O jornalismo esportivo carrega um tabu que vem sendo quebrado aos poucos nas últimas décadas – a presença das mulheres na área. No último século, ver uma delas ocupando a vaga de repórter na beira de um gramado de futebol, por exemplo, era bem raro. Agora, as coisas estão diferentes.
A repórter Juliana Alvarez é um exemplo disso. Ela não começou no jornalismo com o objetivo de fazer esporte, mas acabou se encontrando na área e, hoje, trabalha no Globo Esporte Pará, programa da TV Liberal, afiliada da Rede Globo.
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“Estou em um momento de querer explorar meu lado criativo e o esporte me permite isso. Grandes nomes do jornalismo passaram pelo esporte. É um ambiente muito legal para nos descobrirmos como repórter e exercitar nosso olhar. O esporte, apesar de ser ‘sempre um jogo de futebol’, quanto mais parecido é, mais você tem que se atentar aos detalhes e conseguir construir uma história a partir disso”, afirma Juliana.
Antes de chegar à TV Liberal, Juliana trabalhou no SBT, e foi lá onde “tudo começou”. Ela era do jornalismo geral, porém, um dia, por não ter repórter esportivo na emissora, foi chamada para “quebrar o galho”. Era uma área diferente para a jornalista e justamente por isso que ela se encantou.
Na época, o SBT não tinha um programa voltado apenas para a área. Mas em 2023, na TV Liberal, a repórter entrou de cara no esporte e a trajetória não vem sendo muito fácil; às vezes, pode ser rodeada de preconceito.
“Existe um olhar diferente. Tenho pensado muito sobre isso, pois no meu dia a dia eu passo por situações que normalmente repórteres homens do esporte não passam. Costumo dizer que estudo muito mais para que as pessoas possam, a partir do meu discurso, compreender que entendo de esporte o tanto quanto elas. Na cabine de transmissão, geralmente, sou a única mulher e isso me assusta. Eu sinto que tenho que estudar o dobro, me esforçar o dobro, para que as pessoas consigam ver que a minha qualidade profissional é igual à de um homem”, conta a repórter.
A jornalista também destaca os julgamentos a respeito dela, mas não dá muita importância e ressalta que “responde” a eles trabalhando e mostrando como pode ser igual ou até melhor que muitos homens na área.
“Tem gente que acha que estou no esporte por demérito, por não conseguir uma vaga no jornalismo no geral e acabei caindo no esporte, mas não foi assim, foi uma escolha. No dia a dia, fazendo o meu trabalho de formiguinha, mostrando que eu mereço respeito, que entendo do que estou falando. É muito ruim esse exercício de você ter que provar para o outro que você merece estar ali”, assinala.
Juliana vem sendo inspiração para muitas meninas que sonham em um dia trabalhar com jornalismo esportivo. O fato de ela aparecer praticamente todos os dias na televisão falando de esporte e mostrando que as mulheres também podem conhecer de futebol, basquete, vôlei, entre outas modalidades, serve e muito para a evolução da profissão e a quebra de tabus. Ela deixa um recado para aquelas que se espelham no trabalho dela.
“Estudar é o caminho mais curto para nós chegarmos. Ter referência é fundamental. O caminho para a mulher no esporte é mais árduo, mas temos potencial, um olhar diferente que talvez os homens não tenham. Acho que o nosso receptor quer esse olhar diferente”, finaliza.
Por Eduardo Quemel (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).