A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou um ato para marcar o apoio público ao petista de oito ex-candidatos a presidente. A novidade foi a aparição do ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Atualmente no União Brasil, Meirelles concorreu à Presidência da República pelo MDB na eleição de 2018. A presença de Meirelles é também um aceno ao mercado financeiro e ao empresariado, que tem mantido contato com a campanha petista, e levanta especulações sobre a possível presença do ex-ministro em um futuro governo Lula. Durante o governo Temer, Meirelles foi o pai do teto de gastos, que a campanha petista diz que irá revogar.
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Diferentemente dos demais, que declararam apoio a Lula com forte discurso sobre riscos à democracia sob Bolsonaro, Meirelles concentrou seu pronunciamento nas conquistas econômicas durante os mandatos do ex-presidente. "Quero me ater a fatos específicos e que mostram a comparação brutal. Quando trabalhamos juntos no governo, trabalhamos oito anos. Nesse período, mais de dez milhões de empregos foram criados, isso é um fato, não é questionável", disse Meirelles, que seguiu elencando dados sobre crescimento médio do PIB e retirada das pessoas da pobreza. "Vamos fazer uma comparação. Está havendo uma injeção eleitoreira de dinheiro, que é possível de resolver mas é uma coisa que vai dar trabalho", afirmou Meirelles.
"Durante aquele período, além de um crescimento forte, inflação na meta", ressaltou Meirelles, antes de criticar o cenário inflacionário atual que, disse ele, "corrói todo o padrão de vida da população".
"Isto é, na minha opinião, o que interessa. Eu olho e vejo o resultado do seu governo, isso nos faz estar aqui. Estou aqui com tranquilidade, com confiança, porque eu sei o que funciona e o que pode funcionar no Brasil", disse Meirelles.
A bancada dos ex-candidatos à Presidência da República foi composta pelo candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), pelo candidato ao governo do Estado de São Paulo Fernando Haddad (PT) por Marina Silva (Rede), Guilherme Boulos (PSOL), Cristovam Buarque (Cidadania), Luciana Genro (PSOL), João Goulart Filho (PCdoB) e Meirelles.
Alckmin foi definido pelo coordenador do programa de Lula, Aloizio Mercadante, como o arquiteto desse momento. "Todos tínhamos projetos diferentes para o Brasil mas sempre tivemos algo em comum, o princípio: que é o respeito à democracia r ao povo brasileiro. É o que nos une nesse momento singular e triste da história do Brasil, quando se questiona o processo democrático, se tem saudade da ditadura, e é hora de reafirmarmos nosso compromisso com a democracia. Violência, morte, negacionismo não é política. É antipolítica", afirmou o ex-tucano.
A campanha de Lula faz, na reta final da campanha, um forte apelo ao voto útil no ex-presidente contra o presidente Jair Bolsonaro. O evento dessa segunda-feira é considerada uma vitória na campanha na tentativa de mostrar que há uma frente ampla de apoio a Lula, uma ideia que a campanha petista tenta emplacar desde o primeiro semestre. Lula afirmou que a eleição é "atípica" porque "todos os candidatos" estão em briga contra ele, para evitar que ele vença no primeiro turno, e disse que a reunião simboliza a "vontade que as pessoas têm de recuperar a democracia".
A ideia dos aliados do petista é aumentar o espectro da frente ampla. Como publicado no Estadão, a campanha do PT espera ter o apoio de tucanos históricos na disputa contra Bolsonaro, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador José Serra. A avaliação corrente, no entanto, é que a candidatura de Simone Tebet (MDB), apoiada pelo PSDB, impede um movimento público em nome de Lula por parte dos principais quadros do partido ainda no primeiro turno. Serra foi procurado para o evento de hoje, segundo integrantes da campanha petista, mas afirmou que não poderia anunciar apoio a Lula enquanto Simone for candidata.
O PT espera que a própria senadora Simone Tebet engrosse a lista dos apoiadores de Lula em eventual segundo turno. Ainda no primeiro turno, a campanha espera conseguir declaração de voto de personalidades da vida política como o ex-ministro Gilberto Kassab.
As divergências políticas entre os presentes foram mencionadas por todos na mesa. "Diferenças políticas existem, o Brasil conhece, mas elas não estão acima dessa encruzilhada histórica da democracia brasileira", afirmou Mercadante. "Talvez seja a mesa mais representativa que eu me lembre depois da redemocratização em torno do presidente Lula. É um dia histórico", disse Haddad.
Marina Silva, que declarou apoio a Lula na semana passada após anos de afastamento, voltou a dizer que o ex-presidente é quem reúne as melhores condições para a empreitada de vencer Bolsonaro. "Existem momentos na história em que a gente percebe que tem algo muito forte em jogo, que é a banalização do mal, como disse Hannah Arendt", disse a ambientalista.
"Todos conhecem nossas diferenças, elas são públicas. mas estamos aqui hoje para dizer que essas diferenças são menores nesse momento histórico do que aquilo que nos une para preservar a democracia brasileira", afirmou Boulos. "Essa união expressa um entendimento conjunto de que a eleição do presidente Lula é essencial para a democracia brasileira, para derrotar um fascista, alguém que ameaça às instituições e as liberdades", afirmou Boulos.
Luciana Genro afirmou que a união é uma "frente anti-fascista". Ela definiu o projeto de governo de Bolsonaro como um projeto "racista, misógino, lgbtfóbico, um projeto que quer eliminar os seus adversários".
"Estou aqui porque será uma tragédia termos segundo turno. Serão quatro semanas imprevisíveis do ponto de vista de violência na rua, fake news por todos os lados. Estou aqui porque Lula é o melhor", afirmou Cristovam Buarque.