Tópicos | racismo institucional

A deputada estadual do Rio de Janeiro, Mônica Francisco (PSOL), foi barrada pela segurança da Assembleia Legislativa de entrar na sala da Presidência da Casa. Após presidir a primeira audiência como presidente da Comissão de Trabalho da Alerj, nessa quinta-feira (11), Mônica disse que deixou o local e foi até à sala do presidente, André Ceciliano, quando um segurança colocou a mão na frente dela e perguntou: “Quem é você?”.

A deputada do PSOL usava um broche de identificação parlamentar, mas ainda assim foi vítima de “racismo institucional”. “Hoje fui mais uma vez barrada, dessa vez na Alerj, após presidir uma Audiência pela Comissão do Trabalho. Mais um caso constrangedor de racismo institucional! Já protocolamos um projeto de lei de formação para enfrentamento ao racismo voltado para servidores e terceirizados”, contou, em publicação no Twitter.

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O projeto de lei ao qual ela se refere é de autoria dela e das deputadas Dani Monteiro e Renata Souza, todas do PSOL. “Nós iremos repetir quantas vezes for necessário: nossos corpos estarão em todos os lugares, inclusive nos espaços de decisão”, observou.

Com dois meses de mandato, Mônica ainda disse que “não é possível que não se conheça o meu rosto e o rosto das Deputadas negras dessa casa”. Esta é a segunda vez que ela é vítima de racismo institucional.

Em fevereiro, a deputada foi ao Tribunal de Justiça assistir à posse do presidente e, apesar de estar usando o broche de identificação parlamentar e uma etiqueta do cerimonial, ela foi impedida de usar o elevador das autoridades. Além de Mônica, outras duas deputadas do negras, a estadual Dani Monteiro e a federal Talíria Petrone, foram vítimas de racismo nas Casas.

Quando chega o mês de setembro, os moradores da comunidade do Bode, no Pina (Zona Sul do Recife), se preparam para a tradicional Noite do Dendê, promovida pela Nação do Maracatu Porto Rico, sediado no local. Realizado há 11 anos, o evento cresceu, em dias e número de atividades e atrações, e reúne, hoje, além dos locais, pessoas vindas de todo o Recife, e de outros estados brasileiros, apaixonados pela cultura afro.

Porém, no último sábado (29), quem estava na 11ª edição festa foi surpreendido pela chegada de nove viaturas da Polícia Militar e um ônibus do Choque ordenando o encerramento do evento. O fato repercutiu durante todo o fim de semana, nas redes sociais, e foi chamado de racismo institucional pelo público.

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O Mestre Chacon Viana, presidente da Nação Porto Rico e coordenador da Noite do Dendê - realizada com o apoio da Prefeitura do Recife, falou com exclusividade ao LeiaJá sobre o incidente. Ele contou que a Polícia Militar chegou ao local por volta das 21h, alegando que a organização do evento não havia enviado um ofício para a PM solicitando segurança para a festa e, por este motivo, seria necessário encerrá-la naquele momento.

"Eu faço esse evento há 10 anos, esta é a décima primeira edição, e nunca precisei mandar ofício, mandar nada para a Polícia pedindo segurança. Até porque, no momento que eu for fazer uma festa na minha comunidade e precisar pedir segurança, eu vou deixar de fazer. A festa é deles, é o 14° salário deles. É um trabalho social que envolve toda a comunidade, a gente jamais precisou pedir segurança", disse o mestre.

Chacon afirmou ter ficado surpreso com a maneira que foi abordado: "Eles já chegaram lá com a base formada, dizendo que eu não mandei o ofício e eles iam acabar a festa. Se às 23h eu não tivesse acabado com a festa, eles iam me prender". Imediatamente, o mestre tentou acionar conhecidos, inclusive o Governador de Pernambuco, Paulo Câmara, na tentativa de reverter a situação.

