A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), entidade sem fins lucrativos composta por 1.300 publicações no mundo, criticou nesta quarta-feira, 7, a "aparente retaliação à imprensa brasileira" feita pelo presidente Jair Bolsonaro com a assinatura de uma Medida Provisória (MP) que desobriga as empresas a publicarem seus balanços financeiros em jornais.
Na terça-feira, 6, Bolsonaro afirmou durante um evento no interior de São Paulo que a decisão de permitir a publicação dos balancetes apenas em sites oficiais, como o da Bolsa de Valores do Brasil, e no Diário Oficial da União, sem custo, uma "retribuição" à forma como foi tratado pela imprensa durante a campanha eleitoral de 2018, quando foi eleito presidente.
##RECOMENDA##"Lamentamos que os interesses políticos, partidários e pessoais prevaleçam sobre as críticas, as opiniões e as informações, direitos que a imprensa e os cidadãos possuem numa sociedade democrática", afirmou a presidente da SIP, María Elvira Domínguez, que é diretora do jornal El País, de Cali, na Colômbia.
Bolsonaro negou que a decisão seja uma retaliação à imprensa, mas justificou a medida dizendo foi eleito "com quase toda a mídia o tempo todo esculachando a gente" e que foi rotulado de racista e fascista por jornalistas. "No dia de ontem (5), eu retribuí parte daquilo que grande parte da mídia me atacou", disse o presidente.
Domínguez acrescentou que "é possível entender que, como parte da tensão natural entre a mídia e o poder político, presidentes e funcionários ameacem, desprestigiem ou estigmatizem jornalistas e a mídia, mas que se vinguem concretamente como o fez Bolsonaro é de suma gravidade para o ambiente da liberdade de imprensa que deve reinar num país democrático".
O presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, Roberto Rock, criticou a supervalorização dos sites do governo sobre a mídia. "Os sites oficiais são consultados por especialistas e pessoas interessadas nas questões, mas não cumprem o papel de informar os cidadãos", afirmou o dirigente da SIP, que tem sede em Miami, nos Estados Unidos.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), criticou a MP, afirmando que ela pode "inviabilizar milhares de jornais da noite para o dia". Segundo Maia, os jornais impressos são instrumentos importantes de "divulgação de informação, da garantia da liberdade de imprensa, liberdade de expressão e da nossa democracia". Maia sinalizou que o Congresso deve modificar a medida.