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O dia de sol e ainda com feriado de 7 de setembro atraiu o público para a Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio, mas não apenas para fazer piquenique, andar de caiaque ou de pedalinho no lago, como de costume para muitas famílias que procuram o parque para se divertir. Nesta sexta-feira, muita gente foi ao local por causa do Museu Nacional, atingido por um incêndio que destruiu a maior parte do seu acervo de 20 milhões de peças.

Em frente à entrada do museu, uma manifestação denunciava a falta de investimentos do país em ciência e tecnologia. O diretor da Associação dos Institutos de Pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Informação do Rio de Janeiro, José Benito disse que o ato foi organizado por um conjunto de entidades da área de educação, memória e ciência e tecnologia. Além da questão da falta de recursos para essas áreas, segundo ele, a manifestação também era para chamar a atenção para a ausência de concursos.

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“A Ciência e a Tecnologia brasileiras estão morrendo por causa desses dois pés. A gente não tem verba e o que a gente viu aqui no Museu Nacional, apesar de tudo que está sendo dito, é isso e a falta de concursos públicos. Boa parte das pesquisas estão morrendo por causa disso. A gente já tinha algumas dessas instituições, principalmente, do Rio de Janeiro, reunidas em uma campanha chamada SOS Ciência e Tecnologia. Com a tragédia de domingo, procuramos companheiros do Museu Nacional e agregamos outras entidades e sindicatos e resolvemos fazer esse ato em solidariedade ao Museu Nacional e contra o projeto de destruição da Ciência e Tecnologia”, disse.

A professora da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do CNPq Fernanda Sanches disse que é preciso transformar o luto em luta pela reconstrução da memória. Segundo a professora, é preciso ter o reconhecimento de um trabalho ético e importante da pesquisa no Brasil: “Considero muito bem-vindas as contribuições de pesquisadores e de museus de outros países, mas é absolutamente importante garantir o Museu Nacional como uma instituição de pesquisa e produção de conhecimento dentro da universidade pública em um projeto de ensino público e gratuito de qualidade”.

Integraram ainda o ato associações dos servidores do Arquivo Nacional, do Instituto Nacional do Câncer, de professores das universidades federais do Rio de Janeiro e Fluminense, Sindicato Nacional dos Funcionários da Fundação Oswaldo Cruz, associações e o coletivo Ocupa Baixada, entre outros.

Visita

A psicanalista Elzilaine da Silva, de 40 anos, recebeu logo cedo um convite da filha Cecília, de 5 anos. A menina queria ir à Quinta visitar o museu. Apesar de morarem em Duque de Caxias, na Baixada Fluminentes, a mãe contou que as duas vão, pelo menos uma vez por mês, se divertir no parque. Elzilaine repete com Cecília uma programação que costumava fazer junto da família, quando era criança, que incluía visitas ao Museu Nacional. “A gente fica muito mexida com o que aconteceu, porque o Museu é como se fosse um quintal de casa. Mesmo morando longe, a gente pega o trem e em 40 minutos está aqui. Estou muito sentida porque a minha infância toda eu passei aqui. Fazia piquenique com meus pais e meus irmãos e agora venho com a minha filha”, disse com a voz embargada.

Cecília, segundo a mãe, gostava muito de visitar o Museu. “Ela conhecia tudo aí dentro, cada cantinho. A gente tem várias fotos guardadas em casa”, revelou.

A menina disse que gostava de tudo que tinha dentro do museu, mas a sala com os móveis da família real chamava especial atenção, assim como a dos dinossauros que, mesmo muito grandes, ela achava “bonitinhos”. Cecília espera que o Museu seja reconstruído logo para que ela possa voltar a visitar o local.

Jeferson Oliveira, de 41 anos, mora em São Paulo e acompanhado da filha Maria Eduarda, de 11 anos, aproveitou o feriado para vir ao Rio e ver como ficou o Museu, que ele conheceu quando tinha 15 anos. “Foi uma judiação queimar tudo isso. É um lugar histórico para o Brasil”, contou, dizendo que viu em casa a notícia sobre o incêndio e ficou triste.

Maria Eduarda está na 5ª série e apesar de nunca ter ido ao Museu fez questão de conhecer o local. “Eu achei triste o incêndio porque a história do Brasil foi perdida”.

Missa

Em homenagem ao Museu, às 12h, foi celebrada uma missa na Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, no centro do Rio, em uma iniciativa do pároco Silmar Fernandes. A ideia foi chamar atenção para a instituição após o impacto do incêndio. Também hoje pela manha, equipes do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, voltaram ao prédio porque, segundo relatos, foram detectados alguns focos de fogo no local. Os bombeiros passaram cerca de 50 minutos no local e saíram, depois de constatarem que não havia mais sinais de fogo nos escombros.

O presidente Michel Temer estuda editar uma medida provisória para retirar o Museu Nacional da alçada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), depois que empresários e banqueiros demonstraram preocupação com a gestão da entidade. Na quarta-feira (5), em reunião com presidentes de empresas e representantes de bancos públicos e privados, Temer fez um apelo para que participem da composição de fundos a serem criados para a reconstrução do museu e manutenção do patrimônio histórico e cultural.

A ideia da MP foi discutida no encontro e os empresários reclamaram da governança e da gestão dos museus e das instituições culturais do País. A ideia de retirar o Museu Nacional da UFRJ foi apresentada como uma contrapartida. O governo, no entanto, ainda não definiu os termos da medida. A ideia é passar a gestão do museu para o governo federal, provavelmente sob os cuidados do Ministério da Educação.

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Na terça-feira, os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, da Educação, Rossielli Soares, e da Cultura, Sérgio Sá Leitão, criticaram a gestão da UFRJ. Em entrevista coletiva depois da primeira reunião feita pela cúpula do governo após a tragédia, os ministros afirmaram que não faltaram recursos para a instituição e, por decisão da universidade, os repasses para o museu diminuíram ao longo dos anos.

A reitoria da universidade rebateu o governo e disse que houve falta de verbas para a manutenção adequada do prédio histórico, do século 19. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O incêndio no Museu Nacional, que aconteceu domingo na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, e destruiu cerca de 90% dos itens guardados, reforçou a importância da digitalização de acervos históricos, afirmam especialistas, tanto para fins de pesquisa quanto de preservação das informações - e até mesmo dos próprios artefatos, em versão virtual.

É o que vêm fazendo pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) com centenas de crânios, esqueletos e outros artefatos escavados da região de Lagoa Santa (MG), um dos principais sítios arqueológicos do Brasil. As peças são escaneadas em tomógrafos de alta resolução, para produzir réplicas virtuais tridimensionais, que podem ser estudadas online e até materializadas em impressoras 3D. "Hoje fazemos isso de forma sistemática; mesmo que não haja um projeto de pesquisa associado às peças", diz o arqueólogo André Strauss, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia e pesquisador associado do Laboratório de Arqueologia e Antropologia Ambiental e Evolutiva (Laaae) do IB-USP. "A proposta inicial é fazer um backup virtual mesmo."

