Ver o filho se formar em um curso superior está entre os sonhos de muitos pais. Conquistar um diploma junto com ele, então, deve ser uma realização em dobro. No ano de 2016, o técnico industrial Luís Felipe, 46 anos, com o intuito de incentivar o filho, Lucas Soares, 23 anos, diagnosticado na infância com Síndrome de Asperger (transtorno de desenvolvimento que afeta a capacidade de se socializar e de se comunicar com eficiência), decidiu que iria cursar direito junto com o filho.
Lucas sofreu preconceito e bullying em momentos anteriores da sua trajetória escolar, e para incentivá-lo na faculdade, em família, foi decidido que o pai seguiria com ele na graduação. “Fui apenas um facilitador, o Lucas se superou a cada dia, até a formatura. A turma o acolheu e isso foi extremamente importante para o desenvolvimento dele”, diz Felipe.
##RECOMENDA##
O pai ainda acrescenta que não houve nenhum tipo de benefício ou diferença entre o filho e os outros estudantes. Provas e trabalhos eram aplicados da mesma forma. Atualmente, Lucas é portador de Transtorno do Espectro Autista (TEA), grau leve, condição de saúde caracterizada por prejuízos em três áreas do desenvolvimento humano: habilidades socioemocionais, atenção compartilhada e linguagem.
Ao saber que o pai o acompanharia na graduação, Lucas comenta, segundo o pai, que ter a presença de um familiar em sala de aula foi fundamental, além do acolhimento das pessoas. “O apoio de todos foi muito importante para que eu alcançasse o objetivo final, a graduação”, diz Lucas, segundo comentário feito pelo pai.
Moradores do município de Serra, no Estado do Espírito Santo (ES), em entrevista ao LeiaJá, ambos afirmam que a graduação, sem dúvidas, foi a melhor experiência de vida. “A convivência, os desafios, o sentimento de inclusão de ser aceito foram as melhores experiências”, relata o formando.
Na hora dos estudos, pai e filho também compartilhavam o aprendizado. Foto: Arquivo pessoal
Para Felipe, o dia a dia com o filho o tornou um pai melhor e um ser humano mais ainda. “O Lucas é luz e um filho maravilhoso”, elogia Felipe. A iniciativa de apoiar o filho na faculdade também sofreu com insegurança. “Foi assustador, não sabia como lidar com todas as questões, como seria a aceitação dele pela turma, o desenvolvimento, entre outros pontos. Como seria estudar juntos, após um longo período sem estudar? Foi tudo muito complicado. Mas as coisas foram ficando mais fáceis quando a sala de aula abraçou o Lucas”, relembra o pai.
De acordo com Felipe, sua esposa, mãe do Lucas, Viviane Weberling, é advogada e foi a principal inspiração do filho. Lucas teve o primeiro contato com o curso de direito em 2012, ano em que assistiu uma aula com a mãe, que ainda estudava, e gostou da aula.
O pai ainda relata que quando as aulas passaram a ser on-line, devido à pandemia da Covid-19, Lucas sentiu falta de socialização das aulas presenciais. A colação de grau de ambos está prevista para fevereiro de 2021. Os próximos passos da carreira profissional que pai e filho pretendem dar é participar do Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Lucas também pretende participar de concursos públicos. O pai finaliza a entrevista pontuando que com o apoio, ajuda necessária e vivenciando as habilidades que possui, o filho consegue fazer tudo o que quiser.