No início da pandemia do coronavírus no Brasil, por volta do mês de março deste ano, eram muitas as campanhas e levantes em homenagem aos profissionais da saúde. Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e tantos outros especialistas que se dedicavam quase que integralmente aos cuidados dos primeiros doentes em unidades de saúde espalhadas pelo país, eram constantemente reverenciados pela batalha que travaram contra o vírus.
Nove meses mais tarde, o coro em prol desses profissionais já não é tão intenso. Mas, eles continuam lá, se dedicando aos pacientes que não param de chegar nas enfermarias e Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) com o diagnóstico de Covid-19. São profissionais que trabalham incansavelmente em plantões extensos que não respeitam nem data comemorativa, como a desta quinta (31), dia de réveillon.
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É o caso da médica pernambucana Suelen Araújo. Recém-formada, ela atua na linha de frente da Covid-19 desde outubro deste ano, na UPA de Torrões, e nas UT Covid do Hospital Alfa. A jovem profissional iniciou sua carreira no auge de uma pandemia mundial mas, garante que nem os mais antigos na área poderiam estar preparados para um momento como esse. “Nenhum médico, nem com toda a experiência acumulada está 100% preparado para o que estamos vivendo, pois o paciente grave do Covid não se comporta igual, cada paciente nos ensina algo novo. Todo plantão é uma batalha e cada vitória é vivida e comemorada por uma grande família, composta por técnicos de enfermagem, enfermeiros, fisioterapeutas, radiologistas e médicos”.
Iniciar a vida profissional já diante tamanho desafio não foi de todo tranquilo para a Dra. Suelen. Foi preciso coragem para encarar as surpresas apresentadas a ela a cada plantão, mas a vontade de ajudar os pacientes e colegas é o que vem ajudando a jovem médica nesse processo. “Inicialmente houve o medo do desconhecido, todo o cuidado em dar assistência ao paciente e não levar o vírus pra casa. Medo de não salvar, medo de se contaminar. Mas o maior sentimento é querer tirar o sofrimento do paciente, olhar nos olhos dele e dizer que ficará tudo bem e trabalhar pra isso. A cada dia estou mais envolvida com os pacientes, que aparecem cada dia mais jovens, e em quantidade assustadora, com mais histórias; e saio de cada plantão numa verdadeira oração por dias melhores”.
Trabalhando nesta quinta (31), véspera do ano que está por chegar, Suelen lamenta que muitos brasileiros estejam “baixando a guarda” em relação aos cuidados com o contágio do coronavírus. Ela fala da angústia dos profissionais de saúde em ver cada vez mais pessoas lotando as unidades hospitalares e tantas outras lotando festas e eventos sociais, descumprindo os protocolos.
Diferentemente disso, trabalhar em um dia que deveria ser de festa, para ela, é sinônimo de satisfação que vem junto ao desejo de um 2021 melhor, para ela, para os pacientes e para todos. “Tenho alegria em poder passar o final do ano cuidando dos pacientes, com a esperança de vê-los melhorar. Espero um 2021 com pessoas mais conscientes, e não com cuidado seletivo, espero um ano de paz, uma vacina e uma sociedade mais amável com o próximo! Precisamos de empatia, espero um 2021 de Esperança”.
Gratidão e apelo
Muitos outros profissionais da saúde registraram seu último plantão de 2020 nas redes sociais. Em sua maioria, as mensagens eram de gratidão por poderem ajudar ao próximo, ainda que em circunstâncias adversas, misturadas ao apelo que vem sendo repetido desde o início da pandemia. O ‘grito’ desses profissionais é para que todos tenham consciência da gravidade do coronavírus e façam o máximo que puderem no sentido de protegerem a si mesmos e aos outros.
O técnico de enfermagem Natan Soares escreveu em seu perfil: “Um dia, um filho meu vai estudar sobre a pandemia e vai poder falar com orgulho que o pai dele tava na linha de frente, e falar quantas noites virei, junto com muitos outros corajosos como eu, travando uma guerra insana e perigosa contra um inimigo invisível. Enquanto isso, outros incrédulos sem respeitar, sem fazer o isolamento, enquanto o número de óbitos aumenta e os profissionais de saúde morrem porque dão suas vidas para ajudar a salvar”.
A infectologista Paula Pinho também fez o mesmo. “Último plantão do ano e talvez um dos mais atribulados. Como nunca, encarei sem máscaras os detalhes mais enérgicos da minha profissão. Último plantão do ano, mas não é o último da pandemia, que, aliás, está bem longe de acabar. Se cuide e cuide de quem você ama”.
*Com colaboração de Thabata Alves
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