Setembro está fechando o pior trimestre do ano até agora para a Bovespa, mas há poucas razões para otimismo quanto ao desempenho das ações em outubro, cujo calendário de eventos previstos no Brasil e no mundo dará mais combustível para instabilidade: não somente porque a crise das dívidas soberanas na zona do euro está longe de ser definitivamente resolvida, mas também porque a perspectiva para o crescimento da economia mundial poderá se tornar ainda mais sombria. Some-se a isso o fato de que outubro é o mês em que aconteceram algumas das piores quedas na história do mercado acionário.
"O futuro no curto prazo ficou nebuloso: o desempenho do mercado vai depender do desfecho para a crise da Grécia, de se o inevitável calote grego será adiado mais ainda, do que o Banco Central Europeu (BCE) fará na sua reunião de outubro e da temporada de balanços das empresas no terceiro trimestre", disse à Agência Estado Peter Boockvar, estrategista acionário da corretora Millet Tabak & Co. em Nova York. "Estou mais preocupado com os riscos de baixa adicional do mercado acionário em outubro."
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Os piores "crashes", ou quebras, da Bolsa de Valores americana disseminaram no imaginário dos investidores a ideia de que outubro é a ovelha negra do calendário para o mercado acionário. O primeiro grande baque aconteceu em 29 de outubro de 1929, quando a bolsa americana despencou 12,9%. Em 19 de outubro de 1987, o tombo foi de 22,6%. E não esqueçamos o chamado "pânico de 2008", quando, na semana de 2 a 9 de outubro, o índice S&P 500 perdeu 22% do seu valor. Mas a história do mercado acionário mostra que outubro não é um mês ruim para os investidores.
Um levantamento feito por Kevin Pleines, analista da consultoria americana Birinyi Associates, em Connecticut, mostra que o desempenho do índice S&P 500 no meses de outubro é positivo em 0,7% em média desde 1962. O S&P fechou em alta 61% dos meses de outubro desde 1962. E o quarto trimestre que está para se iniciar é, historicamente, o melhor em termos de desempenho do S&P 500, com um alta média de 3,5% no período.
"Em outubro, o mercado acionário estará muito mais sensível às manchetes e notícias sobre a Grécia, a zona do euro, os dados da economia americana mais do que os fundamentos de longo prazo", disse Pleines à Agência Estado. Para ele, é importante levar em conta o desempenho histórico das ações, mas em nenhum momento existe o fator sazonalidade, ou seja, um mês tipicamente ruim na história da bolsa, para influenciar o desempenho do mercado. "Se acontecer um mês de outubro ruim será pura coincidência", disse.
Entre os eventos que poderão afetar os preços das ações em outubro estão a finalização das votações nos parlamentos europeus, a exemplo do que já aconteceu na Alemanha, para ratificar uma extensão do fundo europeu de estabilização financeira, ou EFSF na sigla em inglês. O novo fundo terá de ser ratificado até meados de outubro, o que poderá desanuviar as preocupações em relação a um possível calote desordenado da dívida grega.
Também em outubro alguns bancos centrais importantes terão suas reuniões para decidir sobre as respectivas taxas de juros, em particular o BCE, que poderá cortar os juros na sua reunião de 6 de outubro, segundo a expectativa de analistas. O Banco Central brasileiro também se reunirá nos dias 18 e 19 de outubro e o consenso no mercado é para novo corte da taxa Selic.
Os indicadores econômicos americanos permanecerão no radar dos investidores em bolsa de valores, uma vez que a economia dos Estados Unidos continua sensível aos números do desemprego, do mercado imobiliário, da confiança dos consumidores e também ao imbróglio político envolvendo o presidente Barack Obama e os republicanos no Congresso.
Na opinião da estrategista de ações para mercados emergentes do banco UBS em Nova York, Jennifer Delaney, a palavra-chave para o desempenho da Bovespa em outubro será volatilidade. "A Bovespa será muito volátil e negociando numa faixa estreita de limite de preços até termos notícias positivas vindas da Europa", afirmou Delaney à Agência Estado. Segundo ela, os acontecimentos na Europa são os que mais influenciam o sentimento dos investidores globais neste momento. Enquanto o fantasma do calote e do aprofundamento da crise da euro rondar os mercados financeiros globais, a Bovespa e as bolsas mundiais não terão um outubro fácil pela frente.