Várias figuras importantes do movimento pró-democracia de Hong Kong foram detidas nesta sexta-feira, incluindo Joshua Wong e um deputado, uma operação denunciada por associações como uma tentativa da China de amordaçar a oposição após a proibição de uma nova grande manifestação programada para sábado.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticado no momento por uma aparente indulgência em relação às autoridades comunistas, pediu à China nesta sexta-feira que administre os protestos pró-democracia em Hong Kong com "humanidade".
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"Eles têm uma posição muito forte. Não acredito que ninguém já tenha visto passeatas com dois milhões de pessoas", disse Trump sobre as manifestações em Hong Kong.
A região semiautônoma enfrenta há quase três meses a crise mais grave desde sua devolução, por parte do Reino Unido, à China em 1997, com manifestações quase diárias, incluindo algumas que terminaram em confrontos.
Um novo protesto estava previsto para sábado para marcar o quinto aniversário da rejeição por parte de Pequim de eleições com sufrágio universal na cidade, decisão que provocou o "Movimento dos Guarda-Chuvas" em 2014, marcado por 79 dias de ocupação do centro financeiro e político de Hong Kong.
Mas após a confirmação de que o protesto foi proibido, os organizadores retiraram nesta sexta-feira a convocação para não agravar a situação. Outras iniciativas, no entanto, estariam sendo planejadas.
Dois líderes do "Movimento dos Guarda-Chuvas", Joshua Wong e Anges Chow, ambos de 22 anos e muito populares nos protestos das últimas semanas, foram detidos nesta sexta-feira, acusados de "incitar a participação em uma concentração proibida".
- "Terror branco" -
Os dois foram indiciados em uma audiência durante a tarde e colocados em liberdade após o pagamento de fiança.
"Continuaremos o combate, não vamos nos render", prometeu Wong fora do tribunal. Ele criticou o "efeito de congelamento" das detenções de opositores em Pequim.
"Estas detenções mostram a propagação do 'terror branco' em relação aos manifestantes de Hong Kong", declarou Issac Cheng do partido Demosisto, cofundado por Joshua Wong.
Algumas horas antes, outro ativista, Andy Chan, foi detido no aeroporto.
Chan é o fundador do Partido Nacional (HKNP), minúscula formação que defende a independência do território e que foi proibido pelas autoridades em 2018.
Um quarto manifestante pró-democracia, Rick Hui, membro do conselho do bairro popular de Sha Tin, também foi detido nesta sexta-feira, assim como o ex-líder estudantil, Atlhea Suen.
E pela primeira vez desde o início da mobilização em junho, três deputados - Cheng Chung-tai, Au Nok-hin e Jeremy Tam - também foram detidos, de acordo com seu partido, 'Civic Passion'.
A polícia confirmou a detenção de um homem de 35 anos, que identificou pelo sobrenome "Cheng", por "complô para provocar danos criminais" em relação ao ataque do Parlamento em julho.
Pouco depois, a Paixão Cívica informou a prisão de outros dois deputados por "obstrução da polícia".
Mais de 900 pessoas foram detidas desde o início dos protestos, que começaram com o repúdio a um projeto de lei que pretendia autorizar extradições para a China continental.
O movimento ampliou suas reivindicações e passou a denunciar o retrocesso das liberdades, assim como a interferência crescente da China na região semiautônoma, o que viola o princípio "um país, dois sistemas" que determinou a devolução de 1997.
- "Ridícula" -
A organização Anistia Internacional criticou "a operação ridícula durante o amanhecer" e condenou as detenções de Wong e Chow, que são "ataques escandalosos contra a liberdade de expressão e de reunião" e "táticas com o objetivo de espalhar o medo, retiradas dos manuais chineses".
A polícia negou, no entanto, uma tentativa de sufocar as manifestações do fim de semana. "É totalmente falso", declarou John Tse, porta-voz da força de segurança.
O Executivo de Hong Kong não consegue apresentar respostas a um movimento de protesto inédito.
A polícia decidiu proibir a manifestação de sábado alegando razões de segurança, uma medida drástica que pode ter o efeito contrário e provocar novos confrontos com ativistas radicais.
O paradoxo é que a manifestação de sábado foi convocada pela Frente Civil de Direitos Humanos (FCDH), um movimento pacífico pacífica que liderou as maiores passeatas dos últimos meses, em particular a de 18 de agosto, que reuniu 1,7 milhão de pessoas, segundo os organizadores, e terminou sem incidentes.
- Partida de futebol -
Uma das líderes da Frente, Bonnie Lang, afirmou que a FCDH "não tem outra opção a não ser cancelar a manifestação de sábado", depois que o recurso apresentado contra a proibição foi rejeitado.
Mas outras iniciativas estão sendo planejadas. Alguns ativistas pró-democracia propõe uma partida de futebol, uma saída em massa para compras ou uma concentração religiosa improvisada.
É provável que a ala radical, integrada em sua maioria por estudantes muito jovens, ignore o pedido de calma, o que poderia provocar novos distúrbios.
"A polícia acredita que existem líderes no movimento e que sua decisão de proibir a manifestação vai nos deter", afirmou à AFP uma manifestante que se identificou como Kelly.
"Somos nossos próprios líderes e vamos continuar nas ruas. O governo não consegue entender", completou.