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O trabalho começou em 2010 e veio bem a calhar dois anos depois, quando um crânio de Lagoa Santa se quebrou no laboratório e, graças à digitalização, foi possível imprimir uma réplica perfeita. As tomografias são feitas semanalmente na máquina do Hospital Universitário, com resolução de 0,6 milímetro. Peças menores, como dentes e anzóis, são escaneadas no tomógrafo do IB-USP, com resolução de 0,009 mm, que permite reproduzir cada detalhe em altíssima definição.

"A grande vantagem do digital é que o pesquisador não precisa ficar manuseando o material com tanta frequência", diz o dentista e bioantropólogo Rodrigo Elias, que coordena os trabalhos de digitalização no Laaae. "Para muitas pesquisas, só o digital é suficiente."

Os pesquisadores enfatizam, porém, que a digitalização não diminui a importância das peças originais, tanto pelo seu valor histórico quanto científico. "Algumas análises só podem ser feitas com o material original", diz Strauss. Por exemplo: análises de DNA que ele espera - ou esperava - poder realizar um dia no famoso crânio de Luzia, que pode ter sido destruído no incêndio do Rio.

O Museu Nacional guardava milhares de relíquias arqueológicas da pré-história brasileira, incluindo crânios e esqueletos de centenas de indivíduos de Lagoa Santa. Entre eles, Luzia, de 11,5 mil anos, um dos crânios humanos mais antigos das Américas. Ele estava digitalizado; mas o resto da coleção, não.

Procurado, o museu afirmou que vinha fazendo um esforço de digitalização de suas coleções, mas não havia uma estimativa consolidada do quanto já foi digitalizado.

Biodiversidade - Também no prédio destruído pelo incêndio estavam milhões de exemplares de insetos e outros animais, coletados por todo Brasil ao longo dos últimos dois séculos. Coleções como essas são a base de todo o conhecimento sobre a biodiversidade do planeta, usadas para a descrição de espécies e uma variedade de estudos ecológicos e evolutivos. Parte desses acervos nacionais vem sendo digitalizada há anos, por meio de grandes projetos como o speciesLink e o Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr).

O speciesLink, lançado em 2001, acumula mais de 9 milhões de registros digitais, de 480 coleções de fauna e flora. O SiBBr tem quase 10,5 milhões de registros, representando 155 mil espécies. Mas não é possível dizer o quanto isso representa do total de acervos biológicos no Brasil. "A maior parte das coleções está em situação precária. Muitas não têm curador", diz Carlos Joly, coordenador do Programa Biota Fapesp, que deu origem ao speciesLink. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Polícia Federal (PF) continua nesta quinta-feira, 6, os trabalhos de perícia no Museu Nacional. A expectativa é de que a perícia seja concluída até domingo, dia 9. Na segunda-feira, 10, segundo a vice-diretora do museu, Cristiana Serejo, deve começar o trabalho de escavação e pesquisa dos escombros.

Nesta quinta-feira, o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, se reuniu com técnicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para debater os trâmites da liberação de um financiamento de R$ 21,7 milhões contratado em 6 de junho para obras no Museu Nacional. Após o incêndio que destruiu o prédio no último domingo, 2, agora o dinheiro deve ser usado para a reconstrução também na recuperação de parte do acervo.

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Em discurso durante uma plenária realizada na frente do museu, para comemorar os 98 anos da UFRJ, Leher criticou o que classificou como "politização do debate sobre o incêndio": "O museu não é um lugar de objetos interessantes, é um lugar de pesquisa e produção de conhecimento. Não se pode ter racionalidade mercantil (para administrá-lo), porque o museu é acadêmico", afirmou. "Argumenta-se que temos aversão a buscar recursos no setor privado, pela Lei Rouanet. Nós apresentamos projetos: prevenção de incêndio e pânico, reforma do telhado e outros. Pedimos R$ 17 milhões, conseguimos R$ 1 milhão. Não é verdade que o setor privado não teve oportunidade de ajudar o museu", afirmou.

"Queremos que (a reconstrução) entre no Orçamento da União, não vamos aguardar doações, isso tem que ser assegurado pelo Poder Público. Vamos ter apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)", afirmou.

O diretor do Museu Nacional, Alex Kellner, também criticou a politização do debate sobre o museu. "A gênese do nosso País está aqui, neste prédio. Não é hora de discutir modelo de gestão, é hora de reconstruir", afirmou. "(Este momento) Está doendo muito", resumiu.

Na manhã desta quinta-feira, pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ (Coppe-UFRJ) usaram drones para sobrevoar o prédio e até mesmo ingressar em salas, na tentativa de identificar peças que tenham resistido ao incêndio.

Considerada "instituição irmã" do Museu Nacional do Rio, o Museu Paraense Emílio Goeldi, o segundo mais antigo do País, prestes a completar 152 anos, quase fechou no ano passado por falta de recursos. Como ocorreu com todos os órgãos federais, sofreu um contingenciamento de cerca 40%, que ameaçou o funcionamento de duas de suas quatro bases em outubro - o Parque Zoobotânico, em Belém, e a Estação Científica Ferreira Penna, no Marajó.

O caso causou comoção nas redes sociais. Foi criada a campanha SOS Museu Goeldi. O movimento ganhou as redes sociais e o presidente Michel Temer anunciou, via Twitter, a liberação de R$ 3 milhões para manter as atividades em 2017. O mesmo poderia ter ocorrido neste ano mas, novamente, com pressão da comunidade, os valores foram recompostos.

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O orçamento, porém, estável há seis anos em torno de R$ 11 milhões a R$ 12 milhões, só dá para manter o básico e a preocupação dos gestores com a segurança das 19 coleções científicas com mais de 4,5 milhões de itens - específicos sobre a Amazônia - é constante.

"Investimentos para segurança a gente só consegue com parcerias. São valores que não têm sido incorporados no orçamento, o que nos deixa apreensivos", disse a pesquisadora Ima Vieira, ex-diretora do museu que assessora a atual gestão.

Ao contrário do Museu Nacional, que foi destruído por um incêndio, todas as coleções são separadas por portas corta-fogo. O Goeldi também conta com cem hidrantes e um sistema eletrônico de detecção e combate a incêndio. "Mas são coisas que precisam de revisão constante, de modernização. É uma situação crítica. Precisaria ser de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões para manter tudo", diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A pouco menos de cinco quilômetros do Museu Nacional, que foi destruído por um grande incêndio, um edifício de sete andares com hidrantes desativados e sem alarme de incêndio abriga a Lei Áurea, os autos da Inconfidência Mineira, os acervos da Casa Edison e da TV Tupi e outros documentos da história do Brasil. É o prédio F do Arquivo Nacional, instituição que completou 180 anos em 2 de janeiro. Desde o início de 2017, há um laudo que aponta sua precariedade para enfrentar o fogo.

