dos próprios pais -. Horas de lazer e brincadeiras são trocadas pelos rostos colados nos livros e abdicações de finais de semana e feriados, por causa do compromisso de compreender os conteúdos trabalhados em sala de aula. Ainda há peso da concorrência.
Com 18 anos de idade, Ramon Rodrigues, morador do bairro de Cavaleiro, município de Jaboatão dos Guararapes, não troca suas tardes no Interação por qualquer outro programa. Esforço, segundo ele, alimentado pela vontade de chegar à universidade. O sonho é compartilhado com sua companheira de classe, Debora da Silva, 17 anos, moradora de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife. Os feras almejam aprovação nos cursos fisioterapia e gastronomia, respectivamente. Pensando em uma graduação bem mais concorrida, Jecislayne Hellen Freitas, de 17 anos, dedica horas do seu dia ao estudo com o objetivo de passar em medicina. Mas o que os três estudantes têm em comum é a coragem para disputar de igual para igual com outros candidatos, além do sentimento de agradecimento ao Interação.
O Projeto Interação conta com o apoio físico da sala da UFPE, mas não recebe incentivo financeiro oriundo da Universidade. No período de abertura das inscrições para novos alunos, geralmente no começo do ano, são recolhidas taxas de participação no valor de R$ 10, que segundo a coordenação da extensão servem para manter os custos da iniciativa durante todo o ano. Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas no site do Interação.
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