Faltando alguns minutos para o horário limite dado pelos policiais, o efetivo aumentou consideravelmente: "Umas 15 para as 23h, eles estavam lá com nove veículos, dentro do espaço, fortemente armados, mandando desligar o som. Polícia fortemente armada assusta todo mundo. Como ficamos na negociação esperando algum retorno do governador que estava em Arcoverde, algumas pessoas ligando pro comandante do 19° BPM pra ver se poderíamos continuar ou não, como demorou mais ou menos uma meia hora, eles chamaram o Choque", relembra.

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A situação teve bastante repercussão nas redes sociais. Rapidamente, fotos e vídeos da atuação policial começaram a ser compartilhados juntamente com relatos de pessoas que testemunharam o ocorrido. "A Noite do Dendê do Maracatu Porto Rico foi invadida e interrompida esta noite pelo racismo institucional"; "Nem podemos expressar nossa cultura, hoje tenho só tristeza em minha alma"; "O estado é insensível, insensato e injusto"; diziam algumas postagens.

Uma testemunha, que pediu para ter sua identidade preservada, relatou a esta reportagem ter presenciado a agressão de um oficial. "Um policial do Choque deu uma 'cacetada' no meu amigo. Eles empurraram a filha dele com o escudo, aí ele empurrou de volta, nisso, ele (o policial) já deu uma cacetada. Eles já chegaram para abafar mesmo. Eu nunca tinha presenciado repressão dessa forma", disse.

O Mestre Chacon confirma a violência: "Eu não cheguei a ver, mas a sogra do rapaz veio falar comigo. Ela disse que uma das porradas pegou em uma criança de seis meses e chegou a cortá-la. Eu não vi, mas aconteceu, sim, a criança foi machucada no rosto". Ele lamentou a proprção que a situação tomou: "A nossa festa nunca teve violência, a única violência que teve na nossa festa foi agora. E justamento pelo Governo do Estado".  

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Nesta edição, a Noite do Dendê promoveu exames de mamografia, rodas de diálogos e atividades formativas na área de produção cultural para a comunidade. Agora, o mestre tem se reunido com apoiadores do maracatu e representantes do Governo para saber qual será o desdobramento do incidente.

Ele ainda não sabe informar se haverá um novo momento para retomar as apresentações interrompidas no último sábado (29): "Eu preciso resolver essa situação e estar assegurado, preciso saber com quem estou lidando. Não se trata de um ‘casinho’, se trata de um batalhão da polícia e esses caras são covardes. Eu preciso estar seguro porque não se trata só de mim, se trata da minha família, e eu não confio nesse povo. Preciso entender onde foi que eu errei porque até agora eu não sei". 

Resposta da PM

Procurada pelo LeiaJá, a Polícia Militar afirmou ter agido no sentido de cumprir "sua missão" de exigir a autorização para a realização da Festa do Dendê, "como o faz para todos os eventos com grande aglomeração de pessoas". A nota enviada pela assessoria de imprensa do órgão também ressaltou que a atuação da PM "não teve qualquer conotação de racismo". No entanto, não houve resposta quanto ao questionamento sobre a necessidade da presença do Choque na ocorrência nem sobre quem havia comandado a operação.

Confira a nota na íntegra:

A Polícia Militar esclarece que, na noite de ontem (29 de setembro), cumpriu a sua missão de exigir, como o faz para todos os eventos com grande aglomeração de pessoas, a autorização para a realização da Festa do Dendê, em Brasília Teimosa. A concessão, fornecida pela Prefeitura e Vigilância Sanitária, é obrigatória para os organizadores e produtores culturais, para o devido planejamento operacional de segurança, trânsito, saúde, garantia do ir e vir e a proteção da população como um todo.

Mesmo sem a autorização para a realização do evento, oficiais da PM conversaram com a organização e foi acordado o encerramento para as 23h. O evento transcorreu normalmente e foi finalizado de forma pacífica, sem nenhuma intercorrência ou tumulto. A volta para casa foi garantida de forma tranquila.