Um ano e cinco meses após a elaboração do documento, que constatou a necessidade de substituição dos hidrantes, uma verba de R$ 4 milhões foi liberada em agosto pelo Ministério da Justiça (ao qual o Arquivo é subordinado) para a adequação do prédio às exigências feitas pelos bombeiros.

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O Arquivo prevê que a licitação para as obras de cumprimento do que foi exigido seja lançada em outubro. Os bombeiros concederam prazo até março de 2019 para essa adequação. "Quando soube do incêndio no Museu Nacional, fiquei imaginando que o Arquivo pode ser o próximo. A situação é grave", afirma o presidente da Associação dos Servidores do Arquivo Nacional (Assan), Rodrigo Mourelle.

No fim de fevereiro de 2017, a empresa C.M. Couto Sistemas Contra Incêndios realizou testes para avaliar a rede de combate a incêndios no prédio F. "O sistema de hidrantes encontra-se em avançado estado de deterioração por corrosão. Está desativado e sem possibilidade de reativação", afirma o laudo emitido em março daquele ano.

"Considerando que a atual canalização tem mais de 50 anos, não recomendamos o reparo, pois a vida útil média é de 20 anos", continua o documento, assinado pelo coronel bombeiro Jorge Benedito de Oliveira. "Considerando o alto valor dos ativos e informações históricas arquivadas na instalação, é imperiosa a necessidade de substituir a canalização de combate a incêndio em caráter emergencial", continua.

Gestão

Enquanto o Arquivo trocava de comando cinco vezes nos últimos dois anos, os documentos que guarda permaneciam sob risco. Um corte no orçamento (inicialmente previsto em R$ 22 milhões) quase paralisou o órgão em 2017 e levou o Ministério Público Federal a emitir recomendação, em setembro daquele ano, para que o Ministério da Justiça complementasse o valor, o que foi feito, segundo a pasta.

Em dezembro de 2017 foi lançada uma licitação para a adequação do conjunto de prédios do Arquivo Nacional às exigências dos bombeiros, mas ela acabou anulada porque não contemplava todos os andares do prédio F. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro causou "uma perda irreparável" às culturas indígenas, comparável "à invasão europeia de 1500", afirmou José Urutau, da etnia Guajajara, linguista e pesquisador na instituição que acompanhou, impotente, o avanço das chamas da Aldeia Maracanã.

A população indígena "vem sofrendo esse ataque sucessivo desde 1500, e esse ataque atual à memória dos povos originais e à língua (...) foi um linguicídio, um epistemicídio, quando exterminam todo o conhecimento, toda a cultura de um povo", disse Urutau à AFP.

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O Museu Nacional contava com 40.000 objetos de 300 povos indígenas e era sede do Centro de Documentação de Línguas Indígenas (CELIN), que tinha "o maior acervo de registros de línguas indígenas a nível nacional e internacional, e também na América Latina", detalhou.

- 'Assassinados de novo' -

"Estávamos aqui em ritual (...) cantando, dançando. Quando nós olhamos para o prédio, ele estava em chamas. Pegamos os guerreiros, pegamos alguns baldes e fomos para lá pensando que dava para apagar o fogo com balde d'água", contou José Urutau que, ao chegar ao museu, só pôde observar como o histórico edifício era consumido, na noite de domingo.

Essa tragédia significou a destruição "quase completa, ou total, do acervo das populações originárias do território nacional. Afetou a todos nós", acrescentou.

"É uma perda irreparável, como se fosse a própria invasão europeia em 1500", em referência ao ano no qual os primeiros navegadores portugueses chegaram ao atual território do Brasil.

"É um acervo de mais de 500 anos de memória, não tem como calcular o tamanho da perda", assinalou. "É como se tivéssemos sido assassinados de novo, o assassinato é a morte da própria língua, da própria cultura, da própria memória".

"Do ponto de vista da preservação da memória e da cultura dos povos indígenas é uma tragédia sem precedentes", concordou Wallace Moreira Bastos, presidente da organização governamental Fundação Nacional do Índio (Funai).

"Estamos tentando entender como faremos daqui para frente (...) É uma perda irreparável, não tem como recuperar esse acervo que foi perdido", afirmou Moreira em uma entrevista por telefone à AFP.

- Em busca de um futuro -

José Urutau Guajajara chegou ao Rio de Janeiro saído do Maranhão na década de 1990 para estudar. Atualmente ocupa junto com 40 índios o antigo terreno do Museu do Índio, ao lado do estádio Maracanã.

São cerca de 800 m2, batizados "Aldeia Maracanã", que incluem um enorme e antigo casarão que seria derrubado para dar espaço a um estacionamento para a Copa do Mundo de 2014.

"Parte do registro do genocídio dos povos originários estava aqui nesse prédio", contou. Na década de 1970, o museu foi transferido para o bairro de Botafogo.

Os índios se instalaram em 2006 na antiga mansão e no terreno próximo, e pretendem recuperá-los para instalar ali um centro de acolhida e pesquisa, que poderia até receber departamentos do museu destruído.

"Não temos estrutura, mas acho que podemos criar essa estrutura para receber, principalmente, a área de educação indígena, a área de línguas indígenas, antropologia e direitos indígenas", assinalou José Urutau.

Sem descartar essa opção, Moreira Bastos apontou que o Museu do Índio em Botafogo, com 16.000 peças etnográficas, "talvez seja o caminho mais provável para continuar esse trabalho".

O Museu do Índio está fechado ao público desde julho de 2016 devido "à realização de obras de adequação de segurança" e de "prevenção e combate a incêndio", embora continue com seu trabalho de pesquisa, detalhou Arilza de Almeida, diretora substituta dessa instituição.

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ), vinculado à Secretaria de Estado da Defesa Civil (Sedec), confirmou hoje (5), após análise, que o Museu Nacional não tem o Certificado de Aprovação da corporação. Isso significa que o equipamento “está irregular no que diz respeito à legislação vigente de segurança contra incêndio e pânico”, diz a nota divulgada pela corporação.

O Certificado de Aprovação comprova se as medidas de segurança exigidas pela legislação, entre as quais extintores, iluminação e sinalização de segurança, caixas de incêndio e portas corta-fogo, estão em conformidade com as condições arquitetônicas do imóvel, que englobam área construída e número de pavimentos, por exemplo. “Essas especificações devem constar no projeto de segurança contra incêndio e pânico, que deve ser apresentado aos bombeiros pelos responsáveis legais de qualquer edificação, salienta a nota.

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De acordo com o CBMERJ, “estar em conformidade com as medidas de segurança contra incêndio e pânico é uma obrigação de todos. É de responsabilidade dos administradores dos imóveis o cumprimento da legislação vigente. É imprescindível a cultura de prevenção na sociedade”. Além disso, ressaltou que a documentação emitida pela corporação faz parte do processo de legalização de qualquer estabelecimento e fica restrita às questões relacionadas à segurança contra incêndio e pânico. O Corpo de Bombeiros não emite documento de funcionamento, ou alvará.

