Quem nasceu até a década de 1990 observa com certo pesar o atual cenário do futebol italiano. Primeiro grande torneio europeu transmitido pela televisão no Brasil, a Calcio perdeu força com o passar dos escândalos e gestões fracassadas, especialmente no que diz aos gigantes de Milão. Dois dos clubes mais tradicionais do Velho Continente, Internazionale e Milan amargam posições intermediárias no campeonato nacional e escassez de títulos diante de um adversário cada vez mais forte; a organizada Juventus. O LeiaJa.com analisou como os detentores de nada menos que, dez troféus da Liga dos Campeões, deixaram de ser tão poderosos no cenário mundial.
Domínio da Azzurra
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Não havia Premier League e ligas como Bundesliga, La Liga era parte de um mundo desconhecido, mas na década de 1980, a Serie A italiana já ganhava espaço na televisão brasileira. Palco de grandes elencos, compostos em sua maioria por atletas italianos e super craques do futebol mundial, o torneio era considerado o mais forte do mundo. Também pudera, o berço da seleção campeã em 1982 tinha gigantes como Baggio e Paolo Rossi, além da presença de ilustres estrangeiros, tais como Careca e Maradona no Napoli, Sócrates e Passarella da Fiorentina, Zico na Udinese, entre tantos outros gigantes do esporte.
Naquela época, a Juventus já levantava mais troféus que os rivais, porém surgia um novo tipo de gestão em clubes; os times com donos. Em 1986, a beira da falência, o Milan encontrou um salvador; Silvio Berlusconi. O magnata das comunicações comprou o clube e passou a investir bilhões para contratar atletas de calibre como Gullit, Van Basten e Rikjaard e não demorou para colher os frutos. Os rossoneros entravam na década de 1990 papando o campeonato nacional e europeu com sobras. Algo que só viria a acontecer com a Internazionale em 1995, sob a fortuna de Massimo Moratti. Enfim existiam dois gigantes em condições de desbancar a Velha Senhora e outros gigantes em âmbito internacional. Roma e Lazio também receberam 'injeções' de magnatas, focados em enriquecer jogadores e conquistar títulos.
Não é à toa que até os anos 2000 os rivais de Milão seguiram levantando taças e brigando na elite do futebol europeu. Milan e Inter foram soberanos por três décadas até o grande descenço do futebol italiano, que começou em 2006.
Totonero e Calciopoli
Curiosamente, o período vitorioso para os gigantes começou em meio a um escândalo de corrupção. Algo que se repetiu na queda. Vários jogadores foram presos por vender resultados, incluindo Paolo Rossi, destaque na Copa do Mundo de 1982. O preço pago por Milan e Lazio foi o rebaixamento à segunda divisão. Já em 2006, ano em que os italianos também conquistaram o mundial, Juventus, Milan, Fiorentina, Lazio e Reggina se envolveram em um esquema fraudulento que escolhia os árbitros das partidas. A Juve acabou rebaixada, iniciando a Serie B com nove pontos negativos. Os demais perderam pontos na temporada seguinte, entretanto permaneceram na elite.
Foi um baque para o futebol italiano. Não à toa, investidores deixaram o país que, como era esperado, viu a liga enfraquecer com a diminuição das cifras. Justamente em um momento em que clubes espanhóis e ingleses viviam plena ascenção. Os apaixonados pelo esporte já não viam mais na Itália o brilho de outrora e passaram a se entreter com o Barcelona de Ronaldinho, nova potência mundial, além do auge do Manchester United de Alex Ferguson e o crescimento do novo rico Chelsea. O mundo voltava os olhos para longe de Milão. Ainda em meio à conturbação, o Milan conquistou a Europa mais uma vez (a sétima), em 2007, e a Inter, sob o comando de José Mourinho, também faturou a 'orelhuda' em 2010. Seriam os últimos atos dos rivais.
Parados no tempo
Após um imenso período injetando bilhões no Milan, Berlusconi acabou deslocando seus esforços para evitar a mancha de diversos escândalos de corrupção como homem público. Afinal, foram nove anos como primeiro ministro italiano graças a 'campanha' como dono do clube rossonero. O fim de tal era trouxe o clube para a uma realidade financeira mais contida. Algo que iria acontecer com os nerazzuri em 2013, na saída de Moratti. O reflexo das contas magras foi imediato. Em contraste com a boa gestão da Juventus, possuidora de uma Arena própria altamente lucrativa e que veio a enriquecer cada vez mais com as boas participações na Liga dos Campeões da Europa, tomando a maior fatia da cota italiana. Enquanto os times de Milão diminuíram, a Velha Senhora se agigantou.
A diferença é tão gritante que os bianconeros estão comemorando o título nacional sem serem interrompidos desde a temporada 2011-2012. Ano que teve a última participação da Internazionale no torneio continental. O Milan ainda apareceu uma última vez em 2013, entretanto, o meio da tabela do campeonato nacional está sendo confortável para as duas equipes que amargam posições alheias às competições européias.
Uma chance de redenção: a China
Em meio às mudanças no mercado do futebol, Internazionale e Milan podem ser salvos daqueles que são considerados, por muitos, como os vilões do momento; os chineses. Além de investir em craques e jogadores renomados com salários astronômicos, os empresários asiáticos compram fatias ou totalidades de grandes clubes do Velho Continente visando a lucrativa indústria do futebol como solução para seguir crescendo a economia do país. Em anos subsequentes, tanto os nerazzuri quanto os rossoneros agora estão sob nova direção. Primeiro foi o grupo Suning, em 2016, que comprou 70% das ações da Inter. Já em 2017, após três decadas, Berlusconi finalmente vendeu o Milan, em sua totalidade para o empresário Li Yonghong.
Só para colocar o clube sob 'sua asa', o chinês teve que gastar 220 milhões de euros apenas para quitar as dívidas deixadas pelo antecessor. Quase os 270 que a Internazionale custou a Suning. E as mudanças começam a ser esboçadas em contratações. Com previsão de investir 150 milhões de euros em reforços, Yonghong já garantiu nomes como Musacchio, Kessié, André Silva, Ricardo Rodríguez, atletas promissores e de qualidade. Aos poucos, surge a esperança de que o Milan volte às glórias dos tempos de Gullit, Van Basten e Rikjaard. Mesmo pensamento dos nerazzuri que viveram grandes momentos e puderam comemorar títulos e as atuações de nomes como Matthaus, Klinsmann e Brehme. O futuro pode reservar mais uma guinada na história dos gigantes adormecidos.