Por fim, é fundamental ressaltar que a atuação da PM não teve qualquer conotação de racismo. Ao contrário, a PMPE não apenas é uma instituição plural composta por servidores de todas raças, etnias e credos, como também combate e desenvolve uma série de ações permanentes de enfrentamento ao racismo, interna e externamente. Nesse sentido, a Diretoria de Articulação Social e Direitos Humanos da PMPE conta com um Grupo de Trabalho contra o Racismo e promove palestras, conscientizações, mobilizações e amplo diálogo com a sociedade organizada que defende e trabalha pela igualdade racial.

 

 

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A vida profissional é um marco importante para jovens e adultos, que trilham uma carreira bem sucedida. Porém, muitas vezes a ascensão depende de inúmeros fatores: cursos, especializações, mestrado e qualificações são alguns deles. Mas, um dos aspectos importantes para desenvolvimento é o autoconhecimento, além das escolhas e posição do profissional como cidadão, que podem ser influenciadas diretamente ou não durante a trajetória da vida educacional.

Mesmo com toda a preparação profissional e educacional, atitudes preconceituosas desmerecem a posição de alguns trabalhadores. Uma delas, o racismo institucional, começa inclusive na escola e acompanha a pessoa de pele escura até a vida adulta. “Por muito tempo eu acreditava que poderia fazer parte do mundo acadêmico. Com quase 30 anos eu me encontrei, me reconheci negro e consegui provar para mim mesmo que podia tudo”, fala o educador da Fundação de Atendimento Socioeducativo, Carlos Tomaz, 46 anos, que revela também que desde criança sofria com o racismo institucional.

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De acordo com o historiador Alexandre L’Omi L’Odò , essa é uma realidade camuflada, mas que infelizmente está presente em vários setores, como na educação, na religião, na saúde e em todas as instituições públicas e privadas. “Quando você vê um anuncio de emprego sinalizando que o candidato deve ter boa aparência e citando algumas características, indiretamente, ele está praticando o racismo institucional”, diz o educador. 

Com essas dificuldades, o desenvolvimento intelectual e consequentemente o profissional retardam e ratificam as estatísticas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgadas em 2014. O levantamento mostra que 48% dos trabalhadores brasileiros são negros, porém a média salarial deles é 36,1% menor que os brancos. Essa é a realidade de mais de 50% da população brasileira, que é formada por negros.

Quem já sofreu esse tipo de preconceito foi Edson Axé, coordenador estadual da Rede Nacional de Negros e Negras LGBT em Pernambuco. Para ele, o racismo institucional acompanha toda a vida do negro. Axé passou pela Polícia Militar de Pernambuco e afirma ter vivido uma situação racista na instituição. 

“Mesmo sendo da corporação, fui revistado de forma racista pelo tenente coronel, e, quando fui ao batalhão questionar, o capitão disse: entre a rocha e a maré, quem se dá mal é o siri”, desabafa Axé. Diante desses acontecimentos na vida profissional, o coordenador revela que encontrou um senso de justiça e faz disso o seu alicerce para lutar pela paz e pela igualdade. Formado em recursos humanos, Edson Axé revela que em várias entrevistas para emprego há muito preconceito. “Quando dois candidatos empatam, muitas vezes o que se destaca é o indicado por alguém da empresa ou pela beleza, considerada pelo recrutador”, falou.

Para combater o racismo institucional, o movimento negro tenta desconstruir esse preconceito que está camuflado em várias esferas da sociedade. Um exemplo é a implementação da lei 11645/08, que foi alterada para 10639/03, que determina o ensinamento da história da África no nível fundamental.

Sentindo na pele o preconceito - Uma sala repleta de alunos, dentre eles, Carlos e Luiz, ambos tinham praticamente o mesmo desenvolvimento nas atividades, porém, apenas Luiz era destacado pela professora. Isso fez com que Carlos desejasse ser um dia "Luiz". Esse foi o inicio da história de Carlos Tomaz - educador -, que se formou após os 30 anos de idade, porque não acreditava que pertencia ao mundo da academia e que aquilo não seria para ele. “Eu queria ser o Luiz, garoto de pele, cabelos e olhos claros”, relata Carlos Tomaz durante entrevista ao LeiaJá.  Assista o depoimento do entrevistado:

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