Papelada

Falando à Agência Brasil, a vice-diretora do Museu Nacional, Cristiana Serejo, manifestou dúvidas em relação à existência ou não do certificado exigido pelos bombeiros, o que teria de ser verificado com a diretoria administrativa do órgão. Lembrou, por outro lado, que a documentação da direção do museu foi praticamente perdida durante o incêndio. “Não tem mais papel nenhum, porque quase tudo foi queimado”.

Cristiana assegurou, contudo, que o Museu Nacional recebia inspeções regulares do Corpo de Bombeiros para verificação do estado e da validade dos extintores. “Eu presenciei essas inspeções regulares. Já a questão da papelada que os bombeiros estão falando, eu me sinto insegura de dizer”. Descartou, porém, qualquer desleixo por parte do Museu Nacional. “A gente não estava negligente em deixar isso esquecido”.

A vice-diretora recordou que o museu tinha, inclusive, um projeto na mão voltado à prevenção de incêndios, para viabilização com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Acordo nesse sentido foi firmado em junho passado com o banco. “Pelo meu entendimento como diretora, nós estávamos em dia”. Esclareceu que, como órgão público, o Museu Nacional não precisava de alvará para funcionar.

BNDES

O contrato firmado com o BNDES somava R$ 21,7 milhões, com recursos da Lei Rouanet, que seriam utilizados para viabilizar a terceira fase do plano de investimento de revitalização do Museu Nacional. As duas fases anteriores não contaram com recursos do banco. A primeira liberação do contrato firmado entre o BNDES, a Associação de Amigos do Museu Nacional e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estava prevista para outubro deste ano, no valor de R$ 3 milhões. O acordo tinha prazo total de execução de quatro anos.

O BNDES informou que o apoio financeiro a essa terceira fase da revitalização do museu previa a elaboração de projeto executivo de combate a incêndio e também sua efetiva implantação, por exigência do BNDES.

Em discurso no Senado, Humberto Costa (PT) acusou o deputado federal Mendonça Filho (DEM) de também ser responsável pela incêndio do Museu Nacional, no último domingo (2).  O petista disse que Mendonça, quando ministro da Educação, cerceou o repasse de verbas para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) responsável pela manutenção do equipamento público. 

Segundo um levantamento apresentado por Humberto, de janeiro a abril deste ano o Museu recebeu apenas R$ 7,5 mil do MEC. Mendonça respondia pela pasta no período. 

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“Desde o golpe, os repasses ao museu, que tinha 20 milhões de itens, já vinham caindo. E tudo se agravou com a PEC do fim do mundo, que, com o apoio de muitos parlamentares aqui e com o apoio do próprio Mendonça Filho foi aprovada pelo Congresso para congelar os recursos para educação, saúde, cultura, assistência social por 20 anos”, observou, em discurso nessa terça-feira (4). 

“Então, Mendonça, não fuja das suas responsabilidades. Entre todas as misérias que o golpe e o seu chefe, Michel Temer, legaram ao Brasil, juntamente com o seu inestimável trabalho, está esse incêndio que destruiu o Museu Nacional”, completou.

Para Humberto, o incêndio “não foi um acidente isolado”, mas seria um “projeto de governo” que Mendonça Filho “serviu e serve e que está destruindo o Brasil”. Adversários no embate eleitoral pelas vagas de Pernambuco no Senado, Humberto ainda ressaltou, na tribuna da Casa Alta, que Mendonça era “chefe da turma de Temer” no Estado e salientou uma espécie de “ingratidão” do democrata e do deputado Bruno Araújo (PSDB), também candidato ao Senado, que não querem ter a imagem colada a do presidente. 

“Eu fiquei pasmo, porque – veja bem – eles ajudaram o golpe, votaram, fizeram a maior propaganda do voto deles lá no impeachment, naquela noite terrível que vivemos quando Dilma foi afastada na Câmara dos Deputados, foram para o ministério, torraram o dinheiro do ministério para fazer política no Brasil inteiro, e agora, quando chega a campanha, um bando de mal-agradecidos, não têm coragem de dizer que foram ministros de Temer”, disparou, pontuando que tem orgulho de lembrar o fato de ter sido ministro da Saúde no governo Lula.

Em um tom mais duro, Humberto completou: “Não pensem que o povo é besta, não. O povo não é besta, o povo sabe. Sabe que Mendoncinha foi um dos cabeças do golpe, sabe que Mendoncinha foi o pior Ministro da Educação e sabe que Mendoncinha é o chefe da turma de Temer em Pernambuco”. 

No discurso, Humberto ainda disse que espera com a eleição que “figuras como essas” sejam “varridas para o lixo da história do país”.

A estreia do ano letivo do curso de Estudos de Museu na Escola de Extensão de Harvard, nesta terça-feira, 4, em Cambridge, teve o Brasil como tema central. O incêndio no Museu Nacional serviu de estudo de caso para a diretora do programa de graduação, Katherine Burton Jones.

Ela defende que é preciso discutir outros modelos de museus, que não só o americano. Nos Estados Unidos, os museus contam com quatro fontes de receita diferentes. A doação privada responde por 35% da receita. No país, a legislação tributária prevê incentivos fiscais à filantropia. Quem doa, paga menos imposto.

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Segundo a Aliança Americana de Museus, 35% das receitas das instituições vêm das doações de entidades e pessoas físicas. O restante é dividido entre suporte do governo (19%), renda por exposições, vendas em lojas e aluguel do espaço para eventos (35%) e retorno de investimento (11%). Estudo publicado pela fundação Giving USA calcula que as doações para suporte às artes e cultura chegou a US$ 19,5 bilhões em 2017.

Laura Roberts, fundadora do The Museum Group (TMG), um consórcio de profissionais do ramo, considera que o modelo de negócio americano tem influência direta no resultado das exibições. "Os museus precisam se manter interessantes para seus investidores. Você precisa se provar no mercado repetidas vezes. A vitalidade dos museus está absolutamente relacionada com esse modelo de negócio", afirma a especialista.

No Brasil, a falta de incentivos fiscais e o regime tributário são considerados fatores que deixam de estimular a filantropia. Enquanto nos EUA, o imposto de renda pode ser abatido em até 50% quando há doação a instituições como museus, no Brasil, o limite do abatimento para pessoa física é de 6%.

"Há um oceano de diferença entre o incentivo fiscal no Brasil e nos EUA", explica a advogada Juliana Ramalho, do escritório Mattos Filho. A advogada Flávia Regina Oliveira, do mesmo escritório, acrescenta que o Brasil é um dos únicos países a cobrar imposto sobre doação.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, disse ser um "entusiasta" do modelo americano. "Foca a gestão das instituições", afirmou.

Atrativos

"Muitos países da Europa estão olhando para esse modelo", afirmou Katherine Jones. Segundo ela, os museus que sobreviveram à crise de 2018 tiveram o suporte de doadores leais, mas também tentaram se tornar mais atrativos.

