O papa Francisco criticou o "colonialismo econômico", nesta terça-feira (31), durante visita à capital da República Democrática do Congo (RDC), onde foi recebido com fervor, na primeira etapa de uma viagem pela África que também o levará ao Sudão do Sul.
Diante de políticos e diplomatas e acompanhado pelo presidente congolês, Felix Tshisekedi, o pontífice argentino fez um forte apelo contra a "ganância" e a depredação dos recursos naturais.
"Não toque na República Democrática do Congo, não toque na África. Pare de sufocá-la, porque a África não é uma mina para explorar ou uma terra para saquear. Deixe a África ser protagonista de seu próprio destino", declarou Francisco em um discurso no palácio presidencial em Kinshasa.
"Depois do colonialismo político, desencadeou-se um 'colonialismo econômico', igualmente escravizador. Assim, este país, abundantemente depredado, não consegue se beneficiar suficientemente de seus imensos recursos", disse o religioso de 86 anos.
Com riquezas como cobre, cobalto, ouro, diamantes, urânio, coltan e estanho, a RDC tem uma história marcada por colonialismo, escravidão e abusos.
"O veneno da ganância ensanguentou seus diamantes. É um drama diante do qual o mundo economicamente mais avançado tende a fechar os olhos, os ouvidos e a boca. Este país e este continente merecem ser respeitados e ouvidos", acrescentou o bispo de Roma, em seu aclamado discurso.
O papa iniciou nesta terça uma visita de quatro dias à RDC, um enorme país da África central que conquistou a independência da Bélgica em 1960 e onde a Igreja Católica teve grande influência política.
Desde o meio da manhã, os moradores de Kinshasa tinham começado a se reunir em torno do aeroporto internacional, onde o avião do papa aterrissou às 14h35 locais (10h35 em Brasília).
Ao som de cânticos, tambores, fanfarras e outros instrumentos típicos, a multidão foi aumentando na medida em que as horas se passavam, cada vez mais densa e impaciente.
No trajeto de cerca de 25 km até o centro da cidade, o comboio oficial foi recebido por dezenas de milhares de pessoas que se aglomeravam nas principais avenidas desta grande cidade de aproximadamente 15 milhões de habitantes.
"Não queria perder a oportunidade de vê-lo de frente", declarou à AFP Maggie Kayembe, uma mulher com cerca de 30 anos. "Onde quer que ele vá, ele sempre reza pela paz, e paz é o que necessitamos de verdade", acrescentou.
Inicialmente prevista para julho de 2022, a visita foi adiada devido às dores no joelho que afetam Francisco, que utiliza uma cadeira de rodas em seus deslocamentos, assim como pelos problemas de segurança em Goma, no nordeste do país, etapa da viagem que foi cancelada.
- Violência e Pobreza -
Em sua 40º viagem internacional desde que assumiu o papado em 2013, e a quinta ao continente-mãe, o pontífice argentino pediu que se silenciem as armas em um país abalado pela violência e no qual dois terços de seus 100 milhões de habitantes vivem com menos de 2,15 dólares por dia.
O país africano enfrenta há vários meses o ressurgimento do grupo armado M23, que conquistou amplas faixas do território de Kivu Norte, na fronteira com Ruanda, que o governo da RDC acusa de interferência.
Nesse sentido, Francisco encorajou os esforços de paz, nos quais Angola e Quênia estão tentando promover iniciativas, e enfatizou que "não podemos nos acostumar com o sangue que corre neste país há décadas".
Dirigindo-se às elites locais, Francisco pediu ainda "eleições livres, transparentes e credíveis".
O país prevê a realização de eleições em 20 de dezembro, cinco anos depois das contestadas eleições de 2018, que permitiram a chegada ao poder de Felix Tshisekedi, agora candidato à reeleição.
"Não devemos nos deixar manipular ou comprar por quem quer manter o país na violência, explorá-lo e fazer negócios vergonhosos", disse Francisco em seu discurso no palácio presidencial.
- Vigília e missa multitudinária -
Durante a noite, dezenas de milhares de pessoas devem participar de uma vigília de oração no aeroporto N'dolo de Kinshasa, onde passarão a noite, antes de uma grande missa na quarta-feira, com a previsão de mais de um milhão de fiéis.
Com 52 milhões de católicos, a ex-colônia belga representa o futuro para o catolicismo, que está perdendo fiéis na Europa e na América Latina.
Na sexta-feira, o papa viajará para Juba, capital do Sudão do Sul, o país mais jovem do mundo e um dos mais pobres do planeta, onde permanecerá até 5 de fevereiro.