Em carta aberta divulgada neste sábado (16), 22 sindicalistas do Rio de Janeiro anunciaram as desfiliações do Partido Socialista Brasileiro (PSB) porque a cúpula do partido se posicionou favoravelmente ao impeachment da presidenta, Dilma Rousseff.
“É fato que não há crime de responsabilidade da presidente Dilma constatado e tudo o que foi apresentado e analisado até agora demonstram a degradação moral e ética dos Poderes basilares da República Brasileira”, diz a carta. “Agora o PSB assume o lado oposto ao que ideologicamente defende seu programa: o socialismo. Por isso, nossa desfiliação é urgente e necessária. Não há o que fazer juntos aos golpistas, temos um lado e este é o da luta.”
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As lideranças sindicais informam também que a decisão não compromete o trabalho de base que praticam. “Nossa desfiliação, entretanto, não nos afastará da base de luta da CTB pela qual estamos organizados com diversos sindicatos e núcleos constituídos pela nossa militância”, escrevem.
Leia a seguir a íntegra do texto:
“Carta aberta de desfiliação dos dissidentes sindicalistas do PSB
Às vésperas da votação da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Roussef e motivados pela nota oficial da direção nacional do PSB orientando o apoio à abertura desse processo, nós, militantes dissidentes do segmento sindical do PSB, tomamos a decisão de fazer nossa desfiliação coletiva dessa agremiação partidária de forma responsável e consequente para continuar a irrevogável defesa da democracia e de seus valores arduamente conquistados e construídos paulatinamente, em especial pela população brasileira e pela classe trabalhadora.
Nossa desfiliação, entretanto, não nos afastará da base de luta da CTB pela qual estamos organizados com diversos sindicatos e núcleos constituídos pela nossa militância, o que não nos obriga a ser coniventes, orientados ou subordinados à SSB/PSB, entendendo que esse segmento é a base de apoio que legitima essa agremiação partidária na aliança aos diversos setores que utilizam a crise econômica, política e ideológica que se assenhorou do país para perpetrar um golpe aos preceitos democráticos estabelecidos na CF/88.
É fato que não há crime de responsabilidade da presidente Dilma constatado e tudo o que foi apresentado e analisado até agora demonstram a degradação moral e ética dos Poderes basilares da República Brasileira, o que nos faz enxergar que estamos no auge da luta de classes no Brasil, reflexo e cerne da crise política e ideológica desse cenário sombrio sintetizado na votação do processo de Impeachment, que agora o PSB assume o lado oposto ao que ideologicamente defende seu programa: o socialismo. Por isso, nossa desfiliação é urgente e necessária. Não há o que fazer juntos aos golpistas, temos um lado e este é o da luta.
E é somente na luta dos trabalhadores com os demais movimentos sociais que podemos retomar a consolidação dos preceitos democráticos voltados a atender os interesses do povo. Portanto, nosso dever é estarmos nas ruas contra o Golpe, desrespeitando a orientação do PSB nacional e, por conseguinte, dos sindicalistas dirigentes que compõem as direções desse partido.
Nossa avaliação é de que, desde 1929, o País vive a mais grave crise econômica de sua história com a superposição de aspectos econômicos, políticos, sociais e ideológicos que ameaçam as conquistas acumuladas pela Nação nas últimas duas décadas. Entendemos ainda que, embora haja fatores internacionais afetando a economia do país, é inequívoca a constatação de que as chamadas “pedaladas” fiscais e a escolha por medidas paliativas e não estruturantes deram combustível à ação golpista dos setores conservadores, que já esperavam o melhor momento para desequilibrar o atual governo e falir o pensamento ideológico da esquerda. Aliás, não foi falta de aviso e de advertências acerca dessa possibilidade, que muitas vezes foram feitos inclusive pelos trabalhadores e pelas trabalhadoras ao governo.
Não fechamos os olhos à opção feita pelo governo por medidas ortodoxas de ajuste fiscal, em detrimento de políticas econômicas anticíclicas que poderiam nos auxiliar no alcance de um desenvolvimento social e econômico estruturante, numa substancial racionalização da malha tributária. Ao fazer essa infeliz escolha, a política econômica do governo produziu um elevado custo ao povo brasileiro, sobretudo aos mais humildes e, em especial, aos depositários da esperança de que esta Pátria pudesse encontrar-se com o seu destino de grande potência mundial, sem as desigualdades que nos maculam internacionalmente. O que, aliás, ainda acreditamos ser possível nessa unidade de classe que agora se forma em todos os cantos do país.
Não podemos repetir os erros cometidos. Devemos refletir sobre a recusa em se tributar os grandes sonegadores, as grandes fortunas e o capital especulativo nesse momento ímpar da crise econômica e de ainda serem emitidas propostas, como o PLP 257/2016 que versa sobre o pagamento das dívidas dos Estados, que impõem imensos sacrifícios a classe trabalhadora numa política de ajuste fiscal que traz graves consequências aos que constroem cotidianamente o Brasil através de seu suor, de sua criatividade, de sua luta, mas que não perde a crença de que o futuro será melhor e com maiores oportunidades para os seus filhos e netos. Essa sim é a mea culpa que deve ser feita pela presidente quando vencermos o Golpe e que todos nós esperamos como aceno do governo para poder, a partir dessa constatação, se pactuar com a nação um novo caminho, para um novo Brasil; mas com a população e seus trabalhadores como verdadeira base do governo.
Mas mesmo diante dessa análise critica do cenário que nos encontramos, fruto em parte de uma opção política do governo, não podemos ser partícipes de um Golpe Contra o Povo e Contra a Democracia, pois não há crime de responsabilidade que justifique o impeachment da presidente Dilma.
Essa sim é a materialização de que não abdicaremos de nossa missão de defender a democracia e nunca, em hipótese alguma, desistiremos do Brasil.