Considerado um modelo por diretores de museu no Brasil, o Museu Americano de História Natural de Nova York investiu em tecnologia para ir além dos famosos esqueletos de dinossauros, oferecendo, por exemplo, o setor espacial, que inclui o planetário. "Os museus estão muito preocupados e conscientes com o que os visitantes querem", afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A vice-diretora do Museu Nacional/UFRJ, Cristiana Serejo, afirmou que museus e instituições científicas do Brasil e de outras partes do mundo estão oferecendo peças para recompor o acervo da instituição, que se perdeu quase que completamente no incêndio do último domingo, 2, no Rio. Peças do próprio Museu Nacional que estavam cedidas a outras instituições também estão sendo requisitadas. Segundo Cristiana, a ajuda internacional seria o ponto de partida para a recuperação do museu. O governo da França já se colocou à disposição para ajudar.

Um dia e meio depois do incêndio, algumas atividades de pesquisa já foram retomadas no Horto Florestal, dentro da própria Quinta da Boa Vista, onde estavam algumas coleções que foram poupadas, como a de vertebrados, invertebrados, botânica, além de uma biblioteca de 500 mil exemplares, que reúne alguns exemplares raros. O acervo do museu reunia mais de 20 milhões de itens.

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"Fizemos uma reunião com os funcionários hoje cedo e já estamos nos reorganizando nessa parte do Horto, que comporta mais gente e algumas coleções", explicou Cristiana. "As pós-graduações estão sendo realocadas lá, o museu está se reorganizando para recuperar a pesquisa."

Cristiana contou que um fóssil de baleia que já pertencia ao museu deve ser devolvido. Acervos de insetos, por exemplo, foram oferecidos como doação, bem como de peças indígenas. "Vamos manter a pesquisa, o ensino e a extensão", disse a diretora. "Estamos vivos aqui no museu."

Algumas poucas peças foram recuperadas dos escombros, como um quadro do Marechal Rondon, alguns meteoritos, dois vasos de cerâmica e fragmentos de fósseis humanos.

Os fragmentos de um crânio achados no Departamento de Paleontologia deram esperanças aos pesquisadores de que poderia se tratar de Luzia, o fóssil mais antigo já achado nas Américas, de cerca de 12 mil anos. O fóssil é precioso porque foi responsável por mudanças significativas nas teorias de ocupação humana do continente. Entretanto, alertou Cristiana, o departamento de paleontologia tinha centenas de fósseis humanos. "A gente não sabe dizer se é o crânio de Luzia, temos que avaliar", explicou. "Os escombros são muito grandes, especialistas têm que analisar para darmos uma informação correta. Mas, claro, sempre temos esperança."

A vice-diretora explicou ainda que uma empresa especializada deve ser contratada para ajudar no trabalho de arqueologia que deverá ser feito para a busca de peças em meio aos escombros do incêndio. "É um trabalho de arqueologia, não é algo que possa ser feito com uma escavadeira", lembrou.

Desde o início da manhã, militares fazem a segurança na Quinta da Boa Vista e fizeram um cerco nos arredores do Museu Nacional para impedir eventuais saques aos escombros do incêndio. Técnicos da Polícia Federal também estiveram vistoriando os escombros em busca de dados que possam determinar as causas do incêndio.

Peritos da Polícia Federal estiveram nesta terça-feira, 4, pela primeira vez no interior do Museu Nacional, da UFRJ, que foi destruído por um incêndio na noite de domingo, 2. Segundo os peritos, enquanto as investigações não estiverem concluídas, ninguém pode entrar no prédio nem remexer os escombros para não apagar eventuais pistas que possam ajudar a esclarecer a tragédia.

Além disso, permanece o risco de desabamento de estruturas internas do Palácio São Cristóvão, segundo confirmou a Defesa Civil.

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A fachada, que é parcialmente feita de pedra e tem um metro de espessura, está segura. Mas gradis e estátuas, por exemplo, podem cair. O colapso do telhado poderia afetar a estabilidade das imagens.

A vice-diretora do museu Cristiana Serejeiro explicou também que, como se trata de um museu, não é recomendável que qualquer pessoa tente remexer os escombros e retirar eventuais peças do acervo que tenham sobrevivido ao fogo. Segundo ela, uma empresa especializada deverá ser contratada para a função. "É praticamente um trabalho de arqueologia", disse.

Mais cedo, no entanto, antes da interdição total feita pela Polícia Federal, algumas poucas peças tinham sido resgatadas por funcionários e bombeiros, como um quadro do Marechal Rondon, que estava no hall do museu, meteoritos, dois vasos de cerâmica e fragmentos de crânios humanos. "Não sabemos se trata-se do crânio de Luzia, mas temos esperança", explicou a vice-diretora.

Além disso, explicou Cristiana, alguns acervos do museu que ficavam em prédios anexos foram preservados, num total de um milhão e seiscentos mil itens. Entre eles, os 500 mil volumes da biblioteca (com 1.560 obras consideradas raras), a coleção de botânica (com 550 mil peças), o acervo de vertebrados (de 460 mil itens) e pelo menos 150 mil invertebrados.

Após o incêndio no domingo (2) que destruiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio de Janeiro, a Defesa Civil descarta o risco de desabamento do prédio. Apesar de as paredes externas serem sólidas e não apresentarem danos, elementos da fachada como gradis, revestimentos e adornos, entretanto, podem ceder. Internamente, há risco de queda de lajes, vigas e divisórias. Por isso, a Defesa Civil mantém a interdição do prédio histórico.

Segundo o laudo emitido na tarde de ontem (3) pela Defesa Civil Municipal, “o quadro verificado caracteriza risco de desabamento internos, com paredes divisórias, sem amarração devido ao desabamento do telhado, dos pisos e elementos metálicos de reforço deformado pela ação do fogo, além do risco de queda de remanescentes das lajes intermediárias”.

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Na área externa, o boletim relata que “verificou-se a incidência de altas temperaturas sobre elementos remanescentes da fachada, que apresenta algumas trincas e queda de revestimentos externo pontuais”.

De acordo com o coordenador técnico da Defesa Civil municipal, Luis André Moreira, o risco externo diz respeito à possível queda de elementos da fachada, afetados pelo calor ou pela água.

“Tem aquela parte dos gradis das varandas e sacadas, alguma pode cair na área de projeção, janelas com o madeiramento que pegou fogo. As estátuas que estão no teto, no beiral da fachada, tem que ser visto se alguma está com problema e pode cair. Por isso, a gente manteve o isolamento de toda a área de projeção da marquise”, alerta.

Moreira relata que a atuação da Defesa Civil já foi encerrada, permanecendo a interdição até o início dos trabalhos de engenharia. “Serviços de retirada dos escombros, de demolição das paredes internas e lajes que oferecem risco, isso tudo é feito por uma empresa de engenharia particular a ser contratada pela direção do museu. A Defesa Civil não executa nenhum tipo de obras no local”.

