Os invisíveis das Olimpíadas do Rio
Desigualdade social salta aos olhos, mas quem se importa?
"A new world". O slogan da Rio 2016 promete um mundo novo, um universo distinto daqueles que nós, brasileiros, estamos acostumados a ver. Apesar das notáveis melhorias na infra-estrutura da cidade olímpica, do lado de fora das arenas há um mundo antigo, bem conhecido da população e que, de tão comum, parece passar despercebido. A exclusão social salta aos olhos, mas ninguém vê.
Durante a cobertura dos Jogos Olímpicos, a equipe do Portal LeiaJá registrou personagens que, longe dos pódios e medalhas, tentam vencer as provas exigidas pela vida nas ruas. Anônimos, à margem do espírito olímpico, vagueiam entre turistas, ao redor dos estádios e nas calçadas.
Na ânsia de registrar o momento histórico, com seus smartphones nas mãos, os torcedores posam em suas selfies e nem os percebem. São os invisíveis das Olimpíadas. Seja nas areias de Copacabana ou nas ruas de acesso ao Maracanã, lá estão eles, com sacos nas costas para recolher latinhas. E é com o lixo que têm mais contato, na busca de algo para comer ou o resto daquela cerveja quente jogada fora por algum gringo.
Em frente a uma unidade do McDonalds, perto da Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, dois invisíveis tentavam ser vistos. Pediam trocados, comida. Puxei assunto com o mais falante que, talvez desacostumado com um diálogo do tipo, mal soube responder minhas perguntas. "Tudo certo", "ajudam um pouco", "a polícia tá tranquila, não mexe com nós". Perguntou de onde eu era, elogiou Recife e se despediu com um "valeu".
No Boulevard Olímpico, observam do chão a grande movimentação de pessoas na revitalizada área portuária do Rio. São seres humanos que não se enquadram àquela atmosfera de lazer, gritos de gol e abraços. Estão sujos e não têm camisetas da seleção para torcer pelo país. Será que cantam o hino? Será que são brasileiros com muito orgulho, com muito amor?