*Com colaboração de Thiago Graf
As caras e bocas, a ginga e a dança de rua do hip hop eram pontos importantes em sua performance. Através do conceito de diversidade, o menino que catava caranguejos no mangue para vender na feira recolocou Pernambuco no mapa. Num Recife marcado por extensos problemas sociais, Chico foi capaz de despertar o sentimento de identidade e pertencimento que há algum tempo faltava. Mais que música, o movimento representa um mecanismo de engajamento, luta pela preservação ambiental, contra a miséria e por melhores condições de vida. Nascido no dia 13 de março de 1966, o músico completaria, neste domingo (13), 50 anos.
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>> Início
Em meados de 1984, quando os passos do break, através do trabalho de Michael Jackson, tomavam o mundo, o músico integrou o "Legião Hip Hop", um dos principais grupos de dança de rua do Recife. Três anos depois, Chico forma sua primeira banda, a "Orla Orbe", quando começa a investir de verdade na carreira musical. Em seguida, passa a integrar o "Loustal", um projeto mais ousado que apostava na mistura do soul, funk e hip hop com o rock dos anos 60.
>> E ele foi com a Nação Zumbi
"Eu vim com a nação zumbi ao seu ouvido falar. Quero ver a poeira subir e muita fumaça no ar. Cheguei com meu universo e aterriso no seu pensamento. Trago as luzes dos postes nos olhos; rios e pontes no coração; Pernambuco embaixo dos pés e a mente na imensidão”. Hoje, esses versos já estão marcados na memória dos fãs da Nação Zumbi, mas até a banda ser formada ela ainda passaria por outros estágios. Chico viu de perto o bloco do Lamento Negro, em Olinda, e conheceu Gilmar Bola 8, chamando-o para tocar junto da Loustal, que a partir de então se chamaria "Chico Science e Lamento Negro". Futuramente, a banda ganharia um novo nome, passando a se chamar "Chico Science & Nação Zumbi", que entrou na estrada da música em 1991, três anos antes do grupo gravar o seu primeiro CD, intitulado "Da Lama ao Caos".
>> Primeiros CDs e auge
A parceria entre Chico Science e a Nação Zumbi rendeu dois discos que entraram para a história. O primeiro deles, "Da Lama ao Caos", foi gravado através do selo "Chaos", comandado pela Sony Music, e que lançou ainda grupos como Skank e Planet Hemp. O álbum projetou a banda no âmbito nacional. Entre as faixas de sucesso estão hits como "Rios, Pontes & Overdrives”, "A Cidade”, "A Praieira" - que fez parte da trilha sonora da novela global "Tropicaliente" -, "Samba Makossa" e "Da Lama ao Caos".
Já tocando nas rádios brasileiras, a banda também passou a participar de programas de tv em rede nacional e a solidificar o trabalho junto ao público e crítica. Depois de fazer sucesso com o trabalho de estreia, o grupo volta aos estúdios e lança mais um sucesso: "Afrociberdelia". O álbum é marcado por participações especiais, como o rapper Marcelo D2, que também já era uma das referências do período por conta do Planet Hemp, e o baiano Gilberto Gil.
Afrociberdelia também é recheado de sucessos, como "O Cidadão do Mundo", "Macô", "Manguetown", e o estrondoso "Maracatu Atômico", que ainda aparece em outros três formatos no CD.
>> Adeus e legado
O dia 2 de fevereiro de 1997 ficaria marcada na memória da música brasileira. Na noite daquele domingo, Chico faleceu após um acidente de carro, quando seguia de Olinda para a capital Recife. Ele estava sozinho no veículo ainda chegou a ser socorrido para o hospital da Restauração, mas já chegou ao local sem vida.
O enterro de Chico aconteceu um dia depois de sua morte, no Cemitério de Santa Amaro, localizado no Centro do Recife. Até hoje, o local é lembrado por fãs do músico, que sempre prestam homenagens.
Com a morte de Chico, quem assumiu o vocal da Nação Zumbi foi Jorge Du Peixe, que já era integrante da banda e tocava alfaia. Com ele, a banda já gravou outros oito CDs e dois DVDs. O músico foi entrevistado com exclusividade pelo Portal LeiaJá e contou detalhes da época em que Science fez parte da banda, suas ideias e homenagens neste ano tão especial. Confira.
Após a morte de Chico, o seu trabalho ainda é lembrado. O músico Marcelo D2, que foi um dos parceiros de Science e da Nação, chegou a colocá-lo como um dos arquitetos da música brasileira. A revista Rolling Stones, uma das mais conceituadas no universo musical em todo o mundo, elaborou, em 2008, uma lista com os 100 maiores artistas da música nacional. O pernambucano aparece em 16º lugar do ranking. Esse mesmo periódico ainda classificou os CDs “Da lama ao Caos” (1994) e “Afrociberdelia” (1996) entre os 100 melhores da música nacional.
E, se alguns se destacam por protestos e conquistas sociais, outros por realizar inovações na estética musical, Chico Science foi ambos. Saiu da vida pra fazer história. Pensando nisso, o Portal LeiaJá preparou uma reportagem especial com os grandes nomes que viveram o período áureo do movimento. Veja os detalhes na matéria de Thaísa Moraes, com produção de Rodrigo Rigaud, Madá Freitas e Thiago Graf. As imagens são de Sidney Lucena, Geo Schneider, Ednaldo Souza, Ciano Soares, e edição de JR Oliveira, Natalli Araújo e Alexandre Gomes.
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