De acordo com ele, que esteve no local pela manhã, os bombeiros seguem trabalhando e a Polícia Federal já iniciou a perícia. “Agora o que tem que fazer é a previsão de obras internas, para restabelecer as condições de segurança e retirar aqueles escombros que estão no interior, para que os funcionários façam um peneiramento desses escombros para ver se tem alguma peça, algum objeto do museu que possa ser recuperado”.

A única parte que não foi interditada é o anexo do museu. “Existe uma construção que é distante do museu, tem uma coleção de insetos, uma parte refrigerada, é uma construção independente da estrutura toda que está interditada.”

O Corpo de Bombeiros informou que não há mais focos de incêndio no prédio e que continua fazendo trabalho de rescaldo. Procurada pela reportagem, a Polícia Federal não respondeu sobre o trabalho de perícia e segurança no local. A assessoria do museu também não informou sobre a contratação de uma empresa de engenharia.

Alvo de um incêndio de grandes proporções, o Museu Nacional não gastou nada neste ano para a compra de equipamentos ou materiais de segurança. Também não foi feito nenhum pagamento para serviços de manutenção de imóveis ou aquisição de materiais para essa finalidade. Levantamento da ONG Contas Abertas mostra ainda que, nos últimos quatro anos, os desembolsos realizados com essas atividades estão bem abaixo do que se imaginaria para um prédio daquela dimensão e, sobretudo, com 200 anos.

Entre 2015 e 2017 foram gastos R$ 16.971 com a compra de equipamentos e materiais de segurança. Já para a aquisição de materiais e serviços de manutenção de imóvel, o gasto foi de R$ 250.236 (valores corrigidos).

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Dados da Comissão Mista de Orçamento (CMO) da Câmara dos Deputados mostram também que nos últimos cinco anos os repasses da União ao Museu Nacional, no Rio, encolheram mais de 49%. Em 2013, foi R$ 1,3 milhão em pagamentos, em valores corrigidos pela inflação. No ano passado, foram R$ 665 mil. Neste ano, os pagamentos até agosto não chegam a R$ 100 mil. Em 2018, de acordo com o levantamento, foram utilizados R$ 51.880 para programa de bolsa de estudos e R$ 46.235 para outras despesas.

Para dar uma dimensão dos recursos gastos com o museu, o Contas Abertas fez uma comparação entre os valores pagos no ano passado pelo museu e os gastos para lavar 83 carros oficiais da Câmara dos Deputados. O custo anual foi de R$ 563.333,56, 89% dos desembolsos feitos em 2017 pelo museu.

O Ministério da Educação (MEC) disse que não repassa verbas diretamente ao museu, uma vez que a gestão é feita pela Universidade Federal do Rio (UFRJ). Já o reitor da instituição, Roberto Leher, atribuiu a incapacidade de investir em segurança à restrição orçamentária imposta à UFRJ. Segundo ele, a maior parte da verba repassada tem sido usada no custeio, como contas de luz. Para o projeto anti-incêndio, Leher disse ter contatado o BNDES, de onde havia obtido em junho financiamento de R$ 21,7 milhões.

Outros museus

 

Outro levantamento mostra que o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) gastou só 20,8% da verba (R$ 1,7 milhão) que tinha para ser usada em investimento, manutenção e conservação de suas 30 instituições no País em 2017. Ao todo, o orçamento da autarquia previa gastos de R$ 8,3 milhões com implementação, instalação e modernização de espaços e equipamentos e com a promoção e fomento à cultura. Esses são os dois itens do orçamento onde estão, segundo o Ibram, contidos esses gastos.

A diferença entre o previsto no orçamento e o executado está ligada ao contingenciamento de gastos. O primeiro efeito é a diferença entre o previsto e o empenhado - ou seja, gasto autorizado, mas ainda não pago. Até ser pago, o dinheiro passa ainda por outra peneira.

Um exemplo disso é o total pago na rubrica "Implantação, instalação e modernização de espaços e equipamento". Ela foi de só 6,4% do que foi empenhado no ano passado pela direção do órgão. Foram gastos R$ 168,6 mil dos R$ 2,6 milhões empenhados - a dotação orçamentária era de R$ 5,9 milhões.

Os 30 museus controlados pelo Ibram tem 295 mil peças em seus acervos, sem contar documentos e livros. Os maiores são o Museu Histórico Nacional, no Rio, com 164 mil peças; o Museu do Ouro, em Sabará (MG), com 44 mil; e o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, com 22 mil.

O primeiro deles detém coleções numismáticas e filatélicas. O acervo do Museu do Ouro é constituído por mobiliário, porcelanas, imagens religiosas e objetos usados na mineração nos séculos 18 e 19. O de Belas Artes mantém coleções importantes, como a de pintores brasileiros no século 18, modernistas e obras de estrangeiros.

Além disso, os R$ 4,2 milhões em emendas parlamentares destinadas ao Ibram em 2017 também não foram pagos. O órgão recebeu R$ 159 mil do PAC dos R$ 391 mil que haviam sido empenhados, segundo dados fornecidos em março por Lei de Acesso à Informação (LAI).

Sobre o custeio, o órgão pagou até o fim de março 78,9% do total empenhado para manutenção administrativa dos museus - R$ 58,4 milhões dos R$ 74,1 milhões empenhados. A diferença devia ser saldada este ano.

O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, afirmou que o investimento em museus em três anos, considerando todos os mecanismos, chegou a R$ 600 milhões. Ele minimizou o fato de o Ibram ter tido dispêndio pequeno em 2017 na rubrica para modernização de equipamentos culturais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A França anunciou que está disposta a contribuir para a restauração do Museu Nacional do Rio de Janeiro, destruído no domingo por um incêndio.

"No momento em que todo o Brasil está comovido, a França está disposta a ajudar a restaurar o Museu Nacional", afirmou o ministro das Relações Exteriores Jean-Yves Le Drian em um discurso no museu do Louvre Abu Dhabi, inaugurado em 2017.

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"Eu desejo fazer um preâmbulo para expressar a solidariedade das autoridades francesas ante o trágico incêndio que devastou no domingo outro lugar cultural de exceção", disse.

"O Museu Nacional do Rio de Janeiro é uma das joias do Brasil. Abrigava coleções de paleontologia, artefatos greco-romanos, uma coleção egípcia e o fóssil humano mais antigo descoberto no Brasil", recordou o ministro francês.

"Como o Louvre, este é um símbolo de diálogo das culturas. Com as chamas, desapareceu uma parte da memória da humanidade".

Criado em 1818 por Dom João VI e instalado desde 1892 no antigo palácio imperial de São Cristóvão, o Museu Nacional era o maior museu natural e antropológico da América do Sul, com mais de 20 milhões de peças e uma biblioteca de mais de 530.000 títulos.

A vice-diretora do museu, Cristiana Serejo, explicou que por trás da tragédia estão "a falta de dinheiro e uma burocracia muito grande".

