Um novo comboio da ONU deve chegar a Mariupol, nesta sexta-feira (6), para retirar os civis refugiados na siderúrgica de Azovstal, o último foco de resistência neste porto do Donbass, no sudeste da Ucrânia.
A missão coincide com o anúncio da Rússia de uma trégua de três dias, a partir de quinta-feira, para permitir a fuga de civis presos no complexo industrial, embora as tropas ucranianas denunciem que ela não está sendo cumprida.
Apesar desta incerteza, o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, anunciou ontem que o comboio seria enviado para esta cidade que está sitiada pelas tropas russas desde quase o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.
As autoridades locais afirmam que ainda há cerca de 200 civis presos na rede de corredores subterrâneos da siderúrgica, onde também resistem as últimas unidades de defesa ucranianas.
"A operação está começando. Rezamos por seu sucesso", disse a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, por telefone à AFP.
Também na quinta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que "continua disposto" a garantir uma retirada "segura" dos civis, mas exigiu que Kiev ordene aos combatentes que ainda estão na fábrica que "deponham as armas".
As informações a esse respeito que chegam até o momento são contraditórias.
Enquanto o Kremlin garante que os corredores humanitários "estão funcionando" e que a trégua está sendo respeitada, o Exército ucraniano garante que as forças russas continuam sua ofensiva contra a siderúrgica.
As forças russas "em certas áreas, com o apoio da aviação, retomaram suas operações para assumir o controle da fábrica", denunciou o Ministério ucraniano da Defesa, em um comunicado nesta sexta.
No total, quase 500 civis já foram retirados de Mariupol nos últimos dias, conforme as autoridades ucranianas.
- Ofensiva contida -
Após mais de dois meses de cerco, as tropas russas controlam quase toda Mariupol, uma cidade às margens do Mar de Azov de quase 500.000 habitantes antes da guerra no sul do Donbass.
Sua captura total seria uma importante vitória para a Rússia antes de 9 de maio. Nesta data, comemora sua vitória sobre a Alemanha nazista em 1945, realizando um grande desfile militar na Praça Vermelha de Moscou.
Além disso, em um nível estratégico, esta cidade permitiria a consolidação da conexão entre os territórios ocupados no leste do Donbass com a península anexada da Crimeia, no sul.
Desde o início da invasão, Moscou conseguiu reivindicar o controle total de apenas uma grande cidade, Kherson, no sul, perto da Crimeia.
Ontem, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, reconheceu que o apoio ocidental a Kiev conteve a ofensiva contra a Ucrânia.
"Os Estados Unidos, o Reino Unido, a OTAN como um todo compartilham permanentemente informações com as Forças Armadas ucranianas. Combinadas com entregas de armas (...) essas ações não permitem que a operação seja concluída rapidamente", disse ele à imprensa.
Peskov fez essas observações depois que o jornal The New York Times publicou que as informações fornecidas por Washington a Kiev permitiram que vários generais russos fossem abatidos - o que foi negado ontem pelo Pentágono.
Essas ações, apontou Peskov, "não têm capacidade para impedir" os objetivos da Rússia nesta guerra que, após dez semanas, causou milhares de mortes e o exílio de mais de cinco milhões de pessoas.
- Arrecadação de fundos -
Na frente diplomática, os países ocidentais continuam a aumentar sua pressão sobre a Rússia, que está sujeita a uma série de sanções sem precedentes.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, manifestou-se a favor do confisco dos bens russos congelados na União Europeia no âmbito destas sanções, de modo a contribuir para a reconstrução da Ucrânia.
Os líderes das grandes potências do G7 farão uma reunião virtual no domingo (8), dedicada em grande parte à guerra na Ucrânia, anunciou hoje uma porta-voz do chanceler alemão, Olaf Scholz.
Segundo a mesma fonte, o encontro contará com a participação do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que lançou uma campanha global de arrecadação de fundos por meio de uma plataforma digital.
"Em um clique, você pode doar fundos para ajudar nossos defensores, salvar nossos civis e reconstruir a Ucrânia", disse ele.
Além disso, o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, anunciou a captação de mais de 6 bilhões de euros (US$ 6,3 bilhões) para o país, obtidos em uma conferência de doadores realizada em Varsóvia.
Além da ajuda financeira e militar, os aliados da Ucrânia também adotaram sanções sem precedentes contra a Rússia.
No que seria sua medida mais severa até agora, a Comissão Europeia propôs que todos os 27 Estados-membros da UE proíbam gradualmente as importações de petróleo russo.
O primeiro-ministro nacionalista húngaro, Viktor Orban, opôs-se firmemente a este embargo e acusou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de "atacar" a unidade do bloco.
A Hungria é totalmente dependente do petróleo russo, e um embargo seria equivalente a "uma bomba nuclear em sua economia", alegou Orban.
A guerra também esteve presente no Conselho de Segurança da ONU, onde vários países e o secretário-geral desta organização, António Guterres, pediram o fim da violência, embora sem referência às negociações de paz atualmente paralisadas.
"A invasão da Ucrânia pela Rússia é uma violação de sua integridade territorial e da Carta das Nações Unidas", frisou Guterres.