Os habitantes da cidade de Djibo, no norte de Burkina Faso, estão mergulhados na miséria, devido ao bloqueio imposto há meses por grupos extremistas.
Desde 2015, Burkina Faso enfrenta uma insurgência "jihadista", e muitas cidades da região sofrem um destino semelhante.
Quase um milhão de pessoas vive em áreas bloqueadas no norte e no leste do país africano.
Nos últimos anos, Djibo se tornou um centro para os deslocados internos da região, obrigados a fugir pela violência extremista de grupos ligados à Al-Qaeda e à organização Estado Islâmico (EI).
A população da cidade triplicou, chegando a um total estimado em cerca de 300.000.
Em outubro, 15 pessoas morreram de fome, segundo Idrissa Badini, porta-voz de um grupo de organizações da sociedade civil na província de Sum.
Badini acha que "provavelmente há mais vítimas".
Na estrada entre Djibo e a cidade de Burzanga, moradores disseram terem visto restos de veículos atingidos por minas terrestres. Vários comboios de suprimentos foram atacados, recentemente, nesta estrada.
Em setembro, 35 pessoas, incluindo crianças, morreram quando uma mina explodiu um caminhão e, em outro ataque a um comboio, 11 soldados morreram.
Os comboios são a única opção para abastecer a população, já que os agricultores estão impedidos de cuidar de seus campos, devido à violência, e a produção de alimentos é quase inexistente em muitas partes do país.
- Desastre humanitário -
Até agora neste ano, oficiais insatisfeitos com o Exército deram dois golpes de Estado em Burkina Faso, em uma demonstração de raiva por seu fracasso na luta contra a insurgência. No início deste mês, o capitão Ibrahim Traoré, que assumiu o poder com um golpe em setembro, viajou para Djibo para sua primeira visita oficial.
"As crianças estão pele e osso, os idosos passam fome, e as mulheres não podem mais amamentar, porque não há mais nada em seus seios", disse Traoré. "Tem gente que come folha para sobreviver", acrescentou.
Ele descreveu uma "situação preocupante", dizendo que "o território está quase perdido".
Em Djibo, alguns dos deslocados pela violência tentam fugir para o sul, para a capital, Ouagadougou.
"Privados de água, comida, remédios e sinal de telefone, muitos estão deixando Djibo a pé, à noite, com a esperança de chegar às áreas aonde ainda podem acessar", disse um trabalhador humanitário à AFP, pedindo para não ser identificado.
Segundo as Nações Unidas, dezenas de lugares em Burkina Faso estão enfrentando condições semelhantes às de Djibo.
Em Arbinda, a leste, dezenas de milhares de pessoas das áreas vizinhas se reuniram para fugir dos ataques.
"Os comboios terrestres regulares que costumavam abastecer a população com alimentos e produtos de subsistência cessaram", disse Badini.
"Faz dois meses que não chega nada a Arbinda. A população, que esgotou suas reservas, está à beira de um desastre humanitário", sublinhou.
Apesar dos ataques, carregamentos esporádicos de suprimentos conseguiram romper certos bloqueios.
No final de outubro, o Exército enviou 70 toneladas de grãos por via aérea para Djibo, e mais de 300 toneladas de alimentos chegaram à cidade por via terrestre no início de novembro, segundo o Estado-Maior. No caminho, sete minas foram desativadas.
"Conseguimos abastecer algumas localidades, mas outras ainda não", completou Traoré.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU diz que cerca de 3,5 milhões de pessoas em Burkina Faso precisarão de ajuda alimentar de emergência nos próximos meses.