O museu era particularmente conhecido por seu rico departamento de paleontologia, com mais de 26.000 fósseis, incluindo o esqueleto de um dinossauro descoberto em Minas Gerais e inúmeros espécimes de espécies extintas, como preguiças gigantes e tigres dentes-de-sabre.

Sua coleção de antropologia biológica incluía o mais antigo fóssil humano descoberto no Brasil, conhecido como "Luzia", que também foi perdido no fogo.

Uma companhia de 67 bombeiros trabalha no mais importante museu da França, o Louvre, para evitar incêndios como o que destruiu o Museu Nacional no Rio. Os agentes não atuam apenas em circunstâncias emergenciais - em média cinco princípios de incêndio por ano -, mas 24 horas, todos os dias, monitorando 6 mil sensores de incêndios e equipamentos de segurança espalhados por 14,5 quilômetros de corredores.

Em toda a Europa os principais museus contam com brigadas especializadas para evitar que o patrimônio cultural vire cinzas do dia para a noite. Ou sofra com inundações ou falhas nos encanamentos.

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No Louvre, todos os dias, a equipe verifica o parque de 2 mil extintores e gerencia os dispositivos de alarme. Toda intervenção é feita por equipes a pé, não autorizadas a correr no museu. A companhia não tem carros de bombeiros nem grandes escadas, mas dois veículos elétricos sem sirene autorizados a rodar a no máximo 15km/h para transporte de materiais. Os agentes são treinados para efetuar remoções de obras de arte, se possível usando luvas de seda brancas, e atentos aos detalhes frágeis de cada obra.

Em Madri, museus como Reina Sofia contam também com sistemas para reduzir o nível de oxigênio nas salas, diminuindo o risco de propagação do fogo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente Michel Temer se reunirá nesta terça-feira, 4, no Palácio do Planalto com ministros, secretários, coordenadores e os presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Caixa Econômica e do Banco do Brasil. A reunião acontece dois dias após o incêndio que atingiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro e destruiu 90% do acervo histórico, científico e artístico. As informações são da Agência Brasil.

Deverão participar da reunião os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Rossieli Soares da Silva (Educação), Sérgio Sá Leitão (Cultura), Esteves Colnago (Planejamento, Desenvolvimento e Gestão) e Sergio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República).

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Também são esperados os secretários Georges Soares (Orçamento Federal do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão), Júlio Alexandre (Planejamento e Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão), e Sidrack Oliveira (Patrimônio da União do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão).

Devem participar ainda os presidentes do Banco do Brasil, Paulo Rogério Caffarelli; do BNDES, Dyogo Oliveira; e da Caixa Econômica Federal, Nelson Antônio de Souza; além do diretor da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, Mauro Luiz Rabelo; e do coordenador da Subsecretaria de Planejamento e Orçamento do Ministério da Educação, Adalton Rocha de Matos.

Após a tragédia, a comunidade artística e intelectual cobrou explicações de autoridades públicas, alegando que houve alertas sobre problemas de infraestrutura e manutenção do local, colocando em risco os mais de 20 milhões de itens expostos. Inicialmente, deverão ser investidos R$ 15 milhões apenas para a reconstrução física do prédio.

Na segunda-feira, no Rio de Janeiro, os ministros Rossieli Soares e Sérgio Sá Leitão anunciaram a criação de um grupo de trabalho para reunir parcerias em torno da recuperação do museu. Porém, peças raras se perderam. O esforço, no primeiro momento, será para a reconstrução do edifício.

O Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista, é vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que faz parte do Ministério da Educação. Contudo, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) é ligado ao Ministério da Cultura.

Em junho, o BNDES assinou um contrato para o repasse de R$ 21,7 milhões à terceira fase do plano de investimento de revitalização do museu. No entanto, a interpretação da instituição sobre a lei eleitoral impediu a liberação dos recursos para o Museu Nacional.

Quando o Museu Nacional ainda ardia em chamas na noite de domingo, a tragédia já começava a se transformar em instrumento de luta política. Depois, nas ruas e nas redes sociais, militantes e candidatos tentaram se capitalizar eleitoralmente com a tragédia. Entre os presidenciáveis, principalmente Guilherme Boulos (PSOL), Ciro Gomes (PDT) e o vice registrado na chapa do PT, Fernando Haddad, classificaram a política para a preservação do patrimônio público como "lamentável" e criticaram a gestão atual.

Integrantes do PT e do PSOL culparam a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos gastos, que limitou o orçamento federal, como um dos fatores que levaram ao incêndio. A ex-presidente e candidata ao Senado Dilma Rousseff (PT) usou as redes para culpar o atual governo: "é o retrato do descaso e desinvestimento promovido por (presidente Michel) Temer, (Henrique) Meirelles e o PSDB".

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Ela foi rebatida por Meirelles (MDB), ex-ministro da Fazenda e candidato à Presidência: "Tão lamentável quanto o incêndio é ver gente oportunista tentando tirar proveito da situação para esconder nas cinzas do que sobrou a sua incapacidade de governar".

O Movimento Brasil Livre (MBL), que tem lideranças concorrendo aos Legislativos federal e estaduais, disse que o reitor da Universidade Federal do Rio (UFRJ), Roberto Leher, é filiado ao PSOL e "culpou os bombeiros e a falta de verba". O grupo criticou políticos ligados à esquerda por "culpar" a PEC dos gastos, justificando que o museu "recebeu" R$ 21 milhões do BNDES - em junho, foi assinado contrato de patrocínio com o Museu. Mas a verba não entra na PEC e não foi liberada por restrições eleitorais.

Candidato a senador no Rio e filho do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), Flávio Bolsonaro, do mesmo partido, sugeriu que a Polícia Federal deveria investigar o caso. Uma mensagem compartilhada por ele diz que é o quarto incêndio na "gestão PSOL" da UFRJ.

O ex-ministro da Cultura e candidato a deputado federal pelo PPS Marcelo Calero lembrou sua saída do governo Michel Temer. "Qdo (sic) bati de frente com (ex-ministro) Geddel (Vieira Lima) e Temer em defesa do patrimônio histórico, esses políticos canalhas saíram em defesa dos dois. Teve até um manifesto. Temer disse que eu havia feito 'carnaval'. Agora, nossa memória virou cinzas, e vêm posar de bastiões da cultura nacional. Nojo!" Já o ex-presidente do Livres Paulo Gontijo, candidato à deputado estadual no Rio, disse que a esquerda "tem o hábito vergonhoso de adorar um cadáver/destroço para chamar de seu e pedir voto".

Ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun ironizou a busca por culpados: "Na televisão não vi ultimamente alguém destacando a história do museu, valorizando para que se tornasse mais amado pela nossa população. Está aparecendo muita viúva apaixonada, mas, na verdade, essas viúvas não amavam tanto assim o museu em referência". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Exatos 196 anos antes de ser acometido por um incêndio, o antigo Palácio de São Cristóvão, que hoje abriga o Museu Nacional, foi local de um dos episódios mais marcantes da história brasileira. Naquele 2 de setembro de 1822, a princesa Leopoldina, então princesa regente, era a primeira mulher a governar o Brasil. Na ocasião, presidiu uma reunião com o conselho do príncipe regente Dom Pedro II, que resultou na recomendação da independência do Brasil.

"Eu não me conformo de ter sido no 2 de setembro. É meio icônico", diz o historiador Paulo Rezzutti, autor dos livros "D. Pedro: A história não contada" (Editora Leya) e "Domitila - A Verdadeira História da Marquesa de Santos" (Geração Editorial).

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Em processo de escrita de um livro sobre Dom Pedro II, Rezzutti iria participar de uma palestra sobre a Imperatriz Leopoldina no Museu Nacional neste feriado da Independência do Brasil. "A decadência do prédio era gritante. Logo na entrada você via que a construção não tinha um bom cuidado, pelo lado de fora mesmo, antes de entrar", conta.

Durante as pesquisas para seus livros, Rezzutti chegou a visitar locais que "não tinham condições de ter público". "Escrevi sobre duas gerações que moravam lá dentro. Se tivesse começado agora, não teria ideia de como foi o prédio. Mesmo hoje fico pensando no meu leitor, que terá essa referência agora só pelos livros", conta. "É triste, agora está tudo perdido. O que me dói mesmo é a parte das coleções", lamenta.

Dentre os itens, estão múmias egípcias que seriam originalmente vendidas em Buenos Aires. Como a Argentina estava em guerra, contudo, o navio que transportava as peças atracou no Rio de Janeiro, notícia que chegou a Dom Pedro I, que resolveu comprar os itens. "São as primeiras múmias que se tem notícia na América Latina", relata o historiador.

O acervo reunia também peças arqueológicas retiradas de escavações nas antigas cidades de Herculano e Pompeia, doadas pela imperatriz Teresa Cristina. De origem italiana, foi no jardim do entorno do museu, então Palácio de São Cristóvão, que ela ensinou as filhas, princesa Isabel e princesa Leopoldina, a fazerem os primeiros mosaicos noticiados no Brasil. As peças foram criadas com conchas e pedaços de porcelana quebrada.

Rezzutti também lembra que foi no Palácio, situado dentro da Quinta da Boa Vista, que nasceu o imperador Dom Pedro II e morreu a imperatriz Leopoldina. "Quando vinha gente de fora, nobres estrangeiros, a recepção era dada em uma mesa de jantar colocada no antigo gabinete da Imperatriz Leopoldina para mostrar as peças mineralógicas da coleção."

Depois, com a queda da monarquia, foi lá que se realizou a primeira assembleia constituinte da era republicana, de 1891. "A ciência também é muito ligada à família imperial. Foi Dom João VI que criou o museu (então chamado de Museu Real)", lembra o historiador. Originalmente na região da Praça da República, no centro, o Museu se mudou para a Quinta da Boa Vista após a proclamação da república.

"A única coisa que nos resta hoje é ter esperança. Sensação é de que hoje estamos vivendo um processo de luto", desabafa. "Não sei, a partir do momento em que assassina uma vereadora eleita (Marielle Franco) e você não tem um resultado. Se a vida humana é tratada desse jeito, uma peça de museu não é nada."

Para Rezzutti, museus ligados a instituições educacionais são alguns dos que mais têm carências no Brasil. "É o caso também do Museu do Ipiranga, que não acontece desgraça maior porque está fechado. Precisou alguém ver que o prédio iria desabar para ser fechado. Não existe investimento preventivo."

"São dois problemas no Brasil: a Educação e a Cultura. O investimento é muito pouco, é ridículo perto de outros lugares", ressalta. "O que tem de gente lamentando o que aconteceu e nem sabe o que é, que morador do lado do Museu e nunca foi. O brasileiro quer conhecer o Louvre, não o que tem em casa, quer conhecer a modinha."

O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, quer que a universidade faça um laudo sistemático, detalhado e refinado para determinar a origem do incêndio que destruiu o Museu Nacional. “Queremos que o laudo da UFRJ seja mais sistemático, mais detalhado e refinado, porque temos que identificar e explicitar o melhor possível uma situação que tem repercussão cultural mundial”.

Os laudos serão feitos pela Polícia Federal e por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em conjunto com o Corpo de Bombeiros.

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Esse não é um problema específico da UFRJ, destacou o reitor. Ele lembrou que o acervo do Museu Nacional não só abordava a memória de Portugal, dos povos indígenas, como a herança cultural do Brasil, desde o período colonial, passando pelo Império, até os princípios da República, sem falar nos bens culturais de outros povos, como os egípcios. Leher salientou que o museu foi visitado por pesquisadores renomados, como o físico Albert Einstein, em 1925. Foi lá também que se realizou a primeira Assembleia Constituinte do país, entre novembro de 1890 e fevereiro de 1891. “O acervo (do museu) tem uma importância única”, ressaltou Leher.

Rescaldo

Equipes do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) trabalham em conjunto com técnicos do Museu Nacional na operação de rescaldo, para ver o que sobrou de todo o acervo do equipamento. “À medida que a Polícia Federal e os bombeiros autorizarem o acesso a determinadas áreas, nós vamos iniciar o processo de busca e análise da possibilidade de termos preservação de algum tipo de acervo da museologia”. Leher acredita que boa parte desse acervo pode estar preservado. A mesma perspectiva não ocorre, porém, em relação ao acervo de entomologia (estudo dos insetos) e etnografia (estudo das diversas etnias), que foi fortemente atingido pelo incêndio.

Hoje à tarde, o reitor abordará o tema da recuperação do Museu Nacional com os ministros da Cultura, Sérgio Sá Leitão, e da Educação, Rossieli Soares. Amanhã (4), às 11h, ele terá reunião com a bancada federal do Rio de Janeiro, em Brasília. Leher está tentando também agendar audiência com o presidente da República, Michel Temer, “tendo em vista ao alcance e a dimensão do fato tão devastador e grave”.

Recursos

A UFRJ já está montando um grupo de estudos para dimensionar a ordem de grandeza dos recursos que serão necessários para a reconstrução do Museu Nacional. Roberto Leher destacou que a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2019 já está em votação e os recursos necessários à recuperação do museu têm de estar provisionados.

“Porque, sem esse provisionamento, as palavras vão ser levadas pelo vento”. Segundo o reitor, isso aconteceu quando houve o incêndio na Capela São Pedro de Alcântara, da UFRJ, na Urca, zona sul do Rio. A capela foi construída em 1850. Leher lembrou que naquela ocasião muitas entidades manifestaram solidariedade e preocupação, prometeram ajuda, “mas, muitas vezes, essa ajuda não se materializa”, Por isso, disse que a consignação das proposições na lei orçamentária é um ponto decisivo para a UFRJ.

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