Tópicos | Invisíveis

Publicado pela editora Patuá, a jornalista e escritora guarulhense Karla Maria, comentou sobre o livro-reportagem de denúncia “Invisíveis: quando a rua é morada, o vírus é só mais um a ameaça”, na última segunda-feira (28), na Universidade Guarulhos (UNG). A obra retrata a realidade das pessoas com doenças físicas, desigualdades e falas da falta de perspectiva e esperança das pessoas em situação de rua em Guarulhos e São Paulo. 

A jornalista colheu testemunhos da realidade conturbada de quem vive debaixo de marquises e viadutos, ficando em uma situação de forma improvisada e indigna - número que aumentou de forma exponencial devido àqueles que foram desempregados e, consequentemente, despejados. Na ocasião, Karla fazia coberturas semanais para o jornal “O Trecheiro”, da entidade Rede Rua, que trabalha com a população de rua. Em 2021, a série de reportagens foi contemplada com o prêmio Dom Helder Câmara, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). 

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“Eu preciso ouvir a história dele para fazer o meu trabalho, que é registrar aquela história. Por isso que eu não acredito e eu não concordo em um jornalista nariz empinado, porque nós dependemos diariamente, várias vezes por dia do outro, no tempo do outro, da fala do outro, da confiança do outro, no sorriso, no silêncio, no gesto. Então, me colocar no lugar da pessoa foi um exercício muito habitual, mas também muito doloroso”, aponta Karla sobre o processo de fazer o livro-reportagem sobre as pessoas em situação de rua. “O jornalista, o repórter, muitas vezes, ele não muda a situação do outro, ele revela, denuncia aquela realidade”, acrescenta. 

Além dos entrevistados relacionados diretamente ao trabalho de pesquisa e levantamento de informações, dentre os quais especialistas de institutos, Karla entrevistou 54 pessoas em diferentes níveis de vulnerabilidade social a partir de março de 2020, quando o país registrou a primeira morte pela Covid-19. No período anterior à pandemia do coronavírus, onde o cenário no país já era preocupante pelos cortes de políticas sociais, foi possível estimar o aumento crescente e acelerado da precarização da vida, e a consequente explosão da população em situação de rua, com o agravante da possibilidade de contaminação e morte por causa da Covid-19. 

“São mais de 100 milhões de pessoas que não têm casa, que pagam aluguel. Dessa parte, dados mais recentes apontam para cerca de 230 mil pessoas no Brasil que vivem em situação de rua. Desse número, mais ou menos 50 mil estão na cidade de São Paulo e na região metropolitana”, aponta a escritora. 

Sobre a Karla Maria 

Membro da Academia Guarulhense de Letras (AGL) desde 2020, Karla Maria é autora de outros três livros-reportagem publicados pela Paulus Editora, “Mulheres Extraordinárias” (2017), “Irmã Dulce – A Santa Brasileira que Fez dos Pobres sua Vida” (2019) e “O Peso do Jumbo” (2019). 

"Dei à luz um varão". "Melhor para ele". Este eloquente diálogo entre uma mãe e sua vizinha faz parte do melodrama "A vida invisível de Eurídice Gusmão", em que Karim Ainouz denuncia o patriarcado no Brasil.

Em seu terceiro longa-metragem apresentado em Cannes, Ainouz volta à temática que mais o emociona: as mulheres, uma forma de homenagear sua mãe, que o educou sozinha, e a sua avó que viveu 108 anos e a quem consagrou seu primeiro trabalho.

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Baseado no romance homônimo de Martha Batalha, "A vida invisível de Eurídice Gusmão" narra a trajetória de duas irmãs cariocas nos anos de 1950, cujos sonhos são soterrados pelo peso de uma sociedade machista.

O destino traça caminhos muito distintos para Eurídice e Guida, mas as duas almas gêmeas compartilham a frustração de não poderem se realizar e a dor incomensurável de viverem separadas no Rio.

Eurídice, determinada a ser pianista, lutará durante anos para ser aprovada em um conservatório, embora seu pai e seu marido não sejam capazes de entender por que uma mulher não quer ficar em casa para cuidar da família. Guida é atingida pela desgraça ainda muito jovem, precisando formar uma família menos convencional.

O filme marca a estreia das protagonistas, Carol Duarte e Julia Stockler, no cinema.

- Dar esperanças -

"O livro de Batalha me marcou", explicou à AFP Karim Ainouz após a projeção nesta segunda-feira de seu filme na competição na seção "Um certo olhar".

"Minha mãe era solteira e, jovem, eu me dei conta de como foi duro para ela. Eu tinha a impressão de que as coisas haviam mudado nos últimos 30 anos para as mulheres, mas com tudo que está acontecendo agora politicamente no mundo e no Brasil vejo que regredimos", acrescentou.

No Rio de Ainouz nos anos 1950, uma mãe solteira não pode sair do país com seu filho pequeno porque a autorização do pai é indispensável. Uma jovem esposa que não quer se precipitar em ter filhos vive constantemente com medo que seu marido a engravide. Uma esposa já mais velha se cala quando o patriarca da família humilha sua filha.

O filme se trata de uma "denúncia do patriarcado e do dano que pode causar", resume Ainouz. "Mas quero evitar apresentar as personagens como vítimas e explorar suas possibilidades de resistência", afirma.

"Isso é o mais importante do cinema de hoje em dia: mostrar que é preciso resistir e dar esperanças".

Potente em sentimentos, o filme reforça visualmente seu caráter melodramático com uma grande densidade de cores e uma atuação mais característica do teatro.

