O dia de sol e ainda com feriado de 7 de setembro atraiu o público para a Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio, mas não apenas para fazer piquenique, andar de caiaque ou de pedalinho no lago, como de costume para muitas famílias que procuram o parque para se divertir. Nesta sexta-feira, muita gente foi ao local por causa do Museu Nacional, atingido por um incêndio que destruiu a maior parte do seu acervo de 20 milhões de peças.
Em frente à entrada do museu, uma manifestação denunciava a falta de investimentos do país em ciência e tecnologia. O diretor da Associação dos Institutos de Pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Informação do Rio de Janeiro, José Benito disse que o ato foi organizado por um conjunto de entidades da área de educação, memória e ciência e tecnologia. Além da questão da falta de recursos para essas áreas, segundo ele, a manifestação também era para chamar a atenção para a ausência de concursos.
##RECOMENDA##“A Ciência e a Tecnologia brasileiras estão morrendo por causa desses dois pés. A gente não tem verba e o que a gente viu aqui no Museu Nacional, apesar de tudo que está sendo dito, é isso e a falta de concursos públicos. Boa parte das pesquisas estão morrendo por causa disso. A gente já tinha algumas dessas instituições, principalmente, do Rio de Janeiro, reunidas em uma campanha chamada SOS Ciência e Tecnologia. Com a tragédia de domingo, procuramos companheiros do Museu Nacional e agregamos outras entidades e sindicatos e resolvemos fazer esse ato em solidariedade ao Museu Nacional e contra o projeto de destruição da Ciência e Tecnologia”, disse.
A professora da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do CNPq Fernanda Sanches disse que é preciso transformar o luto em luta pela reconstrução da memória. Segundo a professora, é preciso ter o reconhecimento de um trabalho ético e importante da pesquisa no Brasil: “Considero muito bem-vindas as contribuições de pesquisadores e de museus de outros países, mas é absolutamente importante garantir o Museu Nacional como uma instituição de pesquisa e produção de conhecimento dentro da universidade pública em um projeto de ensino público e gratuito de qualidade”.
Integraram ainda o ato associações dos servidores do Arquivo Nacional, do Instituto Nacional do Câncer, de professores das universidades federais do Rio de Janeiro e Fluminense, Sindicato Nacional dos Funcionários da Fundação Oswaldo Cruz, associações e o coletivo Ocupa Baixada, entre outros.
Visita
A psicanalista Elzilaine da Silva, de 40 anos, recebeu logo cedo um convite da filha Cecília, de 5 anos. A menina queria ir à Quinta visitar o museu. Apesar de morarem em Duque de Caxias, na Baixada Fluminentes, a mãe contou que as duas vão, pelo menos uma vez por mês, se divertir no parque. Elzilaine repete com Cecília uma programação que costumava fazer junto da família, quando era criança, que incluía visitas ao Museu Nacional. “A gente fica muito mexida com o que aconteceu, porque o Museu é como se fosse um quintal de casa. Mesmo morando longe, a gente pega o trem e em 40 minutos está aqui. Estou muito sentida porque a minha infância toda eu passei aqui. Fazia piquenique com meus pais e meus irmãos e agora venho com a minha filha”, disse com a voz embargada.
Cecília, segundo a mãe, gostava muito de visitar o Museu. “Ela conhecia tudo aí dentro, cada cantinho. A gente tem várias fotos guardadas em casa”, revelou.
A menina disse que gostava de tudo que tinha dentro do museu, mas a sala com os móveis da família real chamava especial atenção, assim como a dos dinossauros que, mesmo muito grandes, ela achava “bonitinhos”. Cecília espera que o Museu seja reconstruído logo para que ela possa voltar a visitar o local.
Jeferson Oliveira, de 41 anos, mora em São Paulo e acompanhado da filha Maria Eduarda, de 11 anos, aproveitou o feriado para vir ao Rio e ver como ficou o Museu, que ele conheceu quando tinha 15 anos. “Foi uma judiação queimar tudo isso. É um lugar histórico para o Brasil”, contou, dizendo que viu em casa a notícia sobre o incêndio e ficou triste.
Maria Eduarda está na 5ª série e apesar de nunca ter ido ao Museu fez questão de conhecer o local. “Eu achei triste o incêndio porque a história do Brasil foi perdida”.
Missa
Em homenagem ao Museu, às 12h, foi celebrada uma missa na Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, no centro do Rio, em uma iniciativa do pároco Silmar Fernandes. A ideia foi chamar atenção para a instituição após o impacto do incêndio. Também hoje pela manha, equipes do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, voltaram ao prédio porque, segundo relatos, foram detectados alguns focos de fogo no local. Os bombeiros passaram cerca de 50 minutos no local e saíram, depois de constatarem que não havia mais sinais de fogo nos escombros.