Afastado pelo Comitê de Ética da Fifa da presidência da entidade que controla o futebol mundial, Joseph Blatter insinuou nesta sexta-feira, em entrevista ao jornal Financial Times, que foi uma ação do ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, que teria dado a Copa de 2022 ao Catar, num acordo inclusive comercial.
"Houve um acordo de cavalheiros", disse Blatter, afirmando que o entendimento era de que a Copa de 2018 ficaria com a Rússia e a de 2022 com os Estados Unidos. "As duas superpotências teriam o evento. Foi nos bastidores. Houve um acordo diplomático", contou.
##RECOMENDA##
Blatter insiste que, se isso tivesse vingado, ele estaria de "férias numa praia hoje". Mas, segundo o suíço, houve uma interferência de último minuto por parte de Sarkozy. O francês teria influenciado Michel Platini, presidente da Uefa que também cumpre a mesma suspensão de 90 dias aplicada a Blatter, a votar no Catar.
"Uma semana antes das eleições, eu recebi um telefonema de Platini e ele disse: 'Não estou mais com vocês porque foi dito por um chefe de Estado que devemos considerar a situação na França'", afirmou o dirigente suíço.
Segundo Blatter, Platini levou consigo mais três votos, que estavam orquestrados para irem para os EUA. A votação acabou com 14 apoios ao Catar e apenas oito para a candidatura norte-americana, que havia levado para Zurique, onde fica a sede da Fifa, até mesmo Bill Clinton, ex-presidente do país.
Um mês depois da eleição que deu aos árabes o Mundial de 2022, segundo Blatter, o Catar anunciou que estava interessado na compra de aviões de caça da França, o Raffale, da Dassault. Em 2015, o país comprou os 24 jatos por US$ 7 bilhões.
BLATTER X PLATINI - Na última quarta-feira, em entrevista à agência russa TASS, Blatter já havia responsabilizado Platini, comandante da Uefa, pela eclosão da crise na entidade máxima do futebol. Para ele, a situação atual do organismo seria outra se Rússia e Catar não tivessem sido escolhidos para sediar as Copas do Mundo de 2018 e de 2022, vencendo um processo que contava com as participações da Inglaterra e dos EUA.
Segundo Blatter, foi Platini quem influenciou diretamente na escolha do Catar para sediar a Copa do Mundo de 2022, mudando um acordo prévio para que os Estados Unidos fossem os escolhidos para receber a competição.
"Em 2010 nós tivemos uma discussão sobre a Copa do Mundo e então fomos para uma decisão dupla. Para as Copas do Mundo, estava acordado que nós iríamos para a Rússia, porque nunca tinha ido para a Rússia, leste europeu, e em 2022 nós voltaríamos aos Estados Unidos. E assim, nós teríamos a Copa do Mundo nas duas maiores forças políticas. E tudo ia bem até o momento que Sarkozy chegou à reunião com o príncipe do Catar, que agora governa o país. No almoço seguinte com o senhor Platini, ele disse que seria bom que a Copa fosse para o Catar. E isso mudou todo o padrão", afirmou Blatter, em entrevista à agência russa TASS na última quarta.
Para Blatter, não se falaria de crise caso os Estados Unidos, que veem a sua Justiça liderar as investigações sobre corrupção no futebol, tivessem sido escolhidos para organizar a Copa do Mundo de 2022. "Estaríamos previstos para nos preparar para dois magníficos Mundiais: Rússia-2018 e Estados Unidos-2022. Em seu lugar, falamos da crise na Fifa", reclamou.
Blatter cumpre suspensão de 90 dias e também criticou a decisão do Comitê de Ética da Fifa. O presidente da entidade é investigado por um pagamento feito ao comandante da Uefa em 2011 e alega que o valor foi repassado por serviços prestados, além de reclamar por não ter sido ouvido pelos investigadores que o afastaram.
"É um absurdo total. Isto não é justiça. Eu coloquei essas pessoas no escritório, que estão agora na Comissão de Ética, e eles nem sequer têm a coragem de ouvir o secretário-geral (Jérôme Valcke, que também foi suspenso), Platini ou eu. Eu reclamo pelos princípios dos direitos humanos: antes de ser suspenso ou excluído de algum lugar você tem o direito de responder e eles negaram isso. Eles fizeram uma investigação sumária e três dias depois eu estava suspenso", disse Blatter, que que entrou com recursos nos comitês de ética e de apelação da entidade contra o seu afastamento.