Sua inspiração: as primeiras telenovelas dos anos 1970. "Tenho recordações maravilhosas daquelas séries, de seus atores que vinham em sua maioria do teatro. Mas até agora eu sentia um certo pudor na hora de retomar seu estilo: tem que ser muito cuidadoso para não fazer um filme sem graça".

Ainouz diz ter perdido o medo a deixar os sentimentos aflorarem.

"As telenovelas têm a força de chegar a um grande público e não é coincidência que se goste tanto delas no Brasil", conclui.

O diretor mexicano Alfonso Cuarón, premiado neste sábado com o Leão de Ouro no festival de Veneza, disse que seu filme, que dedicou à sua babá indígena, fala das pessoas "invisíveis", aquelas que a sociedade não percebe.

O filme, intitulado "Roma", em referência ao bairro onde cresceu na Cidade do México, foi dedicado justamente a Libo, a 'nana' de Cuarón, que no filme se chama Cleo, a doméstica de origem indígena com quem cresceu.

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"Libo, este filme é fruto do meu imenso amor por você, por minha família e por meu país, México", clamou o cineasta, emocionado, ao receber o prêmio máximo no Palácio do Cinema do festival veneziano.

Qualificado por vários críticos italianos como "obra-prima", "épico" e "deslumbrante", o filme é um retrato intenso em preto e branco muito pessoal do México dos anos 1970, com suas diferenças sociais e raciais.

A infância daquele menino que cresceu em uma casa da rua Tepeji é a matéria-prima de uma obra que mostra a complexidade da sociedade da América Latina, com seus contrastes, injustiças, classes e política.

"Os cineastas não dão a voz a ninguém, são os outros que emprestam sua voz. Em meu caso é mais perverso porque as diferenças entre classes sociais e raças me parecia algo óbvio", explicou à imprensa.

"Isso porque não considerava Libo uma mulher, nem uma indígena. Era invisível. Meu filme fala dessa invisibilidade que há no mundo", acrescentou em inglês o cineasta mexicano.

Para contar esse mundo íntimo e confortável que está para se transformar, que mudará para sempre a vida de Libo e sua mãe em meio a um país afetado por terremotos, protestos estudantis e repressão, Cuarón não contou com um roteiro estabelecido.

"Seria presunçoso dizer que o filme tem outra função que não a de ser um filme. Mas se se torna um veículo para outras causas, pois isso é bem-vindo", afirmou à margem da conferência de imprensa.

Depois de estrear em Veneza em 2001 com o filme "E Sua Mãe Também" e de dirigir o sucesso de bilheteria Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004), Cuarón passou a fazer parte da limitada lista de grandes autores latino-americanos flexíveis, capaz de dirigir grandes produções americanas (e ganhar um Oscar com "Gravidade") e de filmar uma história muito latino-americana e ao mesmo tempo universal.

"Para entender o presente é preciso entender o passado", disse o presidente do júri, o mexicano Guillermo del Toro, ganhador no ano passado do Leão de Ouro em Veneza com "A Forma da Água".

Del Toro, amigo de Cuarón, explicou que se tratou de uma decisão coletiva do júri, formado por nove pessoas, entre elas a atriz Naomi Watts.

"Foi fácil e unânime. Nove contra zero", afirmou.

O filme esteve entre os favoritos da crítica e do público desde o início do festival, segundo a classificação da Ciak, a revista oficial do evento.

Os dois cineastas não deram importância ao fato de que se trata do primeiro filme produzido e distribuído pela gigante audiovisual Netflix a ganhar um prêmio tão prestigioso.

"Netflix não é o fim do cinema!", apontou del Toro.

"A new world". O slogan da Rio 2016 promete um mundo novo, um universo distinto daqueles que nós, brasileiros, estamos acostumados a ver. Apesar das notáveis melhorias na infra-estrutura da cidade olímpica, do lado de fora das arenas há um mundo antigo, bem conhecido da população e que, de tão comum, parece passar despercebido. A exclusão social salta aos olhos, mas ninguém vê.

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Durante a cobertura dos Jogos Olímpicos, a equipe do Portal LeiaJá registrou personagens que, longe dos pódios e medalhas, tentam vencer as provas exigidas pela vida nas ruas. Anônimos, à margem do espírito olímpico, vagueiam entre turistas, ao redor dos estádios e nas calçadas.  

Na ânsia de registrar o momento histórico, com seus smartphones nas mãos, os torcedores posam em suas selfies e nem os percebem. São os invisíveis das Olimpíadas. Seja nas areias de Copacabana ou nas ruas de acesso ao Maracanã, lá estão eles, com sacos nas costas para recolher latinhas. E é com o lixo que têm mais contato, na busca de algo para comer ou o resto daquela cerveja quente jogada fora por algum gringo. 

Em frente a uma unidade do McDonalds, perto da Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, dois invisíveis tentavam ser vistos. Pediam trocados, comida. Puxei assunto com o mais falante que, talvez desacostumado com um diálogo do tipo, mal soube responder minhas perguntas. "Tudo certo", "ajudam um pouco", "a polícia tá tranquila, não mexe com nós". Perguntou de onde eu era, elogiou Recife e se despediu com um "valeu". 

No Boulevard Olímpico, observam do chão a grande movimentação de pessoas na revitalizada área portuária do Rio. São seres humanos que não se enquadram àquela atmosfera de lazer, gritos de gol e abraços. Estão sujos e não têm camisetas da seleção para torcer pelo país. Será que cantam o hino? Será que são brasileiros com muito orgulho, com muito amor?

 

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